Fanfics Brasil - 5 O Magnata Grego - Kim Lawrence

Fanfic: O Magnata Grego - Kim Lawrence | Tema: livro original, hot


Capítulo: 5

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CAPÍTULO CINCO


 


Katie não ficou esperando sentada para ver se Nik fazia o que pediu. Escancarou a porta e, segurando a saia longa, correu desabaladamente pelo caminho que levava até a entrada que dividia com Sadie.


Alternadamente, Katie esmurrava a porta e revirava a bolsa à procura da chave. Antes que pudesse encontrá-la, Sadie apareceu piscando sonolenta vestida com um par de calças bufantes de seda e uma blusa curta, que faziam-na parecer a habitante de algum harém.


-Onde é o fogo...?


Katie não tinha tempo para gastar com explicações.


— No andar de cima.


Os olhos de Sadie arregalaram, assim que contemplou a urgência nos modos de Katie pela primeira vez.


— Você não está brincando! — Sadie inalou o ar. — Posso sentir o cheiro de fumaça!


Katie atropelou a amiga sem a menor cerimônia.


— É porque meu apartamento está pegando fogo, e Alexander ainda está lá dentro! — gritou, enquanto galgava em disparada os lances da escada, dois de cada vez.


Ela ignorou o apelo alarmado de Sadie.


— Katie, você não pode ir lá em cima... é só um gato!


O cheiro de fumaça tomou-se mais forte conforme Katie escalava os degraus, porém, quando chegou ao topo, tudo de extraordinário que podia ver foram parcas lufadas de uma fumaça tímida, emanando pela brecha sob a porta da sua cobertura. Isso não era bom, mas Katie esperava coisa pior. Com alguma sorte, a brigada de incêndio chegaria antes que ficasse fora de controle.


Por um instante, Katie ficou-se ali, indecisa, sem saber o que fazer em seguida. O que as pessoas fazem nestas circunstâncias?


— Em caso de dúvida, cruze os dedos — declarou, nada cientificamente. Respirando fundo, Katie abriu a porta.


Exalou de alívio sonoramente, já que nenhuma bola de fogo letal a derrubara, e pressionou uma das mãos espalmada contra o peito, de onde o coração palpitante tentava escapar bravamente.


Talvez seja o meu dia de sorte, afinal... meditou Katie.


— Sorte...! — Revirou os olhos. Oh, que palavras as minhas, estou me tornando uma dessas pessoas irritantes que vêem o lado bom de uma calamidade, por mais terrível que seja. — Há otimismo, Katie, e há também insanidade. Seu apartamento incendiou porque você esqueceu de desligar o ferro de passar. Isso não é ter sorte, é ser desastrada.


O som da própria voz acalmou-lhe os nervos e fortaleceu-lhe a determinação. O apartamento consistia de uma sala de estar,cozinha em plano aberto, e um pequeno quarto com as comodidades de uma suíte. Embora o aposento principal estivesse tomado por uma fumaça acre, que lhe espicaçou o fundo da garganta e fez seus olhos lacrimejarem, Katie não conseguia notar mais nenhum sinal óbvio de incêndio, o que parecia estar de acordo com a sua teoria de que o fogo começara no quarto. Foi lá onde Katie engomou o vestido amarrotado, no chão em vez de aborrecer-se carregando a tábua de passar roupas.


-Alex... bichano bonito, gatinho bonzinho — chamou Katie, avançando cautelosamente pela sala enfumaçada.


Mal havia andado uns dois metros pela sala quando a visibilidade tomou-se nula. A única coisa que conseguia ver agora era um laranja embaçado emanando por debaixo da porta do quarto. Era a única coisa que lhe dava algum senso de orientação em meio à escuridão. Também deu-lhe uma profunda sensação de pressentimento... quanto tempo a porta conteria as chamas?


Sem pensamentos positivos a respeito, disse a si mesma, apenas vá em frente. O quanto antes encontrar aquele maldito gato, o quanto antes poderá sair daqui. Apesar do estoicismo os joelhos de Katie tremiam à medida que prosseguia cautelosamente.


A moça parava a cada poucos centímetros para ouvir, porém não houve resposta aos seus chamados.


