Fanfic: Aconteceu Naquela Noite-AyA (Finalizada) | Tema: AyA

— O que aconteceu? — Ele correu até a cama e sentou-se na beirada do colchão.
— Provavelmente, nada. — Anahí tentou sorrir, mas não foi capaz.
— Alguns minutos atrás não era nada. Agora é provavelmente nada. O que é? Sentiu-se mal no trabalho?
Anahí sentiu que grossas lágrimas começavam a escorrer por suas faces. Não conseguiria lidar com o problema sozinha.
— Estou tendo um pequeno sangramento.
Alfonso ficou imóvel. Anahí não conseguia nem mesmo escutar sua respiração.
— Ligou para o médico? — A voz soou rouca.
— Logo que percebi. Ele me disse para ir para a cama. E aqui estou eu.
— Isso foi tudo o que ele disse? E remédios?
— Alfonso, não há remédio para isso. Pelo menos, nenhum que tenha sido eficaz até agora.
— Droga! Deve haver alguma coisa que o médico possa fazer.
— Nada além de esperar.
Alfonso se levantou, parecendo desnorteado. Anahí permaneceu deitada com os olhos fechados, temendo que qualquer movimento pudesse alterar algo dentro dela e a fizesse perder o bebê. Alfonso andava de um lado para outro, e a olhava com preocupação.
— Não sei muito sobre o assunto — ele afirmou, meio sem jeito. — Mas o que essa perda de sangue pode significar?
— Muitas coisas. O rompimento de um vaso sangüíneo devido à pressão alta. — Anahí respirou fundo. — Pode indicar sangramento do útero, ou ainda que a placenta esteja se desprendendo.
Alfonso engoliu em seco.
— No momento, a única precaução a tomar é ficar na cama?
— Sim, até que o sangramento pare.
Ele tornou a se sentar perto dela e acariciou-lhe o rosto com as costas da mão. Os lábios de Anahí começaram a tremer, e as lágrimas voltaram a descer por suas faces.
— Alfonso, estou assustada.
— Deus! Eu também. Eu também... — sussurrou, encostando a face na dela. — Mas tenho certeza de que tudo ficará bem, minha querida. Acontece com freqüência entre as gestantes, não é? Agora, pensando melhor, parece que minha madrasta teve algum problema parecido quando estava esperando o primeiro filho, e ele agora é um garoto robusto e saudável. Aliás, o pirralho os deixa malucos — comentou, forçando uma risada.
— O médico me garantiu que é comum acontecer — comentou Anahí. — Não há razão para alarme, a não ser que o sangramento piore.
— Está vendo? — Enxugou as lágrimas com delicadeza. — O bebê só está querendo roubar um pouco de atenção de sua linda mãe.
Anahí tentou sorrir para que ele se sentisse melhor, embora soubesse que nenhum dos dois sossegaria enquanto ela e a criança não estivessem completamente fora de perigo.
— Posso lhe trazer alguma coisa? Você almoçou? Anahí meneou a cabeça.
— Não, mas não quero comer nada.
— Deixe-me ajudá-la a trocar de roupa.
O tailleur estava todo amassado, mas só naquele momento Anahí se dera conta.
— Nem mesmo perdi tempo em me trocar. O médico disse para ir para a cama logo, e foi o que fiz.
Alfonso ajudou-a a se despir. Quando se viu apenas com as roupas de baixo, Anahí pediu licença e foi até o banheiro. Ao voltar, vestia um robe de algodão, e se achava pálida e trêmula. Os olhos verdes haviam perdido o brilho e se mostravam frios e sem expressão. O nariz estava vermelho e inchado pelo choro.
— Ainda sangrando? — ele perguntou ansioso. — Ou está melhor?
— Pelo menos não está pior.
— Então, venha. Deite-se logo. — Alfonso ajeitou o travesseiro para acomodá-la.
Ao se deitar, o cabelo preto se destacou pelo contraste com a brancura da fronha. Anahí fechou os olhos. A pintura estava borrada, e seus lábios, inchados. Não havia cor em suas faces, mas para Alfonso ela nunca parecera tão linda.
— Está doendo? Anahí abriu os olhos.
— Na verdade não é uma dor. E como se fossem cólicas. Ele assentiu com ar solene. Ela sorriu e deu-lhe um soco de leve no braço.
— Está concordando com o quê, seu tolo? Nunca teve cólicas na sua vida.
— Ainda bem. Acha que uma aspirina ajudaria?
— É melhor não tomar nada sem consultar o médico — Anahí respondeu. — Pode voltar ao escritório. Ligarei se precisar.
Alfonso franziu a testa.
— Não me deixe zangado.
— Mas, Alfonso, não há nada...
— Vou ficar.
Anahí ficou quieta, satisfeita em saber que o marido planejava ficar com ela. Não desejava enfrentar aquela agonia sozinha.

— Alfonso?
— Hum?
Ele estava sentado na beirada da cama, olhando ao longe pela vidraça. O sol começava a desaparecer no horizonte.
— Em que está pensando?
— Esta foi a tarde mais longa que já vivi — ele respondeu. — Sei que está sendo muito mais longa para você.
Anahí lhe solicitara dezenas de pequenos itens. Em um dado momento, se deram conta de que essas tarefas inúteis eram apenas para mantê-los distraídos e ocupados. Ao final, concordaram em parar com aquela bobagem. Houvera momentos de silêncio, mas a comunicação entre os dois não necessitava de palavras.
— Sempre que conversamos sobre o bebê — Anahí começou a falar devagar —, foi sempre sobre uma criança saudável.
— O que está tentando dizer?
— Como se sentiria se nosso filho não fosse saudável? Se... se não nascesse perfeito?
Alfonso não respondeu, mas olhou-a como se não a estivesse vendo. Anahí continuou, demonstrando o quanto estava angustiada:
— Trata-se de uma reação natural do organismo tentar eliminar o que não é perfeito. Muitas vezes um aborto espontâneo é considerado uma grande bênção.
Alfonso esperou muito tempo para falar, e, quando o fez, parecia furioso:
— Como pode me fazer tal pergunta? Acha que sou assim medíocre? Não nos conhecíamos bem quando nos casamos, mas achei que agora já me conheceria melhor, depois desse tempo de convívio.
Lágrimas de remorso encheram os olhos de Anahí.
— Desculpe... Você está certo. Pelo que já conheço de você, não deveria ter feito tal pergunta.
As lágrimas de Anahí amenizaram a raiva de Alfonso. Com delicadeza, ele afagou a barriga da esposa, como se quisesse proteger o bebê com suas mãos grandes e fortes.
— Eu amo essa criança e a quero de qualquer jeito.