Os dias se passaram rapidamente até o dia da minha formatura. Com a correria do meu dia-a-dia eu mal conseguia ver Nick. Saia de casa às 6h e voltava as 23h30.
Após ter cuidado dos últimos detalhes do casamento e da festa de formatura, ter entregado os convites dos meus convidados, das mesas a mais que eu havia comprado, dos vestidos e dos últimos detalhes do novo apartamento eu estava exausta, relaxando num SPA pago pelos meus pais pra eu poder estar relaxada no dia da minha formatura.
Passei o dia descansando, acordei tarde, tomei um banho relaxante, fiz massagem, uma caminhada, pratiquei yoga e fui para o cabeleireiro e maquiador. A festa começaria às 21h e já eram 20h30 quando eu terminei cabelo e maquiagem.
- Agora... O vestido! – Any disse pegando meu vestido na arara de roupas.
Any era a maquiadora do SPA, ela era loira, tinha os olhos verdes e era bem alta. Sua simpatia era admirável e seu sorriso encantador.
Ela trouxe o longo vestido verde esmeralda até mim e eu me levantei da cadeira em frente á penteadeira.
- Quer que eu te ajude? – ela perguntou gentilmente.
- Sim... Se não for te atrapalhar. – respondi pegando o vestido.
Eu caminhei até o centro da sala, e tirei o roupão revelando meu espartilho preto, e cintas ligas da mesma cor.
- Que linda! – Any disse sorrindo.
Eu sorri um tanto sem graça e ela se aproximou. Ordenou que eu levantasse os braços e então passou o vestido por cima deles, deixando-o escorregar pelo meu corpo fazendo a barra ir até o chão.
- Esse vestido é deslumbrante! – ela disse começando a fechar o zíper nas costas do vestido.
- Danielle que escolheu pra mim... – eu respondi sorrindo para o espelho em minha frente.
- A esposa de Kevin Jonas? – arrumando o forro do vestido agora.
- Sim, ela é um amor!
- E tem muito bom gosto! – sorrindo – Prontinho... Você está linda!
- Me deseja sorte pra eu não cair quando subir a escada pra fazer o discurso! – eu disse rindo.
- Você não vai cair.
- Ah, eu vou, pode ter certeza! Cairei como a Jennifer Lawrence no Oscar 2013, só que com menos da metade da classe dela!
Nós caímos na risada juntas. Ela terminou de me aprontar, calçou minha sandália e colocou algumas coisas na minha bolsa carteira.
- Você está deslumbrante. – ela disse entregando a carteira.
- E eu vou te contratar pra trabalhar pra mim! Você é perfeita!
- Trabalharei com muito gosto! – rindo – Mas agora você precisa ir porque eu já recebi duas chamadas avisando que seu carro está lá em baixo.
- É a minha hora! – assustada.
- É a sua hora e você vai arrasar! – ela disse segurando minha mão.
Eu abracei-a e ela me acompanhou até a saída. Quem estava dirigindo o carro era meu pai. Eu fui no banco da frente, coloquei o cinto e por um momento me lembrei do meu aniversario de 15 anos.
Dei um beijo na bochecha do meu pai e sorri apreensiva.
- Você está linda querida! – ele disse sorridente.
- Obrigado pai. – me mexendo desconfortável no banco.
Ele deu partida no carro e saímos do estacionamento do SPA. Meu coração estava acelerado e eu respirava com certa dificuldade. Na minha mente as cenas dos minutos antecedentes ao acidente passavam como um filme, um filme que agora era tão real quanto no dia.
Segurei no banco do carro com força, tentando respirar normalmente e me controlar. Meu pai vez ou outra me olhava sorrindo, despreocupado.
- Mel, vamos conversar... O caminho é longo! – ele disse ligando o radio.
- Eu estou me concentrando no meu discurso pai. – apertando os dedos no banco.
- Tem certeza? Porque do jeito que você ta agarrando esse banco, parece que quer arranca-lo dai e sair correndo com ele na cabeça.
- Provavelmente isso seria mais seguro... – falei sem pensar.
Ele me olhou espantado, afirmou os dedos no volante e voltou a olhar pra frente em silencio.
- Eu disse isso em voz alta? – perguntei olhando pra ele – Pai me desculpa... É que eu ainda lembro-me daquele dia...
- Tudo bem querida... Você tem razão, é só um trauma.
- Me desculpa! – eu disse colocando a mão no ombro dele.
