Fanfics Brasil - 8 O Magnata Grego - Kim Lawrence

Fanfic: O Magnata Grego - Kim Lawrence | Tema: livro original, hot


Capítulo: 8

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Obrigada nina0022, seja bem vinda, e continue a acompanhar a história! :)


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CAPÍTULO OITO


  


Katie inalou alguns dos luxuosos produtos para banho disponíveis e, selecionando um que tinha um odor penetrante de alecrim, derramou-o na banheira.


Inspirou profundamente, apreciando a fragrância do perfume pungente do óleo em meio ao vapor. Deu um suspiro fundo quando deslizou vagarosamente para dentro da água quente. Foi a glória.


Perdeu a conta do tempo enquanto deitou-se ali, divagando em cada sentido da palavra. O idílio deleitoso só foi estragado por uma batida forte na porta.


Katie rosnou e escorregou para debaixo d`água para bloquear o barulho. Lâminas de cabelo escurecidas pela água flutuavam na superfície, como pétalas exóticas sobre a cabeça dela. Quando emergiu, o cabelo molhado emplastrou-se no rosto, a batida estava mais alta e acompanhada por uma voz. Katie retirou o excesso de umidade da face com a mão e fez uma careta.


— Você está bem, Katerina? Se não me responder serei forçado a entrar!


E entraria mesmo.


Katie mordiscou o lábio e assoprou uma seção de flocos espumantes do braço, assistindo as bolhas individuais se destacando e começando a flutuar pelo cômodo.


— Está trancada! — bradou ela, torcendo para que Nik fosse embora.


Se esperava que ele fosse embora, por que então teve essa imagem mental de ser acompanhada na água por um esguio e musculoso corpo masculino...? Por que até enquanto falava, Katie via água escorrendo sobre ombros vigorosos?


Certamente, quase não queria respostas a essas indagações.


Houve um breve silêncio.


— Uma porta trancada não é obstáculo para um homem determinado — afirmou Nik, soando irritado, porém bem mais relaxado do que antes de Katie responder. — Por isso, se você não está inconsciente, me responda.


Katie admirou a bolha que logrou viajar mais longe estourar contra a superfície espelhada.


— O que você quer? — bradou.


— Quer alguma coisa do serviço de quarto? Vou pedir um jantar.


O estômago reagiu à oferta com um rugido faminto.


-Não.


— Você não comeu quase nada no jantar.


— E de quem foi a culpa...?


— Você precisa comer algo — persistiu Nik.


— O que você pretende, me fazer comer à força? — Katie encolheu ao som da própria voz. Deus, isto está começando a soar mais e mais como uma briguinha de playground. Um dos dois tinha que começar a agir como gente grande. — De fato... Nikos... — ensaiou, a título de experiência. Por que era tão difícil dizer o nome dele? — Um sanduíche não me incomodaria. Nikos...? — Katie chamou, mas não houve resposta. Obviamente ele não estava por perto.


Katie afundou de volta na água perfumada, mas achou impossível recapturar o estado de relaxamento. Então, depois de lavar os longos cabelos até ficarem tinindo de limpos, saiu do banho de imersão. Quando se esticou para pegar a toalha, Katie flagrou um vislumbre dela mesma no espelho, e como não poderia? O teto era o único lugar no banheiro sem uma superfície espelhada.


Mal registrou a imagem efêmera da garota alta de pernas esguias, barriga enxuta e seios firmes, com delicados mamilos salientes que se destacavam contrastando com a da pele alva. Apanhou uma toalha macia da pilha sobre o toucador, e estava pretes a enxugar-se quando um impulso fez Katie virar-se e esfregar uma parte embaçada do espelho mais próximo.


Ainda com a toalha nas mãos, esticou uma das pernas para frente e equilibrou-se na ponta do pé, analisando o efeito da pose de bailarina no espelho. Contemplativamente, assentou os pés no piso de azulejo e virou-se, observando o próprio corpo através de ângulos diversos. Como, refletiu ela, um estranho veria este corpo? Será que reparariam que os ossos dos quadris eram protuberantes demais ou, vendo deste ângulo, constatariam que o seio direito era parcialmente mais cheio que o esquerdo?


Correu os dedos lentamente pelos contornos úmidos e firmes da barriga. Os nervos sensibilizados do abdome estremeceram sob o toque. Flagrou-se fitando os próprios olhos... estavam esquisitos, as pupilas dilatadas. Katie tremeu, mas não de frio, porque a pele estava quente ao toque.


— Oh, minha nossa! — ofegou, levando a mão trêmula aos lábios, que mostravam-se mais róseos do que de costume, como se eu houvesse sido beijada. A quem quero enganar? Não é através dos olhos de um desconhecido que estou tentando me ver, mas um par de olhos bem específico, insondáveis olhos negros. Era ruim que estivesse pensando sobre Nik vendo-a nua, mas infinitamente pior era o fato inescapável de que estava ficando seriamente excitada pensando nele fazendo isso!


