Fanfics Brasil - 3 A Lenda de um Amor - Sandy Blair

Fanfic: A Lenda de um Amor - Sandy Blair | Tema: livro original, romance, época


Capítulo: 3

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Capitulo II     


  


De maneira incrédula, Beth encarou o eletricista que Tom Silverstein enviara para solucionar o problema na cozinha.


– Será que estou entendendo bem, Sr. MacBride? O fio é feito de alumínio?


O homem aquiesceu.


– Isso mesmo. Era muito usado na virada do século. O XX, quero dizer. Vai ser necessário substituir. É perigoso, não acha?


Sem dúvida que Beth concordava, depois de quase ter chamuscado as sobrancelhas. Já descobrira também que o sistema de encanamentos no castelo era ruim e enferrujado, e concluíra, pela crosta de sujeira na banheira da ala oeste, que seu predecessor só tomava banho de vez em quando.


Respirou fundo.


– Quando custará substituir a fiação no interior do castelo? – perguntou.


Não queria nem saber do custo em toda a propriedade. Precisaria tomar conta do resto aos poucos. No momento, tudo que queria era usar um secador de cabelos, deixar uma luz acesa durante a noite e fazer torradas sem queimar a cozinha.


– Não se preocupe com o pagamento, minha senhora – respondeu o eletricista – Farei uma estimativa e enviarei para o Sr. Silverstein dentro de um ou dois dias. Tenho certeza de que nós, homens, chegaremos a um acordo.


Após uma noite mal dormida e uma manhã difícil limpando e esfregando, Beth não estava com muita paciência para ouvir comentários machistas.


Já sabia que a metade das janelas do castelo não fechavam ou abriam direito e estremecia ao pensar nos problemas que ainda surgiram. Em um mês, estaria morta de cansaço!


Mas aquele era o seu castelo, não de Silverstein!


Sr.MacBride, serei eu quem aprovará ou rejeitará sua estimativa, portanto, por gentileza, envie-a para mim. Neste meio-tempo, o que posso fazer para manter este luar apresentável?


O eletricista resmungou em voz baixa.


– Não deixe nenhuma luz acesa antes de ir dormir, nem aparelhos ligados na tomadas. Não cai querer acordar no meio da noite e ver o castelo em chamas, vai?


Beth ficou em silêncio e resolveu que, quando Silverstein voltasse, pediria o parecer de outro eletricista.


 


 


Duncan jamais ouvira uma mulher praguejar tanto. Seguira Beth durante grande parte da manhã, enquanto ela agia no castelo como um verdadeiro tufão, arrancando lençóis  que cobriam mobílias e limpando cantos escuros e armários como uma máquina desgovernada.


Prestou muita atenção para as coisas que a agradavam ou não e percebeu que sabia apreciar o que tinha valor. Porém, quanto mais poeira e sujeira encontrava à sua frente, mais praguejava.


Espantado com tal procedimento, Duncan retirou-se para seus aposentos e deitou-se no lado esquerdo da enorme cama, sabendo que Beth escolhera o lado direito.


Na noite anterior sentira seus cabelos sedosos e seu perfume e pensara de novo na maldição que o fazia viver em um plano intermediário, entre a vida e a morte, e que lhe fora atirada pela mãe de sua terceira esposa, uma bruxa. A única coisa que lhe dava alento era saber que ainda existia uma esperança.


Até que alguém especial o liberte...


Será que aquela ratinha, a nova herdeira, era a tal pessoa “especial”? Pelo menos a ruiva lhe ensinara uma lição: nunca mais confiaria em mulheres de cabelos flamejantes. Ainda não conseguia acreditar que pensara estar apaixonado por tal megera!


Bem, refletiu, não existia o risco de incorrer no mesmo erra com a atual herdeira. A Srta. Pudding era sem graça, como um dia de chuva. Entretanto tinha a pele acetinada e uma linda boca...


