Fanfic: 2 Lados
- Não vou assinar isto, eu já disse!
- É para seu próprio bem Anne.
- Não creio que seja Victor. Você está tentando persuadir-me. – Dei de ombros como se não me importasse. – Minha palavra não basta?
Seus passos rápidos vagavam por entre a sala em temperatura gélida. Nunca havia visto Victor Montessori em um estado tão sensível de nervos.
- É só um acordo Anne. – Ele falhava em manter-se calmo. – Eu realmente preciso que o assine.
- Victor, entenda... – falo como se tivesse a explicar a lição de uma criança do 1º ano. – eu jamais revelaria o que ouvi agora a pouco. Sei que minha intenção não era espionar sua conversa com ele, mas vocês falavam tão alto e eu... – respiro fundo. – simplesmente ouvi tudo.
- Não foi culpa sua. – Victor passa os longos dedos entre seus cabelos lisos e negros. – Não pensei que estivéssemos gritando. Eu só queria explicar para ele que não dá mais. – Seus olhos marejam. – Que nossos pais iriam descobrir. Que a empresa iria à falência se eu não me concentrasse o suficiente.
Victor senta-se na cadeira da diretoria. Seu rosto não nega a imensa aflição que tem ao esclarecer este assunto comigo. Eu vou até ele. Compreendo que é meu chefe, e eu sou apenas uma secretaria de seu pai, diretor geral da Costruzione Montessori. Eu o observo ternamente. Gostaria de acalmá-lo e dizer que assino seu acordo, mas estaria mentindo para mim mesma, e isto não é uma das coisas que orgulho-me de fazer.
- Anne, eu preciso esquecê-lo. – Ele cobre os olhos em uma tentativa de que eu não perceba seu sofrimento.
Victor Montessori você é tão frágil. Eu apreciaria se existissem mais homens como você.
- Você irá.
- Anne. – Seus olhos verde-pântano piscam para mim. – Prometa que não dirá o que ouviu nesta sala a ninguém.
- Eu já disse que não. Confie em mim.
Victor sorri aliviado e dou-lhe um sinal de que tenho que voltar aos meus afazeres.
Sento em minha cadeira e abro o editor de texto. Preciso redigir tudo o que descobri sobre Victor Montessori, em meu computador pessoal é claro.
25 de Janeiro de 2012
Grande Revelação
Caro Sr. Lewis
Hoje foi um dia muito conturbado para mim. Acredito que tenho ótimas novidades e que lhe agradarão tanto quanto me agradou esta manhã. São sobre Victor Montessori, filho de Giovanni.
Eu estava a fazer a droga das anotações da empresa na qual me obrigaste a trabalhar. Era muito cedo ainda para servir o maldito café do codiretor, mas eu o fui. Ao que parecia ele estava com visita. Ambos gritavam. Minha avidez por informação fez com que meus ouvidos colassem à porta de entrada.
Victor vociferava com um homem, talvez de sua mesma idade. E como sei que irá perguntar-me o nome do individuo, tratei de fazer um breve levantamento sobre sua historia de vida. O pequeno dossiê está logo abaixo, como pode ver.
Nome: Hugo Becker Casagrandi
Pais: Pablo Campos Casagrandi e Katherine Traves Becker
PS.: Pablo Casagrandi é dono de uma loja de suprimentos em Roma e Katherine trabalha com advocacia na Becker’s Company.
Isso mesmo, ela é a dona! Katherine é americana e trouxe a herança de advogar de seus pais. Ambos estão neste ramo. Posso afirmar com convicção que são multimilionários.
Bom, voltando ao Hugo. O mesmo estuda Artes Cênicas na Universidade La Sapienza. Tem poucos amigos pelo que investiguei e não possui namorada. Ou melhor, nunca namorou. Os encontros de Hugo e Victor não são frequentes. E hoje bom... eles tiveram uma discussão daquelas.
PS. : Desculpe os termos.
