- Melinda narrando.
Quando o avião pousou, eu abri os olhos desejando ver pela janela o carro de Chuck na pista me esperando. Mas só havia um carro parado e não era o dele.
Desci do avião enquanto as minhas malas estavam sendo levadas para o carro e disse oi para o motorista. Ele abriu a porta pra mim, como sempre e a fechou assim que eu entrei.
No caminho para casa mandei uma mensagem para Rachel e uma para Danielle pra avisar que já havia chegado. No elevador do meu prédio mandei uma para Nick.
Entrei em casa chamando por Betty, mas ela parecia não estar. Coloquei a bolsa e o celular sobre a mesa de centro e fui pegar um copo com agua na cozinha.
Estava me sentindo completamente estranha. Um vazio ruim tomara conta de mim.
Subi as escadas com o copo e fui para o quarto. Sentei-me na cama pensando em por onde começaria a organizar as minhas coisas. Estava atrasada na faculdade, não estava indo trabalhar porque estava de licença. Não falava com minha mãe e meu pai há dias, não havia visto Nate e não tinha noticias dele. Rachel estava quase tendo o bebe e eu estava afastada dela também, e eu era a madrinha de Blair e nem tinha me dado o trabalho de levar um presente pra ela e para Danielle.
Peguei a agenda para conferir algumas coisas e me dei conta de que já estávamos no dia 6 de julho. Em alguns dias eu faria aniversario e a minha vida estava tão bagunçada que eu nem me lembrava disso.
Deixei o copo sobre o criado mudo e liguei para a faculdade, agendei todas provas perdidas para o dia seguinte, e eu passaria a noite copiando a matéria que o professor havia me mandado por email. Liguei para o hospital para falar com Arizona e ela me tranquilizou dizendo que tudo estava bem e que eu voltaria de licença como se não tivesse perdido nenhum dia.
Liguei para Rachel para perguntar sobre tudo, e ela passou horas falando sobre como o curso de psicologia estava fazendo bem pra ela. Disse que a gravidez estava indo bem, que havia feito um ultrassom e o bebe seria um menino. O primeiro menino da terceira geração de Jonas, e Rose estava adorando a ideia de ter um irmão.
- Ta bom, já te falei tudo sobre o que você perdeu da minha vida. Agora me conta, como está com o Nick?
- Fui pra lá tentando me reconciliar, ele me disse coisas horríveis... Eu ia voltar, Kevin acabou me segurando lá, e depois conversei melhor com Nick. Ele pediu milhões de desculpas e estava levando as coisas. Eu pedi um tempo e estávamos dando, mas estamos juntos.
- Um tempo, mas estão juntos? Como isso pode acontecer?
- Nick não sabe disso e peço para que não conte para ninguém. Para qualquer pessoa estamos bem. Mas eu acho que vamos nos separar... Só não quis fazer um escândalo agora porque a banda ta acabando.
- Você está se sacrificando.
- Não. Não diz isso. Eu não estou! Só estou dando um tempo. Preciso colocar a cabeça em ordem. Só isso.
- Mel, o que aconteceu nessa viagem foi tão serio a ponto de você achar que vão terminar?
- Não foi tão grave... Só me fez perceber que talvez o que sinto por Nick e o que ele sente por mim não é amor.
- Como pode dizer que tudo o que viveram não é amor?
- Eu não tenho mais certeza de nada Rach.
- Tira um tempo pra você. Você precisa esfriar a cabeça e pensar em tudo... Poxa quase se separou de Nick e perdeu o bebe. Você deve estar surtando por dentro.
- E estou.
- Faça o que eu disse... Tire um tempo pra você. Continue com a faculdade e o trabalho. Aproveita que Nick ficara longe agora e coloca tudo numa balança.
- Farei isso... – suspirando – Eu vou desligar agora, preciso comer alguma coisa, tomar um banho e estudar.
- Ok, eu preciso ir pegar a Rose na escola. Se cuida.
- Se cuida também. Amo você.
- Também te amo. Manda um beijo pra Rose.
- Mando sim... Tchauzinho. – desligando.
Joguei o telefone sobre a cama e fui para o banho. Passei horas na banheira pensando em tudo que havia acontecido em tão pouco tempo. Chuck... Nick... Dentro de mim esses nomes causavam efeitos explosivos.
Saindo do banho fui jantar e finalmente colocar os cadernos da faculdade em ordem e estudar para as duas provas perdidas.
No dia seguinte acordei cedo. Me arrumei para a faculdade, arrumei as coisas e tomei um café rápido. Betty ainda não estava em casa, provavelmente havia ido ver a família já que eu havia liberando-a antes de ir viajar.
Entrando na faculdade dei de frente com Rachel. Ela estava com uma barriga enorme e linda.
- Quanto tempo! – ela disse me abraçando.
- Que saudade de você. – abraçando ela – Como você tá?