Dormia como uma pedra e tão quieta que, por duas vezes durante a noite, Duncan a tocou para se assegurar que continuava respirando. Resmungou um pouco, e logo voltou a ficar quieta. Que estranho!


E isso dizia respeito também às suas abluções matinais, lembrou Duncan. Examinou a fila enorme de frascos e caixinhas sobre a penteadeira. Jamais poderia se imaginar passando por todo o ritual que Beth fazia! Não deveria ter sido indiscreto e ficar observando, mas foi impossível resistir.


Beth deixara a cama com um sorriso e logo se despira totalmente revelando a pele branca como leite e os mamilos rosados nos seios firmes.


Começara então a usar dois dos frascos de sua coleção para lavar os cabelos, e outro para o rosto, além de mais outro para o corpo, mergulhando em água tépida. Em seguida, fez algo surpreendente: deslizou uma lâmina afiada e azul nas axilas, pernas e virilhas, o que deixou Duncan muito preocupado.


Quando seu espanto diminuiu, viu-a secar-se e passar sobre o corpo um creme grosso com odor de baunilha. Então tratou de deixar o quanto, pois já havia bisbilhotado demais.


Entretanto, picado pela curiosidade, retornou para vê-la de pé em frente ao espelho, vestindo uma calça vermelha e um suéter pesado. Os cabelos ainda úmidos, na altura dos ombros, estavam amarrados em um laço frouxo na nuca. Duncan cruzou os braços e se apoiou no batente da porta, imaginado o que Beth faria em seguida.


Por um instante pareceu consternada ante seu reflexo, no espelho, então foi buscar outra de suas estanhas poções. Escolheu quatro delas, antes de se decidir por uma caixinha preta. E o fato mais bizarro da manhã ocorreu. A jovem começou a pintar um quadro no próprio rosto, concluiu o fantasma.


Como uma artista, escolheu meia dúzia de escovas minúsculas e finas, e usando cremes e líquidos coloridos, recriou a própria imagem diante do espelho.


Transformou os olhos cinzentos e sem graça em duas lagoas mais escuras e misteriosas, e recurvou os cílios com um estranho objeto que mais parecia uma caneta.


Então, de repente, voltou-se com gesto súbito, para ficar frente a frente com ele, que a fitava.


Mas é claro que não o viu, entretanto a sensação de espanto foi tão grande, que fez o lorde voltar-se também e procurar por alguma entidade sinistra no quarto. Nada vendo, aproximou-se de Beth.


A jovem estremeceu, suspirou, e tornou a olhar-se no espelho, dessa vez pintando os lábios carnudos de cor-de-rosa, e sem ousar virar-se outra vez, como se estivesse assustada.


Em seguida, deixou os aposentos.


 


De pé junto às muralhas do castelo, Beth protegeu os olhos da luz do Sol e perguntou: – O que acha Tom?


Acabava de revelar sua intenção de transformar a propriedade em uma pousada com direito a café da manhã.


– Maravilhoso. Mas tem certeza de que não vai precisar de ajuda? Fazer obras às vezes é perigoso, e existem muitos operários por aqui dispostos a se incumbir desse tipo de serviço. Posso lhe enviar alguns.


 – Tenho certeza que  sim – replicou Beth com cuidado.


Porém, depois da descoberta fantástica que fizera nessa manhã, não desejava ficar esbarrando em estranhos no meio do castelo, a não ser que fosse absolutamente necessário.


Descobrira que o castelo era mal-assombrado.


Seus novos eletricistas, Bart e Will Fraiser, pai e filho, iniciaram os trabalhos no dia seguinte, e isso a manteria ocupada também.


Sorriu para Tom. Era hora de ter uma conversa esclarecedora e franca com o Sr. Silverstein, pensou.


– Por que mentiu para mim?


Tomado de surpresa, Tom ficou vermelho como um camarão.


– Jamais menti para a senhorita!


