- Esse cara se acha! – Rachel disse deixando o convite sobre a mesa.
- Ele se acha sim, mas não podemos negar que as festas dele são as melhores!
- É...
- O que você tem?
- Vou almoçar com Joe hoje pra conversar sobre a escolinha de Rose.
- Está com medo do que ele vai dizer?
- Estou. Mas já matriculei... Ela começa na segunda!
- Você é a mãe, tem o total direito de fazer o que quiser com Rose.
- Fala isso para o Joe! – indo pra cozinha fazer o café.
Nós preparamos o café juntas, tomamos na sala enquanto conversávamos. Rachel foi se arrumar e eu fui dar uma limpada na casa. Rose acordou chorando, peguei ela do berço e deixei ela brincando na sala enquanto arrumava a casa.
Na hora de Rachel sair Rose fez um escândalo. Não queria deixar a mãe ir por nada, é tanto que Rachel só conseguiu sair quando peguei Rose no colo e fui até a varanda com ela ainda chorando.
- Titia, eu quero a mamãe!
- A mamãe já vem meu amor!
Ela me olhou com cara de choro. Fui até a sala tentar distrai-la com alguns brinquedos e assim que ela começou a assistir um desenho eu voltei a arrumar a casa.
- Rachel narrando.
Peguei um taxi até o restaurante italiano que tinha marcado com Joe.
Quando desci do carro e tirei os óculos escuros vi Joe sentado numa mesa na varanda do restaurante. Ele estava bem vestido como sempre, calça jeans, tênis cano alto; camiseta branca e uma camisa xadrez azul. Os óculos estavam sobre a mesa e ele passeava o dedo indicador pela borda da taça de vinho.
Entrei no restaurante e o recepcionista me levou até Joe que se levantou gentilmente quando me viu.
- Boa tarde. – eu disse dando um beijo em sua bochecha.
- Boa tarde! – retribuindo o beijo e puxando uma cadeira pra mim.
Eu me sentei e recebemos o cardápio, fiz o meu pedido rapidamente, Joe fez o dele e pediu uma garrada de vinho.
- Estou feliz em estar almoçando com você, mas porque marcamos esse almoço? Rose está bem? – ele disse entregando o cardápio para o garçom.
- Está sim! – sorrindo – Está ótima... Eu que não estou muito bem há um tempo!
- O que você tem?
- Estou estressada Joe. Rose está mimada e vive dando trabalho e eu não aguento mais ficar o dia inteiro naquele apartamento.
- Mas você não tem porque ficar o dia inteiro no apartamento! Pode sair com Rose.
- Pra ela me dar ainda mais trabalho? Ficar com Rose infelizmente está se tornando um tormento.
- E o que posso fazer pra ajudar?
- Parar de mima-la e mandar Kevin e Danielle parar também. Com Julie eu conversei, dei uma bronca nela por estar deixando Rose tão mimada...
- Nós não a mimamos!
- Não... Sou eu que mimo!
- Tudo bem Rachel... Eu converso com eles e tento melhorar também, se o problema é esse.
- Obrigado! E tem mais uma coisa!
- Fala.
- Eu vou voltar a fazer minha faculdade e vou colocar Rose numa escolinha. Já matriculei, ela começa na segunda.
- Você o que? – ele falou irritando.
- Ela vai pra uma escolinha quer você queira ou não.
- Você não podia ter feito isso Rachel! Minha filha não vai para uma escolinha!
- Ela vai!
- Ela não vai! Ela não pode ir!
- Você diz isso porque sua vida continuou normal depois que ela nasceu.
- E a sua não continuou?
- Não! Eu tive que vir pra NY por causa da gravidez, eu tive que trancar a minha faculdade, e deixar todos os meus planos pra trás, pra viver cuidando dela.
- Você abandonou tudo porque quis.
- Eu abandonei tudo por sua causa! Eu pensei que você estaria sempre presente. Que eu ia poder continuar a minha vida, trabalhar aqui, e não ficar preocupada com quem deixar Rose.
- Desde o começo eu disse que não ficaríamos juntos.
- Mas não foi isso que disse na fazenda do Kevin no primeiro natal que passei aqui!
- Isso não vem ao caso agora!
- Isso vem ao caso sim! Porque você está querendo jogar em cima de mim uma culpa que eu não tenho!
