Anahí: O que você está fazendo aqui? – Foi o que Anahí disse assim que abriu a porta do seu apartamento e deu de cara com Alfonso.

Alfonso: Vim ver você, o porteiro me deixou subir. 

Alfonso estava lindo. O cabelo, um pouco comprido, estava molhado, a barba estava por fazer, e a combinação da camiseta azul marinho com a calça jeans clara valorizava, e muito, o corpo de Herrera. Depois do choque por vê-lo ali, ela perdeu alguns segundos analisando-o. 
Era perfeito. Por uma fração de tempo, foi inevitável que se lamentasse por já não poder tê-lo.

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Anahí: Eu... – Saindo do apartamento, ela fechou a porta atrás de si – Eu estava de saída.

Alfonso: Para onde? – Perguntou enquanto suas mãos, firmes, a puxavam para um abraço. 

Anahí: Para uma editora. – Respondeu no ato. A mentira, ainda que queimasse a sua garganta, saíra com imensa naturalidade – Vou levar uma das minhas histórias, vai que dou sorte... Mas e você? Não foi trabalhar hoje?

Antes de responder, Alfonso grudou os lábios nos dela. Anahí pensou em repeli-lo, mas o pensamento logo se dissipou. Era humanamente impossível resisti-lo, principalmente porque, talvez, aquele fosse o último beijo dos dois.

Alfonso: Passar uma semana com você me viciou. Uma noite longe e já estou com crise de abstinência. – Disse divertido, mordiscando os lábios dela. Sem resposta, Anahí preferiu beijá-lo outra vez. Com calma, sentindo cada mínima sensação que ele lhe causava. A língua quente tocando a sua e a envolvendo com tamanha perfeição, a boca que lhe proporcionava um encaixe perfeito, e os dentes que ora ou outra prendiam seus lábios. 

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Anahí: Não foi para a delegacia hoje? – Perguntou quando o beijo terminou e o silêncio se mostrou opressor.

Alfonso: Vou só depois do almoço. Pensei que pudéssemos almoçar juntos.

Anahí: Poxa, Poncho, desculpa, mas eu tenho mesmo que ir nessa editora. Talvez seja a minha grande chance. – Maldita encenação.

Alfonso: Eu sei. – Sorriu, contornando o rosto dela com os dedos – Vai dar tudo certo, tenho certeza. – Anahí não conseguiu sorrir com ele. Seu estado de espírito não permitiu.

Anahí: Eu, bom... – Um fraco suspiro escapou-lhe – Eu tenho que ir agora. – E aí ela se afastou.

Alfonso: O que você tem? – Ela não pôde sustentar àquele olhar. Encarando o chão, Any puxou uma golfada de ar.

Anahí: Só estou nervosa. – Quando, por um grande erro, ela o encarou, viu uma ternura imensa estampada naqueles olhos verdes. E então precisou dar-lhe às costas.

Caminhando para o elevador, ela mentalizou o que deveria fazer. Repetiu a si mesma o quanto era necessário que mantivesse o foco. 

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Alfonso: Hey, Any. – Ele a alcançou, virando-a para si – Tem certeza que é só isso? – Ela olhou para as mãos que acariciavam seus braços.

Anahí: Tenho sim, Poncho. Não se preocupe. – Com muito custo, sorriu – Vamos?

Do elevador até a rua, Anahí mal ouvira as palavras que Alfonso dissera. Por minutos incontáveis ela se perdeu olhando para ele. Parecia tão feliz. Mesmo enquanto conversava o sorriso estava ali, quando não nos lábios, no olhar. O olhar... Talvez fosse daquele olhar que ela iria sentir mais falta. O olhar que a cativara desde o primeiro instante, que era capaz de aquecê-la, de levá-la para um lugar muito longe da realidade caótica na qual vivia.

Alfonso: Anahí? – Repetia pela terceira vez. Só então seus pensamentos se dissiparam e ela passou a ouvi-lo – Quer que eu te leve?

Anahí: Não precisa. Meu carro está na garagem. E a editora é longe, fora de mão.

Alfonso: Eu não tenho pressa.

Anahí: Não, eu vou sozinha. É sério, não precisa.

Alfonso: Já que insiste. – A abraçou – Nos vemos à noite?

Anahí cerrou os lábios e as marteladas em seu peito aumentaram. Não. Eles não se veriam à noite, não se veriam nunca mais. 

Anahí: Claro.

Alfonso: Está gelada. – Constatou após roçar o nariz no dela.

Anahí: É o nervosismo. – Repetiu com uma risada forçada. Rira para espantar as lágrimas.

Alfonso: Você vai arrasar, anjo. – Ela assentiu e, depois de receber um longo selinho de Alfonso, o viu entrar no carro.

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Anahí: Poncho! – Ela gritou, segurando a porta antes que ele a fechasse.

Alfonso: O que foi? – Ele a olhou, vendo-a agachar-se ao seu lado.

Anahí: Obrigada por tudo. – E nem que ela respirasse o mais fundo que podia conseguiria dissipar as gotículas de água que se acumulavam no canto de seus olhos. – Você foi a melhor pessoa que conheci na vida.

Alfonso: Any... – Ela o calou, pousando o indicador sobre seus lábios.

Anahí: Eu amo você. – Disse, para depois beijá-lo. Um longo e sôfrego beijo. Alfonso estranhou, mas tampouco contestou. Deixou-se ser devorado pelos lábios da amada, devorando-a com a mesma intensidade. – Eu amo você. – Os lábios vermelhos se abriram num sussurro.

Alfonso: Eu também. Amo você, Anahí. – Ela tratou de decorar o som daquela voz. Depois se levantou, olhou para a sua mão enlaçada à dele, e a soltou, lentamente. Ela não queria esquecer aquele toque. 

Um suspiro escapou-lhe quando ela o ouviu fechar a porta. De costas para o carro, discretas lágrimas rolavam de seus olhos. E então um grito, agudo e desesperado, rasgou a sua garganta quando dois outros barulhos, modestos, mas ainda assim perceptíveis chegaram aos seus ouvidos. 

Um tiro, silencioso. E o grunhido dele, Alfonso.