Trêmula em reação, Katie cobriu os mamilos vergonhosamente intumescidos com os braços cruzados e tropeçou em direção a pia; engolindo em seco, abriu a torneira fria. A água gelada que borrifou no rosto clareou a mente, mas não os pensamentos profundamente confusos.


Estou pretes a me casar com um homem e estou pensando desse jeito sobre outro.


— O que isso revela a meu respeito? — demandou à imagem no espelho.


Talvez fosse a hora de admitir que o que possuía com Tom não era a base para um compromisso para toda a vida? Katie sacudiu a cabeça, rejeitando a idéia. Amizade e respeito duravam mais do que desejo, e isso, inevitavelmente, guiou-lhe os pensamentos num círculo completo de volta para Nik.


— Não vou deixar que ele faça isso comigo! — resmungou em voz alta. Só uma idiota desejaria uma explosão espetacular de fabulosos fogos de artifício, quando se pode ter uma chama que arde lenta e equilibradamente. Mas Katie queria isso?


Sacudindo o excesso de umidade do rosto, Katie respirou fundo e começou a esfregar-se vigorosamente com a toalha. Muito antes que terminasse, a pele estava rosada e formigando.


Quando Katie retornou ao quarto, a porta para a sala de estar, compartilhada pelos dois aposentos da luxuosa suíte, estava aberta. Não conseguiu ouvir nenhum sinal de vida além dela, mas por precaução, andou na ponta dos pés silenciosamente em direção à porta, com a intenção de fechá-la furtivamente. Sentiria-se mais segura com uma barreira visível entre eles... mas e quanto a Nik, a voz irônica na sua cabeça imaginou... caso soubesse no que você andou pensando?


Isso jamais aconteceria!


Fingir que não estava atraída por Nik não adiantaria mais. Só para começar, de fato nunca funcionou particularmente bem, nem podia culpar as emoções transtornadas em virtude do incêndio. A verdade é que, cada vez que olhava para Nik, Katie era esmagada por um apetite irrefreável. O desejo era algo com o que podia lidar, disse consigo mesma, sem uma grande dose de convicção.


Se ao menos, pensou Katie ansiosa, agarrando a maçaneta da porta, Nik pudesse ser facilmente trancado do lado de fora dos pensamentos dela. Como parte da sua nova política de honestidade, Katie reconheceu que custaria bem mais do que 12 centímetros de mogno polido para alcançar isso. Sim, isso vai custar um pouco do antiquado autocontrole, admoestou-se severamente, por isso pare de agir como se não tivesse alternativa.


— Sempre há uma alternativa! — Katie disse sem convicção na própria voz — Mais uma vez, para valer, garota. Sempre há uma alternativa...?


Katie emburrou e apoiou o peso contra a porta, a qual, apenas semi-aberta, emperrou abruptamente. Ela grunhiu de leve e deu um empurrão assim que o obstáculo revelou-se um obstáculo de um-metro-e-noventa-com-os-pés-descalços!


O estômago de Katie contraiu-se dramaticamente quando enfocou o olhar acabrunhado na aparência imponente de Nik.


Oh, céus! Katie não só não conseguia tirá-lo do pensamento, a presunção de que poderia trancá-lo fisicamente do lado de fora provava ser tão otimista quanto!


— Desculpe, não vi você aí. — Katie sorriu tensa, e apertou o cinto do comprido robe de hotel quando Nik abriu a porta por completo. Adequado a um hotel da alta roda, o robe em questão era tão suntuosamente rico quanto a decoração. De fato, era tão confortável que era difícil dizer que ela tinha uma cintura.


Só que Katie não se sentiu particularmente confortável vestindo aquilo. Não era a natureza provocante do traje modesto que a incomodava, mas o que estava, ou melhor, o que não estava, vestindo por baixo!


O olhar pairou sobre Nik e ela esperava que fosse um ar casual, improvável de ser mal interpretado como um ar do tipo eu-quero-arrancar-suas-roupas! Revelou-se que Nik, como Katie, passara o tempo no banho, mas ao contrário dela, não precisou contar com os robes que o hotel fornecia. Nik vestiu um jeans de cor clara e uma camisa pólo de um tecido macio, levemente mais escuro.


Essa versão relaxada de Nik era tão devastadoramente atraente quanto a formal.


— Você estava falando sozinha?


Katie, prendendo os lábios com firmeza, balançou a cabeça vigorosamente.


Uma sobrancelha negra traçou um arabesco.


— Pensei ter ouvido algo.


