Nick dormiu comigo aquela noite. Pela manha preparamos o café juntos para família toda, tomamos o nosso primeiro e nos arrumamos para sair. Algumas coisas do casamento precisavam ser revisadas, já que viajaríamos no final do ano e só voltaríamos às vésperas do casamento.
Depois de passar o dia inteiro na rua deixando pronto todos os últimos detalhes, passamos no shopping para a compra dos presentes de natal. Nick era parado a cada passado pelas fãs, estava quase impossível conseguir entrar numa loja. Às vezes ele demorava tanto que eu entrava na loja, comprava e saía e ele ainda estava lá. Atencioso e educado como sempre ele tirava foto, dava os autógrafos, os abraços e os beijos e pedia licença para poder continuar passeando como uma pessoa normal, ou pelo menos tentar andar como uma pessoa normal.
Terminando as compras passamos no apartamento. Ele estava quase pronto, faltavam alguns detalhes, algumas coisas para dar aconchego, mas estava lindo. Saindo do apartamento, Nick recebeu uma ligação de Denise, dizendo que todos jantaríamos fora, deu o local e o horário para nos encontrar. Nós passamos em casa, nos arrumamos, deixamos os presentes e saímos.
O inverno de NY estava rigoroso, mas não havia sinal de neve e ao que tudo indicava, esse ano a neve não apareceria.
Chegamos ao restaurante e entregamos a chave do carro para o manobrista, ao pisar no hall um homem alto, com cabelos negros compridos que algumas mechas caiam por cima de testa, de terno e com um sorriso encantador chamou Nick.
- Nick! – ele disse com a voz grossa e rouca.
- Antony? Oi! O que está fazendo aqui? – Nick perguntou parecendo não gostar de ter encontrado aquele homem ali.
- Eu precisava falar com você e encontrei sua família aqui... Deduzi que você viria.
- Antony, essa não é uma boa hora... – ele sorriu – Você conhece minha noiva, Melinda May Carter? – me apresentando.
- É um prazer conhece-la senhorita! – me estendendo a mão – Eu sou Antony Johnson, advogado.
- O prazer é meu! – respondi sorrindo – Advogado? – perguntei olhando pra Nick.
- Uma longa historia! – ele falou olhando pra mim apreensivo.
- Nick, eu falei com os advogados da construtora... E eles querem pagar 20 mil de indenização para cada sobrevivente. Eu não aceitei... Não achei justo.
- Construtora? – eu perguntei confusa.
- Antony, essa realmente não é a melhor hora... Amanha estarei na gravadora se quiser falar comigo!
- Tudo bem... Desculpa o incomodo e boa noite! – o homem disse sorridente.
Nick me arrastou até a mesa da família enquanto eu o perguntava quem era aquele homem e sobre o que ele estava falando.
Chegando a mesa, o assunto foi esquecido. Jantamos tranquilamente em família, tiramos fotos e compartilhamos fofocas.
O jantar terminou às 22h. Saímos todos juntos, esperamos os manobristas com os carros e finalmente fomos para casa. Aquela noite eu e Nick dormiríamos no apartamento de Joe, e como o nosso carro chegou primeiro fomos à frente.
- Você está tão quieta. – Nick disse dirigindo.
- Estou pensando sobre o que o seu advogado disse mais cedo. – falei ironicamente.
- Mel antes de me julgar, eu quero que saiba que foi o próprio Nate que me mandou contratar outro advogado.
- Porque Nate faria isso?
- Nate me pediu para começar a tomar a providencias dos processos do acidente.
- Nate não faria isso, e de qualquer forma pra que processar Nick?
- Melinda, se o prédio desabou sem motivos foi porque havia alguma coisa errada... Muitas pessoas morreram por causa disso, algumas ficaram sem nada, os engenheiros tem que prestar contas com a justiça.
- Mas Nick...
- Seu irmão pediu pra eu tomar partido, porque ele não ta podendo se locomover com facilidade, dirigir... E ele está de licença do cargo de advogado, ele me deu o nome desse advogado que você viu hoje, pediu para que eu guardasse segredo, eu concordei com ele, concordei com os motivos dele e me prestei a fazer isso porque eu não acho justo o que aconteceu. E desde que começamos a investigar as coisas, descobrimos que para economizar material, os engenheiros não construíram o prédio como deveriam.