- Ela não vai pra escolinha Rachel!
- Então é você que vai cuidar dela? Porque semana que vem eu tenho que resolver o assunto dos papeis da minha faculdade, vou transferir o curso pra cá e logo vou voltar para faculdade... É você que vai ficar com ela?
- Rachel...
- É você que vai ficar com ela Joe?
O garçom se aproximou da mesa para nos servir. Colocou delicadamente os pratos sobre a mesa e em seguida trouxe o vinho. Os olhos escuros e esverdeados de Joe me fitavam com raiva. Dei um gole no vinho e olhei para o meu prato. Estava com uma cara boa, mas a essa altura eu já tinha perdido a fome. Dei a primeira garfada e Joe também. Acabamos comendo em silencio.
- Quer alguma coisa de sobremesa? – ele disse dando o ultimo gole de vinho.
- Não. Eu quero ir pra casa!
- Não terminamos de conversar!
- Não quero terminar essa conversa... Não vai adiantar! – pegando a bolsa e me levantando.
- Rachel! – segurando meu braço – Eu te levo!
Ele me soltou, pegou a carteira no bolso de trás da calça, jogou algumas notas sobre a mesa e saímos. Ele abriu a porta do carro pra mim, eu entrei sem dizer nada, coloquei o cinto e abri o vidro.
Ele entrou em seguida, ligou o carro e saímos dali. Os dois emburrados e sem dizer uma palavra.
Quando chegamos em frente ao prédio eu olhei pra ele, ele batucou os dedos no volante e continuou encarando o carro da frente.
- Obrigado pelo almoço! – eu falei saindo do carro.
Desci do carro batendo a porta, subi os três primeiros degraus da escadaria do prédio e ouvi ele me chamar. Olhei pra trás e ele estava saindo do carro e vindo até mim.
- Não podemos deixar essa conversa inacabada Rachel! – ele disse se aproximando.
- Mas temos que deixar... Discordamos em tudo!
Alguns fotógrafos foram se aproximando. Eu olhei em volta, dei as costas pra Joe e entrei no prédio, Joe veio atrás.
Entramos no elevador em silencio.
- Rachel... Fala alguma coisa!
- Por quê?
- Elevadores... – ele sussurrou.
- O que? – olhei pra ele confusa.
- Precisamos conversar.
- Eu já falei que Rose vai para a escolinha e fim! – falei irritada.
Ele bateu o pé e fechou os olhos, se mexeu desconfortavelmente e continuou em silencio.
- Joe, eu estou falando com você!
Ele continuou mudo.
- Joe! – gritando – Está fazendo pra eu ficar com dó e dizer que Rose não vai mais pra escolinha? Por se for isso já vou avisando que ela vai e pra impedir isso você vai ter que passar por cima de mim!
Ele se virou pra mim de supetão, assustada eu grudei na parede do elevador olhando pra ele sem entender. Ele colocou as mãos apoiadas na parede me deixando entre elas e me olhou nos olhos.
- Joe? – eu disse com a voz falha.
Ele não respondeu, apenas aproximou o rosto do meu e me beijou com volúpia. Seu corpo grudou no meu me pressionando contra a parede. Sua ereção apertando a região abaixo do meu umbigo me fazendo sentir um calor desconfortável e excitante.
A porta do elevador se abriu, Joe se afastou e olhou para o lado.
- Rachel! – uma voz masculina disse enquanto eu me recuperava.
Quando olhei para o lado me deparei com Karev, parado feito estatua na porta do elevador. Ele olhou pra mim e depois pra Joe em silencio.
- Amor... Eu...
- De noite a gente conversa! Preciso ir para o trabalho agora! – ele disse secamente entrando no elevador.
Joe saiu de cabeça baixa e eu sai logo depois.
- SEU ESTUPIDO PORQUE FEZ ISSO? – estapeando Joe no corredor.
Ele colocou as mãos no rosto tentando se proteger dos tapas e se afastava de mim a casa tapa recebido.
- Porque eu precisava fazer isso!
- Ah, claro que precisava! Você não pode ver as pessoas a sua volta se dando bem que você tem que arranjar um problema.
- Rachel eu amo você!
- Me poupe das suas mentiras Joe! Eu não caio mais nessa... Você mude de opinião a cada meia hora, estava brigando comigo por causa de Rose, me jogando um monte de coisa na cara pra vim dizer que me ama?
