Fanfics Brasil - 2 O Magnata Grego - Kim Lawrence

Fanfic: O Magnata Grego - Kim Lawrence | Tema: livro original, hot


Capítulo: 2

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CAPÍTULO DOIS


 


Presa no trabalho até tarde em função de uma emergência inusitada, Katie ligou para Tom e combinou encontrá-lo diretamente no hotel onde jantariam. Correu para casa, deu comida ao gato, um felino amarelado particularmente perverso chamado Alexander, e trocou de roupa em tempo recorde. Quando saiu do táxi, nada na aparência dela denunciava a pressa com a qual se arrumara.


Estraçalhando ruidosamente os saltos altos contra o cascalho, Katie disparou através do pátio de entrada, incapaz de dissipar a angustiante sensação de ter esquecido algo. Ao adentrar o saguão reluzente, alisou os cabelos ainda úmidos, os quais não tiveram tempo de secar apropriadamente.


Tom aguardava. O rosto iluminou-se assim que Katie apareceu, e esse prazer notável alegrou-a por ter decidido usar o vestido que Sadie lhe deu, com um pedido de que fizesse bom proveito.


Tom beijou-a na boca com ardor, o que foi surpreendente. Não era nada efusivo em público, normalmente.


— Você está linda! — disse Tom, com a voz rouca quando separaram-se.


— Você parece surpreso... — A provocação escondia uma preocupação secreta. Seria inteiramente normal pensar se lembrou ou não de destrancar a passagem do gato, enquanto você é beijada apaixonadamente pelo homem com quem vai se casar? — Deve ser o vestido. — Embora nunca houvesse criticado abertamente a sua maneira de vestir, Katie sabia que Tom gostaria de vê-la bem arrumada mais vezes.


— Nem reparei no vestido — replicou Tom, ironicamente.


— Bem, não há muito no que reparar, há? — respondeu ela, baixando o olhar indeciso para o escorregadio vestido azul marinho, que se agarrava demais às adoráveis curvas do corpo para o seu gosto. — Você não acha que é um pouco... vulgar?


A ingenuidade dela fez com que Tom gargalhasse.


— Você não poderia parecer nada além de elegante e sofisticada, mesmo se tentasse, e eu sou o homem mais afortunado do mundo.


Pode ser que logo Tom não pense mais assim.


Katie inspirou profundamente. Jamais haveria a ocasião certa para contar-lhe, por isso agora parecia uma ocasião tão certa quanto qualquer outra, ponderou.


— Tom, existe algo que preciso lhe contar — avisou Katie abruptamente.


Uma fagulha de impaciência assomou a bela feição juvenil do noivo.


— Vamos falar disso mais tarde, meu bem. Estamos mais do que atrasados, e Nikos não está acostumado com gente que o deixa esperando.


Aquele nome veio tão inesperadamente que a atingiu como um choque, arrebatando o ar dos pulmões e os pensamentos da cabeça de Katie. Sentiu um zumbido alto nos ouvidos, e foram necessários alguns segundos até que a sala parasse de girar.


— Nikos...? — Katie balbuciou. — É um nome bastante incomum.


— Não na Grécia.


Não havia chance do destino ser tão cruel.


— Ele é grego...? — perguntou Katie. Tom assentiu.


-Isso mesmo. Estudamos em Oxford na mesma época, apesar de Nikos ter desistido da universidade antes de se formar.


— Não soa como alguém que você conhecesse... — falou Katie, com um nó na garganta. Desistir combina com alguém impetuoso, alguém que se mete em dívidas num piscar de olhos, alguém que poderia resolver os problemas se... Pare com isto, ordenou a si mesma severamente, você está ficando paranóica.


— Você quer dizer que sou um velho chato — disse Tom amuado.


— Você não é velho... — protestou Katie irritada. — Nem chato. Você é firme e responsável.


— Isso me faz sentir um milhão de vezes melhor — respondeu Tom.


Ciente de que magoara os sentimentos dele, Katie tentou aplacar o orgulho ferido do noivo.


