Fanfic: Penumbra
Eu ouvi alguma coisa, o que foi isso? Um murmúrio...
- Você venceu Nessie...
Jake? Tenho certeza que é o Jacob. Onde ele está? O que é isso na minha boca? O que estou fazendo?
Pisquei duas vezes. Ouvi um gemido e abri meus olhos.
Eu estava sugando algo que era bom, na verdade era maravilhoso... Eu estava caçando? Ouvi de novo um gemido baixo e parei com muito custo, me afastando.
Um ombro?
Afastei mais... Sim, era um ombro. Pisquei de novo. O cheiro, eu conheço esse cheiro... Mas...
- Jacob?!
Jacob estava deitado embaixo de mim, seu rosto abatido. Na verdade meus joelhos estavam apoiados em seu peito e minhas mãos estavam segurando seu pescoço e um dos braços.
- É, sou eu. O que restou de mim. – sussurrou.
Contemplei seu rosto, chocada.
“Que merda?”
- Jake? Merda! Eu fiz isso?
- Ei. Pirralhas não podem xingar. – o sussurro quase não permitia a repreensão se manifestar.
Coloquei minha mão sobre a ferida dele, tentando estancar o sangue.
- Pára de brincar! Eu fiz isso?
- O que você acha? – a voz dele estava sem humor.
Olhei em volta. Era noite, eu estava na margem de um lago enorme, grandes montanhas se estendiam à minha esquerda e eu não fazia idéia de que lugar era aquele.
- Caralho, onde a gente tá?
Ele fez uma careta, mas não falou nada do meu linguajar de novo.
- Alaska.
- Alaska?
- Yep.
Minha mente começou a trabalhar e me senti meio quente. O que diabos eu tava fazendo no Alaska?
Então me lembrei.
A Impressão. Jacob e Bella. Eu fugindo e caindo na floresta com a dor e depois o nada.
Ainda segurando a ferida dele olhei para baixo, para mim mesma. Eu usava o que foi uma bermuda um dia, estava toda suja e rasgada. Havia muito sangue nela, muito mesmo. O tecido que era jeans estava praticamente marrom-avermelhada. O pior é que eu sabia que todo o sangue era meu.
Minha menarca havia chegado.
“Eba!” Uma parte da minha mente exultou sarcástica.
Também usava uma camiseta de manga comprida que estava em estado de calamidade... Mas o mais impressionante era que eu estava vestindo uma espécie de pele de algum animal preso nas costas, como uma capa. Eu sabia também que eu tinha feito isso, matado um animal e tirado a pele.
“Quanto tempo deve ter passado?”, eu recordava desse período como flashes de imagens. Este meu cérebro tinha feito um excelente trabalho para anular minha dor – mesmo que para isso eu tenha perdido a consciência.
Percebi que eu estava fedendo pra caramba também. Passei uma das mãos em um gesto involuntário na minha cabeça. Meus cabelos estavam totalmente indomáveis, cheios de objetos-não identificados.
Soltei um suspiro exasperado e embaixo de mim Jacob riu baixo.
- Você teve um chamado da selva ou algo assim? – ele perguntou.
Eu o encarei por um instante ainda em cima dele, finalmente compreendendo sua presença...
Eu soltei a ferida, já estava cicatrizando.
Ignorando o comentário suspirei um pouco aliviada.
- O que você veio fazer aqui? – perguntei, fixando novamente em seus olhos. Claro que eu já sabia a resposta.
- Vim arrastar você de volta para casa. – respondeu sorrindo.
“Ele ainda está fraco” ponderei. Não havia movimento perto de nós.
- Onde estão os outros?
- Você só vai ficar me fazendo perguntas?- agora ele parecia magoado.
Continuei encarando seu rosto esperando a resposta. Ele desviou o olhar.
- Somos só eu, Leah e Brady.
“Isso é bom”. Meu raciocínio foi rápido, apenas um alívio momentâneo pelos Cullen não estarem com ele.
“Edward os impediu”, pensei. Assim que assimilei isso vi que era verdade. Não me senti grata, porém.
Percebi que Jacob analisava meu rosto e voltei a olhar para ele.
- Você tá tão diferente...