— Devo ter pensado em voz alta...


Os lábios estremeceram ligeiramente.


— Porém não falava sozinha.


O gracejo fez Katie desejar acertá-lo, o que não seria uma resposta civilizada, mas de algum modo, civilidade era uma coisa complicada de se alcançar perto de Nik.


— Desculpe se isso o perturbou. Boa noite? — completou ela, com mais esperança do que expectativa de que Nik entendesse a dica. Ele não era bom em entender dicas.


— Você pensou que eu tivesse dormido, talvez?


Uma pergunta perfeitamente inocente, mas algo no lampejo dos olhos levemente aguçados dele fez Katie suspeitar que havia algum tipo de armadilha nas palavras aparentemente inócuas.


Nik descobriu que muitas mulheres com maquiagem habilidosamente aplicada ficavam quase irreconhecíveis quando vistas de cara limpa. Este não era o caso de Katerina. Um escrutínio minucioso das feições recentemente lavadas revelou uma cútis sem defeitos, os lábios carnudos eram rosados, e a única imperfeição eram as olheiras palidamente azuladas pelo abatimento, sob os olhos grandes e incrivelmente azuis. Será que ela não dormira o bastante? A idéia do que Katie fizera quando deveria estar dormindo plantou-lhe uma ruga intransigente entre as sobrancelhas.


— Dormir? — repetiu Katie, ofendida e prevenida diante do olhar sóbrio de reprovação que Nik dirigia-lhe. — Realmente nem pensei nisso.


— Então eu não posso prestar contas disso.


— Prestar contas para quê?


Ainda amuada, Katie virou-se, os olhos seguindo a direção que a inclinação aguda da cabeça morena de Nik indicava. Quase grunhiu em alto e bom som quando viu o que Nik lhe mostrava. O grande espelho de moldura dourada acima da cama de viúva, pela porta, era claramente visível do outro quarto. Deve ter dado a Nik uma visão perfeita dela se aproximando da porta.


— Você pareceu um ratinho, como se estivesse tentando não perturbar ninguém.


Katie, lembrando do modo furtivo como se esgueirou pelo aposento, sentiu uma onda quente de mortificação encharcar-lhe a pele.


— Alguém poderia ser perdoado — continuou — por pensar que você não queria que eu ouvisse.


Katie mordeu o lábio. O rato apreciava o desconforto dela, podia ver isso nos olhos de Nik. Desde que não julgue os meus igualmente reveladores. Este pensamento fez um tremor escorregar espinha abaixo. Katie pigarreou.


— Eu disse que você não saberia que estou aqui — lembrou-lhe.


— Disse mesmo. Você é tão atenciosa — murmurou ele, com uma insinceridade palpável. Nik empurrou um pouco mais a porta com os ombros e o semblante endureceu. — Exceto quando me deixa pensando que desmaiou na banheira.


Katie foi sobressaltada por esse comentário inesperado e os olhos voaram para a face dele.


— Você não pensou isso. — O sorriso maroto esvaneceu. -Pensou? Mas eu não desmaio...


Um rápido retrospecto mental dos eventos em questão deixaram-na irrequietamente cônscia de que sua recusa em atender aos chamados dele poderia ser interpretada, justo assim, por alguém que fosse absolutamente solícito demais.


— Não foi um salto tão precipitado. Considere — sugeriu. -Você está completamente exausta, passou por uma experiência traumática... e, claro, eu não tinha a fração de informação vital que haveria me mostrado que os meus temores eram infundados. Você não desmaia.— Observou Nik, com um sarcasmo carregado.


Katie virou a cabeça para trás e deu um sorriso combativo, mostraria a Nik que uma pessoa completamente exausta — o que pela bíblia dela traduzia-se como “você parece horrível”, não aceitaria docilmente os sermões dele.


— Quem você pensa que é?


— Seu marido.


Por um momento Katie pensou que Nik realmente pudesse ler a sua mente, até que o bom senso interveio e ela entendeu que devia ter falado em voz alta.


— Presumo que a experiência traumática a qual se refere foi você ter aparecido? — O desdém arrogante tinha um quê de desespero. Embora desarrolhar os ânimos contra Nik fosse tão estimulante quanto enfiar o dedo na tomada elétrica, também era profundamente exaustivo e Katie sentiu que perdia o ímpeto. Para não mencionar o juízo.


O problema é que não era uma pessoa agressiva, normalmente, e estava demasiadamente estorvada pelo fato de que sabia que se comportara extremamente mal. Nik, por outro lado, obviamente não demonstrava qualquer sorte de embaraço. O sujeito tinha uma propensão autocrática que, a menos que alguém o tomasse pela mão, logo o tornaria num déspota totalmente emplumado em pouco tempo.


