Fanfic: O Magnata Grego - Kim Lawrence | Tema: livro original, hot
CAPÍTULO SETE
— Casado? — a radiologista de plantão, ou Clare, como se apresentara, olhou na direção de Nik. — Sim, claro, você é... — disse ela, não sem uma pitada de inveja. — Data de nascimento...? -Katie respondeu, e a mulher mais velha conferiu os detalhes no formulário e acenou com a cabeça. — Há qualquer possibilidade de que esteja grávida?
Ficou parada com a caneta na mão aguardando a resposta de Katie. Katie, ciente da presença muito interessada de Nik ao seu lado, sentiu a face corar. Após uma longa pausa, negou com a cabeça e murmurou um indistinto:
— Não, não há.
A radiologista obviamente interpretou mal aquela hesitação.
— Você tem alguma dúvida?
— Não tenho dúvida alguma — respondeu firmemente. — Não posso estar grávida. Eu não... — engasgou.
— Ah, entendo... — A radiologista, compreensiva, inclinou a cabeça e lançou um olhar especulativo para Nik. — Desde que tenha certeza.
— Nós vivemos separados — Katie ficou consternada ao ouvir Nik de súbito oferecer-se eloqüentemente. Igualmente de súbito, tomou a mão que jazia retorcida com a outra sobre o colo dela. Com um sorriso terno, a levou até os lábios. — Nos reunimos muito recentemente.
Aquelas palavras e o beijo fervente que plantou na palma aberta de Katie serviram para indiciar uma história de amantes-separados-e-reunidos de proporções épicas.
A radiologista era claramente uma grande fã de finais felizes.
— Oh, isso não é adorável? — suspirou comovida. — Só espere um momento aqui, senhora Lakis, e eu voltarei logo.
No instante em que ela se foi, Katie esquivou a mão que formigava e esfregou-a no colo vigorosamente, como se pudesse limpar o toque de Nik.
— Aquela charada foi realmente necessária? — Katie inquiriu friamente. Pareceu que ele não conseguia resistir a qualquer oportunidade de provocar e embaraçá-la. Ou talvez, ponderou desdenhosamente, apenas não conseguiu deixar aquela injúria implícita à sua masculinidade de pé. E, isso devia estar certo.
— Então você não está dormindo com Tom?
Katie empertigou-se defensivamente, já que a pergunta flagrou-a de guarda aberta.
— Isso não é da sua conta, mas se eu estivesse — acrescentou com segurança — eu certamente não seria estúpida o bastante para engravidar.
Embora, via de regra, não fosse uma pessoa crítica, Katie sempre achou complicado entender como ainda há quem engravide involuntariamente, numa época na qual os contraceptivos são tão prontamente acessíveis. Apesar da queda fazer parte da ilusão, desde que soubesse, não havia nada de acidental nisso.
— Talvez sim, talvez não... pessoas sob o cerco da paixão nem sempre pensam logicamente.
— Besteira. Absolutamente, não há desculpas para negligência quanto a tomar as precauções básicas.
Katie emburrou por ouvir a si mesma soando tão hipócrita e dogmática... era a sorte de reação atípica que Nik despertava nela. Ele dizia noite e Katie quase caía do salto alto para gritar dia.
Um meio sorriso enigmático tocou os cantos da boca apaixonante de Nik, enquanto observava o fulgor do pânico nos olhos dela.
— Então você não crê que as alturas vertiginosas da paixão possam fazer uma pessoa, possam fazer você esquecer? — As pálpebras pesadas se ergueram e Katie flagrou-se cativa e indefesa como uma borboleta, presa num alfinete cruel pelo olhar sombrio. — Esquecer o próprio nome, onde você começa e o seu amado termina...? — persistiu ele, com a voz gutural.
A voz rouca e aveludada descrevia uma situação além do entendimento dela, mas que guardava, porém, um apelo perigoso. Apenas ouvir aquela fala mansa, doce e insidiosamente arrastada a fez sentir-se quente e fria ao mesmo tempo, e incrementou aquela sensação dorida que tornou-se, mais ou menos, uma presença constante abaixo do ventre a noite toda.
O modo como os olhos experientes de Nik perscrutavam-lhe o rosto fez Katie, amargamente envergonhada da reação licenciosa do seu corpo, ajeitar-se desconfortavelmente no assento.