Katie não sabia por que esperou que o gato respondesse, já que Alexander não era um bichano bonito, nem um gatinho bonzinho, era um animal beligerante que trazia ratos vivos para dentro do quarto dela, e que arranhava quando alguém tentava demonstrar-lhe afeto. Se fosse humano, os médicos diriam que Alexander tem um desvio de personalidade.


E se eu tivesse algum juízo, refletiu cruelmente, o deixaria aqui para fritar!


— Alex, bichano, bichano... — Entre chamados suplicantes, Katie caminhou direto de encontro a um objeto sólido, a mesinha de centro que descobrira num bazar de garagem. O impacto da peça sólida na canela vulnerável foi o bastante para arriá-la de joelhos. Aliviou o peso sobre o joelho machucado e sentiu que o tecido emaranhado do vestido rasgou-se.


— Droga!


De joelhos Katie percebeu que a fumaça era mais esparsa perto do chão. Decidiu continuar a busca nesta posição.


Engatinhava cautelosamente adiante quando ouviu uma voz grave chamando o seu nome.


Nik... bem, se ele quer me matar essa seria a oportunidade ideal, pensou Katie. Se um dia houve uma situação à qual o humor negro era apropriado, era essa, concluiu, prosseguindo na busca e ignorando zelosamente os crescentes gritos urgentes.


O sorriso maldoso de Katie transformou-se em tosse quando ouviu um ruído sonoro de impacto, seguido de perto por um potente palavrão em grego. Momentos depois Katie sentiu mãos fortes deslizando sob os seus braços e erguendo-a do solo.


— Me largue, seu idiota!


— Fique quieta e mantenha a calma. Peguei você. — E pegou mesmo, com uma garra de ferro que tomava a fuga impossível. -Você está bem a salvo agora — informou com uma voz tranqüilizante.


Katie, que não tinha nenhum desejo de ser salva, sabia instintivamente que segurança era algo que os braços de Nikos Lakis jamais poderiam oferecer-lhe. Foi o pensamento sobre o que eles poderiam oferecer que fez Katie começar a lutar com fervor. Devido à sucessão de vários golpes, a nota tranqüilizante na voz grave de Nik começou a soar bem mais tensa.


Katie deu um grito assim que ele parou de tentar acalmá-la gentilmente quando, revertendo a atitude, sem mesmo um "é para o seu bem", Nik atirou o corpo relutante da moça sobre os ombros ao estilo troglodita.


Este é um caso clássico, disse Katie consigo mesma, relaxando numa passividade exausta, no qual a resistência é definitivamente um tanto fútil.


Katie foi forçada a manter-se naquela posição indigna até que Nik chegasse ao corredor, quando se viu esborrachada no piso de madeira, o qual Sadie havia acabado de desmontar e encerar antes do Natal... Oh Deus, pobre Sadie... E isso tudo é minha droga de culpa! Eu sou a inquilina maldita!


Katie sentiu dedos frios pressionados contra o ponto do pulso na base da garganta, depois a mão, presumivelmente a mesma, deslizou sob o queixo e começou a inclinar sua cabeça para trás com firmeza.


Os olhos lacrimejantes abriram-se. Pareceu-lhe que Nik atribuiu erroneamente a sua inércia repentina a uma perda de consciência. Katie ficou envergonhada porque, por uma fração de segundo, havia realmente considerado a hipótese de permitir que Nik a reanimasse. Uma curiosidade de natureza puramente científica, claro.


— Você pode parar com isso? — Na cabeça de Katie, sua voz soara forte e desafiadora, porém aborrecidamente, o que de fato emergiu-lhe dos lábios secos foi uma queixa tímida.


— Bem, isso é um alívio, você não requer um boca-a-boca -disse a figura grande curvada sobre o corpo de Katie, assim que pôs-se de pé.


Embora o rosto e as roupas estivessem enegrecidas de fuligem, Nik ainda conseguia parecer incrivelmente belo como sempre, reparou Katie, desesperada.


— Imagine o seu alívio e multiplique por quatro — gemeu ela.


— Eu não esperava gratidão por salvar a sua vida, mas civilidade cairia bem...


— Salvar a minha vida! — chiou Katie, lutando para sentar-se. — Minha vida não precisava ser salva. Eu tinha tudo sob controle até você bancar o Neanderthal. — Arquejante e incapaz de erguer-se, Katie agarrou-se ao primeiro suporte sólido disponível que fornecesse equilíbrio, que por acaso eram as coxas de Nik, as quais estavam enganchadas em torno da cintura dela.


