O burburinho que estava entre os repórteres e fãs presentes cessou ao me ouvirem falar. Todos os olhares se voltaram pra mim apreensivos.
- Doutora Melinda, qual o estado de saúde dos irmãos Jonas? – uma repórter loira disse dando um passo a frente.
- Joe está estável. Ele passou por duas cirurgias de sucesso, foi para a UTI, mas ao acordar essa manha foi levado para um quarto normal. – eu disse tentando ser o mais profissional possível.
Ouvi os suspiros de alívios e vi as expressões mais relaxadas.
- E Nick? – ela perguntou.
- Nick passou por uma cirurgia também de sucesso, teve o pulmão reconstruído, mas está na UTI inconsciente. Seu cérebro está respondendo a poucos testes. – engolindo o choro.
A imprensa não teve reação alguma, mas as fãs começaram a chorar, resmungando e se abraçando. Eu sabia como aquela noticia sobre Nick era dolorosa para todas elas, e elas sabiam como estava sendo difícil pra eu estar ali.
- Doutora, quando Joe receberá alta? – um repórter perguntou.
- Ainda é muito cedo pra eu te dar uma resposta concreta. Joe passou por traumas graves e por enquanto ele tem que ficar um bom tempo no hospital.
- Qual o estado de saúde das outras vitimas do desmoronamento? – outra repórter.
- Alguns pacientes estão em coma na UTI, outros já estão se recuperando nos quartos, mas tudo ainda é muito incerto. Não posso dizer que eles estão ótimos, porque nem sempre o corpo nos diz a verdade.
- E as pacientes Rachel Brown e Rose Jonas? – mais um repórter.
- Rachel está bem, está num quarto em repouso e observação, quebrou um braço e está com poucos arranhões, mas está bem. Como pediatra sou eu que estou cuidando de Rose e posso lhes garantir que ela está bem, teve arranhões e um corte na testa, mas está ativa, enfim... Ela está ótima.
Por um minuto pude esquecer a dor que estava sentindo. Era tão bom anunciar que Rachel e Rose estavam bem, que eu conseguia sentir meu corpo mais leve.
- Soubemos que seu irmão, John Nate Carter, que foi apontado como o melhor advogado do país estava nos escombros, é verdade? Como ele está? – a repórter loira perguntou.
- Sim, infelizmente. Ele morava no apartamento do lado do meu e estava em casa quando ocorreu o desmoronamento. Ele quebrou os fêmures, mas foi operado e graças a doutora Torres ele está ótimo e voltará a andar.
- Doutora, você mesmo ainda sendo estagiaria, foi uma das grandes médicas que ajudou a salvar tantas vidas... Você está acompanhando de perto o caso de alguma das vitimas? – um repórter.
- Eu sou apenas uma estagiaria pediátrica, e como até mesmo eu sou uma vitima desse desmoronamento pediram para eu não trabalhar, por tanto só estou acompanhando o caso de Rose.
- Como a senhorita mesmo disse, você foi uma vitima do desmoronamento, como se sente estando tão envolvida física e emocionalmente com essa tragédia? – a repórter loira.
- Está sendo difícil... E só vou lhe dizer isso!
- Melinda, fontes nos disseram que você tinha ido escolher alguns detalhes da festa do seu casamento quando aconteceu o desabamento. Com tudo que aconteceu e com Nick em coma como andam os preparativos do casamento.
- Eu não vou te responder isso.
- Os médicos das vitimas podem nos dar uma entrevista? – o repórter perguntou.
- Médicos são sempre muito ocupados, mas vocês podem tentar.
- Mel! – uma fã perguntou tímida – Nós queremos muito vê-los.
- Me desculpem, mas eu não acho que agora seja a hora certa pra vocês vê-los. A família está abalada, eles estão abalados e Nick nem mesmo está consciente. Acho que eles gostariam de ver vocês quando estiverem saindo daqui, vivos, saudáveis e felizes.
- Obrigado! – ela respondeu com um meio sorriso segurando um urso de pelúcia.
- Mas se vocês tiverem alguma coisa pra entregar...
Elas sorriram, formaram uma fila e eu com ajuda do segurança eu fui guardando todos os simples presentes dados com carinho e com desejo de melhora.
- Mel... Faltam cinco minutos pras 17h. – Karev disse baixinho perto de mim.
Eu peguei o ultimo presente, abracei a fã e entrei avisando o porquê apenas para o segurança que continuou recebendo os presentes.
Entrei no elevador com Alex em silencio e rapidamente chegamos ao andar em que a família estava.
- Alex, eu preciso da minha família, então quem der pra levar na cadeira de rodas leva, e quem precisar ir de maca leva também.
- O hospital não permite Mel.
- Eles não vão entrar, vão olhar do lado de fora, eu só preciso de força.
- Eu vou busca-los! – ele disse beijando minha testa.
Karev deu ordens a todas as enfermeiras e avisou o chefe do hospital. Alguns médicos, conhecidos meus pararam o que estavam fazendo para me acompanhar. Fomos de escada até o andar da UTI, quando chegamos à família de ajeitou nas poltronas. Callie Torres, Arizona Robbins, algumas enfermeiras e Alex chegaram juntos com o chefe da cirurgia e com Nate, Julie, Rachel e Joe.
