Os enfermeiros começaram a me arrumar para a cirurgia e um deles mediu minha pressão novamente. Ele olhou para Addison preocupado e retirou o aparelho do meu braço.
- Doutora... Não vai dar pra fazer a cirurgia agora. – ele disse se aproximando dela.
- Porque não? – perguntei preocupada.
Ele mostrou o aparelho pra Addison e ela me olhou aflita. Os olhos azuis um tanto arregalados e mais brilhosos que o normal. Mas não um brilho bonito, ou bom, e sim um brilho de apreensão.
- Sua pressão está muito baixa Mel. Aplicar a anestesia agora seria muito perigoso.
- Aplica alguma coisa... Adrenalina talvez...
- Eu vou pedir pra enfermeira trazer algo pra você comer... Aplica adrenalina agora seria perigoso por causa da hemorragia. – ela falou calma saindo do quarto.
Coloquei as mãos sobre a cabeça e respirei fundo. Olhei pra Rachel que estava sentada na poltrona no quarto me olhando sem ao menos piscar.
- Como está Rose? – perguntei tentando ficar calma.
- Bem... Está na escolinha.
- Que horas ela sai de lá?
- 18h... Joe disse que vai busca-la.
- Seus olhos ainda brilham quando diz o nome dele. – falei olhando para o teto.
- Ainda sou apaixonada por ele.
- Porque quando você fala dele eu sinto que alguma coisa aconteceu e você não me contou?
- Porque aconteceu e eu não te contei. – ela disse sorrindo – Mas deixa essa conversa pra depois da sua cirurgia.
- Se eu morrer vou morrer curiosa então? – falei brincando.
- Para com isso! – ela disse fechando a cara.
- Senhora, aqui está o seu lanche! – a enfermeira disse com a bandeja na mão.
Rachel puxou a mesa sobre a maca e a enfermeira colocou a bandeja na minha frente. Comi o lanche sem vontade. Era um lanche natural simples, um pouco mais salgado que o normal das comidas de hospital e estava gostoso. Terminei de comer rapidamente e afastei a mesa após o ultimo gole no suco natural de laranja.
- Mel! – Nick disse desesperado ao entrar no quarto.
- Que susto. – eu resmunguei olhando pra ele.
- Como você está? – ele perguntou se aproximando e segurando minha mão.
- Bem... Eu disse pra você não se preocupar.
- Como não me preocupar Mel?
- Amor se acalma!
- Eu odeio a ideia de anestesias e medicamentos pesados...
- Nick se acalma! É uma cirurgia simples e rápida.
- Todo medico diz isso.
- Amor, para com isso! Eu sobrevivi a tantas cirurgias na minha vida.
- Não gosto de arriscar.
- Para de ser bobo. – puxando ele pra um beijo.
- Vai dar tudo certo não vai? – ele perguntou preocupado.
- Vai dar mais que certo... Agora se acalma.
- Porque você ainda não foi pra cirurgia?
- Estou esperando a pressão subir... Não podia tomar anestesia com a pressão baixa.
- Você comeu?
- Comi.
- Está com muita dor?
- Sim... Mas é suportável.
Ele me abraçou em silencio e beijou o topo da minha cabeça como se quisesse me proteger de tudo.
Addison entrou no quarto com o aparelho de pressão e pediu pra Nick se afastar. Mediu minha pressão, analisou tudo e sorriu me tranquilizando.
- Vamos pra cirurgia. – ela disse olhando pra mim e em seguida pra Nick e Rachel.
Nick me ajudou a descer da maca do quarto e ir para a que estava posta ao meu lado para a sala de cirurgia. Me deu um beijo na testa e segurou minha mão com força.
- Eu amo você. – ele falou me olhando e contendo o choro.
- Eu também amo você! – falei sorrindo.
Os enfermeiros foram empurrando a maca até a sala de cirurgia enquanto eu conversava com Addison para me acalmar. Na sala de cirurgia me senti ainda mais nervosa. Fui colocada no soro e me aplicaram a anestesia. Lembro de ter fechado os olhos enquanto pedia a Deus que tudo desse certo.
- Addison narrando.
A cirurgia começou tranquila. Fiz um pequeno corte um palmo a baixo do umbigo de Melinda, localizei a veia rompida, reconstruí e suturei-a com cautela. Não precisávamos ter pressa.