- Mas...
- Mas nada! Vai embora daqui! Some da minha vida! Esse seu olhar doce e seu jeito meigo não vão funcionar pra cima de mim! – abrindo a porta – Quanto a Rose, ela vai sim pra escolinha segunda feira, se quiser ir vê-la eu te dou o endereço depois! Mas agora some daqui antes que eu arranque fora a sua cabeça! – batendo a porta na cara dele.
- Melinda narrando.
Karev passou depois do almoço em casa pra pegar alguns documentos do hospital, e tinha acabado de sair quando ouvi os gritos de Rachel no corredor. Continuei arrumando o armário da cozinha enquanto ela gritava irritada do lado de fora. Ouvi a porta de abrir, ela continuava gritando, olhei por cima do balcão da cozinha e vi Joe parado na frente da porta, voltei a arrumar as coisas e a porta bateu.
- Rachel? – perguntei fingindo não ter ouvido nada.
- Oi Mel! – ela respondeu jogando a bolsa no sofá.
Ela virou pra mim e finalmente vi seu rosto vermelho de raiva e seus olhos negros começando a inchar por causa das lágrimas. Ela correu até mim e me abraçou com força e em silencio.
Levou um bom tempo pra ela conseguir se recompor. Sentamos no chão da cozinha, entreguei um copo com água pra ela e só então ela começou a contar o que tinha acontecido.
- Briguei com Joe por causa da escolinha... Ele me trouxe em casa e resolveu subir, no elevador ele me beijou e quando a porta do elevador abriu Karev viu a gente se beijando. – contendo o choro – Eu não o entendo Mel... Eu tentei ser forte esse tempo inteiro, mas é só ele falar baboseiras e querer voltar pra minha vida que meu coração se desmancha todo.
- Você sabe que Joe nunca foi a melhor opção... Eu gosto dele, ele é como um irmão pra mim, mas quando se trata de amores ele se torna o destruidor de corações.
- E você acha que eu não sei disso? Guardei o amor que eu tenho por ele por todo esse tempo, e eu estava bem com o Karev... Mas o Joe...
- Chega de “MAS O JOE” – fazendo aspas com os dedos – Você tem que se importar com o Alex agora Ray... Ele foi traído, ele viu você e o Joe se pegando no elevador... Pensa em como ele deve estar se sentindo.
- Mas e o Joe?
- Rachel! – irritada, levantando do chão – O Joe é o galinha que te beijou, te engravidou, traiu você e acabou de te beijar na frente do seu NOIVO!
- Eu não sei não amar o Joe, Mel!
- Se quiser salvar o seu noivado você terá que aprender... Do contrario termina com o Alex, fala pra ele que nunca amou ele e manda ele embora... E corre para os braços do Joseph... De qualquer forma como sua melhor amiga, eu vou estar aqui quando Joe não te quiser mais... Eu sempre vou estar... Só não esquece que você não vai ter o direito de reclamar depois. – saindo da cozinha.
Rachel foi brincar com Rose e eu fui terminar de arrumar a casa. Terminei tudo as 18h, tomei um banho, e fui fazer minhas unhas. Rachel pediu comida chinesa pra gente e acabamos jantando na sala mesmo. Não tocamos mais no assunto Joe, mas eu percebia o quanto ela estava nervosa ao olhar de cinco em cinco minutos para o relógio. Provavelmente estava torcendo pra hora não passar, ela não queria encarar Karev, não queria aquela conversa porque sabia que ia fazer a escolha errada, todos sabíamos.
Karev chegou em silencio, brincou com Rose e me cumprimentou normalmente.
- Vamos para o quarto da dinda meu amor? – eu disse pegando Rose no colo – Vamos brincar de boneca!
Ela sorriu.
- Alex... Tem comida chinesa no microondas... – falei indo para o quarto.
- Obrigada Mel! – ele respondeu.
Chegando no meu quarto fechei a porta, abri a janela e as cortinas liguei a tv pra Rose assistir desenhos e continuei fazer as unhas.
- Rachel narrando.
Quando Melinda saiu da sala meu coração. Era a hora de fazer a minha decisão.
Karev se sentou no sofá e me olhou. Eu coloquei as pernas sobre o sofá me encolhendo toda.
- Pode começar! – ele disse.
- Eu sei que você está bravo, mas...
