Fanfics Brasil - 8 Doce Inimigo - Diana Palmer

Fanfic: Doce Inimigo - Diana Palmer | Tema: livro original, romantico,


Capítulo: 8

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Capítulo Oito


Maggie sentou na cadeira ao lado de sua cama no escuro, durante horas, com uma dor mais  profunda  do  que  qualquer  outra.  A  crueldade  deliberada  era  quase  insuportável.  Ele sabia que  ia machucá-la. Ela  tinha visto a satisfação  nos olhos  de  jade. E tudo porque  ela atingiu seu ego. Por nenhuma outra razão do que essa. As lágrimas não pararam desde que ela fechou  a  porta  atrás  dela  para  este  interior  de  segurança  que  era  a  escuridão.  Não  tinha parado,  não  tinha  amenizado.  Nem  quando  bateram  na  porta  e  a  voz  hesitante  de  Emma chamou o nome dela suavemente. Nem quando ouviu duas vozes do lado de fora do quarto fechado, uma profunda, lenta e irritada e outra suave e suplicante.


Quando a primeira luz da aurora passou pelas cortinas brancas macias, ela ainda não


havia  se  levantado  da  cadeira  ou  dormido.  Seus  olhos  estavam  vermelhos  com  olheiras


escuras, o rosto tão branco quanto na noite anterior.


Automaticamente,  ela  começou  a  arrumar  suas  coisas,  calma  e  eficientemente,


separando  a  roupa  limpa  e  suja  na  única  mala,  reunindo  os  cosméticos  da  cômoda,  e  os produtos de higiene do banheiro. Ela não se permitia pensar. Nem sobre o que ela sentia por Clint, nem sobre o que ele fez com ela, nem sobre angustia de se afastar dele pelo o resto de sua vida. Mantinha sua mente longe e nada mais. Escapar era a única coisa importante em sua vida agora. Ela  queria  correr.  Sem  parar  para passar  uma escova nos  cabelos, ela  pegou  a mala e sem olhar para trás, fechou a porta.


—  Oh,  você  está  aí,  Emma  disse  em  um  tom  estranho,  hesitante  quando  Maggie


chegou ao fim da escada. — Pronta para o café da manhã, querida? Certamente você não vai


sair sem café da manhã?


Maggie não respondeu, fazendo um curto movimento com a cabeça, sem palavras. Ela


pegou o telefone e chamou um táxi com calma, consciente de que enquanto colocava o fone


no gancho, Clint tinha se aproximado pelo corredor.


Emma trocou um rápido olhar com ele e saiu do corredor, fechando silenciosamente a


porta da cozinha atrás dela com um clique macio.


Maggie pegou a mala e foi para a varanda da frente justamente quando Clint movia-se,


ficando em pé, parado na frente dela, com as mãos enfiadas nos bolsos da calça jeans. Seus


olhos estavam vermelhos, seu rosto pálido. Ela dispensou-lhe um olhar breve e frio antes de


desviar os olhos.


— Por favor, saia do meu caminho, disse ela em um tom aparentemente calmo.


— Eu quero falar com você, Maggie.


— Escreva-me uma carta, ela disse — Se você tentar, provavelmente pode me insultar


mais um pouco ao enviá-la.


— Maggie! gemeu, chegando a tocar seu ombro.


Ela  encolheu-se  dele como  se  ele tivesse  cortado  a  ela para  o  osso,  recuando,  com


amplas e ardor nos olhos. — Nunca mais faça isso de novo, ela sussurrou instável. — Nunca


me toque. Estou saindo de sua vida tão rapidamente quanto posso Clint, não é o suficiente?


Lágrimas nublando seus olhos. — O que mais você quer de mim, sangue? gritou ela.


Ele respirou profunda e lentamente. — Meu Deus, nunca quis machucar você… disse


num fio de voz rouca, algo escuro e sombrio em seus olhos enquanto procurava por seu rosto.


— Não, você não queria, não é? Ela perguntou amargamente. — Você queria arrancar


a pele de Lida, mas ela não estava aqui e eu estava. Talvez as coisas agora mudem, já que ela


vai voltar.


—  Maggie,  não  é  nada  disso,  pelo  amor  de  Deus!  ele  grunhiu  enquanto  ela  se


aproximava da porta. — Eu quero te dizer…!