Parando a hemorragia os batimentos foram voltando ao normal e a pressão também. Agora viria a parte difícil.
Era a primeira vez na historia da medicina que seria feita a reconstrução de um útero. Estava nervosa, mas com esperança de que tudo desse certo. Afinal, eu havia criado e treinado aquele procedimento a maior parte da minha carreira.
A cirurgia foi demorada. Começamos às 16h e o relógio já mostrava 20h45 quando eu estava no meio do processo.
Melinda estava com ótimos sinais vitais. Ao contrario de outros pacientes a anestesia geral não tinha nenhum efeito ruim sobre ela. A única coisa que me estressava vez ou outra era Nick, que chamava toda hora uma enfermeira pra perguntar como a esposa estava.
Terminei a reconstrução às 22h, exausta. Tudo havia saído perfeitamente como o planejado e agora só bastava esperar para ver a cicatrização.
Sai da sala de cirurgia e fui para a sala de espera onde Nick estava ansioso conversando com Rachel. Ele ergueu o olhar apreensivo pra mim e se levantou. E quanto seus lábios foram se abrir pra fazer uma pergunta obvia me adiantei.
- Ela está ótima! – disse sorrindo pra ele – A cirurgia foi um sucesso e a reconstrução saiu melhor que o esperado.
- Porque toda essa demora? – ele perguntou.
- Por causa da reconstrução.
- Mas você disse que era simples.
- A reconstrução do útero foi complicada.
- Do útero? A Mel reconstruiu o útero? Mas era só daqui alguns dias.
- Ela estava ovulando e resolvi fazer agora... Tudo saiu perfeitamente bem Nick.
- Quer dizer que... – ele abriu um sorriso esplêndido.
- Metade do processo já foi feito.
- Meu Deus eu não sei nem como te agradecer por isso...
- Não precisa. – respondi sorrindo satisfeita – Eu vou descansar um pouco agora porque o dia foi exaustivo. Em alguns minutos Mel vai estar no quarto e vocês podem ir vê-la.
- Obrigada doutora! – Rachel disse me abraçando.
- Muito obrigado Addison. – Nick disse em seguida.
- Não precisam agradecer. – respondi sorrindo.
- Nick narrando.
Assim que Melinda foi para o quarto eu fui vê-la. Rachel havia ido pegar um café e ver como estavam Samira, Lola, Harry e Victor e me deixou ficar um pouco sozinho com ela.
Ela parecia um anjo, respirava fraco ainda com os aparelhos ligados ao seu corpo. Mas as bochechas estavam levemente corada e os lábios rosados como sempre.
Segurei sua mão e me sentei ao lado da cama admirando-a. Olhei sua face por um bom tempo e desci o olhar pelos seus seios pequenos e sua barriga que se mexia conforme a respiração.
- Estou tão feliz... – falei baixinho – Tão feliz. A sua cirurgia deu certo, e um passo para o começo da nossa família já foi dado... – acariciando sua mão com o polegar – Sei que você deve estar cansada agora, a cirurgia foi demorada e eu quase surtei na sala de espera, mas a medica disse que tudo ocorreu bem e que o seu útero está reconstruído... Logo vamos ter o nosso filho... Nosso pequeno filho... Ele vai ter seus olhos, e o meu gênio com certeza. Os cabelos eu não sei, mas tomara que seja como os seus... – falei sorrindo sozinho – Nosso filho! – beijando a mão dela.
O tempo passou e eu acabei pegando no sono na poltrona ao lado da cama. Acordei na manha seguinte com alguns raios de sol clareando o quarto. Esfreguei os olhos e olhei pra Melinda que ainda dormia. Beijei sua testa e olhei pra Rachel que estava sentada adormecida coberta com um casaco.
Sai do quarto em silencio. Fui lavar o rosto e comprar café. Liguei para todos da família para avisar que Melinda estava bem e voltei para o quarto.
Acordei Rachel e ela sorriu ao pegar o copo de café de minha mão.
- Não acredito que isso está acontecendo. – ela falou dando um gole no café.
- O que? – perguntei voltando a sentar ao lado da maca.
- Dormir num quarto de hospital esperando Melinda acordar.
- Fez isso por muito tempo né?
- Fiz isso por sete anos. – ela disse sorrindo sem graça – Foram os sete piores anos da minha vida.
- Eu imagino...
- Em pensar que ela só acordou por causa dos Jonas Brothers.