-As mulheres, na verdade, não querem se casar com homens excitantes — contou-lhe Katie, convencida disto. — Eles são muito volúveis. — Infelizmente a par de que só estava piorando as coisas, Katie emudeceu.


Para o seu alívio. Tom recuperou o bom humor e riu muito alto.


— Não, as mulheres só querem fazer amor louca e apaixonadamente com eles — sugeriu Tom, pensando que Katie ficava especialmente adorável enrubescida.


— Algumas mulheres até podem, mas eu não — Katie insistiu com firmeza. — Homens assim são fúteis e vazios e interessados apenas em parecer atraentes — zombou.


Tom estremeceu.


— Você não vai dividir isso com Nikos, vai, meu bem?


— Eu vou tratar cada palavra dele como se fosse inscrita a ferro e fogo — prometeu obedientemente, decidida a bajular o amigo de Tom, se isso o faria feliz.


— Você vai gostar dele.


Katie não conseguia disfarçar o ceticismo.


— As mulheres gostam — asseverou Tom, autoritariamente. — De fato, você está certa, Nik não fazia parte do meu círculo de amizades. Na verdade, era um tipo meio solitário. Costumava sair por aí naquela motocicleta grande...


Katie anuiu. Principiava a fantasiar a cena, e não achou nada reconfortante. Alguém impetuoso, que gostava do perigo... A imaginação dela não teve o menor problema para visualizar Nikos Lakis com roupas de couro, parecendo desconfiado e perigoso.


— Eu estava lá quando Nik guinou para desviar de um garoto que correu para o meio da estrada. Não fiz muita coisa, mas Nik meteu na cabeça que salvei a vida dele.


Katie ouviu esse pronunciamento modesto com um sorriso afetuoso.


— O que significa que, provavelmente, você o fez.


— Só fiz o que qualquer um faria — insistiu Tom. — Para ser honesto, fiquei surpreso por Nik ter mantido o contato depois que partiu. Aparentemente, a sua desistência causou um escândalo familiar colossal, mas agora está tudo bem. O pai sofreu um ataque cardíaco e uma série de cirurgias de desobstrução arterial há uns dois anos atrás, então Nik assumiu a empresa da família... São armadores gregos, embora tenham diversificado drasticamente desde os anos 70... São bilionários... Você está bem? -perguntou Tom, examinando com preocupação a face lívida da moça.


Katie tomou fôlego e voltou a enfocar o rosto ansioso de Tom. O alívio fez com que sentisse a cabeça um tanto leve. O filho de um bilionário grego! Teve vontade de rir dos seus temores irracionais. Que seja ele a maior maçada do século; isso já não importava.


— Estou bem. Deve ser falta de glicose no sangue, não tive tempo de almoçar hoje — admitiu, fazendo um voto silencioso de contar a verdade a Tom antes que a noite terminasse.


Tom franziu a testa em reprovação.


— Eles exploram você naquele lugar. — Apertou o ombro de Katie. — Não ligue, daqui a pouco você poderá entregar-lhes o pedido de demissão.


— O pedido de demissão? — Katie arremedou perplexa. Tom riu.


— Você estará ocupada demais para trabalhar quando for minha esposa. Mas claro, se quiser manter alguma atividade para a caridade...


Katie mal pôde crer no que ouviu. Tom esperava que deixasse o emprego quando casassem! De jeito nenhum!


— Tem um pouco de cor nas suas faces outra vez — observou Tom, ignorando a hostilidade pela aposentadoria iminente. -Vamos, querida, o quanto antes alimentarmos você, melhor.


— E o seu amigo não gosta de ficar esperando — Katie acrescentou com sarcasmo.


Seu amigo chamado Nikos.


Como foi estúpida por assustar-se com um nome. Provavelmente, deve haver milhares de homens no mundo que se chamam Nikos, disse consigo mesma, conforme acompanhava Tom até o salão de jantar.


Isto não está acontecendo!


— Aqui está ela, Nikos. — Indiferente ao estado de paralisia da moça ao seu lado. Tom orgulhosamente impeliu-a para frente. Como uma marionete, Katie estava empedernida. — Esta é Katie. Não disse que era absolutamente esplêndida e inteligente também? Vamos, querida, não seja tímida...


