... Era uma tarde fria de inverno do dia 14 de janeiro de 1999. Minha mãe tomava um chá quente com sua amiga Denise Jonas, enquanto eu e Nate, meu irmão mais velho brincávamos no meio da sala com outros três meninos. Joe, Nick e Kevin Jonas eram nossos melhores amigos. Eu os conheci com quatro anos de idade, quando mudei pra uma casa ao lado da deles em Dallas, Texas. Nate e eu éramos praticamente da família.
Nate se dava melhor com Joe e Kevin, por causa da idade. Já eu me dava muito bem com Nick, afinal, nós dois por sermos os mais novos éramos sempre excluídos das brincadeiras.
– Sabe, eu cansei de ficar de fora das brincadeiras deles. Vou inventar nossa própria brincadeira! E eles não vão poder brincar com a gente! – Nick disse se levantando extremamente irritado.
– Espera! Aonde você vai? – eu disse tentando ir atrás dele.
– Mel volte aqui! – minha mãe exclamou ao me ver levantar do sofá.
Eu revirei os olhos brava e me sentei novamente.
Fiquei por volta de meia hora esperando Nick voltar até que ele surgiu correndo em minha direção e começou a me puxar.
– Pra onde você está me levando? Eu não posso ir pra lá! Minha mãe não deixa Nick! – sendo puxada sem saber por quê.
– Melinda o que eu te falei? – minha mãe falou brava.
– Deixa eles Sue, devem estar indo brincar no quarto de Nick... Eles não vão aprontar. Podem ir meninos!
– Valeu mãe! – Nick exclamou enquanto continuava me puxando.
Ele me puxou até o quarto sem ao menos me dar uma explicação. Até que quando entrei no quarto descobri o porquê de tanta empolgação. Ele havia construído uma cabana com lençóis.
– Nossa! Que linda! – eu falei com os olhos brilhando.
– É só nossa! Aquele chatos não vão poder entrar! Você gostou?
Os olhos pequenos e inocentes dele brilhavam ao olhar constantemente pra mim e para a barraca.
– É muito linda! – respondi entrando na barraca e me jogando nas almofadas que havia espalhadas por ela.
– Ainda bem que gostou! – se jogando do meu lado – eu não ia gostar de brincar aqui sozinho. Ainda mais você sendo minha melhor amiga! – me dando um beijo no rosto.
– Quando a gente crescer, você vai construir uma barraca maior que essa pra gente morar depois de casar!
– Sim! E vamos ser muito felizes! Nossa barraca vai ser a maior do mundo! – ele disse sorridente e sonhador.
– A maior do universo! – sorrindo com ele.
E ali naquela barraca passamos a tarde sonhando com o futuro.
– Mel... Querida, temos que ir! – minha mãe falou entrando no quarto.
– Ah mãe! Já? – respondi chorosa.
– Sim! Amanha vocês continuam brincando. Vamos!
– Que chato! – saindo da barraca – Tchau Nick, até amanha!
– Tchau Mel. – me dando um beijo no rosto – até amanha.
Eu sorri docemente e ele sorriu de volta, me despedi de Denise, Kevin e Joe e só então fui para casa com minha mãe e Nate.
Chegando em casa fui brincar com a casa com as bonecas que meu pai havia me dado de presente de aniversário. Como ele não parava em casa sempre dava presentes caros pra mim e Nate, pra compensar o tempo.
Nate estava na sala jogando vídeo game, e minha mãe na cozinha preparando o jantar.
Tudo estava em sua perfeita ordem até que vi o carro do meu pai estacionando em frente nossa casa.
Larguei as bonecas no chão e desci as escadas correndo e gritando:
– O papai! O papai chegou! Ele chegou!
Nate levou um susto, deu pausa no vídeo game e se levantou pra abrir a porta, mamãe saiu da cozinha secando as mãos no avental, eu passei correndo por ela tropeçando em tudo que havia na frente.
Assim que Nate abriu a porta avistamos um homem alto, com corpo esguio, cabelos negros e lisos e olhos levemente esverdeados e um sorriso que dizia “que saudade de vocês!”. Sim, o homem era Hector Luís Carter, meu pai.