—  O placar  está  igualado,  Clint,  você  disse  isso,  ela  afirmou  da  varanda,  os  olhos


acusando-o. — Não há nada mais que você possa dizer que eu queira ouvir. Você disse tudo a


noite passada.


Os olhos dele se estreitaram, como se sentisse dor, seu olhar procurando, calmo, como


se ele  nunca  a  tivesse  visto  antes  e não conseguisse  ver o  suficiente de  seu rosto. — Não,


querida, disse ele gentilmente. — Eu não disse tudo. Maggie…


O  som  alto  de  uma  buzina  de  carro  estacionando  no  caminho  que  levava  a  casa


interrompeu-o, e ela virou-se e começou a descer os degraus com uma explosão de alívio que


fez seus esbeltos ombros relaxarem. — Diga adeus a Emma, ela disse por cima do ombro, —


e diga a Janna que vou escrever!


Ele não respondeu, seu rosto moreno e imóvel, com os olhos pregados à forma esguia


que  entrava  no  carro  e  a  porta  que  era  fechada.  Viu-a  ir,  com  os  olhos  assombrados  e


torturados enquanto o táxi se desvanecia lentamente em uma mancha amarela na distância.


Emma saiu para a varanda, secando as mãos no avental branco. — O café da manhã


está pronto, ela disse suavemente.


Ele não respondeu, com os olhos perplexos, o rosto tenso.


—  Você  queria  que  ela  fosse,  Emma  lembrou-o. — Isso  foi  o  que  você  me  disse


ontem à noite.


Ele  se  virou  e  entrou  na  casa,  em seu escritório,  fechando  a  porta  atrás  de  si  com


firmeza. Com  um  suspiro,  Emma  voltou  para  a  cozinha, imaginando  como explicaria isso


para Janna.


Mais  tarde,  sentada  cansada  no  ônibus  para  Miami,  Maggie  lia  a  carta  de  Duke


Masterson pela terceira vez e agradecia silenciosamente ao grande homem moreno por  esta


saída. Ela  não  teria  suportado voltar  ao  apartamento  ainda,  enfrentar  Janna  e  as perguntas inevitáveis. A ferida estava em carne viva, muito recente para ser explorada. Em poucos dias, algumas  semanas…  ela olhou carinhosamente para a passagem da  prometida fuga. 


Era  um alívio  para  tanto  dano,  tanta  dor.  Philip, então  Clint…  especialmente  Clint.  Ela fechou  os olhos para as memórias amargas. Será que ela nunca se esqueceria de como ele a humilhou, nunca se recuperaria do duro golpe sofrido em seu orgulho?


Seus  olhos  se  voltaram  para  a  janela,  para  as  palmeiras  e  pinheiros  no  horizonte,


ocasionalmente uma casa era vista aninhada entre as árvores. As coisas estavam complicadas


agora. Ela não  seria capaz de  passar férias  com  Janna nunca mais se isso significasse ir ao


rancho e encontrar Clint. Seria pior quando ele voasse para a cidade a negócios e viesse ver a


irmã. Ela suspirou, cansada. Talvez fosse melhor se ela procurasse um emprego em Atlanta e


se afastasse de sua amiga de infância. Isso seria doloroso demais. Mas talvez, a longo prazo,


seria o melhor.


Ela inclinou a cabeça para trás contra o banco e fechou os olhos cansados. Parecia que


fazia muito tempo que tinha dormido, desde que tinha sentido alguma paz. Sua mente estava


cheia de Clint, dos velhos tempos.


Parecia que tinha sido há muito tempo que ela e Clint tinham sentado no balanço da


varanda  juntos  e  conversado  sobre  cavalos.  Ou  tinham  feito  longos  passeios  na  floresta,


ouvindo seus contos sobre os primeiros dias de exploração da Flórida quando canoas desciam


o Rio Suwan-nee em viagens de reconhecimento.


Ele  fez  a  Flórida  ganhar  vida  para  ela.  Podia  ver  o  orgulho  dos  conquistadores


espanhóis  que  vagavam  através  dos  bosques  as  margens  do  rio.  Podia  ouvir  os  tambores,


Seminoles ferozes, que nunca foram conquistados pelo governo dos  Estados Unidos,  apesar


de uma série de três guerras que ocorreram entre 1817 e 1858. Podia imaginar os navios que


partiam da costa arenosa da Flórida, com destino às Índias ou América do Sul.