Ele sorriu sem graça e continuou dirigindo. O caminho do SPA para o salão da formatura era longo, e depois do que eu falei seguimos em silencio.
Quando chegamos deixamos o carro no estacionamento, meu pai desceu primeiro e abriu a porta mim. Desci me ajeitando, dei uma ultima olhada no espelho e retoquei o batom vermelho seco. Caminhando por um caminho do estacionamento até a entrada e chegamos a uma escadaria de mármore preto com corrimão dourado. A faixada era num branco gelo, com alguns detalhes medievais.
Meu pai me deu o braço sorridente. Ficamos um bom tempo parados diante as escadarias admirando. A noite estava linda. O céu estrelado, a lua bem lá no alto com um brilho espetacular e a brisa gelada de inverno nos tocando com tal delicadeza que nos fazia arrepiar.
Em frente às portas de vidro vários homens vestidos de preto e com uma postura impecável recolhendo os ingressos de quem estava entrando e na escadaria alguns fotógrafos registrando todos os momentos.
- Pronta? – meu pai perguntou olhando para os seguranças.
- Acho que sim. – respondi apreensiva.
Ele virou de frente pra mim segurando minhas mãos e sorrindo com lágrimas nos olhos.
- Quero que saiba que eu estou muito orgulhoso de você, de quem você se tornou... E te desejo toda a sorte desse mundo nesse seu novo caminho!
- Pai... – falei já deixando as lágrimas rolarem.
- Eu te amo filha! – me abraçando.
- Eu também te amo pai! – abraçando ele com força.
Lentamente ele se afastou. Com suavidade e delicadeza passou os polegares pelas maçãs do meu rosto, enxugando as lágrimas, me estendeu a mão, esperou para que eu respirasse fundo e seguimos para as escadarias, sendo fotografados a cada segundo.
Entregamos os convites para os seguranças e passamos pela porta dupla de vidro. O hall estava lotado de pais e formandos se preparando para entrar, vestindo as becas e tirando fotos. Estava um caos.
- Oi, a senhorita é formanda? – uma moça jovem de terninho preto perguntou.
- Sim, eu estou um pouco perdida aqui...
- Qual o seu nome? – ela perguntou olhando para a prancheta que segurava.
- Melinda May Carter.
Ela deu uma olhada nas folhas da prancheta e voltou a me olhar sorridente.
- A oradora? – ela perguntou confirmando.
- Isso! – eu sorri.
- Você pode assinar aqui pra mim? – marcando o local com um “x”.
- Claro! – pegando a prancheta.
Eu assinei rapidamente e entreguei novamente à ela.
- Melinda eu preciso pedir pra você ficar aqui esperando, eu vou buscar a sua beca e volto em instantes. Pode ir ali com aquele fotografo tirar fotos com seu acompanhante sem a beca pra adiantar. – ela apontou para o fotografo.
- Ok, obrigada!
Ela passou as pressas no meio da multidão e desapareceu. Eu e meu pai fomos até o fotógrafo e tiramos várias fotos com poses diferentes, até o hall esvaziar por completo e ela voltar com a minha beca na mão.
Eu coloquei a beca, arrumei a gravata do meu pai e voltamos a fazer as mesmas podes de antes.
Assim que a sessão de fotos terminou, eu me ajeitei, me olhei no espelho e olhei para o meu pai. A moça nos posicionou diante as portas duplas de madeira que dava entrada para o salão e ficou do nosso lado.
Ouvimos com dificuldade o mestre de cerimonia anunciar a nossa entrada e as portas se abriram.
Eu me assustei ao ver todos os formandos já posicionados no palco em pé me aplaudindo assim como o resto do salão.
- Eu pensei que minha entrada seria discreta junto com ele! – cochichei para o meu pai.
- Você é a oradora, não pode ser discreta! – ele respondeu sorrindo.
- Eu não gosto de chamar atenção pai!
- Acostume-se, porque o seu brilho é maior do que o brilho de todas essas pessoas juntas.
Cai na risada e relaxei. Dei o primeiro passo pisando no longo tapete verde estendido até as escadas do palco.
Caminhando pelo tapete sentia minhas pernas tremerem de nervoso. Todos os olhares estavam voltados para mim e todos estavam ali de pé me aplaudindo.
Meu pai me deixou no primeiro degrau da pequena escada do palco. Deu um beijo em minha bochecha e quando nos separamos vi Nick e o resto da família primeira mesa.