Continuei com a expressão impassível enquanto a emoção tomava meu corpo. Eu tinha que fazer alguma coisa... Talvez... Era isso. Eu ia fazê-lo esquecer que tinha me encontrado, como tinha feito com Leah antes.*[1]
Abaixei-me em sua direção e toquei seus ombros, ele parecia curioso, mas não disse nada.
Concentrei-me então no que tinha que fazer: “Você não me viu aqui”.
Repeti a imagem dele parado sozinho no lago em minha mente e senti o calor costumeiro passar por minhas mãos em direção a ele. Vi que não deu certo por que ele continuou a me olhar, só que agora intrigado.
- O que foi isso? – balbuciou.
“Merda”.
Meio desesperada tentei então substituir a memória por uma falsa. “Você foi atacado por um urso.” Tudo bem, eu sabia que a imagem era ridícula, mas era a única que tinha aparecido na minha cabeça naquele momento.
Repeti o método e senti de novo a memória correr de mim para ele. Dessa vez eu quase consegui acompanhar o procedimento, como se pudesse sentir a memória atingir o seu cérebro.
Jacob piscou.
- Não! – ele gritou, e me afastou com um empurrão.
Saí de cima dele com raiva, me levantando.
Ficamos em silêncio por um momento, eu de costas para onde ele continuava deitado.
- Foi isso que você fez com a Leah, não é?- adivinhou.
Virei pra ele, chispas em meus olhos. Ele sorriu pra mim parecendo estar se divertindo de verdade.
- Tá achando engraçado é?
- Tô sim. – ele então pareceu cansado, como se rir tivesse tirado suas forças.
Fui para junto dele, como se tivesse sido puxada.
- Como diabos eu consegui fazer isso com você?
- Me pegou desprevenido.
“O Ho ho ho ho!”.
O grande Jacob Black, lobo Alpha pego desprevenido... Dessa vez fui eu que não pude deixar de rir.
Ele fechou a cara, ofendido. O que me fez rir mais.
- Sabia que você fica muito bizarra rindo com o rosto todo sujo do meu sangue?
Ele disse isso como se tivesse comentando o clima que faria no dia seguinte, apenas um leve acento de ironia.
- Opa. Foi mal.
Caminhei até o lago para me lavar e então tomei um susto. Uma criatura alienígena estava refletida na superfície sem ondulações. Ajoelhei-me e encarei atenta.
Eu positivamente parecia assustadora. Meu cabelo estava como uma juba gigantesca envolvendo minha cabeça em um capacete natural, folhas e pedaços de outras coisas que eu agora não queria observar saia do emaranhado de fios.
O formato da minha cara tinha mudado já que as bochechas flácidas agora estavam menos aparentes e a linha do meu maxilar melhor delineada, o meu olhar era um pouco duro. Meu rosto estava sujo até o nariz do sangue de Jacob, como uma pintura vermelha de guerra.
Algo estranho me tomou quanto vi seu sangue. Senti uma coisa em meu baixo ventre, um tipo de arrepio gostoso. Ergui minha mão molhando os dedos no líquido ainda fresco e o cheirei. A essência dele estava ali, algo como uma mistura de madeira e um toque de alguma coisa picante. Parece loucura, mas aquilo era inebriante.
Lambi com prazer que me fez tremer.
- Nessie? – ouvi sua voz baixa atrás de mim.
Olhei de novo para o reflexo antes de me lavar. Eu gostava daquela criatura muito mais do que da que tinha visto meses atrás no espelho de Rosalie*[2] e não sentia nenhuma culpa por isso.
Voltei a caminhar na direção de Jake um pouco risonha. Quando o alcancei me sentei ao lado do seu corpo ainda estendido, enquanto sentia o calor natural dele na minha pele. Tentei respirar o mais vagarosamente possível e desviei o olhar do peito nu para a cara dele.
- Espero que você não esteja fazendo isso sempre.
- Isso o que?
- Atacando humanos. – ele estava sério, as sobrancelhas unidas em reprovação.
- Não, eu saberia.
- Como? Você quase me matou agora pouco!
Eu não gostei disso. Desviei o olhar para longe.
- Eu nunca tinha me sentido assim antes, saberia se já tivesse acontecido.
