- Boa noite feliz casal! Como estão? – Joe disse se aproximando da mesa ao lado de Rachel e Rose.
- Feliz! – respondi em tom de deboche, fazendo-o rir.
Eles se sentaram, e aos poucos o resto da família chegou.
O jantar foi tranquilo e prazeroso. Cada grupo de pessoas conversava sobre um assunto diferente, estava uma bagunça na mesa, mas estava sendo um momento comum em família. Um raro momento comum em família.
Terminando o jantar, cada um pediu sobremesas diferentes. Terminamos a sobremesa, tomamos mais uma taça de vinho e uma pequena xicara de café, como de costume servida em todos os restaurantes.
Ficamos conversando animadamente, dando gargalhadas altas e contagiantes com os planos futuros e com um passado divertidamente dramático.
As horas acabaram passando rápido demais, e quando vi estávamos todos pegando os casacos na saída do restaurante e esperando o manobrista com os carros.
Ainda rindo nos despedimos. Nick abriu a porta do carro pra mim e me ajudou com o cinto, deu a volta no carro, entrou, colocou o cinto e deu partida.
- Pra onde vamos? – ele perguntou olhando para a rua.
- Rachel disse que vai para o apartamento de Joe hoje, então vamos para o meu apartamento!
- Essa vida de revezar apartamento não da certo! – Nick disse sorrindo e tamborilando os dedos no volante.
- Eu sei que não, mas eu já me acostumei. – colocando a mão sobre sua coxa.
Nick apenas esboçou um pequeno sorriso com meu ato, mas nem chegou a me olhar. Eu me acomodei no bando e seguimos em silencio até o apartamento de Rachel, que nem era tão distante assim.
Descemos até a garagem no subsolo, ele estacionou o carro e descemos. Pegamos o elevador, abraçados e ainda em silencio, mas o contrario de qualquer outro silencio esse era calmo, sem terrores psicológicos. Era estranhamente confortável, e deixava a sensação de que Nick estava respondendo a todos os meus pensamentos.
Chegamos enfrente a porta do apartamento, eu retirei a chave da bolsa, abri, ele entrou na frente tirando o casaco e colocando sobre o sofá enquanto me olhava fechar a porta.
Eu tranquei, joguei a bolsa na poltrona e cai no sofá suspirando.
- Cansada? – ele disse se sentando e pegando meus pés.
- Sim... E amanha cedo tenho que ir escolher a empresa do buffet.
- Eu preciso ir? – tirando meu sapato e massageando o meio do meu pé esquerdo.
- Não necessariamente... É sempre a noiva que escolhe, mas se você quiser ir...
- Vai ficar brava se eu disser que não estou afim de ir?
- Não! – sorrindo.
- Eu te amo! – me beijando.
- Mas porque não quer ir?
- Logo vou ter que sair em turnê, os dias no estúdio para o lançamento do CD está me deixando exausto... E amanha é o único dia que eu vou poder dormir um pouquinho.
- Tudo bem! – selando seus lábios – Eu vou sozinha... Nem sei se vou escolher amanha...
Nick ligou a TV e estava passando um filme, ao meu ver novo, pois não conheci logo de cara. Mas uma coisa me fez sentir uma coisa estranha na boca do estomago. Era um casal, o homem estava internado no hospital, e a mulher preparando as coisas para o casamento.
Um arrepio subiu pela minha coluna me fazendo estremecer, e Nick mudou de canal.
- Que estranho.
- O que foi?
- Eu senti uma coisa ruim...
Ele sorriu.
- É só um filme!
- Eu sei...
- Você continuaria arrumando as coisas para o nosso casamento se eu fosse internado?
- Não...
- Porque não?
- Eu só ia querer saber de você!
- Me promete uma coisa?
- O que?
- Se algum dia eu for internado... Antes do nosso casamento... Me promete que vai continuar preparando cada detalhe? Que não vai desistir!
- Nick...
- Promete pra mim!
- Amor, mas...
- Promete Mel!
- Tá bom! Eu prometo!
Ele me beijou, voltou a apertar o botão do controle, mudando de canal, dando algumas pausas para ver sobre o que era o filme, suspirando e passando a outra mão na minha perna. Eu me levantei, me troquei, tirei a maquiagem e voltei para o sofá, Nick estava assistindo um filme de ação. Deitei no sofá e puxei-o pra deitar também. Terminamos de assistir o filme, e começamos a assistir outro de romance, até cairmos no sono.
Na manha seguinte eu acordei por causa da dor no pescoço. O braço estava formigando e as costas doendo. Levantei sem acordar Nick, peguei o celular dele em cima da mesa de centro, vi a hora e fui para o quarto me arrumar pra ir escolher o buffet. Quando passei na sala pra tomar café e vi Nick ainda dormindo tive vontade de voltar a dormir com ele, mas eu precisava ir.
Preparei um café rápido pra mim, e deixei um pouco pra ele. Coloquei um bilhete colado na cafeteira e sai.
Passei três longas horas provando tudo quanto é salgados e doces de festas chiques. Minha pressão baixou depois da quantidade de goles de vinhos, e meu estomago estava embrulhado com a quantidade de comida. Acabei optando pelo ultimo. Os detalhes eram sofisticados e os sabores dos petiscos e das coisas do jantar eram diferentes e deliciosos. Os vinhos apresentados e os champanhes também eram os melhores, então “bati o martelo” e assinei o contrato.
Estava me levantando da mesa quando olhei pra TV ligada no mudo perto da mesa onde eu estava.
- Gia, já pedi pra você deixar as TVs desligadas! – disse o rapaz que estava comigo.