Nik soltou uma imprecação sufocada.


— Não me ocorreu — revelou friamente — que você fosse estúpida o bastante para trancar a porta.


— Quer dizer que, se eu não tivesse trancado, você iria irromper porta adentro? — ladrou Katie, enquanto uma imagem excepcionalmente vívida de Nik explodindo para dentro do banheiro dançou diante da sua vista. Por alguma razão, a imaginação tomou alguma licença poética quanto ao que ele vestia, muito pouco. E sobre Nik pulando energicamente para dentro do banho com ela. Foi uma seqüência totalmente desnecessária!


— Caso estivesse doente ou precisando de assistência, sim, eu teria, porém, se quis dizer que vibro ao entrar em banheiros sem ser convidado? Não, isso não. — Embora a expressão facial de Nik não se alterasse, a subira mudança de humor ficou evidente no olhar cáustico que repousou na face de Katie. — Se eu sou convidado... — deu de ombros -... As coisas mudam de figura.


— A cena que isso invocou me dá náuseas. — Por todos os motivos errados, pensou. Ciúme era tudo o que precisava!


— Não percebi que você possuía tendências tão puritanas. Embora eu devesse ter adivinhado, quando me contou que você e Tom não conversam sobre sexo.


— Eu não sou puritana — negou aborrecida. Ciente de que a sua reação foi um pouco além do cúmulo do exagero, moderou a voz, mas não pôde impedir que o desdém chegasse rastejando.


— Eu só acho que o que se passa entre um homem e uma mulher em particular deveria permanecer assim e não se tomar o assunto de piadas cretinas.


— Bem, ao menos você reconhece que foi uma piada. Pode ser que um pouco de comida ajude você a obter algum senso de proporção?


Se Nik desejava uma conversa vulgar, Katie mostraria a ele que também era capaz disso!


— E para a sua informação, nós não falamos sobre sexo, nós fazemos — Katie sorriu triunfante por desfilar a sua vida sexual imaginária bem debaixo do nariz empinado dele.


Por um instante, Nik mostrou-se sobressaltado, e então uma profunda gargalhada jorrou-lhe do cerne da garganta.


— Obrigado por dividir isso comigo — disse, solenemente. Katie jamais se sentira tão humilhada em toda a sua vida.


Não entendeu como se permitiu ser aguilhoada a fazer uma réplica tão infantil.


— Por que eu não poderia ter uma vida sexual saudável? O que há de engraçado nisso? — demandou ela.


— Você fala de sexo com a mesma bravata gabola que um garoto que nem perdeu a virgindade ainda.


— Eu não sou um garoto.


— Nem uma v...


— Sabe, acho que estou com um pouco de fome — cortou Katie, sabiamente.


Aquela tentativa de mudar o assunto foi tão patente que Nik sorriu. O sorriso ecoou assim que um pensamento incrível lhe ocorreu. Sacudiu a cabeça, dispersando-o quase instantemeante. É incrível o tipo de idéias malucas que um homem pode ter na cabeça, quando está sem comer ou dormir.


Sendo um homem honesto, Nik não poderia estar totalmente certo se a sua minimizada acuidade mental não jazia sob a porta de uma necessidade básica que não era satisfeita. Uma necessidade básica da qual Nik tomava-se consciente toda vez que olhava para a amada do amigo... sua própria esposa.


Nik emburrou. Tinha todas as complicações e surpresas de que precisava na vida profissional. Tomou providências para que a vida pessoal fosse tranqüila e simples. Parecia que, caso quisesse um retorno àquele desejável status quando, seria necessário remover Katerina Forsythe da sua vida o mais breve possível. O que era o motivo para ter vindo até aqui, mas de algum modo, entre resgatar gatos de prédios em chamas e ser hospitalizado, Nik foi perdendo esse detalhe de vista.


— Felizmente eu pedi o bastante para dois, caso você mudasse de idéia.


Katie olhou além dele e avistou a mesa com tampo de vidro, portando uma sedutora variedade de bebidas refrescantes. O estômago roncou ligeiramente, lembrando Katie do quão pouco ela havia comido nas últimas 24 horas.


— Oh... — Deu uma última espiada melancólica no banquete. — De fato, acho que estou bem, afinal — explicou nada convincente.


— Esta súbita perda de apetite seria o caso de... cortar o seu nariz fora para intimidar você? Eu tenho esse direito? — perguntou Nik, inocentemente.


— Não seja fofinho! — acusou ela. — O seu inglês é desgraçadamente melhor que o meu, e nós dois sabemos disso — vociferou Katie.


— Ninguém nunca me chamou de fofinho antes. Estou comovido.


Katie percebeu que não conseguiria continuar agindo como se não tivesse noção do deboche malicioso no rosto liso de Nik.