Victor afirmou que não estaria disposto a ver Hugo durante os próximos meses, e que talvez isto o machucaria, mas estava o fazendo para esquecê-lo. Hugo expressava confusão devido ao choro. Ele pedia para que Victor não o abandonasse. Não agora que estava prestes a revelar suas preferências a seus pais. Ele pedia apoio e afirmou veemente que não se afastaria tão facil.
Ambos silenciaram-se por um momento. Consegui detectar apenas respirações ofegantes e ruídos fracos. Creio que estavam em um beijo apaixonado. Provavelmente o ultimo. Encostei meu ouvido com mais força à porta. Não deduzi que alguém iria abri-la no exato momento e droga, o maldito pegou-me no flagra.
Hugo saiu às pressas em direção ao elevador do prédio. Victor ficou a fitar-me e me fez entrar em seu escritório. Ele esteve chorando, era evidente! Sua mão catou um papel de uma gaveta e mostrou-me. Era um Contrato de Confidencialidade. Pediu que eu o assinasse. Neguei-me é obvio. Aleguei que poderia guardar seu segredinho. Ele hesitou de inicio, mas cedeu. Enfim, não assinei porcaria nenhuma e estou aqui escrevendo-lhe para contar a mega bomba que me foi revelada. Espero que a aprecie e utilize-a como desejar.
Atenciosamente, Anne.
Salvei o documento e o enviarei como anexo quando estiver em casa.
Sai para o almoço. Muitos restaurantes povoavam Roma. Seria fácil achar um que não vendesse somente macarrona e pizza. Eu estava farta de tanta massa. Roma é uma cidade bonita, mas não se adéqua a mim. Não ao meu estilo de vida. Canadá ou Alaska me descreveriam verdadeiramente.
Esta é minha segunda semana no continente europeu. Consegui um apartamento descente próximo ao trabalho. É um prédio de mais ou menos vinte andares com uma vista deslumbrante para o museu. Se for para fazer o que pretendem que eu faça, que me reservem ao menos um local luxuoso para ficar. Particularmente detesto o sotaque italiano, eu não o entendo perfeitamente. Sou americana, ora bolas! Em compensação os italianos são verdadeiros deuses. É uma beleza exótica, não vista com tanta frequência nos Estados Unidos.
Restam-me quinze minutos antes de voltar a anotar os compromissos do Sr. Giovanni Montessori. Eu caminho em meus saltos ao toalete da construtora. Observo minhas feições no grande espelho.
- Por que não me casei, ao invés de estar aqui do outro lado do mundo? – Pergunto a mim mesma na solidão que dominava aquele lugar. – Por que não aceitei viver com aquele velho rico e satisfazer os desejos do meu pai?
- Porque você não é uma vadia. – Meu subconsciente se pronunciava. – Você estragaria sua vida. Você é jovem e precisa se divertir um pouco. Você precisa de férias!
- Férias. É isso que preciso. – Sorri diante aos conselhos do meu subconsciente. – Uma garota de vinte e dois anos realmente necessita um pouco de diversão às vezes.
Lavei as mãos e olhei o relógio.
- Droga! São 14:10, estou atrasa em dez minutos. Victor vai me matar!
Adentrei no elevador e digitei o número. Segundos após segui apressadamente para minha sala. Victor está lá.
Puta merda, o que ele faz aqui? Ele vai me demitir!
- Sr. Montessori. – Mostrei insegurança ao falar. Ele não pode me mandar para fora. Não agora.
- Você está atrasada Anne. – Ele estalou.
- Estou ciente disto. Perdoe-me. – Olhei para o chão, mas precisamente para meus sapatos azul-marinho.
- Está tudo bem. – Ele esboçou um sorriso que fez o peso de meu corpo diminuir em vinte quilos. – Meu pai estará de volta na empresa amanhã. Não quero que conte nada sobre hoje. Tudo bem para você? – Sua expressão entristeceu, como se me pedisse para encobrir o maior segredo de sua vida.
Talvez esse fosse seu maior segredo.
