Eu fui para a sala preparatória prendendo os cabelos e colocando a touca e a mascara. Lavei as mãos enquanto recebia instruções de Arizona sobre a cirurgia. Entrei na sala cirúrgica e as enfermeiras colocaram o avental em mim junto às luvas. Henry resmungava na maca e olhava em volta assustado.
- Doutora, eu posso aplicar a anestesia? – o anestesista perguntou.
Eu assenti com a cabeça e ele apertou a seringa no tubo que conectava a mangueira e ia até o braço de Henry.
- Você consegue! – Arizona disse me olhando.
- Espero que sim! – respirando fundo – Bisturi... – eu disse estendendo a mão para o lado.
A enfermeira colocou o bisturi na minha mão e eu o segurei fechando os olhos e pedindo a Deus que tudo saísse certo.
Fiz um corte profundo assim como Arizona me instruiu e a cirurgia começou.
Enquanto seguia as instruções de Arizona não parava de prestar atenção na maquina com os batimentos cardíacos e quando eles caíram eu me desesperei.
- Não vai dar certo! Eu não consigo! – falei paralisada.
- Mel... É uma cirurgia simples... Você consegue. – Arizona disse tentando me acalmar.
- Eu estou perdendo ele! – com os olhos fechados ouvindo o som da maquina.
- É normal os batimentos caírem por causa da perca de sangue... Continua o procedimento.
- Eu não consigo. – me afastando ofegante – Eu não consigo.
- Melinda você consegue! Você foi feita pra isso! A cirurgia estava indo bem. Volte aqui e salve a vida do Henry.
- Se ele morrer, a culpa vai ser minha...
- Ele não vai morrer Mel! Vem pra cá, você está perdendo tempo.
Eu voltei insegura, com as mãos tremulas. Olhei Arizona e seus olhos grandes e azuis estavam calmos.
- Você consegue! Salve ele!
Respirei fundo e continuei o procedimento, ainda tremula e com palpitações no coração. Meu estomago se revirava de nervoso e eu sentia minha vista escurecer vez ou outra.
Uma hora depois eu estava dando o ultimo ponto no abdome de Henry e os enfermeiros estavam me aplaudindo.
- Você conseguiu Mel! Você operou pela primeira vez sozinha.
Eu me afastei da maca e olhei para Henry dormindo como um anjo. Arranquei a mascara do rosto e sai da sala tirando as luvas e o avental e jogando no lixo.
- Mel... O que aconteceu? – Arizona disse vindo atrás de mim tirando o avental.
- Nada, eu só quero avisar a família que está tudo bem. – disse me esforçando pra voltar a respirar.
- Eu te acompanho...
Empurrei a porta da sala as pressas e fui em direção a sala de espera. Meu pai veio em minha direção rapidamente e parou diante de mim perguntando como Henry estava.
- Bem... – eu balbuciei antes de desmaiar nos braços dele.
- Rachel narrando.
Quando Joe entrou na sala senti minhas pernas tremerem e meu coração palpitar. Olhei pra Nate e ele sorriu gentilmente pra mim e depois para Joe pedindo para ele se sentar.
Joe explicou toda a situação pra ele e eu fiquei em silencio, segurando o choro e todas as palavras que tinha pra falar.
- Tudo bem, agora que eu sei sobre o que aconteceu... Rachel me conte o que quer.
- Quero que você estipule um valor para a pensão de Rose, e os dias que Joe terá que passar com ela...
- Nate, eu quero passar o meu apartamento para o nome dela... Eu não morarei mais aqui, então acho justo que ela fique com o apartamento. – Joe falou.
- E o bebê? – Nate perguntou.
- Posso pagar a pensão dele também...
- Ele não terá o sobrenome Jonas. - disse olhando apenas para Nate.
Senti Joe me encarar confuso e depois olhar para Nate.
- Mas o filho é meu.
- Você não quer esse bebê, e será menos traumático pra ele não saber quem o pai.
- Menos traumático? Menos traumático não saber quem é o pai? – Joe disse irritado – Ele vai olhar eu indo buscar a irmã todos os finais de semana e vai ficar se perguntando por que não vai junto, e o motivo será um capricho da mãe.
- Não é um capricho meu... Eu só não quero que você tenha direitos sobre o meu filho. Se pudesse tiraria o seu sobrenome até de Rose.
- Para de ser infantil Rachel!