— Eu também devo ser... na cabeça! — Bateu a mão contra a lateral da área em questão. — Só o fato de ficar aqui me garante um atestado. — Os gestos expressivos assomaram o ambiente luxuoso.


— Você está chorando?


Katie escutou o tremor atento na voz grave e lembrou-se que Nik não gostava de ver lágrimas femininas.


— Não, mas se estivesse você ia achar ótimo — respondeu, fungando alto.


A expressão de Nik desanuviou. Katie falava tão rispidamente, mas mostrava-se tão vulnerável. A mistura afetou-o vigorosamente.


— É fato que não gosto de ver lágrimas femininas, mas se alguém tem uma razão para chorar é você. Você foi muito corajosa... mas agora está cansada e faminta. Venha comer. Vamos dar uma trégua.


Embora estivesse altamente cética acerca da oferta de trégua, a inusitada bondade de Nik, meio irracionalmente, abriu caminho entre as defesas de Katie, no que todos as tiradas brilhantes falharam.


— O que tem nos sanduíches? — Se insistisse em ser teimosa, Nik poderia resvalar na conclusão mais errada. Literalmente, que estava apavorada por atirar-se no mesmo quarto que ele!


Nik teve o bom senso de não agir como se houvesse ganho.


— Salmão defumado com requeijão, e filé com raiz-forte e pepino?


Katie achou difícil não ficar com água na boca.


— Estou faminta. — O estômago de Katie escolheu aquele momento para roncar de novo. O olhar penetrante de Katie desafiou Nik a gargalhar. — E detesto ver boa comida ser desperdiçada.


— Decerto — concordou ele sóbrio. — Especialmente para provar um argumento.


— Que trégua e tanto. Sabia que você não ia agüentar! -exultou Katie.


— Não vale até começarmos a comer.


— Bem, se vai criar as regras enquanto isso...


— Eu me rendo, você ganhou — concedeu, com as mãos para o alto em submissão.


— Não sou eu quem está marcando os pontos, estou faminta! Nik recuou para deixá-la passar.


— Eu também — murmurou.


Katie entendeu as palavras enigmáticas ao pé da letra. Não iria a lugar nenhum onde ninguém com um grama de juízo temeria pisar!


Nik conduziu Katie até um sofá creme abarrotado de almofadas rechonchudas.


— Levante os pés — sugeriu, empilhando as almofadas numa única extremidade.


Katie sentara do lado oposto, antes que a extensão da sabedoria interior dele a atingisse.


— Como sabe que eu devo fazer isso?


Nik deslizou uma das mãos sob os joelhos dela e girou Katie de volta com esmero.


— Eu perguntei ao médico — propalou Nik, acomodando os pés dela sobre a pilha de almofadas.


Os dedões de Katie retraíram, estava indignada.


— E ele lhe contou? Quanta lealdade ao paciente.


— Você é minha esposa.


— Você quer parar de dizer isso? — suplicou.


— Mesmo se o fizer, não vai mudar nada. Duvido que o médico tenha visto algum motivo para não me contar. Agora, onde está a bandagem?


— No meu bolso.


— Deveria estar no seu pé.


— Bem, eu não consegui colocar, é muito justa. Eu tentei.


Nik estendeu a mão.


— Permita-me.


— Não seja bobo. — Katie puxou os pés do sofá e escondeu-os protetoramente sob a barra do robe.


Um nervo começou a titilar no pômulo enxuto de Nik.


— O meu toque a ofende?


— Não seja bobo, é claro que não! — escarneceu. Contar-lhe o que o seu toque realmente fazia, naturalmente, não era uma opção.


— Você está congelando!


— Não estou e não há absolutamente nenhuma necessidade para a bandagem. Meu tornozelo ficou perfeitamente bem depois do banho. — A voz elevou-se até um chiado estridente pelos esforços frenéticos para convencer Nik.


— Não, não está, eu vi você mancando.


Frustrada, Katie cerrou os olhos.


— Vá em frente, faça do seu jeito — disse descobrindo e esticando a perna enrijecida para fora.


Mal podia dizer a Nik que a idéia de tê-lo colocando as mãos na sua pele, por qualquer espaço de tempo, a deixava quente de desejo e fria de pavor. E se ficasse excitada? A quem queria enganar? Não havia um se em relação a isso! Droga, Nik só precisava fitá-la e ela sentia-se emocionalmente assaltada. E se quando a tocasse, ela fizesse ou dissesse alguma coisa realmente estúpida?


Nik olhou silenciosamente para o tornozelo que lhe fora estendido, mas não fez nenhuma tentativa de tocá-lo ou em Katie. O momento prolongou-se...


O silêncio entre os dois instalou-se carregado de tensão. Finalmente, Katie não agüentou mais.


