Fanfic:  Confissões de uma Adolescente ⋆ {vondy}⋆

Anahi:Uma matéria sobre uma boneca ?

Anahi balançou sua lata de Diet Coke enquanto
falava. Any gosta de Diet Coke sem gás, por isso balança a lata até o gás sair,
antes de beber. Eu, pessoalmente, acho o gosto de refrigerante sem gás meio
esquisito, mas esta não é a coisa mais esquisita em Anahi Portillo. A coisa
mais esquisita nela, se você me perguntar, pelo menos, é que toda vez que ela e
Ucker, o editor do jornal, se embolam na sala de jogos do porão da casa dela, Any
desenha um coraçãozinho na agenda, para marcar a ocasião.
Sei disso porque ela me mostrou uma vez. Quero dizer, a agenda. Havia um
coração praticamente em todas as páginas. O que é meio engraçado. Quero dizer, Anahi
e Ucker namorarem.

Porque eu, e praticamente todas as outras pessoas do Register, esperávamos
que ela fosse nomeada a editora-chefe deste ano – inclusive, suspeito, à
própria Anahi. Quero dizer, até o verão passado Ucker nem tinha se mudado para Albuquerque.

Bom, isso não é totalmente verdade. Ele morou aqui. Nós dois até estudamos na
mesma turma na quinta série. Não que a gente se falasse nem nada. Quero dizer,
a gente não fala com pessoas do sexo oposto na quinta série. E, para começar, Ucker
nunca foi de falar muito.

Mas
ele e eu costumávamos pegar os mesmos livros “caídos” na biblioteca da escola.
Você sabe, não os populares, mas livros de ficção científica e fantasia como O
enigma de Andrômeda, As crônicas marcianas ou Viagem Fantástica.
Livros que faziam a bibliotecária franzir a testa quando a gente pegava, e
depois dizer: “Tem certeza que é este o tipo de livro que você quer, querida?”
porque não estava no nosso nível de leitura ou algo assim.
Não que a gente tenha conversado sobre eles ou algo do tipo. Quero dizer, sobre
os livros que Ucker e eu estávamos lendo. Só sei que ele lia os mesmos livros
que eu porque, sempre que ia pegá-los, a assinatura dele  estava lá, bem acima da minha, no cartão de
retiradas.

Então os pais de Ucker se separaram, ele foi morar com a mãe e nunca mais o vi,
até o verão passado, quando o pessoal do Register foi obrigado a ir a um
retiro participar de um bocado de jogos de confiança, para aprendermos a
trabalhar juntos, como uma equipe. Eu estava ali parada no estacionamento,
esperando para entrar no ônibus do retiro, quando um carro parou e advinha só
quem saiu de dentro?

É, o
Christopher Uckerman. Por acaso ele tinha decidido vir morar com o pai, numa
tentativa, e mandou alguns recortes do jornal de sua outra escola, e o Sr. Duarte
o deixou entrar para o Register.
E mesmo sendo como se a cabeça dele tivesse sido transplantada para uma das
estátuas de deuses ou algo do tipo, porque ele estava um metro mais alto e
estava totalmente um gato desde, você sabe, os dez anos, dava pra ver que ainda
era o mesmo Ucker. Porque tinha um exemplar de O apanhador de sonhos se
projetando da mochila, livro que eu, claro, estava pensando em ler.

No fim do retiro o Sr. Duarte pediu ao Ucker para ser editor, porque ele
mostrava fortes qualidades de liderança e também porque ele tinha escrito um
texto totalmente fantástico, durante um exercício de escrita livre, falando de
quando era o único garoto numa turma de culinária, e fora obrigado a freqüentar
a aula depois de ter passado por alguma encrenca na Cidade do México, onde
havia morado com a mãe. Acho que ele tinha sido meio deliqüente por lá ou algo
assim, aprontando e coisa e tal, e as autoridades o puseram num programa
experimental para garotos que corriam risco.

Claro que o texto de Ucker, por melhor que fosse, talvez não tivesse lhe
rendido o cargo de editor-chefe se Anahi participasse do retiro, mas Any tinha
escolhido passar o verão na colônia de jornalismo televisivo, na Califórnia (é,
por acaso existe isso, e Anahi já é tão boa em bater papo que conseguiu uma
bolsa para ir para lá), por isso nem foi ao retiro.