- Isso é serio? – perguntei assustada.
- Infelizmente sim. O engenheiro chefe, dono da empresa de condomínios está tentando nos comprar para isso não chegar à imprensa... Para isso não acontecer estamos tentando ganhar indenizações boas, não pra mim, e para o seu irmão, mas para os moradores do prédio.
- E estão conseguindo alguma coisa?
- Conseguimos faze-los aceitarem as indenizações, mas eles estão querendo nos fazer aceitar valores baixos, menos da metade de um daqueles apartamentos. Nate está revendo os processos quase sempre, eu mando tudo por e-mail pra ele, e se ele diz que é pra eu não aceitar, eu não aceito.
- Me desculpa ter pensado mal de você meu amor, eu só fiquei assustada com o que o advogado disse. – passando a mão levemente pela perna dele.
- Vamos esquecer isso, por favor! – ele disse sorrindo pra mim – Como isso é um sigilo, peço para que não comente com ninguém.
- Tudo bem por mim! – beijando seu rosto.
Nick sorriu olhando pra frente enquanto dirigia, ligou o som e tamborilou os dedos no volante na batida da musica entre um farol vermelho e outro.
Eu me calei durante o caminho. Vez ou outra cantarolava a musica e batia as pontas nos dedos na minha própria perna, batucando a batida da musica assim como Nick.
Chegamos no prédio minutos depois, eu desci do carro ainda da portaria, dei um sorrisinho simpático para o porteiro que eu não lembrava o nome, entrei no elevador e apertei os botões enquanto Nick levava o carro para a garagem.
Entrei no apartamento com os sapatos na mão, os joguei ao lado do sofá de couro preto de Joe e peguei um prendedor de cabelo na bolsa. Prendi o cabelo num coque simples, tirei a jaqueta e levei as coisas para o quarto de Nick.
Acendi a luz, coloquei a bolsa e a jaqueta sobre a poltrona e os sapatos ao lado. Peguei o controle sobre o criado mudo e abri as cortinas deixando aparecer a estatua da liberdade e o céu estrelado de NY nas janelas de vidro.
O apartamento de Joe era a cara dele, tudo moderno demais, com a tecnologia mais avançada. As luzes, cortinas, sons, TVs, e vários outros aparelhos eram ligados ou desligados através de controles.
Havia quatro quartos, dois em cima e dois em baixo, os de cima, claro, eram a suíte dele e o quarto de Rose.
Os três banheiros sem contar com o da suíte eram enormes. Todos com banheiras, e numa pedraria caríssima importada.
A sala era grande, um espaço era reservado para sala de estar e outro para a de jantar, e apenas com um amplo balcão para separar a cozinha de sala de jantar, lá estava à cozinha mais moderna de NY.
Uma geladeira enorme de inox, fogão também, armários de madeira escura com puxadores de inox, dois fornos suspensos, microondas também em inox e duas pias grandes. O balcão coberto com mármore escuro e um corte reto dava um toque rustico, moderno e chique ao local. Com certeza ele escolheu a dedo a madeira dos armários e o mármore, mas os eletrodomésticos sem duvida tinha sido escolhidos pela Rachel. O piso todo era branco, brilhoso e espelhado.
Sai do quarto de Nick com o controle na mão, passei pela sala de jantar e me sentei em uma das cadeiras do balcão. Peguei uma maçã da fruteira de vidro preto de Rachel, e sorri sozinha ao lembrar o dia que ela a comprou.
Dei uma mordida na maçã e liguei a TV. Mudei de canal varias vezes até achar um filme que valesse a pena assistir. Mordi novamente a maça e Nick entrou.
- Desculpa à demora, um idiota estacionou o carro na minha vaga! – ele disse se aproximando de mim.
- Tudo bem. – mordendo novamente a fruta.
- O que fez enquanto eu não estava? – ele perguntou me dando um beijo casto e se sentando na cadeira ao lado da minha.
- Abri as cortinas do seu quarto e vim procurar alguma coisa pra comer.
- Só?
- Sim... – eu sorri – Amor, eu estava pensando... Quero um lustre novo para a nossa sala de jantar... O que a gente comprou é idêntico ao deles. – apontando para o lustre sobre a mesa de jantar.