Ela  suspirou.  Clint gostava dela quando  era uma criança.  Eles  haviam  sido amigos.


Mas agora ele era um inimigo, e todas as suas lágrimas não iriam mudar isso. Não depois do


que ele tinha feito a ela. Seus olhos fecharam-se pela dor da lembrança. Tudo isso tinha sido


realmente  necessário,  ela se  perguntava,  a  humilhação  que  ele  tinha lhe  causado? Por  que aquilo o  tinha incomodado tanto,  o que  ela disse  enquanto eles estavam  cavalgando, sobre sentir-se envergonhada pelo o que ele a fazia sentir?


Ela balançou a cabeça lentamente. Se ele queria envergonhá-la, tinha conseguido isso.


Mas o que a  tinha intrigado  era  o olhar no rosto  dele na  manhã seguinte, o  olhar  sombrio,


olhos verdes famintos que a viam sair do rancho. Seria culpa ou dor no seu olhar?


Suas sobrancelhas se juntaram. Ela perguntou o que Janna iria pensar quando chegasse


lá, ou até mesmo o que Clint diria a sua irmã sobre a história toda? Ela não tinha mencionado


que estava indo para Miami.  Ninguém sabia que ela tinha uma passagem para um cruzeiro.


Clint e Emma achavam simplesmente que ela estava indo para casa em Columbus. Bem, que


diferença faria, ela se perguntou, com os olhos na paisagem colorida fora da janela do ônibus


com o pôr do sol deixando belas  chamas no  céu. O dia tinha passado rápido, e logo Miami


estaria  à  vista  no horizonte. Ela  moveu-se impaciente  no assento confortável. Miami.  Será


que algum deles se preocuparia além de Emma e Janna? Bem, ela enviaria um cartão postal


da Grécia ou Creta para Janna ou de onde quer que ela estivesse. Janna e Emma, ela corrigiu.


Ela desceu do ônibus em Miami e tomou um táxi para Miami Beach, para a Avenida


Collins  que  era  repleta  de  suntuosos  hotéis.  Ela  parecia  uma  garota  do  campo  diante  das paisagens  e  sons  da  Praia  de  Miami  a  noite,  bebendo  o  cheiro  do  sal  do  mar,  o  glorioso colorido daquele lugar irreal sob as luzes da noite. Não havia estacionamento disponível no hotel que  ela tinha escolhido, então o  motorista deixou-a  na rua  movimentada e  entregou a sua mala.


— Cuidado com o trânsito, senhora, ele advertiu ao entregar-lhe o troco.


Ela acenou e sorriu. — Terrível, não? Ela riu.


— Não depois que você se acostuma. Ele sorriu enquanto ia embora.


Ela  levantou  a  mala,  ainda  sorrindo  enquanto  examinava  a  grandeza  e  a  riqueza


construída  pelo  homem.  Em  poucas  horas,  ela  estaria  em  um  navio  de  cruzeiro  rumo  ao Atlântico. Deixando para trás suas preocupações, suas tristezas, suas obrigações, apenas por pouco tempo.  Ela respirou  fundo o ar  quente do mar. Obrigado,  Duke  Masterson, disse ela em silêncio, sentindo uma pontada de tristeza pelo grande homem, o homem moreno que não estaria em algum lugar daquelas ruínas antigas esperando por ela.


Ela  foi  em  direção  ao  hotel  do  outro  lado  da  rua,  sua  mente  longe,  seus  olhos


desatentos. Ela  não percebeu  o carro potente  se  afastando do  meio fio com  um guincho de


pneus a poucos metros de distância. Não até que sentiu o impacto súbito e tudo girando em


uma dolorosa escuridão…


Sons iam e vinham em vagos fragmentos, de uma grande distância…


Várias costelas quebradas, lesões internas. — Ela não está respondendo.


— Ela tem que responder! Meu Deus, faça alguma coisa, qualquer coisa! Não importa


o quanto vai custar!