— Esquecer as precauções mais básicas? Faça-me o favor — escarneceu com teimosia.
— Você não consegue se visualizar numa situação dessas?
— Não! — Katie rangeu através dos dentes trincados, ao passo em que, com dificuldade, tentava não permitir as imagens das quais Nik falara se cristalizarem na sua mente. Apesar de tentar com todo afinco, algumas imagens se infiltraram através do bloqueio mental. Membros entrelaçados, pele morena reluzindo de suor, suspiros entrecortados e gemidos suaves. Foi difícil não se pôr a gemer ela mesmo.
Nik começava a pensar que o favor que a beneficiaria mais viria de alguém que tirasse o olhar pretensioso de superioridade do rosto dela. O olhar aguçado dele repousava nos contornos suaves dos lábios cheios de Katie, e por que esse alguém não poderia ser ele mesmo?
A voz da razão na cabeça de Nik imediatamente providenciou pelo menos meia dúzia de motivos legítimos por que não poderia. A despeito disso, a idéia, embora desaconselhável, persistiu.
— Não importa o quanto a sociedade se torne sofisticada, a mãe natureza instalou alguns sistemas de segurança muito eficientes no projeto humano, que vão garantir a continuação da espécie, a despeito das nossas melhores tentativas de frustrá-la. — Com uma voz que era toda uma tentação melosa e sugestão grosseira, Nik expandiu aquela teoria para um território no qual Katie se flagrou ainda mais desconfortável, ainda que apesar disso se flagrasse perversamente atenta a cada palavra dele. -Não é por acidente que ficamos embriagados, que o juízo e a razão ficam suspensos no calor da paixão.
— Homens — proclamou ele, seguramente — são programados para fertilizar e as mulheres são programadas para procriar— — Nik deu de ombros, e estudou a face chocada de Katie. Pareceu a ela que as manchas prateadas nos olhos de Nik fulgiam como estrelas no céu noturno. — Você não pode lutar contra os instintos primitivos, pethu mou.
Katie tentou escapar, mas seu olhar inquieto foi repetidamente dragado para o dele. Uma pontada de desejo sexual tão violenta que arrebatou-lhe respiração, dardejou através do seu corpo.
— Você não pode falar assim — suspirou num sussurro agoniado. Os homens que conhecia não discutiam a fertilização casualmente em salas de espera de hospitais,
— Você julga a minha franqueza ofensiva? Coisas desse tipo deixam você melindrada?
Ofendida? Katie estava aterrorizada.
— Eu não fico melindrada. Só não acho que essa seja a hora e o lugar apropriados para conversar sobre essas coisas — contou a ele, repressivamente. Infelizmente, Nik não era reprimido assim tão facilmente.
— Sexo não é um assunto para se discutir abertamente?
— Não entre pessoas que são virtualmente estranhas.
— Então se eu fosse Tom, você se sentiria confortável para discutir sobre sexo.
Katie inspirou fundo, enfurecida.
— Eu e Tom não discutimos sexo — gritou ela.
— Senhora Lakis...?
Katie girou em volta e viu a radiologista ali de pé.
— Estamos prontos para a senhora, agora.
Sobre o tornozelo de Katie foi declarada uma torção ruim, a qual eles enfaixaram com um suporte de bandagem elástica, e aconselharam-na a manter elevada. O médico disse que estava satisfeito de que não houvesse sofrido nenhum dano nos pulmões, embora sugerisse que ela deveria permanecer pelo resto da noite para ser observada.
Para o seu alívio, quando recusou educada, porém, firmemente o convite, ele não ficou tão perturbado.
— O médico deve liberar o seu marido em poucos minutos -prometeu a enfermeira amigável que a atendeu, mostrando a área de espera.
Mal posso esperar,
Katie enxergou o próprio reflexo numa porta de vidro, por isso não ficou surpresa que ela fosse o foco de um sem número de olhares curiosos.
Sem fazer uma definição muito elaborada, ela parecia um monstro!
Era difícil dizer qual a cor original do anteriormente adorável vestido de Sadie, e havia diversos rasgos na saia longa que revelavam mais do que seria decente das pernas compridas. Embora tivesse a oportunidade de lavar o grosso da sujeira do rosto e das mãos, o que mais desejava era mergulhar num banho quente, até que o cheiro acre da fumaça que penetrou pelos poros se fosse.
