Fanfic: 2 Lados
Ainda tenho um bom tempo para aprontar-me para conhecer a família do amante de meu namorado de fachada. Aproveito para tomar um banho bem relaxante. A pressão vai ser intensa posso antecipar. Quando Hugo souber que Victor e eu estamos em um relacionamento, sua reação não será das melhores. O medo de o amante traidor abrir sua enorme boca e confessar o romance vivido com um Montessori acaba de percorrer meus nervos. Meu novo plano estará perdido e terei de voltar à estaca zero caso isso ocorra. Muitas portas serão abertas para mim tendo Victor Montessori como companheiro. Não posso colocar tudo a perder. Doa ou não em Hugo eu farei meu papel direito. Eu demonstrarei com todas as afeições possíveis que Victor nunca foi gay e que estamos perdidamente apaixonados. Contudo espero que ele o faça também.
Ponho meu vestido azul e sapatos da mesma cor. Meu cabelo está preso de modo que apenas alguns fios desce levemente sobre meu rosto. Os cachos parecem comportados no meio de tantas presilhas. A maquiagem é simples, casual até. Apenas um rímel e um pouco de blash para dar uma cor. Opto por um batom rosa claro. Meu dia de aparecer não é hoje. O quanto menos despercebida melhor.
Às oito em ponto Victor bate em minha porta.
- Victor! – Meus olhos se abrem e meu queixo cai quando vejo o Montessori em sua melhor postura. Está perfeito. Lindo de morrer posso afirmar. Seu terno sob medida cai deslumbrantemente em seu corpo definido. Seus olhos ganham um brilho diferente quando me observas.
- Está linda Anne. – Ele fala ao dar-me um suave beijo na face.
- Obrigada Victor. – Sinto meu rosto receber uma cor a mais do que acabo de colocar.
- Vamos? – Ele pergunta.
- Oh, sim.
Descemos até seu carro de mãos dadas. Victor abre a porta para mim e em seguida dirige-se à cadeira do motorista.
- Está nervosa? – Ele lança um olhar brincalhão quando gira as chaves dando vida ao motor do veículo.
- Sim. – Concordo.
- Eu também. – Ele sorri. – Espero que Hugo não dê um chilique.
- Seria um desastre. – Faço careta para a janela.
- Totalmente. – Victor responde. – Meu pai teria um infarto se soubesse que fomos namorados.
- Eu imagino que sim.
- Eu seria deserdado Anne. – Ele estala.
- Oh. – Minha boca abre-se em surpresa. – Ele seria capaz de algo assim?
- E de muito mais Anne. – Ele respira fundo. – Você não sabe nada sobre meu pai.
Conte-me, por favor. Meu subconsciente pede em súplica, movido por seu instinto investigativo.
A residência dos Becker e Casagrandi é imensa. Um jardim bem cuidado com rosas brancas e lírios dão-na um ar de Casa Real. O caminho até a porta de entrada é iluminado por pequenos holofotes que ajudam na visualização dos trilhos feitos de tijolos pequenos em formato retangular. A sala mantém uma beleza medieval em suas paredes. O tom creme e dourado é bem valorizado em cada detalhe que a compõe. Quadros de talvez pintores locais estão espalhados desde a sala de recepção à sala das refeições. Um sofá vinho acomoda muitos dos convidados. Ao que vejo não será uma reunião de negócios como imaginei. Há pessoas demais para isso.
- Victor, você não disse que seria um jantar de negócios? – Eu seguro seu braço à medida que andamos à procura de seu pai.
- E é. – Ele aponta para um local afastado, onde claramente vejo o Sr. Montessori a falar com uma mulher de meia idade loira e com feições fortes.
- Por que tantas pessoas? – Elevo a voz para que ele me ouça. A música que está tocando é ensurdecedora. Uma ópera brega se supõe.
- São negociantes Anne. – Ele vira-se para olhar em meus olhos.