— Você vai fazer isso ou não? — demandou rabugenta. Não seria bom.


Nik enrolou as mangas da camisa, revelando a força muscular dos antebraços. Katie foi engolfada por uma onda de desejo que a encheu de desespero.


— Então pelo amor de Deus, acabe logo com isso! — irrompeu ela.


Quando Nik tomou o tornozelo entre as mãos grandes, elas pareceram frias e habilidosas. A sua atitude, enquanto examinou gentilmente a área machucada, era distante, porém solidária.


— Está terrivelmente inchado e o hematoma está aparecendo. — As sobrancelhas negras uniram-se num vinco. — Parece extremamente dolorido.


Estava, mas essa não era a razão pela qual Katie desviou do seu olhar inquiridor. Quando contemplou Nik, Katie viu os dedos tocando, alcançando outras áreas do seu corpo além do tornozelo. A perigosa fantasia acelerou o ritmo da excitação inconveniente que retumbava através dela.


— Você esqueceu de mencionar feio — disse-lhe, com uma fungada desconsolada. Com a cara amarrada, Katie comparou o tornozelo intacto com o ferido. Estava três vezes maior.


— Tenho certeza de que Tom ainda amaria você, caso possuísse tornozelos tão grossos quanto troncos de árvores.


Katie supôs que foi a lembrança da adoração cega de Tom que trouxe um sorrisinho zombador aos lábios de Nik. Desde que Nik soubesse, jamais seria boa o bastante para o amigo ou para ele próprio.


— Não tenho tanta certeza — meditou Katie, meio ensimesmada, assim que os pensamentos voltaram-se para o amor de Tom por todas as coisas perfeitas.


Era só o seu jeito de falar, porém, às vezes, quando Tom referia-se a ela como o seu bem mais precioso, a deixava desconfortável. Tom gostava das suas posses em estado novo. Se qualquer coisa caísse abaixo dos altos padrões, exigia a si próprio que se livrasse daquilo. Tom riu e chamou Katie de irremediavelmente sentimental quando, depois de deixar cair um vaso valioso, ela não permitiu que o jogasse fora.


— Você o comprou para mim naquele dia em que fomos a uma feira de antiguidades, e se eu o virar desse jeito — demonstrou — ninguém será capaz de notar a rachadura, afinal.


— Não vale mais nada agora. Comprarei outro. — Tom mostrou-se perplexo quando Katie disse-lhe que um novo não seria o mesmo.


— Não, porque então não terá um defeito — replicou Tom, ironicamente.


Será que compraria uma nova esposa tão facilmente assim, quando a velha ficasse gasta demais? Katie ficou imediatamente envergonhada pelo pensamento intempestivo.


— Você confere um preço alto à sua aparência e um baixo a si mesma.


O desacato lancinante na voz de Nik trouxe a atenção de Katie voando de volta para o rosto dele.


— Se as pessoas não podem ver além do rosto bonito e do corpo atraente, não entende que o problema é delas, e não seu?


Katie piscou de espanto pela censura áspera na voz dele. Nik achava que possuía um rosto bonito...?


— Eu... — Katie sufocou um grito de dor quando os dedos esguios de Nik apertaram impiedosamente o tornozelo luxado.


Nik afrouxou o toque de imediato.


— Desculpe por machucar você.


— Não foi nada — mentiu ela.


Nik grunhiu e lançou-lhe um olhar de irritação. Apoiando o tornozelo dela sobre o próprio joelho, Nik continuou a enrolar a bandagem cilíndrica sob um formato mais maleável.


— Eu pediria que me dissesse quando dói, mas... — desviou a cabeça morena da tarefa e lá estava o brilho irônico nos olhos dele. — ... desperdiçaria o meu tempo, não é?


— Obrigada — disse calmamente, assim que o apoio retornou ao seu lugar.


Nik terminou de alisar as pregas invisíveis da bandagem sobre a curva da panturrilha e ergueu a cabeça. Havia um pálido enrubescer ao longo dos pômulos.


— Não foi nenhuma cirurgia cerebral. Sente-se ali. Vou trazer-lhe algo para comer.


— Oh! Pensei em comer alguma coisa no meu quarto.


Um chiado dos lábios ágeis de Nik desabou.


— Está fugindo!


— Não posso fugir.


— Isso é verdade. Não gosto de comer sozinho. Fique.


— Está bem, eu fico — Katie ouviu-se responder. — Parece uma hora estranha da noite para comer. Contudo, também foi um dia estranho.


— A gente come quando sente fome.


— As pessoas têm distúrbios demais em relação à comida -comentou. — Como está isso? — completou, passando um prato opressivo para Katie.