— Me sinto péssima em perguntar, mas suponho que você tenha algum trocado para o telefone, não é? Não vim exatamente preparada — explicou Katie, com uma espiada tristonha para o traje arruinado.
Katie aguardou até que a prestativa enfermeira ficasse fora de vista para dirigir-se ao telefone público que avistara no saguão. Primeiro ligou para Tom, ele não estava em casa e nem atendia o celular. Estava pretes a deixar uma mensagem, porém pensou melhor... não havia nada que o noivo pudesse fazer, e contar-lhe sobre o incêndio apenas iria alarmá-lo desnecessariamente.
Então Katie ligou para o celular de Sadie.
— Eu já tinha começado a achar que eles internaram você -disse Sadie, soando cansada, porém, bastante dinâmica, o que naquelas circunstâncias mostrava um grande avanço na sua força de resistência.
Primeiro Sadie liquidou logo as más notícias.
— O seu apartamento já era. A boa notícia é que eles conseguiram conter o fogo no andar de cima. O resto da casa está bem, salvo algum dano devido à fumaça no corredor e na escadaria. Vou passar a noite com a família James, da casa ao lado, disseram que você é muito bem-vinda para ficar no sofá. Eu fiquei com o quarto extra.
— Agradeça-os por mim, mas na verdade eu não vou agüentar a viagem de volta. — O hospital ficava a 24 quilômetros de distância da vila e Katie estava pronta para apagar, de fato, permanecer de pé tornou-se complicado. — Vou só pegar um táxi até o hotel mais próximo e dormir por uma semana.
— Justo o bastante, vejo você amanhã?
— Definitivamente — concordou Katie. — Sadie... eu realmente sinto muito — acrescentou.
— Deus, nós nem sabemos se foi sua culpa, e eu sou aquela que não se ocupou de reajustar os detectores de incêndio depois que os pintores acabaram mês passado. Além do mais, ninguém se feriu, isso é o principal, e eu estou extremamente bem assegurada — disse animadamente. — Então não se atormente por causa disso.
Não foi até Sadie ter desligado o telefone que Katie percebeu que não tinha dinheiro para o táxi, nem para o quarto de hotel ou, quanto a isso, qualquer mais para o telefone.
Talvez devesse ter aceitado a oferta de um leito no hospital, pensou ela, assim que adentrou a área da recepção, um amplo espaço densamente acarpetado que era dividido por bancos de folhagem e assentos. Obviamente destinados a fornecer uma impressão acolhedora. O lugar, uma colméia em atividade durante o dia, ficou quase completamente deserto a essa hora da noite, exceto por alguns vigias e vários membros da equipe que estavam apressados a caminho de algum lugar.
Katie não estava a caminho de um lugar qualquer. Cingiu os braços em torno do peito, sentindo-se incrivelmente séria e um tanto solitária. Seus níveis de adrenalina haviam baixado e os eventos daquela noite começavam a atingi-la com uma desforra.
— Aqui, tome isso.
Desperta dos pensamentos lúgubres pela voz grave, Katie olhou para o paletó que lhe era oferecido e depois, cautelosamente, para o homem em si.
Nik estava tão desgrenhado quanto ela, com a pele e as roupas raiadas de preto, porém, ao contrário de Katie, mostrava-se soberanamente indiferente ao fato. Ela julgou profundamente injusto que, enquanto as roupas rasgadas e o cabelo desalinhado faziam-na parecer um espantalho, a Nik emprestavam uma orla indefinida de mistério e perigo... mau, taciturno e macho... ninguém o ignoraria numa multidão!
Katie inclinou-se a pensar que se você despisse este homem da riqueza, do status e até das suas roupas, ele não perderia aquele ar de comando irritante.
Katie levantou os olhos num repente para o rosto dele, sentindo-se, e provavelmente dando mostras, tão culpada quanto qualquer garota bem criada se sentiria, ao ser flagrada no ato de despir um homem mentalmente. Tome nota para futuras referências: não pensar em nu perto de Nik. Mas afinal, não importa como as coisas vão se desenrolar, não haveria de ficar perto dele por muito mais tempo.
Essa ponderação deveria ter feito Katie sentir-se revigorada. Mas de alguma forma, uma sensação de pesar assomou-se dela por completo.