- Todos? – eu grito.
- A maioria. Alguns trouxeram suas esposas ou namoradas.
- Oh.
Desviamo-nos dos corpos que insistem em preencher a sala de visitas dos Becker e Casagrandi.
- Filho. – Sr. Montessori dá um abraço apertado em Victor. – Que bom que veio e trouxe Anne. – Seus olhos se voltaram para mim.
- Anne. – Ele beija minha mão. Giovanni traz consigo um sorriso de orelha a orelha quando observa-me de cima a baixo, da forma que mais odeio. – Esta é Anne, Katherine. Ela é namorada de Victor. – Montessori apresenta-me à sua advogada e dona da mansão colossal.
- Oh, muito prazer. – Ela balança minha mão. Um espírito de surpresa cresce em seus olhos azuis. – Eu não sabia que Victor tem namorado. – Sorrio tímida ao ouvir seu comentário.
- Começamos a namorar há duas semanas. – Victor mente. – Estamos muito felizes. – Ele sorri para mim e segura minha mão novamente.
- Fico muito feliz por você. – Katherine abre um largo sorriso. – Você precisa conhecer meu filho Anne. Victor e ele são grandes amigos. – Ela dirige-se a mim e eu ruborizo ao lembrar a amizade bem colorida entre os dois.
- Seria um prazer. – Falo suavemente.
- Vamos procurar um lugar para sentarmos Anne. – Victor propõe e eu sei que ele está querendo sair-se de todo esse rumo em que a conversa vai caminhando. Apenas confirmo com a cabeça.
No sofá vinho em que estamos acomodados com mais quatro pessoas, Victor pega duas taças de champanhe e me oferece uma delas. Uma das mãos percorre seus cabelos lisos em exasperação.
- O que está acontecendo? – Eu sussurro preocupada.
- Ainda não vi Hugo. – Ele projetou o olhar para todas as pessoas do local. – Temo que esteja a tramar alguma coisa.
- Pare com isso Victor. Ele não fará nada. – Dou mais um gole em minha bebida. – Você viu como a mãe dele me olhou? – Eu o pergunto a fim de tirar-lhe do devaneio.
- Ela ficou surpresa, só isso. – Ele soa mais tranquilo. – Eu já lhe disse que nunca viram-me com uma mulher antes.
- Foi um choque para ela. – Eu sorrio.
- Provavelmente. – Ele sorri também. – Olhe Anne, - Victor aponta com a cabeça para a escada. – É o Hugo. Ele está lindo não está? – Seus olhos reluzem a paixão sentida e oprimida por conta de conceitos ridículos e ultrapassados de sua família.
O jovem de vinte e quatro anos desce vagarosamente às escadas de sua casa. Ele traja um smoking negro, camisa branca e gravata azul com finas listras prateadas. Uma pose absurda de executivo bem sucedido é esboçada por ele. Seus cabelos castanhos estão bem penteados para trás. Seus olhos escuros se ascendem quando miram Victor, mas ele os desvia em contrapartida.
- Victor. – Eu toco em seu ombro. – A troca de olhares entre vocês está chamando a atenção dos convidados.
- Oh, Anne. É inevitável. – Seu sorriso bobo se alarga e eu prevejo que nosso namoro não servirá para absolutamente nada. A quem estamos querendo enganar?
- Victor. – Aperto sua mão. – Olhe para mim. – Eu peço.
- O que foi? – Ele para abruptamente de observar o amado e joga sua atenção para a garota ao qual deveria ser sua namorada.
- Eu desisto Victor. – Minha voz recebe uns degraus a mais de raiva.
- Desiste de que? – Ele franze o cenho.
- De namorar você. A quem estamos querendo enganar? – Eu repito as palavras ditas por meu subconsciente. – É evidente o amor entre ambos. Conte tudo a seu pai. Ele entenderá. – Levanto do sofá e procuro o garçom mais próximo para pegar um pouco mais de bebida.
