- Nick narrando.
Segurei a mão de Mel e a vi adormecer feito um anjo. Só então a cirurgia começou.
Eram enfermeiros para lá e para cá, instrumentos de cirurgia, coisas para curativos, bolsas de sangue. Eu estava ficando tonto com a claridade da sala e com a movimentação rápida de todos. Tentava manter os olhos em Mel. Sua face era serena, parecia que estava tendo um sonho bom.
A doutora Addison era rápida e ágil, sem contar a frieza com que tratava que estava lhe ajudando na cirurgia, quando ela mandava as coisas deveriam estar onde e como ela pediu, não podia existir erro. Era por isso que ela era uma das melhores.
Vi ela cortar e tirar o ovário de Mel, vi as sucções e as suturas de cada coisa, e aos meus olhos tudo estava correndo bem, até que agitação dos enfermeiros começou a piorar.
- Pulso caindo doutora Montgomery! – disse um enfermeiro.
- Ela está perdendo muito sangue! – a doutora disse.
- Doutora, a pressão está caindo muito rápido! – um médico ajudante disse.
- Você acha que eu não sei? Precisamos parar essa hemorragia! – ela disse um tanto agitada.
Vi a maquina que media os batimentos cardíacos disparar os números para menos que 70. Me desesperei.
- Mel, não me abandona! Eu preciso de você! – eu falei batendo de leve no rosto dela.
A maquina enfim deu fez aquele maldito barulho que todos temos pavor, avisando que não havia mais batimento algum.
Os enfermeiros congelaram.
A doutora puxou o desfibrilador rapidamente, passou gel entre eles, e mandou carregar. Os enfermeiros obedeceram. Ela deu o primeiro choque. Vi o corpo de Mel saltar na maca ainda desfalecida. Comecei a chorar.
- Carreguem! – Addison disse novamente.
E mais um choque fez o corpo de Mel saltar. E mais uma vez, e de novo e só então o barulho assustador parou e voltou ao normal.
Respirei aliviado. Beijei a testa de Mel e voltei a segurar sua mão.
A doutora Montgomery voltou à cirurgia que demorou mais uma hora e meia até chegar ao fim.
Mel foi arrumada e limpa para voltar ao quarto. Eu fui tirar aquelas coisas de médico e fui pra sala de espera.
- Como ela está? – minha mãe perguntou.
- Depois de um susto de mais ou menos um minuto, ela está bem e está dormindo agora.
- Susto? – perguntou Kevin.
- Ela começou a perder muito sangue, e teve uma parada cardíaca. Pensei que fosse perdê-la pra sempre! – chorando abraçando minha mãe.
- Meu querido! – ela disse me abraçando forte.
- Cara, vamos até a lanchonete pra você comer alguma coisa... Vai te fazer bem! – Joe disse.
- Vamos sim... Estou precisando comer!
Nós fomos comer e voltamos para a sala de espera. Já eram 4h da amanha, Rachel dormia na poltrona da sala de espera coberta com a jaqueta de Joe e com a cabeça sobre o ombro de minha mãe que também dormia. Kevin tinha ido pra casa, Joe estava com o celular na mão vendo as manchetes que já haviam divulgado o que tinha ocorrido e eu estava na poltrona de descanso para visitantes no quarto de Mel esperando ela acordar.
- Nick? – uma voz fraquinha me chamou.
Eu olhei pra ela, ela estava de olhos abertos um tanto mole.
- Graças a Deus você acordou! Como você está? – eu disse indo até ela.
- Dolorida... Parece que levei um choque...
- E você levou, vários! Teve uma parada cardíaca de 30 segundos.
- Caramba... – ela ficou admirada – Amor, vem dormir aqui comigo! Eu estou com frio.
Eu coloquei a mão na testa dela e senti que estava febril.
- Eu vou chamar a doutora, e volto pra deitar com você ta? – saindo do quarto.
- Ta bom.
Chamei a doutora que com toda a paciência foi tirar a temperatura dela.