— Se eu tivesse qualquer distúrbio alimentar, desmaiaria, mas isso parece átimo. — Esse entusiasmo soou-lhe falso.


— Nós podemos fingir que apreciamos um festim da meia-noite, não é assim que fazem nos colégios ingleses?


— Não no que eu freqüentei — replicou Katie, pensando na escola pública onde estudara. Imaginou que era um reflexo tímido do tipo de colégio ao qual Nik deve ter estudado. De fato, a sua vida era um reflexo tímido da dele.


— Você era boa aluna?


— Não particularmente — respondeu, suspeitando do interesse. — Mas eu era muito popular. — Katie deu um sorriso travesso repentino, o que concedeu a Nik um vislumbre do senso de humor pungente que ela não teve muita oportunidade de exibir na sua companhia. — Mas só porque eu tinha um irmão gêmeo extraordinariamente bonito. Você ficaria pasmo se visse quantas garotas queriam tomar chá comigo lá em casa.


— Você era uma gêmea?


Katie, de boca cheia com um sanduíche, anuiu.


— Perdê-lo deve ter sido especialmente árduo para você -ponderou Nik. Katie não respondeu. Conversar sobre Peter ainda era duro. — Que tipo de homem era o seu irmão?


Katie analisou a questão.


— Era vistoso, impetuoso, engraçado... — Parou e lançou um olhar enviesado para Nik, melhor concluir antes dele. — Para resumir, era totalmente o meu oposto.


— Você era a gêmea sensata?


A percepção de Nik era assustadora. Peter fora o gêmeo criativo, e Katie a pragmática.


— Peter era muito especial — disse serenamente.


— Meu irmão era mais velho, e nós não éramos particularmente íntimos. Foi duro para o meu pai quando ele morreu -Dimitri era o seu favorito.


Era impossível dizer, pela expressão impassível, se Nik importou-se com isso. Vendo-o como um menininho tentando conquistar a aprovação dos pais, Katie descobriu que possuía indignação suficiente pelos dois.


— Ele foi preparado para a sucessão virtualmente desde o berço. Quando o perdemos, meu pai literalmente quase trabalhou até a morte, porque achava que eu não poderia substituir meu irmão.


E os psicólogos se perguntam por que as crianças saem dos trilhos! Com pais tão insensíveis como os que Nik descrevia, era um milagre que qualquer criança se tomasse normal!


— Isso é tão injusto! — desabafou, furiosamente. Katie corou quando Nik lançou-lhe um olhar estranho. — Só espero que jamais faça qualquer filho meu se sentir inadequado — declarou impetuosamente.


Se Nik houvesse sentido qualquer inadequação, obviamente a tinha superado há muito tempo. Era complicado imaginar qualquer um mais seguro e confiante do que ele era.


— E planeja ter filhos logo?


Katie suspirou.


— Tom não acha que seria uma boa idéia começar uma família antes de alguns anos.


Nik suspeitou que ela ignorava o quanto soava melancólica.


— E você? — sondou gentilmente.


— Não se deve ter um filho para preencher o vazio na sua vida.


Para Nik, soou como se Katie houvesse dito aquilo para si mesma muitas vezes antes.


— Algumas pessoas dizem que se é casada com o homem certo, não se tem nenhum vazio na vida.


— Claro, mas quando se ama alguém é simplesmente natural que queira ter filhos com essa pessoa... — Katie olhou para ele, escutando atentamente o que lhe dizia, e estacou pálida. -Eu vou me casar com o homem certo! — Nik nunca perdia a oportunidade de enfiar uma tirada manhosa. E como, imaginou Katie, eu venho tagarelar como uma tia velha sobre a vida, amor e bebês com ninguém menos do que Nikos Lakis?


— Eu disse o contrário? Estava apenas fazendo uma observação generalizada.


— Não me soou muito generalizada. — Era a sua vez, decidiu Katie, de fazer as perguntas. — Esse seu pai...ele escolheu a sua noiva também? — Katie sabia que a experiência da mãe não era isolada, mesmo agora no século 21.


Nik balançou a cabeça.


— Meu pai diz que não vai me dar a desculpa para me virar e dizer que ele é o culpado, quando eu arruinar o meu casamento. O próprio casamento dele com a minha mãe foi arranjado pelas famílias. Não foi uma união feliz — explicou, impassível. -Eles virtualmente viveram vidas separadas. Quando ela morreu, o amante telefonou para contar ao meu pai.


Katie era incapaz de imaginar uma vida assim, e como seria para as crianças de uma união dessas?


— Anime-se. — Nik pressionou um dedo nos cantos dos lábios amuados de Katie. — Ele encontrou o amor verdadeiro da segunda vez.


O toque leve de Nik se fora, mas a sensação de formigamento persistiu.