- Infantil? Olha só quem está me chamando de infantil, o cara que não sabe se ama ou não uma mulher e sempre foge da responsabilidade.
- Gente... Desculpa me intrometer na briga dos dois, mas acho que aqui não é o melhor lugar para brigarem. – Nate disse educadamente – Rachel, você tem todo o direito de não querer o sobrenome de Joe para o seu filho, mas tem que saber que isso será traumático pra ele... Como vai ser quando ele crescer e ver que a irmã tem um pai e ele não? Ou melhor, que ele tem um pai, mas que por lei o pai não tem direitos sobre ele... E que se acontecer qualquer coisa com Joe ele não terá direito nenhum na herança? O sobrenome traz transtornos como Joe ter que ir vê-lo sempre, mas também traz benefícios.
- Eu só não quero que ele tire os meus filhos de mim.
- Você não os fez, sozinha! – Joe disse baixo me olhando.
- O fato de não tê-los feito sozinha não impede que eu os crie sozinha.
- Rachel... Eu acho essas crianças tanto quanto você.
- Não... Não ama! Eu amo Rose desde o momento que descobri estar gravida, você só passou a ama-la quando ela nasceu... Eu amo esse bebe que está dentro de mim desde que a medica disse que eu estava gravida dele, você ao menos pensou nele antes de me dizer que tinha voltado para Ashley. Eles são tudo pra mim Joe, eles são apenas uma responsabilidade que você foi forçado a aceitar.
- Ray, não diz isso. – Joe disse tentando segurar minha mão.
- Não me toca! – me afastando – E nem me chama assim.
- Gente... Vocês precisam chegar num acordo!
- Por mim essa criança terá o meu sobrenome e os mesmos direitos que Rose tem. – Joe disse.
- Rachel... – Nate falou me olhando.
- Tudo bem, pode deixar o sobrenome.
- Joe você não será obrigado a começar a pagar pensão pra ele agora, apenas quando ele nascer... Mas tem o direito de saber sobre a gravidez, e ajudar Rachel com as coisas que ela vai precisar comprar. Mas esse aqui é o valor estipulado para a pensão de Rose! – Nate falou entregando uma filha para Joe – E aqui está o papel para você assinar e passar o apartamento para o nome de Rachel! – entregando outra folha – E você poderá passar finais de semana alternados com Rose, aqui em Nova York... Ela não pode responder por si e tem que estar perto da mãe.
Joe guardou uma folha e assinou a outra entregando de volta para Nate.
- Um final de semana sim e outro não? – Joe perguntou.
- Sim.
- E se eu quiser vê-la na semana?
- Liga para Rachel e pergunta se pode ver Rose.
- E nas férias?
- Rose ainda é pequena para viajar, e isso cabe a Rachel decidir se ela poderá ir ou não.
- Tudo bem... É só isso?
- Por enquanto só.
- Obrigado Nate! – Joe disse se levantando e apertando a mão de Nate – Rachel... – me olhando.
- Boa viagem. – eu disse friamente.
- Obrigado. Fica bem!
- Ficarei. – respondi olhando-o.
Ele sorriu um tanto sem jeito e saiu da sala. Abaixei a cabeça sem esboçar qualquer expressão, olhei pra Nate e ele estendeu o braço por cima da mesa me dando à mão.
- Vai ficar tudo bem! – ele disse segurando minha mão.
- Sei que vai... Tenho fé! – disse sorrindo.
- Melinda narrando.
Acordei com Arizona me olhando preocupada.
Estava deitada no sofá da sala de espera cercada de pessoas.
- Graças a Deus ela acordou! – Arizona falou se afastando.
- Querida! – minha mãe disse me abraçando.
- Mãe... – falei confusa – O que aconteceu? Como Henry está?
- Henry está ótimo se recuperando! – Arizona disse.
- Você veio nos avisar que ele estava bem e desmaiou. – minha mãe falou.
- A pressão fez com que você desmaiasse. – falou Arizona se aproximando com um copo com agua – Me desculpa.
- Tudo bem... Tenho que me acostumar com isso... – disse sorrindo – Posso ir ver meu sobrinho?
- Pode sim, ele está dormindo ainda. – Julie falou animada.
- Vou ir vê-lo... Alguém manda avisar o Nate.
- Eu já fiz isso, daqui a pouco ele está chegando. – meu pai disse sorridente.
