Fanfics Brasil - 2 - Velho Mundo, Novo Mundo Penumbra

Fanfic: Penumbra


Capítulo: 2 - Velho Mundo, Novo Mundo

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O mundo real pode ser duro para uma garota de sete anos, isso eu posso dizer. Os meios que utilizei para alcançar a Europa aparentando essa idade são fáceis de descrever, no entanto. Por que eu não tinha sete anos (apesar de aparentar essa idade) e não era uma garota. E tinha poderes que se mostravam cada vez mais úteis, conforme aprendia como poderia utilizá-los.


 


Aprendi, por exemplo, que criando uma memória falsa poderia ir a uma Central de Ajuda a Crianças de uma cidade e fazer um funcionário de alto cargo pensar que eu era órfã e tinha parentes em outro continente sem eu ter documento algum para prová-lo. Podia também fazer essa pessoa convenientemente esquecer-se disso depois de ela providenciar uma viagem para essa órfã chamada Vanessa Wolfe.


 


Da mesma forma poderia pegar um trem e atravessar alguns países até me estabelecer na Irlanda.


 


Larguei meus documentos em meio à viagem e decidi parar de usar esse nome antes que os Cullen me rastreassem demais.


 


Apresentei-me em um Orfanato na Irlanda apenas um mês depois de encontrar os Lobos no Alaska, antes disso logicamente percorri alguns países com o fim de despistar qualquer um que me seguisse.


 


Como órfã decidi ser melhor fingir uma deficiência física e inventei que era muda para não correr o risco de parecer muito estranha aos humanos soando avançada demais para minha idade.


 


O oficial que alterei a memória para me levar ao Orfanato declarou me achar nas ruas sem nenhum registro. Perguntaram-me meu nome e demonstrei com os sinais que me chamava Scarlett (E O Vento Levou era realmente um dos meus favoritos).


 


O Orfanato Saint Patrick era um prédio anexo a uma igreja católica, sendo dirigido por freiras e um sacerdote, estava localizado em uma cidade de médio porte ao norte de Dublin.


 


Eu tinha curiosidade com relação à religião e como afetavam os humanos e minha estadia ali só poderia esclarecer as coisas. A linguagem de sinais, por ser universal, facilitaria a comunicação também - eu não denunciara ser de outro país por causa de algum sotaque.


 


Fui apresentada no primeiro momento a uma freira de alguma idade, ela era a administradora geral do prédio. Quando entrei em seu pequeno escritório com o Oficial-de-memória-alterada ela estava sentada atrás de uma mesa de mogno muito antiga. Apesar de pequeno o recinto era bastante organizado e varri o local com os olhos um minuto antes de me lembrar a ter um comportamento mais infantilizado.


 


Crianças não olham daquele jeito lugares estranhos.


 


O oficial partiu depois de uma conversa curta e a velha senhora me encarou com olhos perspicazes em que reluzia o verde contra a enrugada pele branca.


 


-          Scarlett está correto? – começou.


 


Eu assenti confirmando.


 


-          Esse não é seu nome de verdade. – não era uma pergunta.


 


Eu sustentei seu olhar e não respondi. Ela me avaliou atentamente antes de desviar o rosto para a documentação de “transferência” em sua mesa.


 


-          Espero que não me dê problema Senhorita Scarlett.


 


“Espero que você também não me dê nenhum, Megera Enrugada.” pensei, enquanto sorria e declarava com gestos não ter intenção de dar problemas.


 


Ela entendeu e chacoalhou a cabeça antes de baixar os olhos novamente. Um minuto depois alguém bateu na porta, a Megera pediu para que entrasse e uma freira mais jovem abriu e obedeceu. A freira jovem chamou a mais velha de Madre e por um tempo eu pensei que esse era o nome dela (eu realmente não entendia nada desse tipo de coisa), mas mais tarde descobri que era Ruth. A mais jovem que acabara de entrar se chamava Éster.