A firmeza de aço com a qual deparou-se fez Katie hesitar, e causou um aperto nos delicados músculos do estômago sensível: escapar, de algum modo, pareceu menos urgente conforme os dedos espraiados exploraram uma área mais ampla, sem discernir qualquer rendição dos contornos salientes.


Então caiu em si e quedou-se profundamente envergonhada. Foi imperdoável desperdiçar segundos preciosos naquelas circunstâncias.


— Graças a você — rosnou Katie — provavelmente Alexander está fritando lá dentro — informou, escorregando por entre as pernas de Nik e lutando para manter-se sobre os próprios pés. Conseguiu pôr-se sobre eles assim que, inexplicavelmente, os joelhos se renderam.


Nik, com uma expressão alarmada no rosto, também pôs-se de pé, porém, consideravelmente com mais agilidade e graciosidade atlética do que ela. Nik segurou Katie quando a garota resvalou para o chão, o que amorteceu o impacto do choque contra a madeira nua.


Com a cabeça enfiada entre os joelhos, Katie golpeava cegamente com as mãos, acertando apenas no vácuo. Foi só depois que parou de lutar que Nik a soltou.


—  Seu homem estúpido, homem estúpido — trinou ela, enxugando com as costas da mão as lágrimas de raiva que fluíam pelo rosto sujo, deixando trilhas mais claras na fuligem.


Nik, ajoelhado ao seu lado, não parecia particularmente castigado pelo ataque.


— Alexander ainda está lá dentro. — Katie apontou na direção da porta.


Nik mostrou-se implacável.


— Já ouvi. Fique calma. Histeria não vai resolver nada.


— Estou calma! — berrou Katie.


— Por que diabos não me contou o que andou fazendo mais cedo? Certamente, essa não era a hora de preservar a sua imagem!


Sobrancelhas de Katie franziram numa perplexidade impaciente. Imagem, que imagem? Quanto a ficar calma, à parte da recriminação que ela entendeu não só era injusta como teria, caso fosse do tipo afeito aos chiliques, a levado a nocaute outra vez. Katie foi rendida sem palavras, mas só temporariamente.


— Como se você houvesse me dado uma chance! — vociferou ela. Ou teria gritado, se não tossisse tanto.


— Katie...oh, Katie! Você está bem, graças a Deus! — Uma Sadie soluçante ofegou, assim que alcançou o topo da escadaria.


— Oh, minha nossa, eu realmente deveria perder uns dois quilos.— gemeu, apertando o peito. — Vou me hospedar naquela fazenda de gordos semana que vem...


Nik olhava perplexo para Sadie, que tagarelava furiosamente sobre as terapias de desintoxicação que garantiam a perda de peso.


Pareceu provável para Katie que ele estivesse pretes a fazer um daqueles comentários maldosos.


Katie deu-lhe uma cotovelada forte, querendo proteger a amiga daquela língua ferina.


— Sadie está aterrorizada, é o jeito dela de enfrentar — Katie sibilou para Nik. Por Deus, o sujeito tinha a compaixão de um tijolo.


Nik pareceu assimilar a explicação. Concordando, saiu do lado dela com uma instrução sucinta para manter a guarda!


— Apenas respire fundo. — Katie assistiu atônita enquanto, com um sorriso de um charme incrível e modos gentis, Nik inclinou-se para Sadie.


O som da voz dele pareceu acalmar Sadie, que aquiesceu e olhou para ele agradecida. Katie a viu admirá-lo de alto a baixo e, então, um sorriso satisfeito estendeu-se no rosto dela.


— Você é asmática? — Nik perguntou.


— Não, apenas gorda e fora de forma. — Sadie riu trêmula, -Eu corri o caminho todo desde o portão — explicou. — Acho que os bombeiros estão chegando. Pude ouvi-los à distância. Devo voltar e esperar por eles...?


— Leve Katerina para baixo, e deixe a casa imediatamente.