Quando entrei no quarto onde Henry estava sorri sem me dar conta. Ele estava corado, dormindo como um anjo. Os batimentos estavam normais e tudo parecia perfeitamente bem.
Me aproximei da maca e segurei a mão pequenina dele.
- Graças a Deus você está bem. – eu disse baixinho – Tenho que admitir que eu pensei que não conseguiria... Tive tanto medo de te perder. – passando os dedos levemente pela mão rosada de seu rosto – Nunca mais nos de um susto assim. Não faça sua tia passar por tanto estresse mocinho. – sorrindo.
- Amor... – ouvi uma voz grossa e suave dizer ao fundo, era Nick.
Me virei pra ele e sorri.
- Eu fiquei sabendo agora a pouco... Como você está? – ele disse se aproximando.
- Bem! Agora que o susto passou estou ótima. – dando a mão pra ele – Quem te avisou?
- Me encontrei com Nate na entrada do hospital e ele me disse.
- Foi horrível.
- Eu imagino! – beijando minha testa – Mas já passou.
- Graças a Deus... Vamos sair, Nate deve estar querendo vê-lo. – me afastando da maca.
- Vamos... – me acompanhando.
Ao sair do quarto Nate me abraçou com força me tirando do chão.
- Você salvou o meu filho! Obrigado! – ele dizia enquanto me apertava.
- É o meu dever... Não tem o que agradecer.
- Claro que tenho. Você o salvou. Ele é tudo pra mim.
- Vai vê-lo, fica com ele. – eu disse sorrindo – Eu preciso descansar, ainda não me recuperei do susto.
- Obrigado! – ele repetiu.
Abracei-o com força e em seguida Julie. Os dois entraram no quarto com meu pai e minha mãe e eu fui trocar de roupa para ir pra casa.
Ao entrar no conforto para me trocar Arizona entrou atrás.
- Mel... Parabéns.
- A maior parte do trabalho foi sua...
- Até parece! Você foi brilhante naquela sala de cirurgia.
- Obrigada.
- Toma! – me entregando um envelope.
- O que é isso? – perguntei confusa segurando o envelope.
- Sua carta de recomendação pra faculdade.
- Arizona, mas a carta é só para quando eu for liberada para cirurgia.
- Entregue amanha mesmo para o seu professor... Na semana que vem provavelmente vai poder entrar em todas as minhas cirurgias.
- É serio?
- Você merece!
- Obrigada! – abraçando ela – Eu nem sei como agradecer... Muito obrigada!
- Te espero na segunda feira... Temos três cirurgias marcadas. – ela falou saindo do quarto.
Olhei para o envelope em minhas mãos e sorri. Coloquei-o junto ao material da faculdade e troquei de roupa.
Encontrei Nick na sala de espera conversando com Nate.
- Estou liberada. – disse me aproximando deles – Como foi com Joe e Rachel?
- Rachel aceitou o sobrenome para o bebe, o apartamento já está no nome dela e Joe depositará o dinheiro todos os meses.
- Como Rachel está?
- Na medida do possível bem.
- Vou ligar pra ela no caminho pra casa... Ela está precisando de mim. – disse pegando o celular.
- Rachel narrando.
Após sair do escritório de Nate fui caminhar um pouco pelo parque. Precisava pensar em como seria minha vida daquele momento pra frente. Tomei um café, sentada num banco qualquer do central park e resolvi ir para o apartamento.
No elevador me permiti chorar pela primeira vez desde que Joe havia me contado tudo. As portas se abriram revelando o hall de entrada do apartamento. Fui caminhando em direção a sala olhando para o chão e ao erguer o olhar vi Joe de costas pra mim, em frente a lareira segurando um quadro com uma foto minha dele e de Rose. Ele se virou ainda sem notar minha presença e deixou o quadro cair ao me ver.
- Desculpa ter te assustado. – eu disse secando as lagrimas.
- Eu que peço desculpa por ainda estar aqui... E pelo quadro.
- Tudo bem. Pode levar uma foto sua com Rose se quiser.
- Posso ficar com essa? – ele disse se abaixando para pegar a foto em meio aos cacos de vidro.
- Como quiser. – deixando a bolsa sobre o sofá.
- Obrigado... – ele balbuciou olhando para a foto.
Olhei pra ele e as lagrimas brotaram em meus olhos novamente. Ele ergueu o olhar pra mim em silencio. Eu podia ouvir os meus batimentos aumentarem com a intensidade daquele olhar.