- Como assim? – falei rindo.
- Ela abriu os olhos quando estava passando sobre a banda na tv do quarto dela... Ninguém te contou?
- Ela já comentou comigo sobre isso... Eu que não me recordava.
- Pois é... Parece que vocês tinham alguma coisa muito especial...
- Nós temos alguma coisa especial... – Melinda disse com a voz rouca, brindo os olhos.
- Bom dia meu amor. – eu disse pegando sua mão.
- Bom dia pra vocês dois. – ela disse sorrindo – Não acredito que passaram a noite aqui.
- Estamos com você pra tudo! – Rachel disse sorrindo – Como se sente?
- Meu corpo está pesado e minha cabeça gira...
- Está com dor? – perguntei.
- Não. Como foi a cirurgia?
- Um sucesso. – respondi apertando seus dedos suavemente.
- Addison conseguiu?
- Eu sempre consigo! – Addison disse entrando no quarto – Bom dia!
- Bom dia. – ela respondeu ainda rouca.
- Nick pega agua pra ela, ela está precisando! – Addison ordenou – Rachel me ajuda aqui com a roupa dela... Vamos ver esses pontos.
- Teve alguma complicação? – ela perguntou enquanto Rachel tirava o lençol de cima dela.
- Nenhuma... Tudo foi perfeito. – Addison respondeu tirando o curativo de cima dos pontos.
Aproximei o copo com agua dela e coloquei o canudo em sua boca. Ela tomou cada gole, parecia estar com muita sede. Coloquei o copo de lado e segurei sua mão. Rachel estava no canto do quarto observando e a medica olhava os pontos minuciosamente.
- Está sentindo alguma coisa? – a medica perguntou.
- Só o corpo pesado.
- É efeito da anestesia... Daqui a pouco passa. Se sentir alguma coisa estranha me chama imediatamente.
- Tudo bem.
- Vou pedir pra trazerem seu café da manha e vocês dois podem ir descansar em casa. Essa mocinha vai ficar sobre os meus cuidados nos próximos dois dias. – ela falou saindo da sala.
- Ela tem razão... Ray vai pra faculdade... E Nick você precisa cuidar das suas coisas.
- Eu não tenho reunião hoje, vou pra casa só pra tomar um banho e volto logo.
- E eu vou realmente pra faculdade e ver como minha filha está. Mas eu venho te ver mais tarde. – Rachel disse.
Eu e Rachel saímos juntos. Deixei Melinda com o coração apertado, mas sabia que ela estaria bem ali.
- Melinda narrando.
Assim que Nick e Rachel saíram eu liguei a tv. Fiquei um tempo olhando pra tela sem prestar atenção em nada e só voltei a mim quando a enfermeira entrou no quarto com a bandeja.
Com ajuda dela me ajeitei na cama e comecei a comer.
Quando terminei estava cansada. Sentia o corpo pesado e mole e precisava dormir.
Me ajeitei na cama e acabei pegando no sono novamente.
Acordei horas depois com Nick me beijando. Olhei pra ele e olhei em volta um tanto confusa.
- Desculpa te acordar. – ele disse se sentando.
- Tudo bem... – passando as mãos nos olhos – Que horas são?
- 15h.
- Já? Eu dormir muito.
- É efeito da anestesia.
- Você chegou agora?
- Sim... Me disseram que você estava dormindo quando liguei na hora do almoço e resolvi adiantar algumas coisas no estúdio.
- Ah... Você ligou pra minha mãe?
- Liguei, e ela vem te ver de noite.
- Como está o pessoal? Samira... Lola...
- Victor está bem, saiu da UTI... Harry está passando por outra cirurgia, mas está bem... Lola está acordada, ficou preocupada com você...
- E a Samira? – perguntei preocupada quando vi que Nick estava hesitando em falar sobre ela.
Ele desviou o olhar do meu e eu fechei os olhos tentando manter calma.
- Nick, por favor, eu não posso passar nervoso. – eu disse de olhos fechados.
- Ela está na UTI, à cirurgia foi boa, mas parece que ela vai ficar com sequelas. – ele disse segurando minha mão.
- Que tipo de sequela?
- Perda de memoria.
- Mas... Eu me recuperei... Ela também pode.
- Pode sim... Mas deixa pra você ver isso depois com os médicos dela. Não é hora pra se estressar.
- Tudo bem... – falei respirando fundo.