— Nós estamos fazendo tudo o que podemos,    claro.… Mas  ela não está  tentando,


veja. Tentando viver,  eu  quero dizer. A vontade de  viver pode fazer  a  diferença  em  casos


como estes.


As  vozes  desvaneceram-se e,  em seguida, uma  deles  voltou,  profunda  e  lenta, e ela


estava vagamente ciente dos dedos entrelaçados com os seus, segurando-os, acariciando-os.


— Fugindo de mim?  a voz rosnou. — É isso que você está tentando fazer, Maggie, fugir mais um pouco?


Os  olhos  dela  estremeceram,  suas  sobrancelhas  contraíram.  Sua  cabeça  moveu-se


inquieto sobre o travesseiro.


— Eu… não quero…, ela sussurrou meio consciente.


— Não quer o quê?


— Viver, ela admitiu. — Dói… muito.


— Morrer vai doer mais, foi a resposta curta. — Porque se você for, eu vou também.


Você não vai  me  escapar  dessa maneira. Então que Deus me  ajude, vou segui-la! Você me


ouviu, Maggie?


Sua cabeça movia-se de um lado para o outro. — Deixe-me… sozinha! ela sussurrou dolorosamente.


— Por que diabos eu deveria? Você não vai me deixar sozinho.


Os dedos foram apertados e ela sentiu ou pensou sentir uma onda de emoção que fluía


através deles, aquecendo-a, tocando-a, gentilmente segurando-a a vida.


Ela  lambeu  seus  lábios  secos  e  rachados.  —  Não…me  deixe  ir,  ela  murmurou,


apertando a mão em torno dos dedos fortes.


— Eu nunca deixarei você ir, pequena. Agüente firme, querida. Só agüente.


— Agüente…, ela respirava, e as trevas voltaram.


As  vozes  iam  e  vinham de novo,  ora  monótona,  ora  discutindo. Uma voz  feminina


participava,  articulada,  macia.  Era como uma sinfonia  de  sons  estranhos,  misturado com o


barulho de objetos metálicos, o frescor de toalhas, a sensação de água quente e mãos frias. E


aquela voz…


— Não desista agora, ele ordenava, e ela sentia os dedos fortes segurando os dela. —


Você  consegue  se  você  tentar.  Agüenta  firme!  Ela  respirava  breve  e  bruscamente  e  doía


terrivelmente. Ela fez uma careta com o esforço. — Ah, isso… dói! ela gemeu.


— Eu sei. Oh, meu Deus, eu sei. Mas continue tentando, Maggie. Vai ficar melhor. Eu prometo.


Assim,  ela  continuou  tentando,  desvanecendo-se  dentro  e  fora  da  vida,  até  os  sons


tornarem-se  familiares,  até  que  um  dia  ela  abriu  os  olhos  e  viu  os  lençóis  brancos  que


cheirava a medicamentos e viu a luz solar filtrada pelas persianas em sua cama.


Piscando,  os  lábios  rachados,  ela  olhou  para  um  rosto  pálido  e  abatido,  com  olhos


verde-esmeralda e cabelos negros desgrenhados.


Ela  franziu  a  testa,  entorpecida  de  analgésicos  e  sono.  —  Hospital?  ela  conseguiu


fraca.


Clint deu um suspiro profundo, pesado. — Hospital, ele concordou. — Ainda dói?


Ela engoliu. — Poderia…  água?


Ele  se  levantou  da  cadeira  e  derramou  água  e  gelo  em  um  copo  de  uma  jarra  de


plástico que estava ao lado da cama. Sentou-se na borda da cama, para levantar  sua cabeça


para que ela pudesse sorver a água gelada.


— Oh, isso é tão bom, ela quase chorou, — tão bom!


— Sua garganta parece ter serragem, eu imagino.


— Parece… areia do  deserto…,  ela corrigiu, estremecendo quando  ele colocou a de


volta no travesseiro. — Eu… tenho algo quebrado?


— Algumas costelas, disse ele.


O tom em sua voz a incomodou. — O que mais?


Ele passou a mão pelos cabelos densos e escuros. — Você teve um acidente infernal,


Maggie, disse ele calmamente.


— Clint, o que mais? gritou ela.


— Sua coluna, querida, disse ele gentilmente.


