- Rose! – Joe vociferou irritado – O que você fez foi feio.
Ela olhou-o de nariz em pé, como se fosse dona da razão e subiu no colo de Rachel que continha o riso.
- Deixa ela Joe, é só uma criança. – Danielle disse tentando não rir.
- Uma criança muito esperta por sinal. – debochou Kevin.
- Eu não gostei do que ela fez e foi errado. – Joe disse.
Ashley não se atreveu a abrir a boca. Só olhou pra menina de cara feia e encarou Rachel pelo resto da noite.
O clima ficou mais ameno quando Paul e Denise se juntaram a gente na mesa para o jantar.
A mesa era enorme e tinha no mínimo 40 lugares. Sentados ao lado de Paul e Denise estavam os filhos e nora e a neta, no restante da mesa amigos, e uma parte da família mais distante.
O jantar foi agradável. Paul discursou varias vezes sobre sua vida inteira, contou historias tristes e engraçadas até a hora do enorme bolo ser colocado no centro da mesa e cantarmos os parabéns.
Ao final da festa quando todos estavam se despedindo eu estava exausta sentada em uma poltrona da enorme sala. Sentia uma dorzinha incomoda na cicatriz, mas nada demais.
Rose ficou perto de mim brincando com uma boneca. O nariz arroxeado e inchado era notado de longe.
Rachel voltou para perto de nós com o casaco e a bolsa no braço esquerdo. Se despediu de mim e pegou a mão de Rose. Iriam embora logo porque ficar perto do casal sensação da noite não estava sendo agradável.
Joe não disse tchau pra filha. Notei quando ele olhou pra Rachel saindo do salão com a pequena e abaixou a cabeça.
Kevin ajudou Danielle a colocar o casaco e em seguida se aproximou de mim para se despedir.
Olhei em volta e no salão só restaram Denise, Paul, Nick, eu e alguns empregados arrumando o salão. Nick me ajudou a levantar da poltrona e caminhamos até o hall de entrada com cautela. Eu estava sentindo meu corpo fraco, e o sono era tanto que os olhos pesavam. Me despedi de Denise e Paul e segui para o carro sendo perseguida pelos flashes.
Com ajuda de Nick entrei com cuidado e coloquei o sinto. Ele entrou logo depois e ligou o carro pedindo para os fotógrafos se afastarem. Demorou uma eternidade para todos saírem do caminho e entrarmos na avenida. Tanto que eu acabei pegando no sono no carro e acordando na manha seguinte na minha cama apenas de lingerie e a cinta sobre a cicatriz.
- Bom dia meu amor! – Nick falou assim que entrou no quarto e me viu colocando o roupão.
- Bom dia... – eu disse me sentando na poltrona cansada.
- Como está? – beijando minha testa.
- Bem... – falei rouca – Quero ir ao hospital hoje.
- Acha que precisa?
- Não... Não por mim. Eu quero ir ver a Lola... Hoje é aniversario dela.
- Tem certeza disso? – ele perguntou como se quisesse me fazer mudar de ideia.
- Tenho. Quero vê-la e saber como a ela e os meninos estão.
- Tudo bem, eu vou ligar para o hospital perguntando o horário de visita.
- Obrigada... – me levantando e indo para o banheiro.
Tomei um banho e me arrumei. Roupas soltas e folgadas faziam parte do meu novo estilo. Sai do banheiro, arrumada e me sentei na poltrona novamente. Não sentia dor na cicatriz, mas sentia moleza no corpo por causa dos remédios. Nick apareceu no quarto sorridente e disse que a visita começaria em meia hora. Ele trocou de roupa rapidamente e partimos para o hospital.
Assim que chegamos encontrei Victor caminhando pela recepção ao lado de Lola. Ela estava pálida, mas parecia bem, ele estava com alguns arranhões no rosto e sorria ao lado da namorada. Quando Lola me viu correu em minha direção e me abraçou com força fazendo eu senti os pontos repuxarem.
- Cuidado! – Nick disse desesperado – Os pontos dela.
- Ai me desculpa. – ela disse se afastando preocupada – Como você está?
- Estou bem... Só os pontos que estão dando dor de cabeça. – respondi rindo – Feliz aniversario! – abraçando ela.
- Obrigada! Você se lembrou. – ela disse sorrindo.
- Claro que lembrei... Faz tempo que não comemoramos o seu aniversario juntas.
- Faz mesmo.
- Oi Vi! – eu disse para Victor.
Ele me abraçou sorrindo.
- Obrigado por tudo. – ele disse.
- Não tem o que agradecer! – falei passando a mão em seu ombro – Como estão Harry e Samira?
- Harry está bem... Se recuperando da cirurgia nas pernas, e a Samira... Bom... Na mesma.