- Bem, acordei meio enjoada hoje, mas tenho prova no quarto tempo.
- Você está linda! – passando a mão na barriga dela.
- Você me viu tem três dias no hospital... Porque tanta saudade?
- Porque andei pensando em como nossa vida era em Londres... Antes do meu acidente.
- Querendo voltar pra adolescência?
- Precisando volta! – disse sorrindo – Tá difícil. – suspirando.
- Sei que está. Mas tudo isso vai passar. – me abraçando – Mas agora vamos segurar o choro e ir pra sala de aula, porque eu preciso me concentrar e acredite, ter concentração com uma coisa se mexendo dentro de você é horrível.
Eu ri abracei-a novamente. Levei-a até a sala e fui pra mim.
Todos me olharam com estranheza, o professor me deu bom dia e a aula seguiu.
No intervalo fiquei com Rachel contando as coisas com Nick mais detalhadamente. Voltamos pra sala depois de longos 30 minutos de intervalo.
Quando as aulas acabaram, todos se retiraram da sala, mas eu fiquei. Fiz duas provas seguidas. E só fui para casa às 18h.
No caminho de casa resolvi passar pra ver Nate. Fazia tempo que não nos falávamos e eu estava com saudade. Durante o trajeto passei em frente ao prédio do meu antigo apartamento. Os destroços, claro que já não existia mais e outro prédio já estava sendo construído ali, mas eu podia fechar os olhos e reviver aquele dia na minha mente. A loucura de pessoas chorando esperando por noticias de seus familiares. A minha loucura por saber que tantas pessoas importantes estavam ali, debaixo dos escombros. Estacionei o carro por um tempo, bem enfrente ao novo prédio e fiquei olhando pela janela entreaberta do carro. Se me esforçasse mais um pouco poderia ouvir o barulho das sirenes, e podia até mesmo ver os bombeiros e paramédicos desesperados procurando os corpos antes que fosse tarde demais.
Nick estava ali, Rachel estava ali, Rose estava ali, Joe, Nate, Julie estava ali... Aidan... O meu pequeno Aidan estava ali, sufocado, com pedras de concreto sobre todo seu corpo. E eu nem pude salva-lo.
Uma chuva forte começou a cair. Eu sequei o rosto e liguei o carro. Precisava chegar na casa de Nate rápido pois já estava ficando tarde.
- Mel? – Julie disse surpresa ao abrir a porta.
- Boa noite! – eu disse abraçando ela.
- Que saudade querida. Quanto tempo. – me abraçando de volta – Nate, olha quem está aqui!
Nate apareceu atrás dela de avental. Ao me ver sorriu e correu para me abraçar.
- Não acredito que resolveu vir me ver! – me tirando do chão.
- Eu estava com tanta saudade! – abraçando ele e começando a chorar.
- O que houve? – me colocando no chão.
- Não... – sorrindo sem jeito, e passando a mão pelo rosto – Não é nada, só saudade! Cadê meu sobrinho? Cadê o meu Henry?
- Ta na cozinha brincando no cercadinho. – Julie disse fechando a porta atrás de mim – Eu e Nate estamos fazendo o jantar e ele fica no cercadinho brincando.
- Eu quero vê-lo! Ele deve estar enorme... Já vai fazer um ano.
- Vem pra cozinha! – Nate disse me dando o braço – Como você está?
- Bem...
- Conheço essa carinha! Quero que me conte o que está acontecendo... – entrando na cozinha – Henry, olha quem veio te ver! – pegando ele do cercadinho.
- Hey meu lindo! – eu disse pegando ele dos braços de Nate – Como você está grande!
Ele sorriu pra mim instantaneamente e me abraçou.
- Eu amo você meu pequeno! – beijando a bochecha dele – E a titia não esqueceu de você! – Colocando a bolsa e uma sacola sobre o balcão – Julie na sacola tem um vinho pra gente e um presente pra ele.
- Não precisava!
- Precisava sim... Faz tempo que não o vejo... – me sentando com ele no colo.
Julie abriu o embrulho e deu o carrinho azul para Henry que adorou e pediu pra ir pro chão brincar com o novo brinquedo.
Nate pegou o pequeno e colocou no cercadinho de novo. Henry sorriu pra mim com únicos três dentinhos e mostrou o carrinho.
- Eu sabia que você ia gostar! – eu disse jogando um beijo pra ele em seguida.
- Anda... Agora diz o que aconteceu? Fiquei sabendo sobre a briga que teve com Nick por causa de Chuck e que você perdeu o bebe... Mas porque foi pra Londres? – Nate disse se sentando de frente pra mim.
- Precisava conversar com Nick, concertar meu casamento...
- Foi assim que conseguiu esses pulsos roxos? – olhando as marcas do meu pulso.
- Foi...
- Nicholas fez isso? – ele perguntou irritando.
- Fez, mas já está tudo bem... Nos acertamos.
- Mel ele machucou você.