Suponho, pensou Katie entorpecida, que pessoas como Nik ficam à vontade em situações como esta. Situações que requerem alguém para assumir o comando e tomar decisões. Nem mesmo o pior inimigo dele — que posso ser eu mesma — pode acusá-lo de ter problemas em tomar decisões, reconheceu tortuosamente.


— Eu não vou a lugar algum até que Alexander...


— Vou pegar Alexander e você vai sair do prédio — anunciou Nik, de um modo senhorial. — Quantos anos ele tem? — indagou, avançando rumo à porta na qual a fumaça agora se encapelava.


— Você não pode entrar aí — disse Katie, pois positivamente, por mais conveniente que fosse, não poderia deixar o rato morrer por causa do gato, que ainda deveria ter algumas das sete vidas sobrando.


-Concentre-se.


Mas Katie estava concentrada, nos salpicos prateados dos olhos dele. Sentia-se estressada, exausta, aterrorizada e, francamente, não poderia haver uma hora pior para admitir que se está sexualmente atraída por alguém, e se existisse alguma outra explicação concebível para o jeito como a mente dela se desintegrou e o corpo tomou vida perto de Nik, Katie teria mergulhado atrás dela.


— Quantos anos ele tem? — Nik perguntou.


A relevância disso escapou a Katie, porém, reconheceu que não era totalmente imune aquele algo indefinido que Nik possuía, que inspirava obediência sem importar o quanto a pergunta ou pedido fosse bobo.


— Três anos, acho. — Foi o que o veterinário estimou quando vacinou o bichano amarelado.


— Acho que iremos sedá-lo da próxima vez — disse ele ironicamente, desinfetando os arranhões no braço.


Nik parou no meio do caminho.


— Três! — exclamou, com os lábios contraídos num esgar de repulsa aterrador. O peito estufou. — Você deixou uma criança de três anos sozinha?


O queixo de Katie caiu. Nik pensou que... de fato pensou que ia...! As palavras lhe faltaram. Deus, sabia que Nik tinha uma opinião ruim a seu respeito, mas não pensou que fosse tão ruim!


Sadie, que apoiava Katie, veio em seu auxílio.


— Criança? — Olhou para o grego alto, como se ele houvesse enlouquecido. — Alexander é um gato.


Àquelas palavras, Nik, cujo corpo estava preparado para a ação, cada músculo cerrado em antecipação à tarefa em sua frente, quedou-se um tanto imóvel.


Katie observou os músculos da garganta moverem-se quando Nik engoliu em seco.


— Você arriscou a vida por um gato? — Não havia nenhuma inflexão reconhecível na voz dele.


— Desculpe, pensei que seria muito mais conveniente para você se eu tivesse deixado um bebê indefeso sozinho.


Nik franziu o cenho impaciente.


— Do que está falando, conveniente aos meus propósitos? Eu não tenho nenhum plano secreto.


— Tem razão — não é secreto, é claramente óbvio. É tão mais fácil continuar fingindo que está sujando as mãos para salvar um amigo de um casamento terrível, caso eu me revele um monstro avarento com nenhuma característica perdoável que seja. Se, ao contrário, eu não me revelasse uma cadela sem coração, você pareceria menos com o amigo verdadeiro e mais com um porco vingativo que não suporta ver ninguém feliz, porque é emocionalmente retardado e fútil demais para constituir um relacionamento decente por si mesmo! — concluiu Katie, sem respirar.


A perplexidade vazia da expressão dele gradualmente metamorfoseou-se numa fúria ardente.


— Você já terminou? -inquiriu soberbo.


— Na verdade, não, eu não terminei.


— Não arrisquei a minha vida. Foi você quem disse — lembrou. — Mas não fiz isso — finalizou aos trancos. Embora, realmente, agora que se pôs a pensar nisso, seus atos pareceram um pouco diferentes.


— Eu devia saber que você não gosta de animais — Katie ouviu-se resmungar mesquinhamente. Por que não posso manter a boca fechada enquanto ainda tenho alguma vantagem? Ponderou exasperada. O que havia acerca desse homem que fazia com que dissesse coisas tão estúpidas? Quando Nik estava por perto parecia ser possuída por uma necessidade de provar que era ainda mais egoísta e superficial do que ele pensava.


— Eu gosto de animais — de fato, freqüentemente prefiro-os às pessoas, especialmente ao tipo feminino maluco e estúpido de gente.