Ele bufou para o ar vazio em reprovação evidente, mas eu sabia que acreditava em mim.
- Onde está o resto do bando? – voltei a olhá-lo.
Aquilo era ruim, cada segundo ao lado dele e me sentia mais e mais atraída. Meus sentidos estavam se preenchendo com sua essência – cheiro, sangue, gosto, toque, voz – tudo junto flutuando pra dentro de mim.
- Eu pedi pra eles não virem comigo.
Fiquei surpresa, sabia que isso queria dizer que ele usara a voz de Alpha.
- Isso foi estupidez. – declarei um pouco ríspida demais.
- Eu não acho. Se eles tivessem vindo teriam atacado você.
- Leah teria me atacado. – consertei.
Ele suspirou.
- É.
- Afinal, por que ela me odeia tanto?
- Ela não odeia você... Ela odeia a Impressão.
“Somos duas” Pensei, mas continuei esperando o resto. Ele entendeu minha curiosidade (como sempre entendia) e voltou a falar.
- Ela e Sam eram namorados e então Sam teve a Impressão por Emily.
- Puta merda! – soltei, ele não gostou e franziu as sobrancelhas.
- Quem mais? – questionei.
- Quem mais o que? – ele estava se fazendo de desentendido.
- Quem mais teve a Impressão? – fiz entre dentes.
Ele desviou o olhar para o céu.
- Quill teve por Claire, Jared por Kim, Embry teve por Joyce*[3] e Paul por Rachel. – citou de má vontade. Senti um calafrio involuntário, conforme ele nomeava aquelas pessoas pude identificar a Impressão fazendo seu papel para uni-los.
- E você por mim. – completei laconicamente. Ele não disse nada e atravessamos mais um minuto de silêncio. Comecei a sentir suas forças retornando pelo seu tom de voz.
“Preciso agir”.
Aproximei-me dele lentamente.
Os meus sentidos estavam umas mil vezes mais latentes, todo o meu corpo retinindo de energia. Fiquei surpresa de não soltar raios pela pele.
- Você vai voltar comigo. – ele disse em tom de declaração enquanto apontava em minha direção. Fiquei dura de raiva.
- Não. Eu não vou.
Encaramos-nos diretamente, a raiva e frustração dele quase me atingiram fisicamente.
- Por quê? – finalmente ele quebrou a corrente de olhares malvados.
- Se você está perguntando é por que não entende. São muitos motivos.
“Inclusive o de manter minhas mãos afastadas de você” completou uma voz na minha mente. Eu chacoalhei minha cabeça como se pudesse apagar a frase, eu não podia fazer nada quanto a isso.
Decidi que aquela era a hora, me agachei em sua direção rapidamente e segurei sua cabeça com ambas às mãos. Minha respiração acelerou com a proximidade, mas ele apenas pareceu surpreso.
- Desculpe Jacob... – sussurrei. Então levantei sua cabeça quase ao alcance do meu rosto e depois, antes que ele pudesse perceber minha intenção, lancei seu crânio contra o chão com força.
Ele desmaiou na hora.
Sufoquei um soluço de culpa, eu sabia que minha energia vinha do sangue dele, nunca teria essa força natural para nocauteá-lo. Verifiquei sua cabeça, mas não tinha sinal de sangue em nenhum lugar onde eu tinha batido.
Provavelmente ele iria acordar em pouco tempo, completamente furioso comigo. Encarei seu lindo rosto e lentamente me abaixei, os lábios dele estavam entreabertos como se estivesse dormindo. Absorvi seu hálito como uma droga por um segundo, não tinha ideia de quando o veria de novo.
- Eu amo você. – declarei calorosamente para seu corpo desacordado. Isso eu agora sabia com toda a certeza.
Então me ergui e dei exatos cinco passos para me distanciar dele. Fechei meus olhos e me concentrei na vegetação ao redor, meus sentidos estavam maravilhosamente ampliados captando toda a sorte de ruídos ao redor. Consegui escutar uma movimentação constante de algo correndo em volta do lago.
“Leah”.