Com um sentimento de horror ela tentou mover as pernas… e não podia. — Oh, meu


Deus… ela sussurrou.


— Não entre em pânico, Clint advertiu, afastando o cabelo úmido de suas têmporas. —


Não entre em pânico. Não está quebrada, apenas machucada. Seu médico diz que você estará


andando novamente em algumas semanas.


Os  olhos  dela  se  arregalaram,  procurando-o  desesperadamente.  —  Você  não…


mentiria para mim?


Seus dedos roçaram o rosto suavemente. — Eu nunca mentiria para você. Não vai ser


fácil, mas você vai andar. Tudo bem?


Ela relaxou. — Tudo bem. Como eles… encontraram você?, perguntou ela.


Uma sombra de sorriso tocou-lhe a boca cinzelada. — A carta de Masterson, em sua


bolsa.Tinha seu nome e o endereço da fazenda nela, lembra?


Ela concordou, brincando com o lençol. — Eu estava…  pensando sobre  o cruzeiro,


quando o carro…


— Você poderia ter me dito para onde estava indo, observou ele.


Ela corou, desviando os olhos.


Ele respirou profundamente. — Pensando bem, disse rispidamente, — por que diabos


você deveria? Deus sabe  que  não lhe dei qualquer  razão para pensar que  eu me importava


com você, não é mesmo, Maggie?


Ela ainda não poderia lhe responder, as lembranças estavam voltando com pleno vigor


agora, ferindo, machucando…!


— Não, disse ele gentilmente. — Maggie, não olhe para trás. Vai precisar de toda sua


força para ficar em pé novamente. Não a desperdice comigo.


Ela respirava irregularmente. — Você está certo sobre isso, ela murmurou fracamente.


— Seria um desperdício.


— Estou feliz que você concorde, ele respondeu, sem nenhum traço de emoção em sua


voz profunda e lenta.


Ela estudou as mãos pálidas. — Por que você veio?


— Porque Emma e Janna não descansariam enquanto eu não viesse, ele rosnou. — Por


qual outro motivo?


—  Bem,  eu  vou  viver,  disse  ela  amargamente.  —  E  vou  andar.  E  não  preciso  de


nenhuma ajuda sua, então por que você não vai para casa?


— Não sem você.


Ela fitou-o, mas não havia nenhum indício de expressão em seu rosto moreno.


— No momento em que eu saísse, ele pensou, — você se entregaria a auto-piedade.


— Eu não faria isso!


Ele estendeu a mão e pegou seus frios e nervosos dedos. — Só vou te deixar no dia em


que  você  puder  andar  por  conta  própria,  disse  ele.  —  Isso  deveria  servir  de  incentivo,


feiticeira.


Feiticeira. Lembrou sem querer da última vez que ele lhe chamou assim, obrigando-a,


segurando-a, machucando-a, a boca firme criando sensações que caiam sobre ela como fogo.


— Você está corando, Maggie, ele brincou com suavidade.


Ela  puxou  a  mão  e  desviou  os  olhos  dele.  —  Eu  posso  ir  para  casa…  para  o


apartamento, ela vacilou.


— Não nessa vida, querida, disse ele, e ela reconheceu o tom obstinado em sua voz.


—  Nem  que  eu  tenha  que  amarrá-la  em  casa.  Janna  estará  em  férias  nas  próximas  três


semanas, e eu serei amaldiçoado se te deixar em um apartamento sozinha e desamparada.


— Não sou inválida!


— Não? ele provocou, com os olhos descendo pelo seu corpo.


Ela bateu na coberta com um impotente soco. — Eu te odeio!


—  Pelo  menos  você  não  está  indiferente,  ele  riu.  —  O  ódio  pode  ser  excitante,


pequena.


Por pouco, seus pálidos olhos não o queimaram. — Espere até eu voltar a ficar em pé!


Ele  apenas  sorriu,  inclinando-se  para  trás  na  cadeira,  a  tensão,  a  experiência  em


evidência. — Eu vou tentar, baby.


Alguma coisa na maneira como ele falou a fez corar.