Katie, que normalmente era capaz de dar um troco tão bom quanto o que recebera, ficou profundamente embaraçada por sentir os olhos subitamente inundados de lágrimas pelo insulto praticamente suave para os padrões de Nik.


Não era a única que se sentia desconfortável. Pareceu que, um tanto acidentalmente, descobrira outro ponto fraco de Nik... ele pareceu ainda mais consternado pelas suas lágrimas do que ela.


Nik pigarreou.


— Eu não tive a intenção... — Quando falou, foi como se notasse pela primeira vez a mão que estendeu em direção a Katie. Por uma fração de segundo, Nik encarou-a como se não lhe pertencesse, uma expressão de choque assomou as feições morenas. Então aquela expressão tomou-se tão misteriosa como sempre, quando Nik abaixou a mão.


— Leve Katerina para fora e espere pelo corpo de bombeiros — instruiu sucintamente ao voltar-se para Sadie que, em silêncio, estendeu para ele uma lanterna que tirou do bolso. — Obrigado.


— Não preciso que me levem a lugar nenhum... — a voz de Katie elevou-se num guinchado lamuriento, porque suas observações ecoavam em ouvidos moucos. — E você não pode voltar lá para dentro.


— Veja o lado positivo. Se eu não sair, você vai poder casar com Tom.


Katie deu um grito de alarme assim que Nik virou e entrou novamente no apartamento enfumaçado. Se não fosse pelo aperto de comedimento de Sadie no seu ombro, Katie teria ido atrás.


— Não se preocupe, ele não é doido — tranqüilizou Sadie. -Só tentava assustar você. — Curiosamente, perscrutou a face da amiga. — Ele não vai correr nenhum risco desnecessário.


Vindo de alguém que acabara de conhecer o sujeito, tanta confiança soou barbaramente emérita para Katie.


— Eu não estou preocupada, bem, não mais do que estaria por outra pessoa qualquer. Absolutamente, de jeito nenhum -completou consigo mesma. — Eu só não posso acreditar que ele teve a cara-de-pau de me acusar de ter arriscado a minha vida. O que ele está tentando provar?


— Você se importaria se discutíssemos isso lá fora? — Sadie ponderou nervosamente.


— O quê? Sim,claro. — Com um último olhar para a porta do apartamento, a qual Nik fechara atrás de si, Katie seguiu a amiga pela escada abaixo.


— O que ele quis dizer quando falou que...?


— Pensei que você tinha dito que ouviu a sirene dos bombeiros... — interrompeu Katie, suspendendo a cabeça para procurar na rua por qualquer sinal do piscar de luzes.


— Eu pensei que tinha — replicou Sadie, desculpando-se.


— Quando aquele sujeito...?


— Nikos. — Katie supriu distraída.


— Quando Nikos falou. Minha nossa... Nikos...? — Deu até para ouvir o ruído do queixo de Sadie batendo no peito quando lembrou do nome. — Quer dizer que ele é o mesmo com quem você....


— Me casei, sim. Não sei como você consegue pensar nisso enquanto a sua casa pega fogo, e sendo a culpa toda minha. Você deveria estar me cobrindo de injúrias.


— Eu vou, caso isso faça com que se sinta melhor, mas primeiro me conte sobre aquele homem incrível.


— Não há nada para contar. — Nik era o único assunto que Katie desejava evitar. Embora do jeito que as coisas iam, não parecia provável que tivesse muita escolha. As opções se esgotavam em outras áreas também. A esperança de conciliar o casamento com Tom agora soava irremediavelmente otimista. Katie percebeu que não pensava mais em termos de se, mas de quando o seu segredo sórdido seria revelado.


— Ele apareceu esta noite. Aparentemente, ele e Tom freqüentaram a universidade juntos.


— Eu não acredito! — Sadie ofegou, claramente sobressaltada peia explanação sóbria de Katie. — Quais eram as probabilidades disso? Deve ter sido um pouco penoso para você.


— No mínimo — Katie concordou sarcasticamente.


— Ele abriu o bico para Tom?


— Ainda não, mas é só uma questão de tempo. — Pela centésima vez nos últimos dois minutos, Katie espiou tensa, por sobre os ombros, em direção â casa. — Ele já não deveria ter saído?