- Perda de memoria? – perguntei.
- Sim... Parece que a vida toda dela foi apagada.
- E porque não operaram?
- O neuro não acha bom operar... Não se sente seguro.
- Mas ele é medico... Não pode ter medo. – eu disse indignada.
- Ele não é tão competente assim. – Lola falou.
- Mas não tem outro medico? Em outro hospital...
- O chefe dos médicos já falou com vários médicos... Mas parece que o único que seria capaz de realizar essa cirurgia está preso... – Victor disse.
- Droga! – eu resmunguei.
- Shepherd. – Nick falou irritado.
- Já ouvi esse nome. – Victor disse confuso.
- Shepherd de Derek Shepherd? – Lola falou – O medico mais conceituado dos EUA?
- Conceituado... Esse país deveria rever os conceitos! – Nick resmungou.
- Nick... – eu disse tentando acalma-lo – Sim Lola, esse Shepherd.
- Porque mesmo ele foi preso? – Victor perguntou.
- Por ter abusado da minha mulher... Como vocês não sabiam disso?
- Abusado? – Victor se espantou.
- Espera... Eu me lembro disso... – Lola falou – Eu vi um jornal de Londres antes de me mudar pra cá que ele havia sido preso por abusar de alguém dentro do hospital...
Eu abaixei a cabeça e Victor se sentou ao meu lado.
- Nunca revelaram o nome da mulher... – Victor falou baixo.
- Paguei caro para as revistas não revelarem os nomes... – Nick falou.
- Mel... – Lola me abraçou – Me desculpa por ter tocado no assunto.
- Não precisa se desculpar, já passou... – eu disse tomando folego.
- O único médico que pode salvar Samira é um filho da mãe e está preso por se aproveitar da minha melhor amiga... Como a vida é ridícula! – Victor esbravejou se levantando.
- Se acalma Vi... Deve ter outro médico. Afinal ele era o melhor dos EUA não do mundo. – respondi.
- Seriam milhões gastos para trazer outro médico pra cá. – Lola falou.
- Nem tanto! – uma voz masculina respondeu – Viajei até aqui com meu próprio dinheiro.
Olhei para trás e vi um homem alto, de cabelos pretos e lisos e olhos tão azuis quanto o céu numa tarde ensolarada. Seu olhar era penetrante e seu sorriso torto era de arrancar suspiros. Os músculos do peito e dos braços podiam ser notados sob a camiseta preta de malha que ele usava. No braço esquerdo estava pendurada a jaqueta de couro e na mão direita uma maleta.
- Desculpa, mas quem é você? – perguntei soando um tanto rude sem querer.
- Doutor McNamara. Christopher McNamara. Neurocirurgião. – ele disse estendendo a mão livre.
- Eu já ouvi falar de você... – Lola disse – Você trabalhou como médico do exercito dos EUA.
- Exato. – ele respondeu.
- E o que um médico do exercito faz aqui em NY? – Nick perguntou.
- Sai do exército há um tempo... Perdi minha namorada há um ano...
- Como? – perguntei.
- Ela era médica... O acampamento que ela estava foi atacado... E ela faleceu tentando salvar uma vida.
- Sinto muito... – falei abaixando a cabeça.
- Tudo bem... Já faz um ano. O que importa é que vocês parecem precisar do melhor neuro do país e cá estou eu.
- Que humilde. – Victor disse baixo.
- Eu ouvi isso... – o doutor respondeu.
- Christopher! – O chefe exclamou no começo do corredor.
- Chefe! – o doutor foi de encontro a ele.
- Que bom que chegou... – abraçando ele – Vejo que já conheceu a doutora Carter, seu esposo e seus amigos...
- Só eu me apresentei até agora e eles duvidam da minha capacidade como médico. – ele respondeu rindo.
- Ah, me desculpe... Eu sou Melinda May Carter Jonas... A doutora Carter... Trabalho na pediatria. – eu disse estendendo a mão – Esse é meu marido Nick Jonas, essa é minha amiga Lola e esse é meu amigo e namorado dela Victor.
- É um prazer conhece-los... Principalmente você doutora... Encontrarmo-nos sempre pelo corredor. – ele disse.
Nick pareceu não gostar. Olhou torto, mas ficou em silencio.
- Que bom que se conheceram logo de cara... Quero lhes apresentar o melhor medico do país. Todos do exercito americano que passaram pelas mãos desse homem sobreviveram. – o chefe disse.
- Ta explicado a humildade dele... – Lola falou sorrindo.
- Mas o Shepherd? O cargo de melhor medico do país era dele...
- Shepherd foi o segundo melhor desde a faculdade. – Christopher disse – Ele se apoderou do primeiro lugar quando eu fui pra guerra.
- Você estudou com ele? – Nick perguntou.