O que direi para C. Lewis? Ele irá me levar à forca quando souber que não estou comprometida com o Montessori filho. Não restou-me outra opção. Namorar alguém que mostra total interesse em outro é como correr contra a corrente. Você tenta e tenta mais uma vez, só que os esforços não adiantam.
- Anne, por favor. – Victor segura meu cotovelo. – Você não pode desistir. – Sua voz é fraca, chorosa.
- O amor entre vocês é evidente Victor. – Eu estalo. – Não dá para esconder, entende?
- É um amor proibido Anne. – Seus olhos se fecham e por um momento ele respira profundamente. – Nunca poderemos ficar juntos. – Uma lágrima ameaça cair por seu rosto.
- Ei, - sussurro. – Não chore Victor, não aqui.
- Diga que continuará comigo, por favor. – Há uma súplica em seu rosto.
- Está bem. – Rolo meus olhos. – Prometa que atuará melhor ou perderá sua atriz coadjuvante.
- Eu prometo. – E um sorriso tímido floresce de seus belos lábios.
- Ouça, estão chamando para o jantar. Vamos? – Eu pergunto sugestivamente.
Cristo, que banquete!
A mesa de jantar dos anfitriões é grande o suficiente para acomodar todas aquelas pessoas. Presumo que Pablo Casagrandi é o homem sentado à cabeceira. Elegante e Uau, Ele é bem bonito para alguém de cinquenta anos. Sua mulher está na cadeira à sua direita e à esquerda o velhote tarado Montessori. Victor e eu sentamos mais para o meio. Parece que as cadeiras à frente são para os negociantes. Diante de nós está uma garota de uns treze anos e Hugo.
Puta merda, ele sentou aí de propósito!
Olho para a reação de Victor. Seu rosto está impassível enquanto seus olhos verdes concentram-se na conversa vinda das extremidades da mesa. Talvez não tenha percebido a presença de seu amante. Ganho uma proximidade maior e cochicho no ouvido de Victor, o alertando que Hugo está à sua frente. Ele o olha rapidamente e vira seus olhos para mim.
- Ele está me provocando Anne. – Ele sussurra.
- Eu sei disso.
- O que eu vou fazer? – Ele parece confuso.
- Haja normalmente, como se não o conhecesse. – Não posso negar o sarcasmo em minha voz.
- Tenham um bom apetite! – Uma voz masculina pronuncia-se.
Garçons e copeiras iniciam a entrega de pratos e alimentos à mesa. Comidas de diferentes tipos são servidas. Começamos com pato ao molho pardo. É leve e estupendamente saboroso. Deveriam servir mais comidas assim! Meu subconsciente entra em ação arrumando o guardanapo em seu colarinho.
Hugo também inicia seus jogos sensuais para cima de Victor. Sua língua desliza vagarosamente por seu lábio superior perturbando meu namorado de fachada. As pernas de Victor se apertam embaixo da comprida mesa e sinto que seus nervos aceleram por dentro. Oh Victor, controle-se! Aperto levemente sua coxa para que ele desvie os olhos da boca de Hugo. Ele o faz. Foi assim durante todo o jantar. Troca de olhares e insinuações. A minha esperança de que esta noite não seja um fracasso é ouvir tudo o que os Montessori e os Becker e Casagrandi tem a declarar. Eles não entram em nenhum assunto sigiloso enquanto comem. Creio que hajam ouvidos demais para captarem seus planos futuros. Uma aproximação minha dos anfitriões parecia-se fundamental. Porém, se abandono Victor com o sedutor de italianos, minha posição de namorada será totalmente perdida. O desejo entre ambos irá chegar a um ponto em que a vergonha será deixada de lado. Tenho que permanecer com o filho, e esperar pacientemente que o mesmo conte-me todos os segredos do pai.