— Você está tremendo — observou Nik.
Katie olhou novamente para o paletó. Pensou em recusá-lo e depois decidiu que seria um gesto vazio e, além do mais não queria correr o risco de ser presa por atentado ao pudor!
— Sim, estou. Obrigada. — Deslizou o paletó por sobre os ombros encurvados, e o dispôs em torno de si mesma. Ainda mantinha o calor do corpo de Nik. Katie achou esse calor aflitantimente íntimo. — Meu vestido tem um pouco mais de ventilação do que o planejado.
— Eu poderia dizer que não notei, mas estaria mentindo.
Katie lançou-lhe um olhar previdente, mas a expressão enigmática de Nik era insondável.
— Sentar? — ele sugeriu, apontando na direção de uma área com assentos.
Katie balançou a cabeça.
— Hospitais são estranhos à noite, não acha?
O olhar inquieto de Katie inspecionou a grande área vazia.
— Quase assustador.
— Pensei que tivesse ido embora.
Katie não contou que era esse o plano.
— Você contatou Tom? Katie negou com a cabeça.
— Eu tentei. — Não com muito afinco, uma voz na sua mente sugeriu ironicamente. — Ele não atende, mas soou como se estivesse de plantão a noite toda, não é? Tom poderia muito bem estar no meio de negociações delicadas — elaborou Katie — por isso, provavelmente, é melhor que eu não o incomode.
— Eu não creio que qualquer homem consideraria um incomodo largar tudo o que está fazendo caso a sua mulher tenha escapado da morte. — A curva insolente no lábio superior de Nik podia ser um reflexo da opinião dele a respeito de qualquer homem que não corresse para o lado da mulher.
Katie ficou aborrecida por sentir-se compelida a defender o noivo ausente.
— E Tom viria! — começou ela. — Escapado da morte... Isso não é um pouco melodramático? — A risada leve perdeu-se de vista na medida em que tentou imaginar Tom chamando-a de minha mulher daquele jeito, e caso tivesse certamente ela haveria gargalhado.
Quando Nik usou o termo, ele não soou engraçado. Deve ter sido o sotaque. Homens com sotaques exóticos e sexies podiam sair-se bem dizendo coisas que um falante nativo não podia.
Nem é preciso dizer que ela não queria ninguém a chamando de minha mulher. Era um tipo de tolice datada e sexista.
— Possivelmente. — Nik concedeu às palavras dela uma contração descuidada dos largos ombros. O material delicado da camisa tornava difícil não notar o quanto os músculos rijos se flexionavam e avultavam sob o tecido fino. — Mas de qualquer forma, eu acho que você deve deixar Tom decidir por si mesmo.
— Você não pode esperar pela manhã para contar a ele sobre a criatura horrível com a qual se envolveu? — zombou Katie.
— Na verdade, estou pensando em como eu me sentiria no lugar dele.
Katie enrubesceu, sem apreciar a sensação de ser calmamente colocada no seu devido lugar.
— Eu presumo que deve ter custado um grande esforço da sua imaginação, sem dúvida limitada.
— Theos! — A ira emprestou-lhe um matiz ameaçador às feições austeras.
— E eu suponho que você largaria uma reunião de negócios importante se a sua namorada precisasse de você. Isso é realmente provável. — Essa era a sorte de homem que coloca as relações pessoais no rodapé da lista de prioridades.
Uma onda de fraqueza subitamente atingiu Katie. Foi tão forte que ela cambaleou. Nik, cuja ira ofuscante o deixara no momento em que viu a exaustão lívida no rosto da moça, tomou-a pelo braço.
— Sente-se! — ordenou vigorosamente. A mulher claramente era incapaz de cuidar de si mesma. Imaginou por que Tom a deixara sozinha!
Katie obedeceu, ponderando que seria muito mais vergonhoso cair de cara no chão do que seguir a instrução dele. O orgulho merece o seu lugar, porém, você deve saber quando engolir. Sentou ali por um momento, de olhos fechados, esperando a terrível fraqueza passar. Para o seu alívio, Nik a deixou quieta.
— Estou um pouco cansada.
Nik lançou-lhe um olhar velado.
— Acho estranho que se sinta obrigada a se desculpar por um comportamento que não requer desculpas, e não pelos insultos que me atira tão indiscriminadamente. — Nik sacudiu a cabeça assim que ela abriu a boca para responder.