— Só se passaram uns dois minutos, Katie — tranqüilizou Sadie. — Você sabe, não sei o quanto pagou por esse homem, mas se fosse do conhecimento geral que estava disponível no mercado, aposto que o preço teria sido mais alto — brincou, com um sorriso lascivo.


— Eu não o comprei! — negou Katie inflamada. — Bem, não assim, foi um acordo de negócios, nada mais.


Sadie deu de ombros pacificamente.


— Se você diz. Tem certeza de que não se encontraram desde o casamento?


— Eu não acho que teria me esquecido. — Não, um encontro com Nikos Lakis era algo que permaneceria na memória de alguém para sempre como... comer mariscos estragados, pensou Katie amargamente.


— Tudo bem. É só que vocês dois não conversam e nem agem como pessoas que simplesmente acabaram de se conhecer...


Katie nunca precisou responder a essa observação instigante porque, naquele exato momento, ambas ouviram o alarido inconfundível e muito oportuno da sirene.


Com as mãos cruzadas sobre o peito, Katie começou a pular para cima e para baixo,


— Eles chegaram! — berrou, com lágrimas silenciosas escorrendo pelo rosto.


As duas assistiram com alívio enquanto o caminhão parou do lado de fora da casa, expulsando várias figuras uniformizadas de aparência competente. O barulho da sua chegada atraiu a atenção de muitos vizinhos da avenida arborizada, que saíram para investigar aquela atividade na vizinhança geralmente recatada.


— Eu já contei sobre a minha fantasia sexual com um bombeiro? — Sadie flagrou a expressão perplexa de Katie e ficou envergonhada. — Bem, você tem Nik... nem pode me sonegar um bombeiro.


— Ele não é o meu Nik — retorquiu Katie.


— Se você diz, mas seja esportiva, Katie, estou tentando me distrair e aquele ali — apontou — é absolutamente lindo...


Katie não ouvia mais. Estava ocupada correndo de encontro ao bombeiro que inspirou a fantasia lasciva de Sadie.


Tomou-o pelo braço e tentou falar, considerando a urgência da ocasião, aquela foi uma péssima hora para perder a voz. O combatente de incêndios, que provavelmente já estava acostumado a lidar com pessoas falando tolices de tanto medo, transmitia uma aura tranqüila, o que ajudou Katie a soltar as palavras enfim.


— Tem um homem ainda lá dentro — contou-lhe, acenando em direção ao ultimo andar.


— Ele ficou lá por muito tempo?


Katie engoliu em seco. O cheiro enfarruscado que vinha de lá fez seu nariz franzir. Sem dúvida, o resto dela cheirava tão terrivelmente assim, e quanto a sua aparência... ah, como eu sou vazia, pensando no meu batom enquanto tudo isso acontece? -Eu não sei... parece que já faz um bom tempo. — Os lábios tremeram e Katie esfregou o rosto sujo. — A culpa é minha — confessou. -Acho que deixei o ferro ligado... sabia que tinha esquecido alguma coisa, e agora eu matei Nik e Alexander.


— Há mais de uma pessoa? — o bombeiro inquiriu, atentamente.


— Alexander é um gato — explicou Sadie pela segunda vez. — Katie, ele vai ficar bem. Ele não me pareceu um homem fácil de se matar. — Sadie sorriu para o bombeiro. — Eu sou a proprietária, oficial.


— Olá. Existe algum meio de acesso, além da escada?


— Tem uma saída de emergência em torno da lateral da casa.


Nada sossegada Katie esquivou-se do braço encorajador estirado ao redor dos seus ombros.


— Sou uma vaca egoísta, mandei-o de volta para lá por causa de um... — Os lábios começaram a tremer, enquanto contemplava amedrontada a conseqüência dos seus atos.


Antes que pudesse revelar ao bombeiro por que Nik voltou lá, houve um estampido ensurdecedor quando a janela do quarto dela explodiu. O bombeiro, de braços estendidos, protegeu as mulheres dos estilhaços de vidro que regaram o jardim.


— Senhoras, seria melhor se aguardassem um pouco mais afastadas até que a ambulância chegue.


Sadie aquiesceu, segurando com mais firmeza uma caixa com fotos de família e tesouros, que coletou automaticamente antes de saírem da casa. Impeliu Katie para trás, enquanto o bombeiro musculoso, gritando ordens para a equipe, afastou-se a passos largos deliberadamente.