Voltamos ao sofá quando o jantar chega ao fim. Aquilo está uma chatice para mim. Música de má qualidade, ao menos para meus ouvidos. Gostaria de uma pista de dança e um globo reluzente sobre minha cabeça, ao invés de um lustre de cristal. Talvez luzes coloridas e música eletrônica melhorasse o astral mórbido daquele local.
- Desejo ir embora Victor. - Falo suavemente.
- Eu também. – Ele sorri. – Está muito chato, não acha? – Eu concordo.
Levantamo-nos e seguimos até a porta de saída.
- Está muito cedo para irem embora. – Hugo fala alto vindo a nosso encontro.
- Já tivemos o bastante por hoje. – Victor faz uma carranca para ele.
- Você não vai ao menos despedir-se decentemente? – Ele provoca.
- Adeus Hugo. – Victor dispara.
- Não é assim que sempre fazemos. – Hugo balança a cabeça de um lado para o outro. – Está faltando nosso beijo.
- Pare com isso Hugo. – Victor o repreende. – Aonde quer chegar?
- Quero que todos saibam do nosso amor. – Ele sorri. Deve ter bebido demais.
Victor se afasta de mim e segue para conversar com Hugo. Fico a observá-los de longe. Ambos gesticulam como se estivessem discutindo. Inúmeras vezes às mãos de Victor se elevam aos cabelos, como quando estás aflito. Hugo não para de rir, como um drogado. Seus dedos apertam os braços do meu namorado falso. Temo que irão se beijar. A distância entre ambos é mínima. Respirações ofegantes e desejos escondidos transparecem em seus olhos. Victor joga algumas palavras e caminha em passos largos e pesados até mim. Hugo o segue desesperado. Oh Deus, faça com isso acabe bem.
Eu ajeito minha bolsa e recomponho-me para sair com Victor, porém seus braços me seguram fortemente e sua boca invade a minha de forma brusca e surpreendente.
Puta merda. O que é isso?
Não consigo mexer-me. Estou paralisada por mãos fortes e lábios estrangeiros prendem-me em um beijo quente. Ouço um grito ensurdecedor.
- Não! – Hugo vocifera com as mãos percorrendo seu rosto coberto por lágrimas. Seu estado de desespero move a atenção de todos da sala para ele. Hugo vem em nossa direção. Presumo que eu devo estar pálida. Meu coração acelera freneticamente. Cristo, eu vou desmaiar. Os pais de Hugo seguram seus braços quando o mesmo tenta um ataque a Victor Montessori. Giovanni assiste a cena boquiaberto, provavelmente confuso. Victor arrasta-me para fora da casa.
- Victor, o que foi aquilo? – Eu estou perplexa.
- Acabou Anne. Acabou. – Soluções dominam sua voz quando entramos em seu carro.
Victor despenca em prantos no volante do carro. Não consigo fazer outra coisa a não ser olhá-lo. Estou perplexa, imóvel, esperando que um ato de coragem nasça das minhas entranhas. A tensão desta noite foi surreal para todos nós. Eu me concentro em como arranjar palavras confortantes para dizer a Victor, mas nada é projetado por meu cérebro. Seus soluços deixam-me angustiada. É como se o mundo estivesse degradando-se abaixo dele. Tento me inclinar para tocar seu cabelo, meus dedos trêmulos acariciam os fios. São macios, finos e bem cuidados. Eu o puxo de forma que descanse o rosto sobre meu peito. Minhas mãos correm brandamente por suas costas. Aos poucos os soluços vão cessando.
Autor(a): caio_pereira
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
Quando retornei ao apartamento, não tive ânimo para digitar minha rotina e enviá-la ao Sr. Lewis. Sinto-me um pouco conturbada com todos os acontecimentos. Não foram atitudes previstas. Tenho meus ombros tensos, como se estivesse segurando algo além de minhas forças. Sei que o maior afetado fora Victor, mas de certa forma algumas fa&i ...
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