— Quieta! — ordenou — Nós não vamos brigar. Não sou tão pouco imaginativo que não possa ver que a sua paciência está no fim. Quanto ao que eu faria, não é de mim que estamos falando.
— Só pensei que Tom não perderia o sono pelo que não sabe. Além do mais — Katie acrescentou — ele sabe que não preciso que segure a minha mão cada vez que alguma coisa dá errada.
— Você é uma mulher durona, independente, então? — perguntou Nik, soando entretido.
Os olhos de Katie se aguçaram. A atitude "e daí?" foi tímida, mas forte o bastante para que a sua opinião acerca da condescendência dele se fizesse ouvir.
— Caso esteja me perguntando se sou capaz de cuidar de mim mesma, então — contou-lhe orgulhosamente — sim, eu sou. Você tem algum problema quanto a isso?
Nik preferiria sua mulher agarrada e carente. Isso nem precisava ser dito. O tipo que lhe diria, em intervalos freqüentes, o quanto era grande, forte e maravilhoso, e que nunca discordaria dele!
— E Tom? — Nik metralhou.
Katie sacudiu o diamante insipidamente grande na frente dele.
— Um tanto obviamente que não.
— Talvez você seja mais circunspeta perto dele? — sugeriu Nik.
— Perto de Tom eu consigo relaxar — desabafou Katie, fechando os olhos e imaginando-se na companhia transigente do noivo. Com Tom, ela nunca se sentiu estressada ou sob pressão ou... excitada.
Os olhos se arregalaram. De onde ela tirou isso?
— Mas não perto de mim?
Katie riu. Não pôde se conter. Era uma idéia tão cômica: relaxar com Nik! Podia imaginar adormecer no topo de um vulcão ativo mais facilmente! No entanto, divertiu-se conforme seus olhos percorreram a figura alta e elegante de Nik. Ele rinha um quê das propriedades explosivas de um vulcão... e era passível de entrar em erupção por nenhum motivo aparente.
— Eu pareço tão estúpida assim? — se havia um convite, só podia ser esse.
Nik emudeceu a ponto de aparentar que nem respirava, enquanto seus olhos insones alcançavam apenas o rosto de Katie, e não se moviam. Uma expressão a qual ela não conseguia decifrar refulgiu na face severa de Nik, ficou ali por um breve momento, mas isso foi o suficiente para desconcertá-la completamente.
-Não.
— Você não respondeu a minha pergunta. Salvo por outra pergunta — Nik parecia bom nisso. — Você tem um problema com mulheres fortes?
Nik deu de ombros.
— Força não é a questão. Minhas relações com as mulheres são raramente competitivas, tanto física quanto intelectualmente.
O desprezo de Katie aumentou. Em outras palavras, Nik escolhia as fracas, obtusas, porém ótimas na cama. Por isso mesmo não quero o posto, porque não me qualifico em nenhuma das categorias acima.
— Algumas mulheres sentem que há uma necessidade de sacrificarem a sua feminilidade de modo a competir em pé de igualdade com os homens, essa é a escolha delas. Por acaso eu não as considero particularmente atraentes. Eu admiro mulheres que logram ser bem-sucedida sem tentar ser um dos rapazes.
— Você está me chamando de masculinizada? — demandou Katie, inflamadamente.
— Eu mal conseguiria classificar você como arrogante e ansiosa para competir com os homens segundo os termos deles.
— Ora, que ares protetores...!
— Você vai deixar o emprego antes ou depois do casamento? — lucubrou Nik, com um sorriso sincero.
Katie prendeu a respiração. Tinha que reconhecer isso no sujeito. Nik podia oferecer insultos com um sorriso melhor do que qualquer um que houvesse conhecido.
— Não vou deixar de jeito nenhum. Meu cargo pode não ser superpoderoso, mas eu o aprecio. — Contou-lhe com uma dignidade glacial.
— Sério? — Uma sobrancelha negra se ergueu. — Tom me fez crer que você mal conseguia esperar para se demitir...
— Ainda não contei a Tom — interrompeu ela prontamente.
— Você conta alguma coisa a Tom?
— Meu relacionamento com Tom não é da sua conta.
— Na verdade, é muito da minha conta.