- O que aconteceu hoje mesmo? – Ergui uma sobrancelha e tentei parecer desentendida sobre os acontecimentos das ultimas horas.
Victor sorriu.
- Obrigada por me fazer relaxar com relação a isto Anne. Acredito que meu segredo está em segurança com você.
- Está bem guardado, tenha certeza.
Já era noite quando cheguei em casa. Depositei os papeis que trouxe da empresa em uma mesinha ao lado do sofá de couro marrom da minha nova e elegante sala. Meu terninho e sapatos ficaram espalhados pelo quarto. No banheiro enchia uma banheira grande de porcelanato. Abri meu roupão e olhei meu corpo nu no espelho gigantesco alocado no dormitório. A velha vontade de cortar os pulsos vinha a mente. Eu detesto meu corpo. Sempre o detestei. Eu sou magra, branca demais como qualquer americano que mora em Washington. Por que não dez centímetros a mais de altura? Por que só 1m65cm? Eu odeio usar salto para sentir-me maior. Meus olhos azuis céu vacilaram em derramar uma lágrima, mas eu os impedi.
- Eu sou forte. Eu sou forte. Eu não choro. – Repeti meu mantra de consolação.
Após o banho ligo meu notebook e logo no serviço de e-mail. Tenho que enviar esta bomba logo!
Sr. Lewis, segue em anexo algo que é de sumo interesse para sua pessoa. – Cliquei em enviar.
A noite foi ótima e minha disposição voltou logo pela manhã.
- Uau, como eu dormi! – Exclamei para meu despertador.
Durante o banho e café preparei meu psicológico para conhecer pela primeira vez Giovanni Montessori. Ao que haviam me falado, ele é um homem frio, severo e ridiculamente ambicioso. Sua perspectiva de vida gira em torno de alavancar mais e mais sua fortuna estimada em bilhões de libras. Possui um temperamento nada agradável, bom demais em alguns momentos e terrivelmente autoritário em outros. Nada que um homem de meia idade não sofra. Falta de mulher e sexo devem ser os motivos de tanto estresse. Talvez se a mãe de Victor não o tivesse abandonado a situação ganharia um novo eixo.
- Bom dia Verônica. – Falei docemente com a recepcionista de cabelos vermelhos e olhos cor de mel que esboçava um largo sorriso para mim.
- O Sr. Montessori a espera em sua sala. – Ela se pronunciou.
- O pai ou o filho? – Eu sorri.
- O pai.
Puta merda. O que o velhote quer comigo?
- Melhor eu me apressar então.
À medida que o elevador subia programei minha respiração para que a mesma se mantivesse calma. Arrumei o terninho cor de caqui e deu os últimos retoques no meu cabelo longo e cacheado. Eu estou estupenda está manhã. Ainda bem.
- Entre. – Uma voz grave gritou dentro da sala quando eu bati na porta.
- Bom dia Sr. Montessori. – Um sorriso tímido conseguiu desabrochar de meus lábios.
- Bom dia. – Ele retribuiu sério.
Nossa! Ele não é tão velho quando imaginava e Victor não se parece nada com o pai! Que porra é essa?
O homem em torno dos seus quarenta e poucos anos, olhos negros e cabelos grisalhos que um dia foram de um cobre escuro, estatura mediana, vestido em um terno azul escuro com riscas em cinza claro, estava a observar-me dos pés à cabeça, da maneira que eu mais odeio que o façam. Seu olhar frio analisava cada parte de meu corpo, como se eu fosse um objeto exótico ou um animal em extinção. O desejo de dar-lhe um tapa corria sem precedentes por minhas veias. Eu repetia meu mantra a fim de ganhar alguns gramas de calma.
- Você é Anne? – Ele então saiu de seu transe sexual e falou.
- Sim, senhor. – Respondi com frieza.
- É muito bonita. – Ele estalou.
O que? Maldito seja este velho tarado! Como pode? Isto é assédio.