- Eu te amo! – Nick sussurrou.
Eu sorri sem graça, segurei o vestido e subi os degraus sendo acompanhada por outra moça até o meu lugar.
O mestre de cerimonia começou a falar, depois alguns professores da faculdade e os médicos chefes dos hospitais escola.
Fizemos o coro de uma musica sobre seguir em frente, tiramos fotos, fomos filmados e só então o meu grande momento. O discurso.
- E agora com vocês a organizadora, melhor aluna e oradora... Melinda May Carter! – o mestre disse puxando aplausos.
Eu me levantei com as pernas bambas e caminhei até o púlpito. O microfone foi arrumado pra mim e eu coloquei as folhas do discurso sobre o púlpito.
- Boa noite! – eu disse nervosa – Eu estou um tanto nervosa essa noite... Não estou acostumada a ser o centro das atenções e estou me sentindo desconfortável nessa situação... – dando uma risadinha sem graça – Bom... Alguns de vocês me conhecem... Ou melhor, todos vocês me conhecem... Eu sou a pessoa que passou os últimos quatro anos saindo nas capas de revista em vários escândalos ou tragédias, como queiram. – respirei fundo – Pra mim esses quatro anos foram difíceis, e o ultimo principalmente como vocês sabem, mas não estou aqui pra falar de mim não é mesmo? – rindo – Vamos lá... – respirando fundo e fechando os olhos – Como o tempo passou rápido não é mesmo? Parece que foi ontem que decidimos exercer uma das profissões mais importantes do mundo e hoje estamos aqui, diante de amigos e familiares para levantar o diploma e gritar para mundo “eu consegui”. Foram tantas noites em claro, tantas duvidas sobre a especialização, um tempo longo de residência, sorrisos por um paciente salvo e lágrimas por uma vida perdida. Que atire a primeira pedra o doutor que nunca teve aquele nervosismo pré prova. – rindo – Pois é, tivemos que participar de muitas lutas, tivemos que ter algumas derrotas para hoje estar aqui aproveitando a vitória dessa grande guerra. Chegamos ao fim de um ciclo das nossas vidas e ao inicio de outro. Muitos como eu talvez vão continuar, porque a medicina é tão apaixonante e envolvente que nos vicia a ponto de não querer apenas uma especialização, querer duas e até mais. – pegando o microfone e descendo do púlpito - Uma coisa eu vou revelar a vocês convidados, todos os médicos dentro de si tem um ego alto, uma vontade de querer ser Deus, de querer salvar todas as vidas possíveis, e até as impossíveis. Nós temos sede por descobrir sobre a cura de doenças, sobre a descoberta de outras, nós precisamos parar a morte para estar satisfeito. Não entramos nessa pelo dinheiro não, não entramos nessa por brincadeira, porque fulano mandou ou cicrano deu a ideia, entramos nessa porque queremos salvar vidas, porque queremos ser como super heróis. Não importa a especialidade do médico, ele sempre vai querer saber sobre o que ele não sabe, ele sempre vai querer estudar o caso de um paciente até se esgotar... Afinal as noites em claro estudando para provas nos ensinaram que dormir é para os fracos! – rindo e ouvindo os risos das pessoas – Brincadeiras a parte... O que seria da humanidade sem o médico? Pode ser pra uma gripe, pra uma dor de cabeça ou até mesmo pra um câncer, estamos lá para parar a dor, curar a gripe e pausar ou até mesmo curar o câncer. Hoje nessas cadeiras, esses formandos... Esses doutores estão com uma felicidade tão grande no peito que vocês não podem ter a mínima noção... Eram pra estarem 100 doutores nessas cadeiras, mas só restaram 34... Só restauram 34 guerreiros, os que querem realmente salvar vidas, os que querem ser super herói... E é por isso que eles merecem uma salva de palmas... – puxando os aplausos - Quero agradecer aos alunos e amigos de profissão que fiz nesses anos, agradecer os professores, os médicos e a todas as famílias aqui, pelo apoio, pelo aprendizado, pela oportunidade. Sem vocês não estaríamos aqui hoje, sem vocês não poderíamos falar para o mundo que vencemos uma batalha quase impossível. Agora, vamos ser médicos, vamos procurar a cura, vamos acabar com a morte, vamos erguer o diploma e gritar... – olhando para os formandos – VENCEMOS! – gritando junto com eles.