O tempo passou  rápido  depois disso.  A  dor persistiu por  alguns dias, especialmente


quando eles cortaram os analgésicos, mas Clint estava sempre lá, desafiando-a lamuriar sobre


isso. Eles a encaminharam aos fisioterapeutas, e ele também estava lá, assistindo, esperando,


zombando.  Ela trabalhou  duas  vezes  mais  duro,  concentrando-se  nos  músculos  fracos  para fazer o que ela queria, usando a violenta emoção que sentia como um chicote. Ela voltaria a andar. Ela tinha que voltara andar, se não fosse por qualquer outra razão para provar  aqueles infernais olhos jades que poderia!


Finalmente chegou o dia, quando ela teve alta do hospital, quando a ciência médica já


tinha feito tudo o que podia. Ela olhou sobre a parte traseira do assento do táxi em direção a


imagem desvanecida de Miami enquanto chegavam ao aeroporto. E ela nem chegou a ver o


navio que faria o cruzeiro.


O vôo para casa parecia ter passado muito rápido. Clint relaxou enquanto pilotava o


pequeno avião monomotor, seus olhos atentos sobre os controles e os limites das pequenas


cidades,fazendas,  parques,  florestas  e rebanhos  de  gado  ao  voarem  sobre  aquela  paisagem através das nuvens.


Ela  olhou  para  Clint.  Será  que  ele  realmente  queria  que  ela  o  odiasse,  pensou,  ou


apenas  tinha  dito  aquilo  para  irritá-la?  Ela  se  lembrava  da  sua  própria  presunção  na


adolescência,  quando o  colocou em um pedestal  e fez tudo para adorá-lo.  Aquilo  devia  ter


sido  insuportável  para  um  homem  como  Clint,  sendo  seguido  por  aí  como  um  cão  de


estimação, como ele colocou antes que ela deixasse o rancho.


Seus olhos  se voltaram para a janela, olhando  para  as nuvens  inconsistentes.  Se ela


pudesse esquecer aquele comportamento idiota, se pudesse apagar tudo que tinha acontecido


entre eles, começar de novo e serem… amigos.


A palavra quase a sufocou, mas reconhecia tardiamente que era a única coisa possível


agora. Todas as pontes foram queimadas atrás deles. Ela tinha feito aquilo tudo por si mesma.


Enfim, ela pensou com um calafrio, Lida deveria estar de volta no rancho esperando


por ele neste momento. Ela só viu a mulher uma vez, mas tinha sido mais que suficiente. Isso


faria  sua  vida  na  fazenda  insuportável.  Foi  por  isso  que  ela  lutou  tanto  para  voltar  ao


apartamento. Mas Clint, como  de costume,  fazia tudo  do seu jeito, apesar  de todos  os  seus


esforços para contrariá-lo. Como nos velhos tempos.


Ela  olhou  para  as  pernas  inúteis  na  calça que tinha  usado  no  ônibus  de  Columbus.


Parecia  que tinha  passado muito tempo  desde que Clint  a tinha  colocado na  garupa  do seu


garanhão.


Foi o choque, os médicos lhe haviam dito, que causou esta paralisia temporária — o


choque do seu corpo, do seu sistema, da sua mente, e uma boa dose de lesões também. Pelo


menos  ela  tinha  sensibilidade  nas  pernas.  Mas  andar  ia  ser  outra  coisa  completamente


diferente,  e  estremeceu  mentalmente  com  o  que  estava  por  vir.  Teria  que  ter  uma


determinação  que  ela  não  tinha  certeza  se  possuía  para  fazer  os  músculos  se  moverem


novamente. E se  ela não tivesse?  E se os médicos  estivessem errados, e sua espinha dorsal


estivesse danificada? E se…


— Estamos em casa! Clint disse acima do ruído do motor, e alinhou o pequeno avião


em direção a pista de pouso.


Janna  juntou-se  a  eles  com  lágrimas  nos  olhos,  saltando  do  carro  quando  a  hélice


parou de girar.


— Oh, Maggie, estou tão contente de ver você, ela chorou, abraçando a amiga como


se ela voltasse do mundo dos mortos, em vez de Miami.


Maggie forçou-se a rir enquanto  dava um tapinha no  ombro  de  Janna.  —  Eu  estou


bem. Vou ficar bem. Pergunte a Clint se não acredita em mim. Ele confirma! ela murmurou,


fitando-o por cima do ombro de Janna.