- Eu não estou bravo Rachel.
- Não?
- Não. Estou decepcionado e triste, mas querendo ou não eu sabia que uma hora isso ia acontecer.
- Como assim?
- Você e Joe sempre se gostaram... Só vocês dois não enxergam isso. Mas eu tentei, eu pensei que um dia você fosse começar a me amar como ama ele.
- Alex...
- Se eu estivesse bravo eu teria socado ele! – ele disse rindo de si mesmo.
“Claro que teria, você era um lutador de boxe antes de se tornar medico!” – pensei comigo mesma.
- Me desculpa? – segurando a mão dele – Me desculpa por todo esse tempo... A minha intenção nunca foi machucar você, te trocar.
- Eu sei que não. – apertando minha mão com carinho.
Seu olhar era terno, tranquilo. Ele me passava tranquilidade. Pensei que a briga ia ser daquelas se soltar faíscas como eram sempre as com o Joe, mas me enganei. Nem era um briga, estávamos conversando como dois melhores amigos. Acho que até conversando com Melinda as coisas eram mais fervorosas. Será mesmo que minha escolha era Joe? Começava a me sentir completamente confusa. Meus pensamentos estavam revirando meu cérebro.
- Você é uma mulher maravilhosa Rachel! – ele continuou – Sempre foi... Eu fico por isso ter acontecido, porque eu queria essa mulher maravilhosa que você é pra mim, mas seu coração não pertence a mim. Infelizmente seu coração é daquele cara ridículo que odeia relacionamentos sérios...
- Mas e se eu não quiser ficar com ela? E se eu escolher você?
- Você não vai! É ele que você quer e sempre quis... Não sou eu, é ele!
Eu o abracei com força chorando. Ele tinha razão, ele infelizmente tinha total razão.
Ele me soltou, olhou no fundo dos meus olhos e sorriu, soltou minhas mãos, segurou meu rosto e depositou um beijo em minha testa.
- Eu vou fazer minhas malas. – ele disse se levantando.
- Melinda narrando.
Uma semana se passou desde que Karev tinha saído de casa. Eu o encontrava todos os dias no hospital e aparente ele estava ótimo. Quem estava péssima era Rachel. Estava na fase critica de todo fim de relacionamento. De noite assistia uma comedia romântica estupida, chorava horrores e comia tudo que via pela frente. De dia ela estava ótima, passou a semana inteira saindo pra ir organizar as coisas da transferência da faculdade e os últimos documentos da nova escolinha de Rose que, aliás, estava toda contente com os novos amiguinhos.
Era sábado 20h da noite quando estava chegando em casa. Estava cansada e com o corpo dolorido quando vi os dois convites pretos sobre a mesa de jantar perto da varanda.
- Droga! – falei sozinha.
O celular começou a tocar na bolsa, joguei tudo em cima da mesa pra acha-lo e finalmente atendi. Era Nick:
- Oi amor.- ele disse.
- Oi, tudo bem?
- Tudo e com você?
- Tudo... To ligando pra perguntar se você vai pra festa do Chuck.
- Eu acabei de chegar em casa, estou cansada, vou tomar um banho e decidir isso.
- Me liga quando terminar o banho?
- Ligo.
- Te amo!
- Também te amo! – desligando.
Joguei as coisas dentro da bolsa de novo e fui para o quarto. Rachel parecia não estar em casa. Tirei as roupas no caminho para o banheiro, liguei a torneira da banheira para enchê-la, vesti um roupão de seda curtinho e fui pra cozinha comer alguma coisa.
Fucei a geladeira até achar uma tigela com um pouco de macarrão que Rachel tinha feito na janta de ontem, coloquei ela no microondas, comi e fui para o banho. Estava quase pegando no sono quando Rachel entrou no banheiro, animada e cheia de sacolas.
- Comprei um vestido lindo pra você usar hoje a noite! – ela disse soltando as sacolas no chão.
- Eu não vou! – eu disse tirando os fones de ouvido.
- Como assim não vai? É uma festa do Chuck, você TEM que ir!
- O que aconteceu com a Rachel depressiva?
- Ela ganhou um cartão platinum novinho e se tornou a mulher mais feliz do mundo! Agora sai dessa banheira e vai se arrumar.
- Rachel...
- AGORA MELINDA! – saindo do banheiro.