– Meu Deus que saudade de vocês! – ele disse abraçando Nate fortemente – Como você cresceu garotão! – sorrindo – O que anda fazendo? Aposto que jogando vídeo game até tarde né?
Nate sorriu.
– E a princesa do papai? Como está indo na escola? – me pegando no colo e me dando um beijo do rosto – e a mulher mais linda do mundo? – dando um suave beijo em minha mãe – Hum! Que cheirinho bom! É o jantar? – me colocando de volta no chão.
– Sim, já está quase pronto! Como foi de viagem? – disse minha mãe ajudando-o a tirar o casaco.
– Foi boa... Estou faminto! E com saudade da sua comida querida! – beijando o rosto dela – tenho uma ótima noticia pra você! – falando baixo no ouvido dela – Conversaremos depois do jantar! – sorrindo – vou tomar um banho.
Minha mãe seguiu meu pai com o casaco dele nas mãos, ele entrou no banheiro ela foi até o closet guardar o casaco. Ela desceu para terminar a janta. Me pediu pra ajudar a arrumar a mesa do jantar e pediu pra Nate desligar o vídeo game.
Logo meu pai desceu. Dava pra sentir seu perfume de longe. Eu adorava aquele cheiro.
– Que banho rápido pai! – disse Nate guardando o vídeo game.
– Só joguei uma agua no corpo. Estou morrendo de fome! – se sentando no sofá.
Eu terminei de arrumar a mesa rápido só pra ir ficar um pouco com meu pai. Sentei ao lado dele, Nate também e ficamos assistindo aquele jornal chato que ele adorava até minha mãe chamar a gente pra jantar.
– O jantar está na mesa! – ela exclamou da sala de jantar.
– Vamos comer! – meu pai falou levantando comigo e Nate.
O jantar foi completamente tranquilo. Conversamos sobre a última viajem do papai que durou dois meses, conversamos sobre a escola, sobre as brincadeiras na casa dos Jonas, enfim, conversamos sobre tudo.
Apesar do meu pai ser o pai mais ausente do mundo, quando ele estava com a gente, estava apenas com a gente. Não tocava muito no assunto trabalho. Só comentava quando eu e Nate perguntávamos alguma coisa sobre a viagem e tudo mais. Mas ele queria saber de tudo que se passava quando não estava em casa. Minha mãe tinha até uma agenda onde fazia anotações diárias, sempre quando ele voltava de viajem olhava a agenda, via as fotos, os trabalhos de escolha, as notas, provas, e o que eu e Nate havíamos aprontado. Dessa forma ele se sentia mais presente conosco. E apesar de tudo, até que funcionava.
Meus pais não eram de dar broncas ou bater, eles eram mais de conversar, principalmente meu pai. Ele sempre nos explicava o porquê de não fazer coisas erradas e afins. Minha mãe que era a mais estressada. Na primeira vez era só advertência, na segunda ela brigava mesmo, mais nada de tão grave.
Depois do jantar eu e Nate ajudamos minha mãe a tirar a mesa e lavar a louça. Fomos assistir a um filme na sala e ela foi conversar no quarto com meu pai.
– Aqui está a agenda das crianças! – entregando uma agenda preta e cheia de coisas pra ele – o que queria me falar? – se sentando na cama.
– Obrigado! – pegando a agenda – bom, querida, eu acho que você vai adorar, mais não sei se as crianças vão gostar...
– Vamos ter que nos mudar novamente! Pra onde dessa vez?
– Londres!
– LONDRES HECTOR? – ela disse assustada.
– Você não gostou? – ele exclamou mais assustado ainda.
– Eu... Eu não sei... Bom... No fundo gostei! Eu irei voltar a minha terra natal, mais e as crianças? E a escola delas? Os nossos amigos... Nossa vida aqui... Nós sempre mudamos muito, eu já me acostumei com isso, mais nunca saímos dos Estados Unidos... Agora iremos para o outro lado do mundo!
– Sue... Se nós formos pra lá nunca mais teremos que mudar! Eu paro de viajar, passo mais tempo com você e as crianças. Quanto à escola das crianças, elas irão estudar nas melhores escolas do mundo! Amigos nós faremos outros e eles serão permanentes!