— Só porque você é um insuportável, intrometido... -Lábios comprimidos, olhos reluzentes de frustração reprimida, Katie engoliu o resto da tirada. Esta não era nem a hora nem o lugar para uma discussão vulgar, especialmente uma na qual ela era passível de perder.
— Você não acha que Tom é capaz de tomar as próprias decisões sem você para enfiá-lo na direção certa? Não que você pudesse — acrescentou Katie, rapidamente. -Aprumou o queixo. -Tom é seu próprio chefe! — declarou orgulhosamente.
— Estou certo que Tom é mais capaz de tomar as próprias decisões quando está de posse de todos os fatos... uma vez que os tenha, então ficarei mais do que feliz em abraçar a decisão dele.
— Não são os fatos, mas o modo como você os descreve.
— Então você os descreve da maneira como sente que a apresentam sob a luz mais generosa, não faço objeções. Mesmo se Tom aceita que a riqueza não tem nada a ver com o seu desejo de ser esposa dele. — A expressão de Nik deixou claro que era muito menos simplório. — Isso não altera o fato de que você não é livre para se casar com ele.
— Eu seria, caso você não fosse tão teimoso, malicioso... -Katie soltou vários suspiros de perseverança. Ela não iria apelar aos xingamentos. — Por que eu deveria me casar com Tom quando aparentemente já sou casada com um bilionário?
Nik, que se mostrava preparado para o comentário dela, interpretou absolutamente mal o sarcasmo desperdiçado.
— Antes que os cifrões comecem a espocar diante dos seus olhos, devo trazer a sua atenção o fato de que o acordo pré-nupcial o qual Harvey me fez assinar funciona nas duas direções. Eu conferi, é inviolável, Harvey conhece o ofício dele.
-Desculpe, mas não sou a sua galinha dos ovos de ouro. O que há de errado? — perguntou, assim que a cor se esvaiu da pele da moça.
Katie encarou Nik. Inacreditavelmente, o assombro dele pareceu genuíno... como alguém haveria de possivelmente insultar uma pessoa como essa, sem imaginar que pudesse ofender? Começou a deslizar o paletó dele dos ombros.
— Não deixe que eu o detenha — afirmou acirradamente.
— Não seja tola — retorquiu ele impacientemente. — Você está com frio, eu não. Este é um gesto tolo.
Katie deu de ombros e deixou o paletó escorregar até o chão.
— Talvez eu queira fazer um gesto tolo.
— Agora você só está sendo ridícula — respondeu, curvando-se para recolher o traje no piso acarpetado. A cor dele estava realçada quando se sentou. A contorção dos lábios sensuais publicamente contumaz.
— A culpa é sua — ela desabafou, ressentidamente.
Uma sobrancelha soberanamente loquaz contraiu enquanto os olhos expressivos de Nik perscrutavam o rosto de Katie.
-Isto eu tenho que ouvir — observou, jogando o paletó casualmente para trás do ombro. — O que dizia?
Katie corou.
— Não faz sentido dizer qualquer coisa porque não importa o que eu diga, você vai distorcer tudo — anunciou rebeldemente.
— Em outras palavras, as suas acusações não têm fundamento. — Antes que pudesse protestar, Nik recolocou o paletó nos ombros dela e, mantendo as mãos agarradas à lapela, arrastou-a gentilmente para si. Katie quedou-se submissamente consciente da força de Nik. Inalou a morna fragrância viril e sentiu-se desconfortavelmente atordoada.
Nik inclinou a cabeça para ela.
— Não importa o quanto você venha a se tornar ofensivamente desagradável — comunicou-lhe suavemente — eu não vou deixar você sozinha.
— Só para me chamar de vaca avarenta e gananciosa! — Para o seu intenso desânimo, Katie sentiu os olhos encherem-se de lágrimas frágeis.
Nik admirou as vertiginosas poças azuis, e uma expressão de autêntica surpresa estampou-se nas suas belas feições.
— Eu não disse nada do gênero! — exclamou.
— Me acusou de querer extorquir você por um acordo de divórcio bom e polpudo! — desabafou enfurecida. — Para a sua informação, eu não tomaria nem uma passagem de ônibus de você! — adicionou trêmula.