– Ora! É claro que sim! Quando lhe perguntei se Blackstone era assombrado.


– Não. A senhorita perguntou se eu já vira um fantasma, e respondi a verdade, que jamais vi.


Fez-se um breve silêncio carregado de tensão, e por fim Beth murmurou:


– Eu o vi Tom.


De início tinham sido apenas vagas imagens, como uma sombra flutuando no canto do olho. Quando se virara do espelho em um gesto rápido, o fantasma desaparecera. Por fim, percebendo que só veria o homem alto e translúcido se olhasse para o espelho, começara a procurar por ele em tudo que refletia.


Fazendo uso dos vidros das janelas, recém-lavados, adquira muita prática em vê-lo quando estava às suas costas. Passara a apreciar seus cabelos e a barba, negros como carvão, os olhos azuis como aço e o físico musculoso. Nas raras ocasiões em que o espectro se aproximava mais, podia sentir uma lufada de vento gelado.


– Quem é ele?


Tom pareceu se recuperar do embaraço e deu de ombros.


– Fez ou disse algo que a assustou, minha jovem?


– Não. Apenas chamou minha atenção algumas vezes.


Não iria revelar ao testamenteiro que, tinha certeza, seu fantasma muito masculino a vira tomar banho nessa mesma manhã, já se sentia constrangida o suficiente.


– Bom – disse Tom, tomando-a pelo braço e  começando a caminhar. – Venha sentar-se ao sol. A narrativa da história de Duncan Angus MacDougall levará algum tempo.


 


 


Duncan largou a estranha lista de Beth sobre coisas que desejava consertar e comprar, e lançou um olhar pela janela, para o lugar onde seu advogado e a Srta. Pudding se sentavam no momento.


– O que diabos podem estar conversando há tanto tempo?


Nada tinham em comum, e por certo não estariam falando a seu respeito, refletiu. Isso era proibido, até que aparecesse á herdeira, e sem dúvida não era o momento. Ainda não, pelo menos.


Aparecer para a Srta. Pudding a faria voltar gritando à América, algo que seria um desastre total. Ainda não testara sua coragem, e não podia dizer se era a escolhida.


Casso julgasse que Beth era necessária, apesar de ser tão esquisita, então poderia deixá-la escolher se desejava ficar ou ir embora.


Voltou a ler a listo com o título Tarefas a executar no Castelo.  Sabia o que era sabão, mas o que significava sapólio?


Ah! Devia ser o creme que Beth usava para tomar banho!


Virou a página e viu que a herdeira tinha intenção de comprar dez jogos de lençóis de algodão egípcio e o triplo em toalhas, todas brancas. Parecia excessivo, até para uma mulher que tomava banho todos os dias, pensou. E para que desejava cem velas de cera e tantos travesseiros? Já tinham eletricidade no castelo, e Beth só precisava de uma cama para dormir.


Sem dúvida a nova herdeira era excêntrica ou uma compradora  compulsiva, mas Duncan sempre podia confiar em seu advogado, refletiu. Silverstein a manteria sob rédeas curtas. Afinal, controlara o janota do herdeiro anterior, permitindo-lhe apenas uma modesta retirada todos os meses. O que o homem fizera com o dinheiro Duncan ignorava. Provavelmente gastara tudo com bebida. Por certo não empregara um tostão com a manutenção do castelo, refletiu.


Duncan voltou a olhar pela janela. Por fim Beth e Tom haviam se levantado do banco! Ótimo! Logo ela entraria outra vez no castelo.


Para seu espanto percebeu que sua agitação na verdade não era por causa da lista de comprar e reparos, mas pelo fato de estar se sentindo só. Que estranho!