- Como está se sentindo Mel? – Addison disse.
- Bem, só estou com frio!
- Isso é da anestesia... Quanto à febre Nick, está 37 e meio, é efeito da anestesia... Mas obrigado por me avisar... Febres depois de uma cirurgia podem matar, mas só se for acima de 38 e meio.
- Obrigada doutora!
- Agora vocês vão dormir, e descansar. Vejo vocês pela manhã! – saindo do quarto.
Eu deitei na maca com Mel. Ela se ajeitou e deitou sobre o meu peito e pegamos no sono.
Acordei pela manha com um enfermeiro dando remédio pra Mel que ainda dormia. Me levantei, fui na sala de espera, estavam todos cochilando. Fui na lanchonete comprar café, tomei e voltei para o quarto.
- Bom dia meu amor! – disse assim que vi Mel acordada.
- Bom dia! – ela sorriu.
- Seu café da manha já deve estar a caminho...
- Tudo bem... Amor... Me desculpa?
- Você não teve culpa Mel!
- Eu poderia ter avisado, mas é que eu não queria estragar o natal...
- Não vamos pensar nisso agora. Pensa que você está aqui, se recuperando e que vai passar o ano novo muito bem.
- É... – sorrindo.
- Eu te amo! – beijando ela.
- Eu também te amo!
- Melinda narrando
O dia se passou lentamente. Eu já não aguentava mais ficar naquele hospital.
Toda hora tomava algum remédio pra dor e era examinada. E graças a Deus eu estava perfeitamente bem.
- Estou impressionada com a sua recuperação. – disse a doutora.
- Quando vou poder receber alta? – eu perguntei animada.
- Amanha pela manha venho assinar sua alta, só vai ter que me prometer que qualquer coisa que sentir irá me ligar ou vir imediatamente para o hospital. – ela disse fazendo algumas anotações na pasta.
- Com certeza eu prometo! – eu sorri.
- Então vá descansar para poder sair daqui amanha radiante! Aposto que não vai querer sair com cara de doente na frente de todos aqueles fotógrafos que estão ai em baixo. – ela falou sorrindo.
- Boa noite doutora, e muito obrigada por tudo!
- Estou aqui para dar o meu melhor! Boa noite!
Ela se retirou do quarto e Nick se deitou na maca comigo. O resto da família já havia ido para casa e só ele tinha ficado me fazendo companhia.
O dia amanheceu nevando e o frio estava extremo. Acordei com Denise entrando no quarto me dando bom dia carregando uma pequena mala.
- Trouxe as roupas da sua alta! – ela disse me dando um beijo no rosto.
- Obrigada tia Dê! – eu sorri.
- Eu vou falar com a doutora Montgomery enquanto você se veste, já venho amor! – Nick falou me dando um selinho.
- Ok.
Ele saiu, um enfermeiro veio me ajudar a tirar o soro e os medicamentos que estava nas minhas veias e só então eu pude ir tomar um banho tranquilo e me trocar sem ajuda.
Fiz questão de me maquiar, nada muito pesado, mas maquiagem o suficiente para dar um ar saudável ao meu rosto.
Coloquei uma calça jeans justa, uma bota se salto, uma regata, uma camisa xadrez fechada e uma jaqueta de couro marrom da cor da bora. Fiz um rabo de cavalo simples e sai do quarto até a recepção de encontro a Nick. Quando ele me viu sorriu.
- Você está linda! – ele disse.
- Obrigada! – eu sorri tímida.
- Olha só que paciente saudável eu tenho! – Addison disse – Tenho até orgulho de te dar alta.
- Se estou assim é graças a você doutora Montgomery!
- Por favor, sem essa formalidade toda, me chame de Addison! Apenas Addison!
- Tudo bem, Addison! – disse sorrindo.
Addison assinou minha alta e enfim eu pude voltar para a fazenda com Nick e Denise.