- Mesma faculdade, mesma sala de aula, mesmos professores e mesmo dormitório... Fomos melhores amigos até eu descobrir que ele era um completo desgraçado. – notavelmente havia um tom de raiva em sua voz.
- Nos daremos muito bem doutor McNamara. – eu disse sorrindo.
- Bom... Conversar a parte... Christopher passará a ser o neuro principal do hospital e a primeira cirurgia dele que está marcada para amanha é a da senhorita Garcia.
- Você vai operar Samira? – Victor disse assustado – Mas nenhum médico quis fazer isso...
- Nenhum médico operou cérebros dentro de um helicóptero no meio da guerra. – ele piscou – Soube do caso de Samira assim que Richard me ofereceu uma vaga no hospital, já estudei e tenho a completa certeza de que a amiga de vocês voltara a se lembrar de muitas coisas.
- Você disse muitas? – eu perguntei confusa.
- Ela nunca se lembrará de tudo... Só Deus pra fazer um trabalho com tamanha perfeição. – ele me respondeu seriamente.
- Qual a porcentagem? – perguntei.
- 75 por cento com certeza... 85 com sorte.
- Um médico que acredita em Deus e sorte... Você é dos meus, doutor. – eu disse sorrindo.
- Vejo que vocês já estão se dando bem... – Nick falou ironicamente – Mas Mel, agora é hora dos seus remédios.
- Tudo bem... Doutor foi um prazer te conhecer. – estendo a mão pra ele.
- O prazer foi meu. – ele sorriu.
Nick me entregou as cartelas de comprimidos e um copo com agua e eu me sentei pra tomar. Descansei um tempo depois conversando com Lola e Victor e fui ver Harry.
Ele estava aparentemente bem. As duas pernas estavam engessadas sobre uma pilha de travesseiros.
Conversei um tempo com ele sobre a cirurgia de Samira e o tranquilizei sobre muitas coisas.
A hora da visita acabou às 16h. Lola voltou para o quarto e Victor ficou com ela. Ela ainda estava internada em observação, ele já tinha recebido alta.
Acabei não passando pra ver Samira, mas soube que ela estava na UTI, em coma induzido. Era melhor pra ela ficar ali recebendo os cuidados do que ficar acordada e confusa entre os amigos.
Fui para casa com Nick. Passei um tempo, sentada na sala, pensando na cirurgia de Samira e torcendo para que tudo desse certo com todos eles.
Em cada um de nós havia uma expectativa grande. A recuperação de Harry, a cirurgia de Samira, a minha recuperação, a alta de Lola... O nervosismo consumia, mas manter a calma era extremamente necessário nessa situação.
- 23 de fevereiro de 2017.
Nove dias havia se passado desde a chegada no doutor McNamara no hospital. Eu já havia retirado os pontos da cirurgia e me sentia bem melhor. Tão melhor que estava de volta a rotina corrida de faculdade e hospital. Claro que com algumas recomendações da doutora Montgomery, mas pelo menos não estava mais presa em casa de cama.
A cirurgia de Samira havia sido um sucesso. Não teve nenhuma complicação e tudo ocorreu maravilhosamente bem nas quinze horas de cirurgia. Christopher saiu da sala cirúrgica com as pernas bambas e o rosto vermelho, mas o sorriso parecia gritar para o mundo que ele tinha salvado mais uma vida. Samira, claro, foi levada para a UTI onde passou exatos três dias. Acordou no quarto dia sentindo uma leve dor de cabeça, mas lembrando do acidente e das pessoas que se aproximavam dela. Acabou ficando no mesmo quarto que Harry. Lola estava de alta. Mas empolgada que nunca, saia do trabalho e corria para o hospital pra ver os amigos ao lado de Victor.
Rachel estava sofrendo com a gravidez. Os enjoos duravam horas, o que fazia com que ela não comesse e consequentemente o peso diminui bruscamente. Seu rosto estava chupado, os olhos fundos e os cabelos já não tinham mais o brilho de antes. Rose sentia falta do pai, mas estava se comportando muito bem. A professora da escolinha sempre a elogiava. Eu achava que ela só fazia isso por Rose ser filha de famoso, mas Rachel insistia em acreditar que não.
Nick estava bem. Brigado com o irmão ainda e trabalhando em casa recebendo Kevin vez ou outra no escritório. Mas não tinha mais contatos com Joe. Assim como Kevin. Depois do aniversario de Paul os dois não se falaram mais.
Danielle estava com a barriga mais enorme do mundo. Todos que olhavam juravam que seriam gêmeos, mas Addison confirmava que era apenas um bebe. Ela estava prestes a dar luz então muitas coisas já estavam devidamente prontas em casa para receber as parteiras.
Tudo parecia ter voltado para o eixo... Parecia!