Tímida? Melhor paralisada de horror, para não mencionar fora de si de tão assombrada pelo encontro!


Se o chão se abrisse sob os seus pés, Katie preferiria pular para dentro do buraco do que viver esse momento. Mesmo nas melhores ocasiões, Katie odiava quando Tom apresentava-a aos amigos com essa espécie de vanglória. Talvez existissem mulheres por aí, capazes de sobreviver à sorte de apresentação generosa que Tom lhe destinava, porém, Katie sabia que não era uma delas.


A figura alta no temo escuro se ergueu com uma graciosidade lânguida, quase selvagem.


— Realmente você disse. Tom.


Todos os pensamentos alucinantes desapareceram. Katie não a ouviu por sete anos, mas aquela voz grave e refinada era exatamente como se lembrava. O tom de chocolate amargo, sem o mínimo vestígio de sotaque, fez os arrepios irromperem como uma erupção sobre a pele de Katie, mantendo uma conexão alarmante com as sensações de formigamento.


— Tom me contou tanto a seu respeito que sinto como se já conhecêssemos um ao outro.


Ao contrário de Katie, Tom pareceu não reparar no fio mordaz das palavras gentis, ou perceber a hostilidade fria nos olhos notáveis do outro, enquanto passeavam casualmente pelo corpo dela, divagando por mais tempo do que seria educado nas vertentes expostas dos seios.


A despeito de a estupefação ricochetear furiosamente às voltas na sua cabeça, Katie quase podia admirar a coragem de Nik, a dela própria estava muito próxima de um colapso. Não foi desconhecer como ou por que o grego estava aqui, e isso já era rum o bastante! O que realmente a aterrorizou, mas ignorar o que ele faria ou diria a seguir.


Os olhares encontraram-se, a expressão naqueles traços caprichosamente talhados revelava pouco, mas quando os olhos se tocaram por um instante, Katie ficou com a definitiva impressão que Nik apreciava cada segundo do seu atordoamento. Foi essa descoberta que permitiu que mantivesse o autocontrole.


Katie saudou a revigorante centelha de raiva. Era algo sólido e real em que podia agarrar-se. O prazer malicioso que notou naquelas profundezas insondáveis pareceu-lhe inexplicável. Comprar um marido, consentidamente pode tê-la feita merecedora de escárnio e risadas afetadas em alguns meios intolerantes, porém, se fora à compradora, Nik fora comprado, o que dificilmente colocava-o numa posição de superioridade... Mas não que alguém notasse, afinal, ele parecia tão desgraçadamente entretido consigo mesmo.


Contudo, a arrogância e a auto-estima de Nik poderiam ter algo a ver com os bilhões que tinha na conta bancária, sem dúvida. E eu dei dinheiro a ele... Quando a mente voltasse a funcionar, Katie seria capaz de discernir as coisas, mas agora precisava sufocar um turbilhão de gargalhadas histéricas. A situação era positivamente surreal.


— Katie, querida, este é Nikos Lakis.


Como Tom, Nik vestia um temo cinza escuro; ao contrário de Tom, o dele não fora cortado para disfarçar um abdome em expansão. Era difícil imaginar aquele homem, ali de pé, comprazendo-se nos excessos necessários para obter-se um abdome volumoso... Tom era firme em tudo e transpirava uma aura que dizia "eu tenho o controle". Katie não havia esbarrado em muitos homens assim, mas aqueles que encontrou não a interessaram. Pensavam que o mundo girava em tomo deles.


A mente de Katie divagou de volta para a ante-sala abafada do cartório. Lembrava-se da figura alta e dominadora, tão mais jovem do que imaginara, que adentrara a saleta exibindo uma presença ameaçadora, e nada da humildade que esperava de um homem desesperado o bastante para casar por dinheiro. Saber que Nik nascera num berço de ouro explicava a arrogância, mas não por que o filho de um bilionário se casaria por dinheiro.


Meu Deus, fui casada com um milio..Não, bilionário grego por sete anos e nem sabia disso. Até a mais dramática das novelas mexicanas não ousaria apresentar um enredo tão mirabolante.