 


Éster me levou para a cantina onde encontrei os órfãos residentes. Eram poucos, exatamente 22 comigo – descobri, mais tarde também, que essa era a lotação máxima do lugar – onze garotos e onze garotas que variavam dos seis aos quinze anos. Com dezesseis as crianças eram autorizadas a procurar um trabalho fora do orfanato sendo chutadas para o mundo como adultos.


 


O cheiro dos humanos não era mais tão poderoso para mim, com isso quero dizer que a minha garganta arranhava como se eu tivesse enchido a boca com sal e engolido enquanto tentava sorrir e falar, mas eu tinha me acostumado com a sensação. Desde sempre eu tinha vivido com a tentação dos humanos, era só uma questão de ignorar.


 


Eu não estava com muita fome por que tinha feito uma excelente refeição antes de ser trazida, fiz o Oficial me pagar o café-da-manhã de um rei antes de me levar ao Orfanato. – ele ganhava muito bem e não sentiria falta.


 


Caminhei até o final do corredor entre as grandes mesas até alcançar a mais vazia, então me sentei carregando a bandeja cheia de comida que não cheirava nada bem.


 


Havia ignorado os olhares e comentários ao redor, e fingi não ver os outros que estavam na mesma mesa que eu. Minha audição continuava a funcionar bem demais apesar disso e fui brindada com sussurros indiscretos assim que me acomodei.


 


-          Metida? – considerou uma voz que carregava um tom grave de mais idade.


 


-          Tímida? – fez uma segunda voz mais fina, porém ainda de garoto.


 


-          Precavida – enfatizou uma terceira voz, igualmente masculina em um tom de certeza.


 


Surpreendi-me um pouco e levei meus olhos para a ponta esquerda onde estavam falando. Foi uma ideia idiota já que humanos não poderiam ter escutado aquilo, mas minha curiosidade já tinha me dominado.


 


As mesas eram compridas e retangulares com apenas dois longos bancos de cada lado, os três garotos que tinham falado estavam exatamente na ponta esquerda da minha mesa.


 


Vi um garoto maior sentado no banco do outro lado, era meio desengonçado e cheio, daquele jeito que não era nem gordo nem musculoso (só uma massa), ele tinha os cabelos loiros raspados. Seu perfil mostrava bochechas grandes e lábios grossos que me fizeram pensar em buldogues loiros.


 


Outro garoto estava no mesmo banco que eu (de frente ao buldogue maçudo) e era menor - aparentava dez anos - seus cabelos eram igualmente loiros, mas um pouco compridos, com a franja cobrindo parcialmente seu rosto. Ele tinha o corpo mirrado e o nariz arrebitado.


 


O terceiro garoto sentava na ponta da mesa e olhava diretamente para mim, seus cotovelos estavam apoiados no tampo, às mãos fechadas e o rosto apoiado nelas. Quando viu que eu encarava afastou o rosto das mãos – para eu olhar melhor? – mas não sorriu. Seus olhos eram fundos e o rosto era estranho para um garoto, muito duro, a pele retesada. Uma cicatriz cortava o lado esquerdo afundando a pele de sua bochecha de maneira estranha. Os olhos eram azuis e frios e os cabelos negros e cacheados.


 


Desviei o olhar e ouvi ele se levantar, caminhou por trás da mesa e se sentou calmamente na minha frente.


 


-          Você vai comer isso?


 


A voz dele era ainda um pouco aguda daquela forma cantada de falar de alguns irlandeses, mas tinha a rispidez cortante de um adulto.


 


Eu levantei meu rosto da minha bandeja encarando de novo e sacudi a cabeça em negativa. Ele virou para os outros dois e fez um gesto, eles se levantaram e se sentaram ao seu lado esquerdo de frente para mim.


 


O da cicatriz puxou a bandeja e colocou em frente aos loiros sem nem mesmo olhar a comida, como se fosse ele que estivesse dando a eles.