- Ele estava fora de si... Sei que eu falando isso é ridículo, mas você conhece o Nick e sabe que ele jamais faria isso normalmente.
- Isso é...
- Então...
- Mas tem mais alguma coisa incomodando você! Eu te conheço Mel.
- Estou cansada por tudo que aconteceu... Triste por ter perdido o bebe, é só isso.
- Pra você ter vindo até aqui tem alguma coisa a mais.
- Não tem não... Só saudade de quando tudo era normal. – eu sorri – Antes do meu acidente, éramos felizes... Hoje em dia tudo é tão complicado.
- Podemos ser felizes agora, só depende de nós.
- Nada nunca vai ter a beleza que tinha antes. As coisas agora são dolorosas.
- Isso é assunto de quem brigou com o marido. – ele falou sorrindo.
- Você me conhece tão bem. – segurando a mão dele.
- Claro que sim, sou seu irmão. – sorrindo.
- Tem mais uma coisa...
- Eu sei que tem. Quer falar sobre?
- Eu acho que estou apaixonada pelo Chuck.
- Bass? – ele disse surpreso.
- Sim. Nate eu não sei o que eu faço. Eu to angustiada... Eu revisei a situação milhares de vezes e tudo aponta pra isso. Eu beijei Chuck antes de ir pra Londres, e depois da ultima briga com Nick eu senti que o que sentimos um pelo outro não é amor... Enquanto estava em Londres eu queria voltar correndo pra cá ver o Chuck, mas eu o machuquei... Ta tudo tão confuso.
- Porque diz que machucou o Chuck?
- Eu disse que amava o Nick depois do beijo e ele ficou desapontado.
- Mas ele não gosta de você, então... – ele parou no meio da frase – Chuck gosta de você! – exclamou.
- Ele disse isso pra mim no hospital.
- Mel, eu não quero ser chato, rígido, ou sei lá, mais um cara que não gosta do Chuck... Mas ele não deve gostar de você de verdade, só deve estar confundindo sentimento. Você sabe como ele é mulherengo. Nick é seu marido.
- Mas eu senti nos últimos dias que o Nick ainda sente alguma coisa pela Miley.
- Porque acha isso?
Antes do jantar expliquei tudo para Nate. Cada mínimo detalhe das conversas e brigas que tive com Nick. Ele concordou comigo sobre Nick e Miley, mas não conseguia acreditar que Chuck sentia alguma coisa por mim. Pra ele Chuck Bass sempre seria o cara mulherengo que só quer pegar todas as mulheres de NY. Mas de qualquer forma, Nate entendeu a minha aflição no meio de toda a história.
- Eu acho que o que você tem que fazer agora é tirar um tempo pra você e pesar tudo na balança.
- Rachel disse o mesmo.
- Vamos esquecer esse assunto por um tempinho e jantar? – Julie disse colocando a travessa de carne assada no meio da mesa.
- O cheiro está uma delicia. – eu disse.
- Seu irmão que fez. Eu só estava finalizando. – ela falou sorridente.
Jantamos tranquilamente, conversando sobre as novidades das vidas dos dois.
Eles me disseram que fariam uma festa no jardim para o aniversario de Henry, contaram que o trabalho de Nate estava cada dia melhor e Julie estava ajudando a mãe com uma loja de Londres que teria uma filial em NY.
Julie havia feito advocacia, mas depois que se mudou para NY e trabalhou um tempo no ramo desanimou e disse que não era o que queria fazer para sempre. A mãe dela havia aberto há um ano uma loja grande de roupas de grife em Londres, e agora queria expandir o negocio da família para a cidade de NY e claro que a dona e chefe da loja seria Julie.
A vida dos dois parecia boa. Eles tinham uma casa linda com jardim e piscina em NY, uma casa de praia em Miami, carros bons na garagem, um filho lindo e ao que tudo indicava único herdeiro da família. Nate era um dos melhores advogados do país e Julie, a moça de boa família agora seria dona de uma loja grande de grife.
Parecia a família perfeita, mas eles mesmos não gostavam de se nomear dessa forma. Segundo Nate “eles passavam longe da perfeição, mas com amor tudo tinha um jeitinho”.
Após o jantar brinquei um pouco com Henry no chão da sala enquanto conversava com Julie sobre os trabalhos de ser mãe.
- Mel, o que vai fazer no dia 17? – Nate perguntou entrando na sala com uma xicara de café.
- Eu não sei... Tentei pensar em algo especial, mas não sei.
- Também queria fazer algo especial... Mas só vou levar uns balões brancos e flores para o cemitério... Não tem o que fazer. – ele disse se sentando.
- Já faz um ano que o nosso pequeno se foi. – Julie disse.
- Quanta coisa acontece em um ano não é mesmo? – eu disse olhando para o nada.
Nate beijou o topo da minha cabeça, escorregou do sofá para o chão deixando a xicara de lado e me abraçou.