Katie foi forçada a rever em parte a sua noção de autocontrole, conforme os olhos vidrados de choque deslizaram para a curva apaixonante dos lábios sensuais de Nik... a leve sensação de tremor na barriga intensificou-se. Uma imagem mental totalmente inadequada daqueles lábios predadores cravados nos seus ofuscou-lhe a visão...


Katie estava pretes a atingir o ápice da imaginação caprichosa quando seu pesadelo sorriu-lhe. O sorriso transpirava uma ameaça sensual, totalmente de acordo com aqueles devaneios selvagens. O cérebro abstraído encontrou refúgio em detalhes irrelevantes, como a curva esculpida dos lábios e o ângulo incisivo dos pômulos altos do rosto de Nik. Através dos anos, Katie decidiu que a imaginação havia exagerado a sensualidade crua que Nikos Lakis transpirava. Agora pensava diferente! O homem vertia sensualidade por cada poro. Era quase indecente.


Os lábios obedientes de Katie formaram o sorriso sociável necessário, mas os olhos eram outro departamento; continuavam a irradiar horror e perplexidade.


Tom, alegremente alheio à tensão gritante ou à relutância da noiva, impeliu-a mais para frente com orgulho.


— Prazer em conhecê-la, Katherine. — Uma sobrancelha curvou-se de súbito. — Katherine, não é...?


Katie olhou fuzilante... ele sabia muito bem que não. Como Katie, Nik possuía uma cópia da certidão de casamento, a mesma que Harvey mantinha trancada por segurança... Harvey! O leal amigo da família devia conhecer a identidade de Nik e nem lhe contou. A ambigüidade dos homens é desconcertante, pensou, examinando sabiamente, de modo superficial, as próprias conquistas nesse âmbito nos últimos tempos.


— Não, de fato é Katerina. Só que ninguém me chama mais assim — acrescentou ansiosa, com uma antipatia crescente acirrando-lhe a voz suave.


— Isso é uma pena, é um lindo nome.


Foi o modo como Nik falou, mas até a grade de horários da rodoviária soaria encantadora se pronunciada por aquela língua de prata. Não, de prata não, se aquela fala mansa aveludada tivesse uma cor, seria um tom decadente de roxo. Katie sacudiu a cabeça de leve, irritada pela natureza esdrúxula desses pensamentos. Roxo ou marrom, uma voz assim constituía uma habilidade muito perigosa para um homem, especialmente, um parecido com esse.


Se Nik ficou tão chocado quanto ela ao descobrir a identidade da sua companhia para o jantar, disfarçava bem, o que poderia significar isso? Ele já sabia? Talvez, não a tenha reconhecido? Katie rejeitou essa possibilidade antes mesmo de formulá-la totalmente. Estaria aqui por que Harvey o contatara para falar do divórcio? Ou seria uma coincidência aterradora?


Tinha perguntas em abundância, mas nenhuma resposta óbvia aflorou na cabeça zonza.


Minha nossa, por que não contei a Tom quando tive a chance? Murmurou para si mesma. Agora era tarde demais... ele a odiaria, e quem poderia culpá-lo? O fato de que isso só estava acontecendo porque não confessara antes, fez parecer que estava sendo punida pela covardia. Talvez fosse apropriado que a retribuição viesse sob a forma de um homem que possuía a beleza pecaminosa de um anjo caído.


Comprimindo os lábios para evitar que tremessem, Katie lançou à figura sombria um olhar dissimulado sob a curva dos longos cílios. O que viu no rosto enxuto de Nik não foi reconfortante. Por favor, por favor, não deixe que ele diga nada até que eu tenha a chance de contar a Tom por mim mesma.


Era isso! Se pudesse explicar a Tom ela mesma... uma esperança súbita ondulou através de Katie. Talvez não fosse tarde demais. Se pudesse ficar a sós com aquela criatura, e explicar a Nik o estado das coisas, poderia apelar que resguardasse um silêncio temporário até que ela tivesse uma chance. Seus olhos colidiram; foi uma colisão fugaz, mas longa o suficiente para demovê-la da idéia de apelar à sua boa índole. Katie conteve um estremecimento. Ninguém com olhos como esse tinha uma!