Katie resistiu e Sadie fitou-a com apreensão, já que a figura esguia que contemplava as línguas perversas de labaredas alaranjadas transbordando das janelas, com olhos cheios de horror, a empurrou para longe.


— Vamos lá, Katie, devemos sair do caminho deles — sugeriu Sadie, gentilmente. — A senhora James, da casa ao lado, já colocou a chaleira no fogo.


Katie, com os próprios braços cingidos firmemente em torno de si, continuou a oscilar para frente e para trás. Sob a camada de fuligem, a pele estava branca como papel.


— Ele está morto, não está? Ninguém poderia sobreviver àquilo.


Sadie ergueu os ombros com desamparo.


— Eu realmente não sei. — O som agudo e abafado que emergiu, subitamente, dos lábios descorados de Katie, antes que o engasgasse de volta, fez a penugem da nuca de Sadie arrepiar.


A próxima seqüência de eventos ocorreu numa velocidade tão vertiginosa que Sadie não teve tempo de fazer nada, exceto dar um grito de alerta para os bombeiros assim que a amiga, que correra como se todos os seres do inferno estivessem no seu encalço, repentinamente iniciou uma carreira desabalada rumo à porta da casa.


Katie jamais conseguiria, os dois bombeiros que visavam impedi-la acercaram-se rapidamente, mas antes que tivessem a oportunidade de agir, ela tropeçou e caiu. Apesar de ter aterrissado de joelhos, foi uma dor aguda que dardejou no tornozelo fazendo-a berrar.


Justo o que eu precisava. Um joelho luxado, ou, do jeito que o dia vai indo, provavelmente deve ter quebrado!


Katie concentrou os esforços para ficar de pé.


Até aqui tudo bem, pensou, enquanto dava um passo cauteloso a título de experiência para seu alívio, o tornozelo doía, mas suportou o peso. Recuando, Katie mancou até uma florescente cerejeira japonesa, que vertia os botões perfumados sobre a grama úmida, e recostou-se no tronco.


Katie olhou fixamente em direção à casa. A equipe de bombeiros, vendo que não estava seriamente ferida, e nem mais apta a disparar precipitadamente para dentro de um prédio cm chamas, voltaram a atenção para outro ponto.


Katie refletia sobre a compulsão responsável peia façanha. Como se eu pudesse fazer algo que os bombeiros não podem. Quando enfim discerniu para o que a atenção dos bombeiros se voltara. Um vulto alto emergia da fumaça.


— Obrigada Deus!


Katie assistiu, através de uma névoa lacrimejante de alívio, a dupla de paramédicos acorrer propositadamente em direção a Nik. O barulho incrível no cenário do incêndio pareceu retroceder a um abafado zumbido de fundo, e as figuras apressadas aparentaram diminuir o ritmo. Só o coração dela continuava a bater com rapidez, tão rápido que Katie podia sentir a vibração de cada inalação na garganta. Levou uma das mãos até a cabeça confusa. Cada fôlego que tomava era um esforço.


Se eu desmaiar agora, Nik provavelmente vai me acusar de simular uma cena para roubar o seu momento de triunfo. Só que não desmaiou, a tensão nervosa descobriu uma saída mais prosaica.


— Acho que vou enjoar — gemeu, para ninguém em particular, antes de fazê-lo de fato, silenciosamente. Não que alguém notasse, pois estavam todos agregados à volta de Nik.


Conte com ele se precisar de um herói... era um papel para o qual Nik nasceu para interpretar, pensou Katie, com um sorriso torto porém aliviado no rosto, quando reclinou novamente contra o tronco da árvore.


 


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Autor(a): fanofbooks

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 1



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  • nina0022 Postado em 28/12/2012 - 14:50:07

    adorei o fato de alguém finalmente dar credito aos verdadeiros autores dos livros. Total apoio!!!


ATENÇÃO

O ERRO DE NÃO ENVIAR EMAIL NA CONFIRMAÇÃO DO CADASTRO FOI SOLUCIONADO. QUEM NÃO RECEBEU O EMAIL, BASTA SOLICITAR NOVA SENHA NA ÁREA DE LOGIN.


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