 


Agora defronte podia dizer com certeza que os loiros eram irmãos, os olhos de ambos eram castanhos com sobrancelhas espessas. A similaridade acabava ali, já que o garoto menor tinha um olhar assustado de pintinho fora do ninho e o do cabelo raspado aquele olhar distante e preguiçoso. Enquanto eles comiam o da cicatriz continuou encarando.


 


-          Você é “A Muda”, não é?


 


Peguei-me pensando em filmes de cadeia que eu tinha visto com os Cullen. Será que esse moleque ia tentar me atacar com um garfo?


 


Eu sinalizei perguntando se ele era “O da Cicatriz” já imaginando os apelidos dos outros dois.


 


-          Acho que sou. – ele se atreveu a dar um sorriso que parecia estranho naquele rosto. Que quebra-cabeça mal montado era esse garoto.


 


-          Sou Ethan e estes são Daniel e Patrick.


 


Eu abanei minha cabeça em um cumprimento enquanto repetia em minha mente: Cicatriz, Buldogue e Passarinho.


 


Chacoalhei a cabeça e voltei aos negócios, perguntando onde ele tinha aprendido a linguagem de sinais.


 


-          Por aí. – e deu de ombros.


 


Certo. Eu estava meio impaciente, queria ir para o quarto e descobrir como sair à noite sem ninguém notar. Eu tinha que descobrir um jeito de ir á biblioteca no outro quarteirão para fazer minhas pesquisas (esse também era um dos motivos que me levaram a querer morar ali) e  também tinha que caçar.


 


-          Você não é daqui. – de novo aquele tom de certeza.


 


Voltei a olhá-lo.


 


“Que te interessa?” pensei irritada, mas não respondi nem reagi.


 


Ele pareceu achar graça.


 


-          Qual o seu nome?


 


Eu respondi o nome que tinha me dado.


 


-          Que falta de imaginação... – comentou como se estivesse desapontado. - Mas ao mesmo tempo confirma que não é daqui.


 


Ok, minha idéia de nome fedia, eu tinha entendido agora.


 


Dessa vez eu me levantei, não sem antes lhe dirigir um gesto multicultural que o fez sorrir novamente.


 


A tal irmã Éster já estava vindo ao meu encontro e felizmente pareceu não notar meu dedo médio levantado. Seu rosto cheio de sardas parecia ser bondoso, um sorriso fácil preenchia seus lábios.


 


-          Vou te levar ao dormitório. – declarou.


 


O dormitório feminino continha exatas 11 camas simples com apenas uma coberta fina e para minha alegria ela me deu a cama perto da janela.


 


-          Infelizmente essa é a única disponível, mesmo tendo a janela fechada há uma constante corrente de ar.


 


Pensei mais uma vez na desgraça de ser humana e sem dinheiro. Sentia alívio e raiva ao mesmo tempo.


 


Eu tinha visto pobreza enquanto vivi nas ruas, - passei alguns dias dormindo a céu aberto enquanto viajei alguns países até chegar aqui (não queria que me rastreassem através dos quartos que poderia alugar) - mas talvez ainda tivesse muito que aprender.


 


Finalmente dei de ombros mostrando que não me importava com aquilo, eu não poderia cuidar de todos os problemas do mundo, já tinha minha própria tarefa impossível pra conseguir. Éster me deixou contemplando o céu pela janela fechada, uma leve brisa remexendo meus cabelos.


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 



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  A rotina no Orfanato era chata.   Missa de manhã que ia das seis da manhã até as oito praticamente, depois café (pão e leite), daí começávamos a ver as lições a partir das nove até as duas horas da tarde quando finalmente íamos almoçar – não pela comida, mas ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 1



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  • nina00 Postado em 22/12/2015 - 21:39:59

    Bom, estava terminando de postar essa fic neste site por peso na consciência já que eu havia abandonado por um tempo. Porém já que não há comentários acho que estou perdendo meu tempo. Postarei este capítulo e deixarei por uma semana, se eu retornar e não houver comentários deixarei por isso mesmo... infelizmente.


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