Fanfic: Penumbra
Cheguei a Caracaí quase derretendo de suor, o calor infernal me dando vertigens – há tempos eu não me alimentava com sangue, principalmente humano. Desci do ônibus e entrei no primeiro hotel que avistei, parecia barato o que era bom já que queria preservar meus recursos.
Era 13 de Outubro e agora eu aparentava um pouco mais de dez anos, havia usado alguns meses para despistar aqueles a quem mais amava de me encontrarem, e também para colocar minha cabeça no lugar – meu aniversário de três anos havia passado em um longo passeio de trem – mas a recepcionista do hotel não pareceu estranhar eu estar desacompanhada. Peguei a chave pagando metade do valor do aluguel quase desmoronando, fazia tempo que não tinha uma boa noite de sono.
Tomei uma ducha rápida e gelada antes de desmaiar em um sono de dez horas. Quando finalmente despertei estava dolorida e fraca, mas algo fez meu coração saltar, não tinha acordado de forma natural. Havia dois homens no corredor planejando em tom sussurrado me assaltar e aquilo havia me despertado.
Sorri involuntariamente.
“Comida grátis”.
Aguardei atrás da porta que foi aberta com a chave – a recepcionista devia ser cúmplice.
Os dois homens adentraram silenciosamente encarando o volume feito de travesseiros embaixo dos lençóis, deixei que ficassem um segundo de costas para mim antes de acertar o mais próximo na cabeça com um bastão que carregava na bolsa. – mesmo uma garota meio vampira tem que se prevenir.
O segundo se virou com uma faca, mas ainda fraca eu era mais rápida que ele. Saltei em seu pescoço com um leve rosnado e mordi com vontade enquanto ele perdia o equilíbrio e caía no chão.
Dei um soco em sua cabeça para desmaiá-lo e atenta ao seu ritmo cardíaco suguei até sentir-lo mais lento. Depois que parei limpei a ferida e alterei suas memórias apagando a cena e montando um ataque na mata próxima, o difícil seria arrastá-los, mas agora pelo menos eu estava alimentada.
Sentei na cama pensando no que poderia fazer quando um barulho me fez olhar para a janela assustada. Quase caí pra trás: Nahuel estava empoleirado na balaustrada como um grande pássaro.
- Caralho! – disse enquanto me certificava que meu coração continuava no lugar dentro das costelas.
- Olá pra você também. – disse em português.
Seu perfil era incrível diante da Lua Cheia que iluminava em cheio a janela do quarto. Quem se colocasse à disposição de lançar olhares nessa direção iria ter uma bela surpresa.
- Visitas interessantes. – apontou com a cabeça. Fiz uma careta.
- É. Então, não tá a fim de me dar uma ajuda?
- É claro. – ele disse sorridente. Que estranho, havia alguma coisa errada...
Fiquei encarando enquanto ele colocava o primeiro homem facilmente sobre o ombro direito e pegava o segundo no colo com a mesma facilidade.
- Hunf. Ainda bem que tive um bom jantar. – resmungou.
O que era? O que estava me incomodando?
- Você... Está diferente do que me lembro – eu disse.
Ele se virou para mim, seus olhos brilharam no escuro, algo malicioso.
- Você também. – sentenciou sem esclarecer.
- O que eu faço com eles? – mudou a conversa.
- Jogue-os na mata. – ordenei.
Ele me encarou fixamente um minuto, um arrepio percorreu minha coluna, lembrava o olhar de um felino.
- Eles não vão se lembrar de nada – enfatizei.
Ele parecia intrigado, mas agilmente – com uma velocidade que me estonteou – pulou pela janela e sumiu na escuridão.
Apenas alguns minutos se passaram até ele retornar. Eu havia me trocado durante sua ausência e aguardava sentada em uma cadeira.
Pulou para dentro do quarto sem nenhum ruído e segurou meus olhos com aquele olhar tão diferente do que eu me lembrava.
- Podemos ir? – finalmente disse.
- Sim. – eu peguei minha bolsa e abri a porta.
Ele cruzou os braços.
- Aonde você vai?
- Eu tenho que pagar o resto...
Ele riu. Uma risada estranha que me ofendeu.
- Elisa mandou aqueles homens atrás de você e ainda quer pagá-la?
Endureci.
- Se eu não pagá-la irão desconfiar de mim, entendeu?
Ele então deu de ombros.
- Como quiser, esperarei lá fora.
Eu desci e com ar indiferente paguei à recepcionista que pareceu espantada, mas não disse nada.
Nahuel me esperava na esquina, os braços nus cruzados no peito enquanto se apoiava com os ombros em um poste de luz.
Eu não sabia dizer se ficou ali propositalmente para que eu pudesse observá-lo melhor, só sei que foi isso que fiz.
Continuava tão bonito quanto eu me lembrava. A luz acertava em cheio seu rosto redondo de pele acobreada e seus olhos ocres amendoados pareciam dançar em minha direção.
Ele devia ter quase um metro e oitenta e seu corpo me lembrava o de um nadador profissional já que apesar de esguio os seus músculos eram tão destacados que eu conseguia distingui-los embaixo da camiseta branca, com suas costas largas e quadril mais estreito.
Diferente da massa de músculos de certo alguém que tinha o quadril reto e os braços como toras... Mas por que diabos eu tinha que me lembrar disso nessa hora?
A longa trança de cabelos negros estava sob seu ombro esquerdo o que fazia destacar talvez mais fortemente o formato masculino de seu rosto. Porém antes havia uma tristeza quase inocente em seus olhos e agora ele tinha um ar cruel e malicioso... De onde vinha aquela mudança?
Eu sabia que ele era velho – mais antigo que meu pai – mas como poderia alguém mudar tão drasticamente em tão pouco tempo?
Ele esperou eu retornar para seu rosto depois de medi-lo e deu um sorriso meio violento em retribuição – digo isso por causa do olhar que acompanhava o retorcido da boca. Que estranho, chacoalhei a cabeça confusa. Valeria à pena continuar aqui? Eu estava curiosa o suficiente, mas de repente parecia arriscado.
- Gosta do que vê Anhangá?
Eu inspirei e soltei de forma lenta. Talvez fosse mais difícil do que eu pensava.
- Ainda não sei. E se não se importa, pode não usar palavras que não conheço?
- Ah. Eu me importo sim. – sorriu de novo e me dando as costas começou a andar sem esperar. Depois de um segundo de surpresa eu o acompanhei infeliz.
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Caminhamos certo tempo por dentro da mata permanecendo em silêncio. Ele se movia agilmente, afastando os galhos e os soltando logo em seguida sem se importar nem um pouco comigo que vinha atrás. Eu segurei os xingamentos dentro da minha cabeça e continuei andando cada vez mais irritada. Pernilongos voavam ao redor da minha cara, o que tinha piora ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 1
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nina00 Postado em 22/12/2015 - 21:39:59
Bom, estava terminando de postar essa fic neste site por peso na consciência já que eu havia abandonado por um tempo. Porém já que não há comentários acho que estou perdendo meu tempo. Postarei este capítulo e deixarei por uma semana, se eu retornar e não houver comentários deixarei por isso mesmo... infelizmente.