Entre todos os homens do mundo, por que acabara casada com ele?


Se Nikos Lakis se calasse quanto ao acordo de casamento deles, seria pelas próprias razões, não em consideração a ela ou a Tom. Admitir que casou por dinheiro talvez não combinasse com a sua imagem de machão, especulou Katie. Embora lhe parecesse que os homens gregos fossem um tanto pragmático sobre tais coisas. Katie rangeu os dentes. O melhor que podia esperar é que Nik ficasse quieto pelos seus próprios motivos.


Katie não soube como os joelhos trêmulos conseguiram suportar o seu peso, quando uma das mãos foi engolfada por um aperto firme. Os músculos do estômago contraíram-se violentamente, conforme os dedos morenos envolveram os dela própria. O contraste entre pequeno e grande, escuro e claro... mais uma vez, o cérebro sitiado foi distraído da tarefa de enfrentar assuntos muito mais urgentes, por exemplo, se deveria antecipar-se a Nik e contar tudo a Tom agora mesmo?


Como deveria fazê-lo, exatamente...? Na verdade Tom, eu já conhecia Nikos...sim, não é uma coincidência? Não que o conheça bem exatamente, nós só nos casamos...


Katie notou que estava sentada, mas não lembrava de haver sentado. Nem podia lembrar-se como o copo fora lhe parar na mão, mas fazer uso dele pareceu uma idéia extremamente correta.


Com um suspiro, Katie colocou o copo esvaziado de volta na mesa e, assim que sacudiu os cabelos para trás, descobriu que ambos olhavam para ela.


— Essa é mesmo uma boa idéia com o estômago vazio, querida? — Tom falou ironicamente.


Ele estava desesperadamente ansioso para que ela causasse uma boa impressão naquele homem que admirava. Se o fato de eu estar tomando uns drinks a mais apenas fosse tudo com o que Tom tem que se preocupar! A ironia atingiu-a energicamente, e Katie esforçou-se para controlar o turbilhão de histeria perigosamente alojado na garganta seca. Rir como uma hiena poderia atrair uma atenção inoportuna...


— Katie teve um dia duro no trabalho hoje.


A fronte lisa de Katie enrugou... de novo a ansiedade em agradar nos modos de Tom. Talvez isso não fosse tão surpreendente. Duas coisas o impressionavam, dinheiro e poder, e aquele homem possuía ambos em abundância, notava-se. Tom tinha dinheiro e poder, o que não tinha era a autoconfiança implícita do grego alto. Autoconfiança que advém quando você não sente a necessidade de provar a si mesmo para ninguém.


— Você trabalha, Katerina? — Nikos Lakis conseguiu revestir aquela inquirição banal com uma divertida incredulidade.


Os olhos de Katie aguçaram-se enquanto aqueles olhos negros irradiavam um encanto vão. Pareceu que a antipatia que sentia era completamente recíproca.


— Quando isso não interfere com ir às compras ou pintar as unhas.


Tom, que antes nunca tinha ouvido aquela entonação particular na voz afável de Katie, riu desconfortavelmente como se a noiva houvesse dito uma piada da qual não tinha entendido direito. Nik não riu. Os olhos impiedosos continuaram a devassar a face zangada de Katie e então os dedos longos da moça curvaram-se sobre a mão esquerda, que jazia cerrada sobre o topo da mesa.


Sem pressa, Nik afrouxou um por um os dedos afilados. A ponta do seu polegar roçou nas veias azuladas da face interna do pulso, quando virou a mão dela para cima, expondo a falta de trato das unhas curtas de Katie. O toque também expôs os limites da sua coragem, que vieram tinindo à vida.


Katie gostaria de poder arrastar-se para fora da própria peie.


— Hoje não — observou Nik, gentilmente.


Katie ergueu o queixo, respirando ofegante com o fogo que lhe saía pelas narinas.


— Sou uma organizadora de eventos. — E uma das boas, também gostaria de ter acrescentado.