Como, refletiu Katie, você pode detestar tanto alguém e ainda perceber que deseja encostar a cabeça contra o peito dele e chorar? Por que, dadas as circunstâncias, qualquer um em seu juízo perfeito procuraria alento e segurança nos braços do próprio inimigo? Isso era inexplicável e extremamente assustador, concluiu ela, fitando com uma expressão aturdida a ampla vastidão que a preencheu com o mais estranho enternecimento.
— Não tive a intenção de ofendê-la, Katerina. Vamos deixar de discussão, você não esta bem.
— O que é isso, cavalheirismo grego?
Ele entendeu o escárnio, porém reagiu com curiosidade, não com orgulho ferido.
— Você duvida que exista algo assim?
— Depois de conhecer você, sim. — Surpreendentemente, a resposta ácida de Katie fê-lo rir, então, na medida em que sua avaliação das feições desgastadas dela continuava, a expressão de Nik tornou-se sóbria novamente.
— Vamos ser práticos.
E quando eu sou qualquer outra coisa? Pensou Katie, num jorro de revolta.
— Quais são realmente os seus planos?
Ela tinha algum? Katie deu de ombros.
— Esperançosamente não ficarei reduzida a dormir num banco de praça.
— O que é isso, humor britânico? — A despeito da determinação de ficar zangada com Nik, Katie divertiu-se ao ouvi-lo usar inteligentemente a sua própria fórmula contra ela. O que quer que tenha de errado, o sujeito possuía presença de espírito e uma língua esperta. Esperta até demais, cismou soturnamente. Uma conversa com Nik tinha mais altos e baixos do que uma montanha-russa.
— Você duvida que exista algo assim? — gracejou ela.
— O que posso dizer sem insultar a herança cultural de alguém?
Katie enrubesceu pela reprimenda sutil, depois ficou ainda mais preocupada quando ocorreu-lhe que Nik deveria ter imaginado que havia entrelinhas xenófobas na chacota anterior. Franziu a testa enquanto tentava recordar se o que dissera pode-ria ser interpretado dessa forma.
— Você de fato já conheceu outros gregos além de mim?
— Sim. Para falar a verdade, eu morava com um. — Ficou satisfeita ao ver que a sua resposta enigmática o desconcertara.
— Tom sabe sobre isso?
Katie deu-lhe um sorriso ensolarado.
— Sim, sabe.
— Suponho que esse relacionamento fracassado explica a sua antipatia por mim.
— Eu disse que tive um relacionamento fracassado?
— Concluí naturalmente, já que não mora mais com ele...
— Bem, concluiu errado — replicou Katie, os olhos cravados nos dele. Não teve a intenção de tornar a resposta vaga, mas agora que pensava em Nik imaginando se tivera um passado agitado não pareceu uma idéia tão má.
— Na verdade, foi um bonito relacionamento. — O ar de mofa repentinamente feneceu na voz de Katie, e os olhos amainaram. — Muito bonito — revelou com um tom de tristeza inefável. — Duvido que eu venha a ter um relacionamento muito parecido outra vez. — A menos que tivesse uma filha algum dia.
— Então sua antipatia por mim...
— Se deve unicamente ao fato de que você é um sujeito ofensivo e detestável.
No silêncio trovejante que sucedeu aquele pronunciamento, Katie começou a arrepender-se de ser tão mesquinha. Nem mesmo perguntei se ele está bem, pensou, fitando arrependida a ferida na testa de Nik. Era quase invisível em meio à pesada banda de cabelo que caíra sobre a fronte.
— Não tive a intenção de ofender você — acrescentou, já que Nik não respondeu. — Bem, não tive, mas não... Oh, pelo amor de Deus, não se zangue! — desabafou em frustração. Katie esperava que a camada inevitável de gelo destilasse através da expressão dele, e imaginou se havia uma condição médica que explicasse o que sua língua estava fazendo.
— Relaxe, Katerina — aconselhou Nik. — Não estou ofendido. Ela deu um suspiro de alívio.
— Que bom. O que o médico disse?
— Meu peito está limpo.
Seu peito é perfeito, pensou Katie.
— Isso é excelente — disse seriamente.
— E o raio-x do meu crânio está como deveria. Eles insistiram em dar um ponto ou dois na minha cabeça — admitiu com um jeito casual.
— Um ou dois? — ecoou Katie duvidosa. — Me parece mais... — Sem pensar, estendeu a mão para levantar o cabelo que escondia o ferimento. Antes de tocá-lo, dedos longos envolveram os dela. Um raio de eletricidade pura fervilhou ao longo das obscenas terminações nervosas de Katie.