- Eu sei senhor, me desculpe... Mas em todos os noticiários estão falando sobre esse desabamento.
- Desabamento? – ele perguntou olhando pra TV.
- Sim senhor, foi em frente ao Central Park.
Ouvindo-a falar, eu novamente olhei pra TV, dessa vez prestando atenção. O helicóptero mostrava por cima os escombros, os carros de bombeiro e de policia.
- Eu acho que conheço esse lugar. – disse apontando pra TV.
- Aumente o volume Gia!
Ela obedeceu e uma voz masculina começou a soar pela sala.
“Por volta das 11h15 da manha desse belíssimo sábado em NY um prédio na Central Park West desabou. Ninguém sabe dizer como esse desabamento pode ter ocorrido, a única coisa a ser dita, é que por volta de 200 moradores estavam no prédio quando ocorreu o desabamento.”
Eu voltei a me sentar, horrorizada, assustada e completamente desesperada. Aquele era o prédio onde eu morava, onde deixei Nick dormindo pela manha, onde Nate estava com Julie gravida e com Aidan que havia decidido passar a noite com ele.
- Nick! – eu falei repentinamente colocando a mão sobre os lábios.
- A senhorita está se sentindo bem? Está pálida!
- É o meu prédio! – falei deixando as primeiras lágrimas saltarem de meus olhos.
- A senhora morava ali? – a recepcionista disse.
- Sim...
- Pega uma agua com açúcar pra ela! – o moço ordenou.
- Eu não quero! Eu só quero ir pra casa!
- Eu não posso deixar a senhorita sair daqui assim!
- Eu preciso ir pra lá!
Ele me olhou desesperado.
- Por favor, eu preciso ir pra lá!
- Eu vou chamar um taxi! – ele respondeu.
Um tempo se passou, e eu consegui controlar o nervosismo e pelo menos fingir que ainda não estava desabando. Entrei no taxi e peguei o celular, disquei o numero de Nate primeiro, deu fora de área. Disquei o de Julie, e chamou, chamou, mas caiu na caixa postal, liguei pra Nick, chamou e caiu, liguei de novo, fora de área. Respirei fundo, já em prantos, disquei o numero de Rachel, não chamou, liguei novamente e nada, liguei pra Joe, e aconteceu a mesma coisa.
- Droga! – falei alto mexendo no celular.
Liguei pra Kevin, ele atendeu rapidamente. Sua voz desesperada e amendrontada, a respiração ofegante e os lábios balbuciando as palavras em um som baixo.
- Kevin? – eu disse.
- Mel? Cadê o Nicholas?
- Eu não sei... Sai hoje de manha e deixei ele em casa... Eu não sei se ele saiu de lá antes...
- Meu Deus! Meu Deus! Nick também não!
- Tambem?
- Joe saiu com Rachel e Rose hoje antes do acontecido...
- O QUE?
- Mel onde você está?
- O taxi acabou de estacionar aqui na frente!
- Eu estou indo pra ai... Por favor, se acalma.
- Vou te esperar.
Eu tirei uma nota da bolsa, entrei para o taxista e desci. A cena de devastação era aterrorizante, e a correria dos bombeiros e paramédicos, e o barulho da agitação me deixava atordoada.
Sem perceber fui adentrando o caos, passei pela barreira dos bombeiros e fui parada por um paramédico.
- A senhora não pode ficar aqui.
- É a minha casa!
- A senhora morava aqui?
- Sim!
- Tinha algum parente da senhora, ou conhecido aqui na hora do incidente?
- Eu acho que sim... Tenho certeza de alguns...
- Eu vou levar a senhora pra medir a pressão, e tentar fazer com que se acalme e ai você pode dar os nomes das pessoas para os bombeiros.
- Obrigada.
- Mel? – uma voz soou longe.
Olhei pra trás e vi Karev, correndo na minha direção.
- Você não estava lá! – ele falou me abraçando.
- Mas a Rachel, o Nick...
Ele me soltou assustado.
- Quem estava lá?
- Nick, eu acho, Rachel, com Joe e Rose, Nate provavelmente com Julie e o Aidan! – chorando.
- Mel... Nós vamos conseguir tirar todos eles vivos dai!
- Mas...
- Nós vamos! E eu quero que você acredite em mim!
- Alex...
- Eu prometo que eu vou ajudar a salvar a vida de todos eles Mel... Tenha fé! – me abraçando com força.
- Doutor Karev! Acabaram de retirar o primeiro corpo dos escombros. – uma enfermeira gritou.
- Eu preciso ir! – ele me disse – Tenha fé! – beijando minha testa – Apenas tenha fé!
Vi ele se afastar correndo, o enfermeiro começou a me atender, e Kevin chegou com Danielle.
Dani me abraçou com força. Seus olhos estavam inchados e o nariz vermelho, o cabelo preso num coque simples, e as roupas desajeitadas no corpo magro. Ela estava precisando de mais conforto e paz do que eu, ela estava gravida, mas estava ali, do meu lado, me apertando em seu abraço e tentando tomar minha dor.
Kevin beijou minha testa, esboçou um sorriso forçado e triste e segurou minha mão.
- Tudo vai dar certo! – ele disse tentando me tranquilizar.
Mas nós dois sabíamos que aquilo era uma mentira. Era quase impossível, tirar alguma daquelas 200 pessoas debaixo daqueles escombros vivo. Eu era medica e eu sabia disso.
Mas ainda assim era melhor ouvir alguém dizendo que tudo ficaria bem, era uma mentira confortável em meio a tantas desesperanças.