- Obrigada. – Olhei para minhas mãos atadas em meus dedos.
Onde ele está querendo chegar com isso?
- Espero que esteja fazendo meu filho feliz.
- Como? – Meu queixo caiu. Estou tentando apanhá-lo do chão e colocá-lo no seu devido lugar.
- Victor falou-me ontem que a namora.
Ahn?
- Ele disse isso? – Meus olhos piscam mais rápido que o comum.
- Sim. – Ele veio em minha direção. – Desejo sinceramente que sejam felizes. – Seu tom era incrivelmente suave.
- Eu também. – Sussurrei.
Como assim namorar? Victor é gay até onde eu sei. Só pode ser algum mal entendido.
- Tenho que anotar seus compromissos, senhor.
- Oh sim. Ao trabalho. Capiche?
Merda, em que o italiano filho da puta está querendo me meter?
Deixei a sala em passos largos e segui para a sala de Victor. Minha educação mandou lembranças americanas e adentrei em seu escritório sem bater a porta. Ele estava ao telefone.
- Te ligo mais tarde. Beijos. – Ele falou.
- Precisamos conversar seriamente Victor. – Cuspi as palavras.
- Creio que sim. – Ele levantou-se de sua cadeira e partiu em minha direção.
- Por que disse a seu pai que somos namorados? – Minha voz estava alta o suficiente para intimidar até o rei.
- Acalme-se Anne. – Suas mãos acenavam para que eu baixasse meu tom. - Eu lhe explicarei. Sente-se. – Ele apontou para um sofá preto ao lado da janela.
- Meu pai recebeu uma ligação ontem à noite. – Victor iniciou. – Acho que foi Hugo quem ligou. – Ele encostou seus cotovelos nos joelhos e pôs as mãos nos lados da cabeça. – Ele falou sobre nós. Que éramos namorados. Falou sobre minha sexualidade... – Sua voz era aflita. Digna de pena.
- Não precisa terminar Victor. – Levantei a mão para que ele parasse com a confissão. – Posso entender o que fez.
- Eu não queria mentir Anne. Mas, meu pai explodiu quando soube que eu me relacionava com outro homem. – Seus olhos encontram os meus. – Não tive outra escolha.
- Você resolveu dizer que namorava comigo é isso? – Tentei levantar os fatos.
- Sim. Você foi a primeira pessoa que me veio à mente.
- Você não teve medo de que eu negasse toda essa história a seu pai? – Levantei uma sobrancelha e permaneci impassível.
- Você não faria isto. – Ele falou calmo.
- É... eu não faria.
- Anne, eu só peço-te uma coisa. – Sua inquietação está de volta. – Não negue a minha versão dos fatos. Namore comigo. Ao menos até que eu tenha coragem de admitir minha homossexualidade publicamente.
Eu analisei-o confusa. Não posso fazer isso. Não está em meus planos namorar com o filho do meu chefe. Isso mudaria totalmente o rumo das coisas. Eu teria que falar com Sr. Lewis antes. Sua aprovação fazia-se necessária.
- Preciso pensar sobre o caso Victor. – Murmurei.
- Eu lhe darei o tempo que for preciso. – Sua voz era suave. – Você não precisará dormir comigo. Seremos namorados apenas por aparências. Eu garanto.
- Eu sei. – Respirei fundo. – Apenas me dê algumas horas para organizar essas informações em minha cabeça.
Levantei-me do sofá e dirigi-me a porta. Victor a manteve aberta enquanto eu deslizava para fora da sala.
- Amanhã dou-lhe a resposta. – Sussurrei.
Autor(a): caio_pereira
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
Faltou-me concentração para continuar o trabalho durante o resto do dia. Ao tomar o taxi rumo ao apartamento, a decisão de aceitar ou não o pedido de Victor corroia meus pensamentos. A plena certeza de assumir um namoro fajuto com uma pessoa de seu nível social e publicamente conhecida levava-me a negligenciar de imediato sua proposta. Por& ...
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