- Joe copiou isso da gente... Ele achou o nosso lustre bonito e comprou igual, fui comprar com ele!
- Pensei que tivesse sido ao contrario...
- Não foi... Joe mudou muitas coisas aqui nas ultimas semanas, ele passou no nosso apartamento e gostou de algumas coisas.
- Joe gostando do nosso apartamento? Ele tem o apartamento mais funcional de NY.
- Por enquanto! – Nick sorriu – O nosso tem tecnologias mais avançadas.
- Mas eu não pedi isso.
- Eu sim... Percebi como você adorou esse controle remoto a primeira vez que esteve aqui e pedi uma coisa parecida no nosso.
- Você é o melhor futuro marido do mundo! – beijando ele.
- Eu sei! – ele respondeu rindo entre o beijo.
- Chegamos casal! – Rachel disse entrando.
- O que aprontaram sem a gente? – Joe disse fechando a porta.
- Nada, você chegou na hora que a gente ia aprontar! – Nick falou encarando Joe e segurando o riso.
- Vocês precisam da casa de vocês! – Rachel disse sentando no sofá com Rose.
- Obrigado por expulsar a gente amiga! – eu disse rindo.
- Não foi nesse sentido e você sabe disso! – ela disse mostrando a língua – Eu adoro vocês aqui, esse apartamento é grande e vazio só comigo, Joe e Rose. Falei pela privacidade de vocês.
- Eu entendi sua boba! – falei me sentando ao lado dela.
- Titio! – Rose gritou do sofá sorrindo pra Nick.
Nick sorriu e foi pega-la no colo.
- Não sabia que ela estava tão apegada ao Nick! – comentei com Rachel.
- Ela está apaixonada por ele, é sempre ele que a coloca pra dormir, quando ele não dorme aqui essa mocinha demora horas pra pegar no sono. – Rachel disse se levantando e indo até a cozinha.
- Nick sempre teve muito jeito com criança! Às vezes mais do que eu. – Joe falou se sentando na poltrona dele e colocando os pés na mesa de centro.
Olhei para o lado e vi Nick enchendo Rose de cocegas com um sorriso enorme no rosto enquanto ela gargalhava alto. Distrai-me por um bom tempo olhando os dois, até que ouvi Rachel sussurra no meu ouvido.
- Sei o que você está pensando e pode parar com isso.
- O que? – falei confusa e me virei pra ela.
- Filhos Melinda... – ela disse me entregando uma xicara de café – Para de pensar nessas coisas.
- É inevitável... – eu disse tomando um gole.
- Joe, Nick... Vão trocar a Rose e colocar ela pra dormir!
- Conversa secreta? – Joe perguntou se levantando.
- Demais! – Rachel respondeu séria.
Nick subiu as escadas de vidro na frente com Rose no colo e Joe foi em seguida. Vendo os meninos entrarem no quarto da pequena e fechar a porta Rachel voltou a se sentar ao meu lado.
- Desembucha! – ela falou me encarando.
- Eu não tenho o que dizer. – falei confusa.
- Mel... Eu percebo pela sua expressão e pelo seu jeito de falar que tem alguma coisa te deixando aflita. É o casamento? Morar junto? Ou o assunto filhos?
- Tudo bem... É o assunto filhos.
- Eu sabia.
- Me dói ver o Nick assim com Rose, e futuramente com o filho do Kevin... As vezes ele fica babando no Henry, e eu sinto que não posso dar isso pra ele.
- Vocês podem adotar.
- Não é a mesma coisa Ray... Adotar é maravilhoso, mas não é sangue do seu sangue, não vai ter o nariz parecido com o dele, ou a cor dos meus olhos, eu não vou poder gerar uma criança dentro de mim, eu não vou poder sentir a magia da gravidez como você e a Danielle.
- Já tentou conversar com a Addison? Ela disse que quando você decidisse isso era só falar com ela, tentar um tratamento.
- Addison só me atendeu uma vez em Los Angeles.
- Ela era a ginecologista da Dani em Los Angeles, nós vamos passar as próximas semanas lá, você pode tentar falar com ela.
- Se eu for você me acompanha?
- Claro que sim! Estou do seu lado pra qualquer coisa! – me abraçando.
- Obrigado! – apertando ela.