— Impressionante — falou Nik mansamente. — E o que uma organizadora de eventos faz exatamente? — completou, fazendo soar como se aquilo não significasse grande coisa.


Tom, percebendo o clima pela primeira vez, mostrou-se levemente constrangido.


— Katie trabalha para uma obra de caridade, mas vai desistir de trabalhar depois do casamento.


-Ah... o casamento, e quando vai ser isso?


— Eu não consigo que Katie marque uma data.


O olhar lânguido de Nik voltou-se para Katie.


— Sério? Você me surpreende.


Nik fê-la compará-lo a um gato convencido brincando com um rato, não porque estivesse realmente faminto, mas apenas porque ser cruel era parte da sua natureza. Quanto o mais Katie via desse homem, quanto o mais havia para detestar.


Esse era um jogo para dois, pensou Katie implacavelmente. Se Nik iria atirá-la na arena, não havia porque prolongar a agonia nem o prazer dele.


Era uma tática perigosa, mas Katie sentiu-se atipicamente atrevida, e ao menos, desse modo, saberia se sim ou não...


— E você, senhor Lakis. Existe uma senhora Lakis?— indagou docemente. — Ou algum Nikos Júnior?


Katie prendeu a respiração. O silêncio que sucedeu à pergunta pareceu durar uma eternidade. Quando o olhar cabisbaixo se ergueu, Katie ficou surpresa de ver algo que parecia admiração nos olhos fúlgidos de Nik.


— Só há uma senhora Lakis na minha vida, e ela é minha madrasta, uma força muito influente na minha vida. — Ele sorriu, não de um modo torpe, como se tivesse pisado em alguma coisa nojenta, tudo menos isso. O queixo de Katie caiu quando viu as linhas austeras do rosto orgulhosamente esculpido produzir um sorriso honesto às raias da santidade.


A transformação não foi nada menos do que avassaladora. Katie mal pôde conter-se para não sorrir embasbacada de volta.


— Então, não é casado? — persistiu ela, obstinadamente.


— Se Nik se casasse, Katie, acho que já haveríamos lido a respeito. — Tom gargalhou. — A mídia teria armado um verdadeiro circo.


Você não sabe a metade da história, pensou Katie.


A humilhação pública e o escândalo de ver a própria noiva revelada como a esposa secreta de Nikos Lakis seriam devastadores para Tom, e o interesse fundamental de Katie deveria ser protegê-lo de qualquer controvérsia.


— O casamento só seria inevitável para a procriação de... como foi que você disse mesmo?... Nikos Juniores. Nós gregos somos meio antiquados quanto a esse tipo de coisa.


— Eu diria insensível.


Tom começou a parecer seriamente perturbado assim que pousou-lhe uma das mãos em advertência sobre o ombro. A pressão fez Katie retrair-se. Os olhos de Nik acompanharam o gesto do outro, e a linha permanente sobre a curva do seu nariz aristocrático agravou-se simultaneamente.


— Vamos pedir? — disse Tom.


— Não estou com fome. — Katie duvidava que fosse capaz de comer uma lasca, mesmo se o futuro dela dependesse disso. O que não era um cenário mais absurdo do que a realidade, ter o seu futuro e Tom dependentes da discrição de um homem que parecia tão inconstante quanto presunçoso.


— Os gregos não são reconhecidos pela insensibilidade, Katerina.


— Ui, foi no seu ego que eu acabei de pisar? Ah, mas tenho certeza de que são amantes espetaculares. — Katie sorriu falsamente até que esvanecesse ao desdém. — Mas me perdoe se, por acaso, eu penso que escolher alguma pobre garota com quadris de boa reprodutora e a ascendência certa, para produzir um herdeiro, è extremamente insensível.


-Katie!


Nik, com um sorriso fixo nos lábios sensuais, levantou a mão num gesto reconciliador para aplacar o protesto apavorado do outro.