Aspirei e confirmei minha opinião pelo olfato. Brady estava diretamente alguns metros à minha frente. Esperei Leah atingir um ponto em sua corrida circular em que não pudesse me alcançar e quando ela estava longe o suficiente eu corri na direção de Brady.
Felicitei-me pela velocidade, nunca tinha corrido tão rápido em minha vida (poderia ter apostado com Edward), quando alcancei o grande lobo cor de areia imóvel eu o contemplei um segundo.
- Se transforme. – ordenei.
Ele hesitou e depois estava nu na minha frente. Eu nunca tinha visto um homem nu antes então me permiti um olhar curioso e rápido em suas particularidades. (apenas para checar se era igual aos desenhos, ok? Eu estava cu-ri-o-sa!). Voltei então ao “modo frio”.
- Os Cullen vêm atrás de mim?
- Edward os convenceu a não virem. – ele respondeu de má vontade.
Eu assenti, era como eu pensava.
- Ele e Bella pediram para te entregar isso. – ele pegou algo no chão e identifiquei a bolsa que Alice me dera. Não olhei para ver o que tinha, estava sintonizada na corrida de Leah cada vez mais próxima.
- Que dia é hoje? – perguntei enquanto colocava a alça da bolsa por dentro do braço.
- Três de novembro. – fez de forma automática, ele não parecia nem um pouco á vontade comigo.
“Tenho dois anos agora”. Haviam se passado quase três meses desde que eu tinha saído de casa, já que foi no dia 11 de agosto, um tempo que eu não guardava nenhuma memória... Conseguia perceber que tinha crescido por que estava mais próxima do queixo de Brady.
- O que você vai fazer Renesmee?
Então, quando ele me perguntou isso à coisa mais estranha do mundo aconteceu. Como se tivesse armazenado há tempos no meu cérebro a resposta que eu tanto procurava apareceu.
A resposta - para o significado da Profecia que o velho Quil Ateara tivera para uma criança de fora da tribo.*[4]
A resposta - para o problema que era eu não conseguir mais ficar perto de quem eu amava sem machucá-los.
A resposta - para o que meu futuro reservava.
Meu motivo, minha missão, minha justificativa.
Assim que ela me veio a soltei:
- Eu vou destruir os Volturi antes de eles virem atrás de nós.
Um alívio tomou conta de mim, era bom ter um propósito. Podia captar todas as implicações envolvidas naquilo vagamente.
“Agora não” forcei contra meu entusiasmo, tinha muito que pensar e aquele momento não era exatamente apropriado.
O rosto de Brady foi tomado pelo choque, sua pele avermelhada ficou tão pálida pela descrença que pude percebê-lo mesmo no escuro.
- Você o quê?!
Ignorei completamente sua reação.
- Brady... Sabe por que eu não posso alcançar a mente de Jacob? Por que não posso mudar suas memórias?
Leah estava quase perto agora. O ruído de suas patas cada vez mais alto, ela era realmente muito rápida.
Eu sabia que estava perdendo tempo, mas provavelmente era a última vez que conversava com alguém familiar e uma parte indomável de mim queria aproveitar.
Brady não tinha ideia do que eu estava falando. Aproximei-me dele, ainda naquela velocidade estonteante.
- Por causa da maldita Impressão. – declarei, e sabia que era verdade. Por isso ergui apenas um dedo para tocar sua testa e faze-lo esquecer completamente aquela conversa antes de partir.
[3] Personagem inventado pelas autoras. Para mais informações favor consultarem Umbra – Cap.10 – O Velho Quil.
Prévia do próximo capítulo
O mundo real pode ser duro para uma garota de sete anos, isso eu posso dizer. Os meios que utilizei para alcançar a Europa aparentando essa idade são fáceis de descrever, no entanto. Por que eu não tinha sete anos (apesar de aparentar essa idade) e não era uma garota. E tinha poderes que se mostravam cada vez mais úteis, conforme a ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 1
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nina00 Postado em 22/12/2015 - 21:39:59
Bom, estava terminando de postar essa fic neste site por peso na consciência já que eu havia abandonado por um tempo. Porém já que não há comentários acho que estou perdendo meu tempo. Postarei este capítulo e deixarei por uma semana, se eu retornar e não houver comentários deixarei por isso mesmo... infelizmente.