Ele apenas sorriu. — Mexa-se, Janna, e deixe-me carregar este saco de batatas para o


carro.


— Eu não sou um saco de batatas, Maggie protestou quando ele passou os braços sob


ela e levou-a como uma pena para o banco do carro.


—  Mas  está parecendo, observou  Janna  brincando,  enquanto  abria  a porta  do carro


para Clint.


—  E  parece  estar  frita,  Clint  completou  ao  colocá-la  suavemente  no  banco.  —


Cuidado, Maggie, vai se chamuscar.


— Seu demônio, ela resmungou.


Seus  olhos  foram  deliberadamente  para  a  curva  suave  de  sua  boca.  —  Está  me


provocando, querida? ele perguntou em voz baixa enquanto Janna dava a volta no carro para


entrar.


— Não! ela sussurrou de volta.


Ele sorriu e fechou a porta. Deu a volta no carro, também, e abriu a porta a Janna. —


Fora, disse ele.


— Mas eu posso dirigir…! protestou.


— Não o meu carro, não comigo nele. Fora.


Ela deu um suspiro aborrecido e deslizou para perto de Maggie. — Eu odeio irmãos,


ela murmurou.


— Não era isso que você costumava me dizer, Maggie observou.


— Oh, cale a boca, a garota mais nova gemeu.


À noite, Maggie estava confortavelmente instalada no mesmo quarto de hóspedes que


ela  tinha  ocupado,  recostado  em  travesseiros,  rodeada  por  livros  e  revistas,  entupida  de


sopa,sanduíches e café quente.


— Mas, Emma, ela protestou, — você vai me estragar.


— Estou feliz por você ainda estar por aqui para ser mimada, veio a resposta de Emma


ao passar pela porta.


Janna sentou-se na cadeira ao lado da cama, rindo. — Você pode muito bem desistir.


Você sabe disso, não é?


Maggie sorriu em rendição. — Eu devia, eu acho. Janna…


— O que?


Ela olhou para suas mãos. — Lida ainda está aqui?


Janna olhou com espanto para ela. — O que você disse?


— Bem… Clint disse que Lida voltaria.


— O tolo! Janna se levantou e foi até a janela. Um forte e irritado suspiro passou por


seus lábios. — Ele nunca vai aprender, nunca! Por que ele a quer de volta aqui, justamente


agora? E quando ele lhe disse que ela voltaria?


— Na… segunda-feira depois que fui embora daqui, disse ela.


— Bem, ela não apareceu. Graças a Deus, Janna acrescentou com raiva. — Será que


ele não aprendeu ainda? Meu Deus, ela foi embora e casou com um velho rico… já o deixou?


— Foi o que Clint disse.


— Ele estaria melhor sozinho para o resto de sua vida. Oh, Maggie, porque os homens


são tão estúpidos? ela gemeu.


Maggie teve que sorrir pela sinceridade na voz suave de sua amiga. — Acho que Deus


os fez dessa maneira para que eles fossem vulneráveis as mulheres.


— As únicas mulheres que foram capazes de deixar meu irmão vulnerável poderiam


ser consideradas prostitutas, Janna resmungou. Ela olhou para o rosto oval sobre o travesseiro


emoldurado pelo cabelo ondulado. — Por que ele nunca te notou?


Maggie  alcançou seu café para impedir que Janna visse o rubor em seu rosto. — Eu


sou como sua irmã mais nova, você sabe disso, ela esquivou-se.


— Bem, não é  por falta de  esforço da minha parte,  Janna  admitiu.  Ela suspirou. —


Bem, precisa de alguma coisa?


Maggie balançou a cabeça. — Estou bastante mimada, obrigada. Não fique acordada


por minha causa. Já é tarde.


Janna inclinou-se para abraçá-la. — Estou muito feliz por você estar bem.


— Eu também. Só sinto por ter perdido o cruzeiro. Eu teria gostado muito… mesmo


que seja só porque Duke queria que eu fosse.


Janna sorriu. — Eu gostava demais daquele grandalhão. Boa noite, minha amiga.