—  Você vai se casar com uma mulher romântica, meu amigo — disse Nik, com uma fala mansa. — Alguém para quem os casamentos arranjados são uma execração. — Perscrutou o rosto de Katie com olhos zombeteiros. — Não estou certo, Katerina? Você nunca se casaria por motivo algum, exceto amor? Certamente, não por nada elementar como... segurança. -O indicador de Nik, aparentemente, roçou o ninho de diamantes no dedo dela por acidente.


O sarcasmo, tão corrosivo quanto ácido de pilha, fez Katie desejar arrancar-lhe o sorriso afetado do rosto. As mãos crisparam-se sobre a mesa.


— Em um mundo perfeito qualquer um casaria por amor -afirmou, empedernida.


— Então, você é pragmática, afinal, o que é infinitamente melhor do que ser hipócrita, claro.


Àquelas palavras sibilantes, os últimos resquícios de comoção em Katie esmaeceram num espasmo violento de cólera. As gracinhas já foram longe demais.


Comprar um marido pode ser uma coisa bastante patética de se fazer, mas ao menos ela teve uma desculpa danada de boa, enquanto que desculpa Nikos Lakis teve? Um modo rápido de arrumar dinheiro pareceu-lhe a aposta mais certa a fim de sustentar o estilo de vida extravagante, caso o papai rico discordasse de financiá-lo. Se alguém aqui é hipócrita, não sou eu. Pensou Katie, mordazmente.


Tom, suspeitando que perdera alguma coisa nesse rápido intercâmbio, aproveitou a menção de algo sobre o que sentia-se um especialista.


— Oh, Katie é muito prática.


Nik olhou do anel no dedo de Katie até os diamantes em torno do pulso e sorriu.


— Disso eu nunca duvidei. Ah espero que não se importem, eu pedi uma champanhe — comentou, assim que o garçom de bebidas abeirou-se da mesa.


— Teremos prazer em acompanhá-lo, Nik. Não é, querida?


Katie anuiu. Lamentou profundamente ver o prazer cândido de Tom diante daquele gesto vazio. Geralmente um homem astuto, Tom não conseguia enxergar o que havia debaixo do seu nariz no que se referia a Nikos Lakis. Talvez o glamour da riqueza era o que deixava Tom cego. No entender de Katie, o noivo era uma presa fácil!


Nik retirou a garrafa do berço de gelo e, pessoalmente, estourou a rolha com uma torção magistral dos dedos longos e um piparote do pulso forte, mas, também, devia ser uma autoridade em beber champanhe e fazer amor com belas mulheres, pensou Katie amargamente, enfim, não é nisso que playboys como Nik empregam o tempo? A ironia é que, provavelmente, Katie financiara parte de toda aquela champanhe e mulheres! Essa conclusão só tornou a atitude dele ainda mais hipocritamente sentimental.


O queixo de Katie aprumou-se com determinação. Os dois tinham um contrato e Nik conseguiu o dinheiro equivalente ao esforcinho precioso de sua parte. Estaria condenada se permitisse que, com aqueles deleites silenciosos, Nik arruinasse a sua vida justo quando ela ia para onde queria, e Katie diria isso, na primeira oportunidade que o flagrasse sozinho.


A idéia de ficar a sós com Nik fez seu estômago sacudir. Katie surpreendeu-se ao descobrir que excitação e repugnância podiam, muitas vezes, parecer a mesmíssima coisa. Naturalmente, se pudesse escolher, jamais ficaria sozinha com esse homem abominável, mas nestas circunstâncias não havia outra opção.


— Ao feliz casal!


Katie, com os olhos chispando de beligerância, sorveu obediente as bolhas dispendiosas, sem saborear nem um pouco.


O jantar foi uma tortura. Os comentários enigmáticos de Nik foram tão numerosos que Katie tinha certeza de que Tom entenderia. Custou-lhe toda a força de vontade para não reagir às tiradas dele. O toque enxerido do celular de Tom, assim que chegaram ao ponto crucial, decerto, foi algo como um intervalo conveniente.


Tom desculpou-se, mas atendeu a ligação, e conversou por vários minutos com alguém do outro lado. Pelo modo como a expressão tornou-se anuviada, não foi difícil dizer que o que ouvia eram más notícias.