O chefe se aproximou, colocou o avental da UTI e me abraçou após eu ter feito o mesmo.
Ele entrou com Karev, antes de passar pela porta eu olhei pra minha mãe. Ela e todos os outros já deixavam as lágrimas rolarem. Denise deu a mão pra Paul, que deu a mão para Kevin, que seguiu para Danielle e assim sucessivamente até todos estarem de mãos dadas.
Eu entrei e a porta de vidro se fechou logo atrás de mim. Caminhei para a maca de Aidan, puxei uma cadeira e me sentei ao lado dele.
- Por favor, por favor, meu amor se estiver me ouvindo abra os olhos ou reaja de alguma forma... Eu não ver você morrer... Eu não quero matar você. – agarrando a mão dele.
- Mel... – Karev disse.
Eu ergui o olhar, e ele estava olhando para o relógio do lado de fora. Segui o olhar dele e o relógio apontava 17h. Respirei fundo.
- Esse processo não é o certo, doutora, mas entendemos você, portando você só assinará esse termo agora. – o chefe disse.
- Eu sei...
Ele me entregou a pasta com as folhas, eu assinei sem ler. Eu sabia de cor tudo o que estava escrito ali. Entrei a pasta de volta com as lágrimas escorrendo sem parar e com a mão tremula.
- Bom... Doutora Melinda May Carter, a senhorita acabou de assinar a ordem de não ressuscitação do seu meio irmão adotado por você. Como combinado, se Aidan Thomas Carter não tivesse nenhuma reação até o dia de hoje 17 de julho de 2016 às 17h os aparelhos que o mantem vivo seria desligados. Chegou a hora. – o chefe disse.
Eu beijei a mão de Aidan aos prantos, passei as mãos pelo cabelo dele e continuei segurando sua mão.
- Podemos? – o chefe perguntou.
Eu acenei com a cabeça baixa e fechei os olhos.
Ouvi todos os equipamentos se desligarem e senti uma dor no peito tão grande que não me deixava respirar.
Beijei a mão de Aidan novamente e encostei a maçã do rosto nas costas das mãos dele.
A frequência cardíaca estava diminuindo lentamente. Eu conseguia ouvir só aquele barulho, e era só o que eu queria ouvir, por ter a esperança de que voltaria a bater normalmente, de que ele voltaria. Mas era uma esperança falsa. Eu sabia que ele estava indo embora, a cada apito da frequência ele estava cada vez mais longe da vida.
Ergui o olhar para olha-lo mais uma vez. Sua face estava tranquila, serena, como sempre. Mas ele não sorria mais.
Quando a maquina de frequência apitou, quando os batimentos acabaram, eu tive a certeza de que ele não estava mais ali. De que o meu pequeno tinha partido.
Levantei da cadeira, beijei sua testa demoradamente ainda chorando, passei os dedos pelo cabelo sedoso e encostei a bochecha na dele.
- Vai com Deus meu anjinho. – cochichei.
Soltei finalmente sua mão, e me virei em direção à porta. Sentindo metade do meu coração, ficar ali. Sentindo uma tristeza tão grande que poderia me fazer morrer. Ao olhar pelo vidro da porta do quarto a família estava parada, em choque e aos prantos.
Sai do quarto com os olhos inchados, abaixei o olhar e senti alguém me abraçar com força. Era Denise.
Com o rosto vermelho e molhado de lágrimas ela estava ali, me abraçando e ao mesmo tempo me segurando com toda sua força para não deixar meu corpo cair.
- Tudo bem... Tudo vai ficar bem! – ela dizia passando a mão pelo meu cabelo.
Em seguida minha mãe se juntou ao abraço, também chorando. E sem eu perceber todos estavam em minha volta, segurando meu mundo, fazendo o maior esforço pra não me deixar desabar.
Quando me soltaram quem me abraçou com força foi Karev, ao lado de Arizona e Callie.
Arizona chorava tanta que seus olhos pequenos e azuis estavam num vermelho forte e ainda menores que o normal. Callie soluçava, e me abraçava com a força da grande cirurgiã ortopédica que era quase quebrando meus ossos.
Karev estava com o queixo encostado sobre o topo da minha cabeça, e eu podia sentir suas lágrimas molharem meu cabelo.
Aquele momento não era difícil apenas pra mim. Não era só o meu mundo que estava desabando, mas o mundo daquelas pessoas também. Umas por amarem Aidan mais que tudo, outras por saberem o que eu estava sentindo. Arizona mesmo, sabia o quanto eu já tinha sofrido com a morte do menininho com tumor, o ultimo paciente de Shepherd. E ela e Callie conheciam Aidan. Aidan era uma criança amada e querida por qualquer pessoa. Ele era um pedacinho de felicidade e esperança no mundo, que já não encontrávamos mais em lugar nenhum. E era difícil imaginar que nunca mais veríamos aquele sorriso puro e inocente, de uma verdade sem igual. Era difícil saber que eu não iria mais leva-lo para escola nas segundas de manha, após ele ter passado o final de semana comigo. Parte do brilho da minha vida tinha partido junto a ele, e metade do meu coração ele estava levando junto.