Mesmo assim aceitou com elegância a decisão do Sr. Duarte. Talvez seja algo que
ensinaram numa colônia de férias do jornalismo televisivo. Você sabe, como ser
elegante com as coisas. Na verdade, não aprendemos nada assim no retiro, mas
nos divertimos com a cara do Sr. Duarte. Como quando ele  mandou a gente fazer um exercício de
autoconfiança em que todo o pessoal precisava passar por cima de um tronco
preso entre duas árvores, a dois metros do chão, no meio do mato, sem deixar
ninguém do outro lado (eu falei que os exercícios eram realmente, realmente
imbecis?), sem usar escada nem nada, só as mãos, porque uma onda gigantesca de
creme de amendoim vinha caindo na nossa direção. Já falei que o senso de humor
do Sr. Duarte também é realmente, realmente imbecil?
De qualquer modo, quando todos nós ficamos ali parados olhando o Sr. Duarte
como se fosse maluco, ele disse:

Sr. Duarte: Vocês agüentam o tranco?

E Ucker mandou na bucha:

Ucker: Na verdade, Sr. Duarte, a gente não agüenta é o tronco.

Foi quando soubemos que Ucker tinha todas as qualidades necessárias para o
cargo de editor-chefe. Até Anahi (quando as aulas recomeçaram no outono e ela
descobriu que tinha perdido o cargo que tanto queria) pareceu reconhecer as
capacidades superiores de liderança de Ucker.

Pelo
menos o primeiro coraçãozinho apareceu em sua agenda uma semana depois do
início do semestre, por isso acho que ela não guardou mágoas nem nada.

Ucker: Acho que vai ser ótimo (foi o que disse Ucker sobre a minha idéia. Você
sabe, a de fazer uma matéria sobre o seqüestro de Betty). Vai ser engraçado.
Podemos fazer um daqueles cartazes de pessoa desaparecida, como aqueles que são
pendurados no correio. E oferecer uma recompensa em nome da sra. Gárcia.

Anahi parou de sacudir a lata e refrigerante. Quando a lata dela pára de se
sacudir é sinal de que todo mundo deve se abaixar. Porque ela tem um
temperamento barra-pesada. Acho que não oferecem programas de treinamento sobre
isso naquela colônia de jornalismo televisivo.

Anahi: É a coisa mais idiota que já ouvi. Uma recompensa? Pela devolução
de uma BONECA?

Ucker: Mas a Betty não é somente uma boneca, ela é como a mascote não-oficial
da escola.  Acho que Dul está certa,
Karla escreva uma coisa sobre o assunto!

Karla:
É pra já.

Mantive
o olhar no meu bloco, esperando que Anahi não estivesse furiosa comigo. Puxa,
não considero Any uma das minhas melhores amigas nem nada, mas ela e eu
almoçamos juntas todo dia e, além disso, somos as únicas garotas do
jornal (bem, a não ser por duas calouras, mas imagina só, como se elas tivessem
importância!) e ela me contava um bocado de coisas, tipo o negócio dos
corações... para não mencionar o fato de que Ucker é um beijador fenomenal com,
digamos, excelente capacidade se sucção.

Como Any já estava pê da vida com Ucker por ter concordado em fazer o que ela
considerava uma matéria idiota, o fato de ele ter encarregado Karla de escrever
só a deixou mais furiosa.

Anahi:  Pelo amor de Deus, foi idéia da
Dul. Por que não deixa ela escrever? Por que vive roubando as idéias de Dul e
dando a outras pessoas?

Senti uma onda de pânico e lancei um olhar para Ucker.Mas ele estava totalmente
calmo enquanto dizia:

Ucker: Dul está ocupada demais com o projeto gráfico.

Anahi: Como é que você sabe? (rosnou)– Ao menos se incomodou em perguntar a
ela?

Dulce: Any, tudo bem. Estou feliz com meu cargo.

(Any fungou como se não acreditasse).
Anahi: Nem vem!

Eu não podia dizer o que queria, que fazer o projeto gráfico estava legal pra
mim. Porque faço muito mais para o jornal do que isso. Só que ninguém deveria
saber. Bom, ninguém além do Ucker, pelo menos, e do Sr. Duarte e alguns
administradores da escola.
Porque uma das coisas que tinham acontecido naquele retiro de verão era que o
Sr. Duarte me procurou e perguntou se eu estava disposta a aceitar um dos
cargos mais cobiçados e secretos do jornal.. Um cargo que, durante anos,
tradicionalmente só foi ocupado por gente do último ano, mas para qual o Sr. Duarte
me achava especialmente qualificada, mesmo estando apenas no primeiro ano...e
aceitei.