– Você tem como dizer que não vai? – minha mãe disse com um resto de esperança.
– Infelizmente não! – ele respondeu triste.
– Quando iremos? – ela perguntou segurando o choro.
– Temos que estar lá depois de amanha... Sairemos daqui ao anoitecer de amanha. – ele respondeu abraçando ela – eu falarei com as crianças. – dando um beijo em sua bochecha.
Meu pai saiu do quarto e foi direto conversar comigo e com Nate. Minha mãe toda chorosa foi começar a arrumar as malas.
– O que estão assistindo crianças? – meu pai disse descendo as escadas.
– Desenho animado! – respondeu Nate.
– E o filme? – meu pai disse se sentando no sofá.
– Não conseguimos entrar num acordo! – respondeu Nate.
– Hum... Bem, desliguem a TV que eu preciso falar com vocês!
– Pelo jeito é serio! – disse Nate.
– Sim. É serio! Sentem-se aqui do meu lado! – abraçando a gente.
– Da ultima vez que isso aconteceu tivemos que mudar... Espera ai... – Nate disse adivinhando o que meu pai ia dizer – Pai você prometeu pra gente que não iriamos mais nos mudar!
– Mais infelizmente teremos meu filho.
– Mais você prometeu! – exclamou Nate furioso – pra onde vamos dessa vez?
– Londres! – meu pai disse em voz baixa.
– O QUE? – disse Nate assustado – você disse Londres? Você sabe onde é Londres pai? Porque eu acho que Londres fica do outro lado do mundo!
– Mas dessa vez nossa mudança será permanente! – meu pai falou tentando acalmar Nate.
– Você sempre diz isso, mais é só a gente fazer amigos e se entrosar na escola que você resolve mudar de novo! – Nate falou bravo.
– Mais respeito comigo mocinho. – meu pai disse imponente – Dessa vez eu prometo que não iremos mudar mais!
– É? Então promete isso pra Mel, porque eu não vou!
– Mais respeito com seu pai John Nate Carter! – minha mãe disse brava descendo as escadas. – Todos nós vamos pra Londres, e seremos felizes lá!
Nate segurou o choro. Seu rosto ficou tão vermelho que mais parecia um tomate. De longe podíamos ver suas veias saltando no pescoço. Ele estava querendo matar meu pai por ter que fazê-lo passar por tudo aquilo novamente. Meus pais apesar de impor respeito o entendiam, mais não tinha o que fazer. Infelizmente o nosso pai era o homem de negócios que vivia mudando de estado para estado varias vezes por ano.
Dessa ultima vez até chegamos a pensar que não mudaríamos mais, porque havia três anos que permanecíamos ali, mais infelizmente a hora de mudar chegou.
Eu era pequena demais pra entender o que estava acontecendo. Eu até entendia que iriamos morar longe, que eu teria que mudar de casa, e de cidade, mais não sabia a gravidade. Pensava que uma hora ou outra voltaria para aquela mesma casa, para o meu quarto cor-de-rosa, mais as coisas não era bem assim.
Nate foi dormir irritado. Meu pai foi quem me colocou na cama aquela noite. E a coitada da minha mãe passou a noite inteira arrumando as malas. Ela guardava cada objeto com uma lagrima. Claro que por um lado ela estava feliz, pois afinal Londres era a terra dela, meus avós viviam lá, mais toda a sua vida estava nos Estados Unidos. Foi ali naquele país que ela conheceu meu pai, foi ali que engravidou de Nate, foi ali que criou uma vida, que engravidou de mim, que fez amigos, que passou a ser uma mulher de verdade. Mais se Londres era a sina dela, ela voltaria pra lá. Mesmo sabendo que jamais voltaria pra Dallas, mesmo sabendo que perderia os amigos.
Já meu pai não se importava tanto com isso. Ele não tinha família. Meus avós paternos já haviam morrido e ele era filho único, então pra onde fosse levando a esposa e os filhos ele ficaria bem. Ah, e como ele vivia viajando a trabalho, nem ao menos tinha amigos. Tudo era mais fácil pra ele.