— Não vai aceitar a minha palavra? — Nik deu um sorriso sem graça. Aparentava estar meio tenso... mas também, havia um bocado de tensão no ar, pensou ela, engolindo um surto de histeria. — Não, claro que não vai.
— Eu só quis ver se você está bem.
Nik dispersou a apreensão dela com uma lacônica sacudidela da cabeça.
— A quantidade de pontos não faz diferença.
Nik abaixou a mão de Katie, porém, não a soltou imediatamente, ao invés disso, virou-a e passou o polegar pela palma aberta.
— Você tem mãos bonitas. — Nik parecia quase tão surpreso em ouvir-se dizendo aquilo quanto ela.
Os olhos de Katie permaneceram fixos nos dedos afunilados. As dele eram mãos fortes, expressivas, e o estômago de Katie fremiu novamente.
— Obrigada. Você também.
Katie percebeu que parte da tensão esvaiu-se de Nik, mas, embora os lábios contraíssem, não respondeu ao comentário.
— Sabe, acho que podemos arrumar algo um pouquinho melhor do que aquele banco de praça.
Apesar do contato físico tê-la perturbado, Katie sentiu uma pontada de arrependimento quando Nik soltou a sua mão. Tentou recuperar o juízo fugidio.
— O que você quer dizer...?
— Quero dizer que tenho uma suíte no Hall Hotel.
Ele teria, é claro. Hospedar-se em qualquer coisa menor do que um hotel de cinco estrelas seria obviamente aquém da dignidade dele, e o Hall era o único hotel cinco estrelas nas redondezas.
— Você está arranjado, então.
Nik deu um suspiro compungido e mostrou-se impaciente.
— Theos, você é um osso duro de roer — observou sucintamente. — Ambos estamos cansados...
— O que não é desculpa para quebrar.
Um nervo na face lisa de Nik começou a titilar.
— Tão gentil da sua parte me lembrar sobre os meus modos.
— Tenho a sensação de que isso não acontece com muita freqüência. — Tenha dó, pensou ela, oferecendo a Nik um olhar amargo.
Nik assinalou o deboche pela interrupção com a mais tênue contrição dos lábios.
— Eu estava pretes a dizer que estou um tanto inclinado a tomar a sua relutância extrema em aceitar minha ajuda ao pé-da-letra? Vai me poupar um bocado de tempo e humores gastos a longo prazo. Se alguém perguntar, vou jurar que você lutou com unhas e dentes. Você me odeia, eu sou arrogante, você preferia dormir num banco de praça... blá blá... -prosseguiu.
Katie lançou-lhe um olhar de intenso desprazer.
— Eu sei que isso confirma a minha previsibilidade tediosa, mas eu preferiria dormir num banco de praça! — declarou ela.
— Muito bem! — parabenizou-a. — O primeiro passo para corrigir nossos erros é reconhecer que você tem um problema.
— Assim que você for embora eu não terei mais nenhum problema. — Se você não reparar na minha condição de sem teto arruinada. Céus, o que faria caso Nik a julgasse pela palavra...?
— Não solte fogos por causa disso. Você não pode ficar aqui, você não tem dinheiro. Eu, pelo contrário, tenho...
— Dinheiro demais.
— Algumas pessoas devem pensar que sim — admitiu — mas de fato eu pensava numa cama extra e num táxi que deve chegar a qualquer momento.
— Cama extra.
— Desculpe se esperava outra coisa, mas foi um longo dia... — explicou Nik, compungido.
Katie corou belicosamente mediante a insinuação suave na voz dele. Reuniu o paletó e a própria dignidade ao redor de si do melhor jeito que pôde.
— Você não vai notar minha presença — Katie prometeu sobriamente.
Nikos agraciou o alto da cabeça dela com um sorriso torto.
— Disso duvido muito, ágape mou — falou mansamente. Katie fingiu que não ouviu o galanteio.
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Autor(a): fanofbooks
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Obrigada nina0022, seja bem vinda, e continue a acompanhar a história! :) ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ CAPÍTULO OITO Katie inalou alguns dos luxuosos produtos para banho disponíveis e, selecionando um que tinha um odor penetrante de alecrim, ...
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