Fui recebida de volta muito bem. Frankie me entregou um buque de rosas vermelhas lindo, Kevin e Danielle me abraçaram apertado, Rachel me deu um cupcake cor de rosa pra comemorar, Paul me deu um abraço que quase me tirou do chão e Joe bagunçou meu cabelo e me abraçou depois. Ficamos um tempo conversando sobre a minha cirurgia, falei com meus pais por telefone, soube o dia que Nate iria chegar de viagem, liguei para o orfanato para falar com Aidan, comi o cupcake da Rachel, ri das piadas de Joe, e fiquei me distraindo enquanto o jantar estava sendo carinhosamente preparado por Denise.
A mesa foi colocada, e nós fomos chamados para o jantar as 19h em ponto.
Denise usava um avental xadrez vermelho fofo, que me fazia sentir a verdadeira Mama Jonas, a Denise mãe do Kevin, do Joseph, do Nicholas e do Frankie Jonas, e não a Denise mãe de três garotos super famosos.
Sentamo-nos a mesa como uma família completamente normal. Comida simples e caseira, sem decoração sofisticada, sem louças caras e talheres de prata, apenas pratos de vidro comum, copos normais com um pouco de suco de laranja e talhares de inox daqueles que a gente compra no supermercado.
Posso dizer com orgulho que foi um dos melhores jantares da minha vida. Não pelo tempero de Denise, que alias era ótimo, mas pela simplicidade e pelo carinho, pelas palhaçadas normais de toda família grande, pelas coisas bobas, pelas trapalhadas dos desastrados como eu tentando colocar a comida no prato e deixando cair metade da colherada na mesa.
Não estávamos cercados de fotógrafos, o que raramente acontecia, não era uma data especial, só estávamos em um dos últimos dias do ano, jantando em família. Aquela normalidade era assustadora e linda.
Conseguia me enxergar alguns anos depois, com os meus filhos, com os filhos de Kevin e os de Joe, todos juntos naquela mesma mesa, rindo e nos divertindo como uma família.
Ao pensar nisso, lembrei da minha cirurgia, me senti triste e magoada, foi como se a visão do futuro com meus filhos fosse apagada, e eu só podia ver uma mulher velha e desgastada sentando a mesa, vendo todos com filhos e se divertindo, e eu só, apenas com Nick, mas sem ninguém me chamar de mamãe, sem ninguém vendo Nick como herói, sem sorrisos angelicais, sem pequenas pessoinhas nascidas de mim.
Estava terminando o jantar quando deixei rolar uma lagrima. Todos na mesa me olharam e se entristeceram.
- Meu amor, o que houve? – Nick perguntou sabendo a resposta.
- Só lembrei do que Addison disse sobre filhos... Está tudo bem! – eu sorri falsamente.
- Querida, daqui alguns anos, terá uma criança nessa mesa te chamando de mamãe e sorrindo lindamente pra você... Não se entristeça por isso! – Denise disse convicta.
- Obrigada tia Dê! – sorrindo e enxugando as lágrimas.
Terminamos o jantar, e fomos para sala comer a sobremesa e tomar o tão famoso e delicioso cafezinho da Dani.
Escolhemos um filme para assistir, arrumamos a sala com almofadas, travesseiros e cobertores. Fizemos muita pipoca e chocolate quente. Fomos colocar nossos pijamas quentinhos e nos reunimos na sala às 22h para assistir o filme. Toda a família estava acomodada no chão da sala, cobertos e agarrados em seus travesseiros para assistir uma maratona de “Piratas do Caribe”.
Nick estava deitado encostado com as costas do sofá. Sentei ao lado dele e repousei a cabeça sobre seu ombro.
Ficamos acordados até às 4h30 da manhã assistindo, mas o resto da família já havia pegado no sono mais cedo.
- Está sem sono também? – Nick disse se ajeitando no chão.
- Estou... – me ajeitando com ele.
- Quer ver uma coisa? – ele disse no meu ouvido.
- Depende... O que?
- É surpresa... – levantando – Vem comigo! – me ajudando a levantar.