— Boa Noite. A porta se fechou atrás de Janna e o quarto pareceu encolher. Ela pegou


uma revista e começou a ler, mas as palavras pareciam borradas. Com o silêncio e a solidão,


sua mente come ou a trabalhar, pesando possibilidades, se preocupando com as pernas…


— Não posso deixar você sozinha, Clint disse da soleira da porta, os olhos apertados


estudando seu rosto carrancudo. — Entregue a auto piedade de novo?


Ela fez uma careta para ele. — Estou apenas lendo essa revista idiota, ok?


Ele cruzou os braços sobre o peito e recostou-se contra a porta, só olhando para ela. —


Você estava lendo? Ou você estava se preocupando?


Ela suspirou. — Ambos.


Ele aproximou-se e jogou a revista longe. — Deite-se, disse ele, empurrando a sobre


os travesseiros para que ela deitasse.


— Tirano horroroso…! ela se irritou.


— Isso e muito mais. Aqui. Ele puxou as cobertas e enfiou-as embaixo de seu queixo.


— Agora vá dormir e pare de torturar a si mesmo. Tudo o que você tem que lembrar é que


você vai voltar a andar.


Seus olhos, arregalados e um pouco assustados, olharam para os dele. — Eu vou, não


vou,  Clint?  ela perguntou suavemente, deixando  cair as  barreiras  o suficiente  para  renovar


sua segurança.


— Sim, disse ele calmamente e com segurança.


Ela  relaxou  contra  os  travesseiros.  —  E…  Lida  chegar   em  breve?  ela  murmurou,


evitando os olhos.


— Lida?


— Sim. Você lembra, disse que…


— Deus, eu esqueci, disse pesadamente. — Ela ligou logo depois que fui para Miami


e  deu algumas desculpas para Emma sobre a mudança de seus planos,  dizendo que  ia para


Maiorca dessa vez. Nem me dei conta quando Emma me contou.Seus olhos de jade a fitaram.


— Você me fez passar por momentos infernais, Irlandesa.


— Sinto muito, disse ela baixinho.


— Mostre-me, ele murmurou profundamente inclinando-se sobre sua boca.


Ela olhou para ele abalada sem saber como tomar este gentil assalto, não sabendo se


poderia se atrever a levá-lo a sério.


Seu  dedo  longo  traçou a curva  suave  de  sua boca  trêmula.  —  Você  não  confia  em


mim, não é? perguntou ele calmamente.


Ela balançou a cabeça. Sem palavras, seus olhos mostraram a dor, a lembrança de por


que ela tinha ido embora.


Ele inclinou o rosto um pouco e sua boca roçou a dela suavemente, lentamente, em um


beijo tão carinhoso, tão admiravelmente carinhoso que trouxe lágrimas aos seus olhos.


Ele  recuou  e  procurou  seu  rosto  com  olhos  sombrios  e  intensos. —  Eu  tenho  uma


cabeça dura,  ele murmurou  distraidamente, —  e às  vezes é  preciso de  uma batida  infernal


para me atingir. Mas eu aprendo rápido pequena e não cometo os mesmos erros duas vezes.


Ela baixou  os  olhos  enquanto  as palavras  chegavam até  ela. Ele  quis dizer  que  não


estava mais brincando,  que  ele não iria incentivá-la a perder a cabeça. Isso deveria  fazê-la


feliz. Em vez disso, havia uma enorme nó na sua garganta.


— Eu estou… estou tão cansada, Clint, ela murmurou.


—  Sem  dúvida. Acariciou  seus  cabelos com  uma  mão  suave. —  Você  está  segura,


Maggie.  Não  vou  mais  pular  na  sua  garganta.  Nós  vamos  manter  as  coisas  a  um  nível


amigável a partir de agora. É isso que você quer?


— Oh, sim, ela respirou, e não olhou para cima a tempo de ver o pequeno tremor de


suas pálpebras.


— Durma bem, disse ele em um tom estranho, e tocando alegremente em uma mecha


de seu  cabelo, ele virou-se e deixou-a. Ela aconchegou-se nos travesseiros. No mínimo, ela


pensou  miseravelmente,  seriam  amigos  pela  primeira  vez  em  suas  vidas.  Talvez  isso


diminuísse um pouco a dor. E, de repente, talvez todos os lobos se tornassem vegetarianos.


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Autor(a): fanofbooks

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