Joe colocou a foto sobre o sofá ao lado de uma de suas malas e veio em minha direção.
- Não me toca. – eu falei dando um passo pra trás.
- Porque não?
- Porque dessa vez eu sei que só está me beijando por um desejo qualquer e não porque me ama... E eu não quero sair ainda mais machucada dessa historia.
- Você não é a única que está machucada...
- E quem é a outra pessoa?
- Está doendo em mim também Ray...
- Você não me ama Joe.
- Eu não entendo o que acontece comigo. Eu posso não amar você, mas quando estamos juntos o meu corpo pede pelo seu.
- Para com isso Joe... – me afastando.
- Eu preciso dos seus lábios nos meus, da sua pele na minha... – passando as mãos pela minha cintura e me puxando pra ele.
- Joe... Para... – disse com a voz tremula tentando resisti-lo.
Ele me apertou contra seu corpo e seus lábios tocaram o meu com toda aquela volúpia e fogo que tínhamos quando nos conhecemos. Me desestabilizei com o calor do corpo dele no meu e me entreguei a um beijo regado a lagrimas.
Joe me prensou contra a parede me beijando e passando seu corpo com força contra o meu. Seus lábios desceram até meu pescoço com a respiração ofegante.
- Você não pode brincar comigo desse jeito... – eu disse ainda de olhos fechados, sentindo os beijos dele desceram até o meio dos meus seios.
- E se eu não estiver brincando? – ele falou durante os beijos.
- Você está prestes a ir embora...
- Não tenho mais tanta certeza... – me pegando no colo e me levando para o quarto.
- Você não me ama Joe. – beijando ele.
- Mas preciso de você! – me jogando na cama.
Ergui a cabeça e o vi batendo a porta e arrancando a camisa azul clara jogando-a no chão. Repousei a cabeça no travesseiro novamente e senti seu corpo quente sobre o meu, tirando lentamente minhas roupas.
- Você é louco... – disse me ajeitando em baixo dele.
- Você é ainda mais por amar um cara como eu. – mordendo meus lábios.
Senti meu corpo estremecer quando ele introduziu seu membro em mim. Suas mãos passeavam pelo meu corpo enquanto eu beijava e mordia com força seu pescoço. Tínhamos uma sincronia, alguma loucura dupla que nos levava do inferno ao paraíso em minutos. Nós dois juntos na cama poderia ser descrito como um incêndio. Éramos fogo e eu tinha certeza que com nenhuma outra seria a mesma coisa.
Meu corpo sentia necessidade dele, e o dele também. Como um quebra cabeça de duas peças quando nos encaixávamos nada poderia atrapalhar.
Cada beijo que ele depositava em meu corpo queimava, e chegava a arder tanto pelo prazer quanto pela dor de saber que após tudo aquilo ele sairia pela porta e iria embora para sempre.
Quando chegamos ao ápice ele me olhou nos olhos e beijou a ponta do meu nariz.
- Você precisa ir... – eu disse baixinho.
Seus olhos ficaram negros e marejados. Seus lábios tocaram o meu com suavidade e ele abaixou o corpo de forma que conseguisse beijar minha barriga. Ele acariciou-a por um tempo e a beijou novamente me fazendo sentir suas lagrimas quentes.
- Pare de chorar. – eu disse brincando com as pontas do cabelo dele.
- Eu não queria que isso acontecesse... – ele disse com a voz tremula – Eu queria amar você e poder viver feliz pra sempre ao seu lado.
- Felizes para sempre é frase de livros de contos de fada Joe... Não existe!
- Me perdoa por não amar você...
- Tudo bem... Vá embora agora.
- Você vai ficar bem? – erguendo a cabeça pra me olhar.
- Vou... – esboçando um sorriso falso.
Ele se levantou da cama ainda deixando as lagrimas caírem. Vestiu a calça e me olhou segurando a camisa e o sapato.
- Eu te amo. – eu disse me sentando na cama.
Ele continuou me olhando e esboçou um sorriso verdadeiro com uma ponta de tristeza. Virou as costas e saiu do quarto. Uma lagrima rolou pela maça do meu rosto e eu me abracei aos joelhos, esperando que ele voltasse e caindo aos prantos ao ouvir o barulho da porta do elevador se fechar.
Ele havia ido embora. Joe Jonas havia saído da minha vida para sempre.