 


 


– Portanto, como pode perceber, desde 1395, quando Duncan salvou Isaac e Rachel de serem queimados na fogueira pelos aldeões, nós, os Silverstein, nos vimos na obrigação moral de servi-lo, mesmo em sua forma de fantasma. Isaac fez um juramento, que sempre haveria um Silverstein para proteger MacDougall. Cada geração de nossa família forneceu um testamenteiro para trabalhar como Isaac, servindo de consultor para os herdeiros subseqüentes, supervisionando os limitados recursos das propriedades, de modo que Blackstone não caísse completamente na ruína, como aconteceu com tantos outros castelos na Escócia – respirou fundo e prosseguiu. – Enquanto existirem os Silverstein, o fantasma terá seu lar. Nossa dívida com ele  é enorme. Nossa linhagem não existiria hoje e, é claro, eu não teria nascido, caso Duncan MacDougall não tivesse tido bastante força e coragem para salvar Isaac e Rachel – sorriu. – E cada geração manteve um diário sobre os sacrifícios feitos para cumprir suas responsabilidades.


Foi a vez de Beth suspirar.


– É difícil de acreditar que aldeões simples e de bom senso tenham culpado um pobre homem e sua esposa grávida pela praga que se abateu sobre eles.


Tom deu de ombros.


– Os dois eram estranhos, Beth, vindos de Paris, e mal falavam nossa língua. Isaac e Rachel não conseguiam se fazer entender pelos moradores do vilarejo, e naquela época o francês era o idioma da corte e dos ricos bem-educados – fitou Beth com seriedade. – E lembre-se de que apenas cinqüenta anos antes a população da Europa fora dizimada; literalmente metade morrera pela peste. Fanáticos religiosos abundavam. Havia os que se auto-flagelavam, batendo-se com chicotes, na crença de que, se punissem os Silverstein, Deus os pouparia. Quando Isaac e Rachel chegaram, por coincidência houve outro surto de peste, e...


Interrompeu-se e ergueu as mãos, em um gesto de desânimo.


– Bem, no que me diz respeito – disse Beth – estou feliz que MacDougall tenha trazido Isaac e Rachel para Drasmoor. Iris me sentir inútil sem você, Tom.


– Obrigada, milady.


– Sou eu quem agradeço.


Morrendo de vontade de saber mais sobre o fantasma, Beth perguntou:


– Será que poderia ler alguns de seus diários de família?


Tom sorriu, mas balançou a cabeça em negativa.


– Só um Silverstein pode lê-los.


Disfarçando a frustração, Beth mudou de assunto.


– Por falar nos Silverstein, como vai sua adorável esposa?


– Tem dor nas costas, seus pés estão inchados e não consegue sair da cama sem ajuda. No momento, não muito feliz.


Beth soltou uma gargalhada.


– Bem, mande lembranças minhas e diga que logo o bebê nascerá, e ela voltará a ficar bem.


– Certo. – Tom abotoou o paletó, pronto para partir. – Em minha próxima visita, trarei os livros de contabilidade.


Beth tentou esconder a surpresa que essa concessão lhe causou. Até esse momento, Tom se negara a lhe entregar algo mais que o dinheiro da manutenção do castelo.


Sorriu, satisfeita.


– O que o fez mudar de idéia?


– As janelas que lavou, minha cara – Tom riu de modo abafado. – E o fato de não ter feito as malas e corrido para o aeroporto assim que viu lorde Duncan.


Sentindo-se ridícula pelo súbito orgulho de saber-se apreciada por Silverstein, Beth ergueu o queixo e tentou disfarçar o rubor. Tratou de ficar quieta, mas pensou que nem um exército a tiraria do castelo, agora que sabia da existência do valoroso fantasma.


Será que conseguiria travar um relacionamento com Duncan MacDougall? Afinal o lorde era um espectro, portanto não estaria correndo o risco de se apaixonar e ficar decepcionada.


Será que Duncan conseguiria estabelecer contato com ela?, pensou. Fazer-lhe companhia nas longas noites de inverno? E se isso era possível, o que fazer para induzi-lo a se materializar?



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Autor(a): fanofbooks

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