— Pobre amor verdadeiro — murmurou, rebeldemente.


Nik parecia divertir-se com o veneno dela.


— Oh, ela consegue se dominar. Sabe, o meu pai não é de todo mau. Tenho que admitir, em sua defesa, que fiz muito pouco para dissuadi-lo da noção de que eu não tinha nenhuma inclinação natural para trabalhar duro. Eu não era nenhum anjo.


— Sete anos de casamento e só me diz isso agora!


O sorriso abrasador de Nik surgiu em resposta ao esgar torto de Katie. Era quase como se houvesse uma conexão, refletiu, uma compatibilidade real entre ambos. Katie paralisou, o pânico correndo pelas veias. Conexão. Compatibilidade! Você não fica à vontade com o homem que está fazendo o melhor que pode para impedir que se case com o homem que você ama!


— Ouça — disse ela — não precisa falar sobre a sua família comigo.


— Por que... estou aborrecendo você?


— Não, não está me aborrecendo. — Estaria Nik tentando parecer obtuso? — É um pouco tarde para discussões complexas. — Katie bocejou com desvelo para enfatizar o argumento.


— Não é isso o que as pessoas fazem tarde da noite? — sugeriu ele, moderadamente. — Quando as cortinas estão cerradas e o resto do mundo não existe. Revelam coisas sobre si mesmas as quais, durante o dia, nem sonham em fazê-lo. A noite tem um meio de derrubar as barreiras e descongelar as reservas. — O olhar transparente de Nik deslizou lentamente pelo corpo de Katie, depois retornou para a boca macia. — Claro — sussurrou -geralmente estão na cama a essa hora e não passam o tempo todo conversando.


Katie pigarreou e agarrou-se impacientemente à gola do roupão. Precisou de toda a sua força de vontade para arrancar o olhar lascivo do rosto de Nik. Nesse momento, estava extremamente grata pelo tecido felpudo ser tão grosso, porque os seios ficaram tão tensos e sensíveis que, sob roupas normais, aquela metamorfose despudorada seria difícil de passar despercebida.


— Bem, não estamos... na cama! — Katie engasgou. — Quer dizer, eu não quero... você... nós... — Fechou os olhos e alinhou os ombros. Poderia agrupar mais do que duas palavras juntas, caso obrigasse a mente a isso e não olhasse diretamente nos olhos de Nik.


— Tenho certeza de que não quero me intrometer — anunciou Katie, servindo-se de comida, embora o apetite a houvesse abandonado repentinamente.


Considerando a sua fome, Nik não comeu muito, mas observava a moça. De fato, o apetite dela parecia fasciná-lo. Katie tentou não se incomodar com o interesse dele, na verdade, impedir que Nik soubesse o quanto a assustava tornou-se uma questão de princípios, apesar de estar começando a suspeitar que ele já sabia. Nik deve ter visto os sintomas uma centena de vezes antes. Era o tipo de homem ao qual as mulheres reagiam.


Ocorreu a Katie que ele deveria estar comparando a sua pujante degustação da comida desfavoravelmente com as maneiras refinadas das amigas sofisticadas.


— Isso foi muito bom, obrigada. — Depois de haver começado, Katie decidiu que parecia lógico tirar todos os agradecimentos do caminho de uma vez. — E obrigada por salvar meu gato e me oferecer uma cama esta noite... foi muito gentil da sua parte — admitiu candidamente.


Nik olhou para Katie com uma intensidade contestável por um momento.


— Talvez você devesse tentar dormir um pouco? — sugeriu abruptamente.


Katie anuiu, incapaz de livrar-se da convicção de que Nik iria dizer algo bem diferente. Incapaz de suportar o exame árduo de Nik por mais tempo, ficou de pé.


— Eu vou. — Os olhos misteriosos de Nik prenderam os dela, mas ainda assim, não falou nada. — Boa noite? — Katie ficou profundamente mortificada por ouvir aquela palavra emergir como uma pergunta melancólica. Os pés descalços se retorceram sobre o carpete espesso. Poderia ser mais óbvia? Castigou a si mesma, Por que não vai em frente e implora ao sujeito para não deixá-la ir embora, Katie? Isso seria mais sutil.


— Boa noite, Katerina.


Embora a expressão de Nik fosse tão reveladora quanto um muro de pedra, e a fala mansa acentuada nem um pouco mais esclarecedora, Katie ficou totalmente convencida que lera desdém em ambos. Mancou em direção à porta antes que pudesse fazer papel de tola por mais tempo.


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Autor(a): fanofbooks

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 1



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  • nina0022 Postado em 28/12/2012 - 14:50:07

    adorei o fato de alguém finalmente dar credito aos verdadeiros autores dos livros. Total apoio!!!


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