— Estarei lá em cerca de trinta minutos — disse Tom, antes de deslizar o telefone de volta para dentro do bolso. — Realmente sinto muito, pessoal. — Seu olhar compungido resvalou de Katie para Nik e para ela de novo. — Mas realmente preciso ir. Aquela expansão na periferia, na qual estou trabalhando, não tem sido nada além de problemas desde o início. Soube que haveria alguma espécie de manifestação, por isso cuidei para que as máquinas de terraplanagem chegassem essa noite, mas parece que os malditos eco-guerreiros nos venceram nessa.


— E — acrescentou lugubremente — não estão sozinhos. Uma estação de TV local está captando tudo. — Parecendo sinistro, Tom dobrou o guardanapo e levantou-se. — Vocês podem acreditar nisso? Tudo por causa de um insignificante pedaço de terreno pantanoso do qual ninguém jamais ouviu falar. Agora inventaram essa história de erva-daninha rara... eu lhes digo, uma erva-daninha.


Katie, percebendo que nutria alguma simpatia pelos comerciantes e moradores locais que não queriam a expansão da periferia, manteve um silêncio diplomático.


— Algumas pessoas — Tom reclamou — não suportam o progresso.


— O futuro, meu amigo, é verde — observou Nik.


A gargalhada de Tom sugeriu que considerara o comentário do amigo como uma piada. Katie, que não tinha lá tanta certeza disso, começou a levantar.


Tom gesticulou para que sentasse.


— Não, meu bem, termine o seu jantar, não há necessidade para que todos sofram. Nik a leva para casa? — Olhou interrogativamente para o outro, que respondeu tão macio quanto seda.


— O prazer é meu.


O estômago de Katie deu uma guinada horrível. Somente a determinação de não dar aquela satisfação a Nik fez com que conseguisse conciliar o desalento.


— Obrigado, companheiro. — Tom fez um sinal com o polegar levantado para Nik. — Vocês dois, aproveitem o jantar -encorajou, curvando-se para beijar o alto da cabeça de Katie.


— Talvez eu possa ajudar — disse a moça. — Conheço a mãe de Mark Rogers. — Tom soltou um rosnado à menção do líder da oposição local ao seu projeto. — É uma mulher adorável, Tom, e ela me disse que foi o mapa da expansão e a falta de assembléias locais que aborreceram Mark e os outros. Talvez se...


— Eu aprecio a oferta, Katie — retrucou Tom, incapaz de esconder a impaciência. — Mas negócios são negócios, estou certo que a mãe de Tom é uma boa mulher, mas não se pode discutir com encrenqueiros como ele, simplesmente vêem isso como uma fraqueza. Ligo para você pela manhã.


Katie disse a si mesma que esse era apenas o jeito de ser de Tom e que não era nada sobre o que pudesse fazer algo, mas nesta ocasião, enquanto assistia a sua partida, uma parte dela queria chamá-lo de volta e enfrentá-lo. Por que você está agindo como um imbecil pré-histórico? Por que está me tratando como um enfeite descerebrado? Katie queria exigir.


Vira-o trabalhar de modo perfeitamente amigável com altas executivas muito poderosas. Bancava o homem esclarecido nas ocasiões em que ouvira-o expressar admiração por mulheres em cargos de chefia. Então por que, quando se tratava da própria noiva, Tom assumia que nada remotamente conectado aos seus negócios podia passar pela cabeça dela?


Talvez fosse a sua educação, refletiu Katie, ou talvez, simplesmente, eu pareço burra?


Deu um suspiro quando Tom chegou na porta e, voltando-se para a mesa, descobriu que Nikos Lakis a observava.


 


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CAPITULO TRÊS   — O QUE você está olhando? — irrompeu Katie irritada. Havia compreensão demais nos olhos perturbadores de Nik para o seu gosto. — A dinâmica de um relacionamento amoroso. A resposta não a acalmou. Katie não queria esses olhos frios dissecando sua relação com Tom. Talvez vo ...


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  • nina0022 Postado em 28/12/2012 - 14:50:07

    adorei o fato de alguém finalmente dar credito aos verdadeiros autores dos livros. Total apoio!!!


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