Fanfic: Penumbra
O Natal havia chegado e passado trazendo o frio e a neve para o orfanato. Eu ficava com pena das crianças menores que cediam ao frio e quase não conseguiam se mexer durante as tarefas, então gastei uma boa parte do dinheiro da minha família em “doações anônimas” de final de ano para tentar trazer pelo menos um pouco mais de conforto para todos a minha volta.
As lições, no entanto continuaram normalmente mesmo com as festas de final de ano. Imagino que quisessem que nós nos sentíssemos o mais ocupados possível para que não invejássemos as famílias unidas e felizes que comemoravam em alguma realidade paralela.
Devo dizer que não adiantou muito no meu caso: sentia uma falta imensa do conforto que tinha escolhido deixar, quase sentindo vergonha por isso.
Além da Madre Superiora Ruth e da irmã Éster ainda existiam mais duas freiras que ajudavam a coordenar o orfanato: Irmã Sarah e Irmã Judith. A primeira era de meia idade e magra, com rosto chupado e expressão azeda e a segunda tão volumosa quanto possível dentro do hábito, como se tivesse roubado toda a gordura da primeira.
A irmã Sarah era quem dava lições para nossa classe, mas ela não entendia a linguagem de sinais então eu tinha uma lousa para escrever minhas dúvidas ou respostas.
Falando em coisas patéticas...
Eu estava começando a odiar aquela mulher. Ela era impaciente e ríspida, tratava-nos como estúpidos ou com um tom de superioridade que eu nunca havia ouvido antes, humilhando sem se importar com o sentimento das pessoas e com uma veemência extrema. Entendi que ela realmente acreditava que estava certa e transmitia isso com uma espécie de energia maligna.
Antes de chegar a odiá-la tinha me surpreendido muito, eu tinha visto pouco do mundo e as pequenas coisas dentro daquela pequena sociedade que era o orfanato me impressionavam tremendamente, se pudesse existir alguém que encarnasse o contrário total do que era Esme irmã Sarah era a figura.
No começo eu não entendi como alguém que havia devotado a vida para uma divindade pudesse ser daquele jeito, mas depois eu percebi que simplesmente não me importava.
O momento que eu decidi que não importava foi na primeira aula depois do Ano Novo quando eu, em uma dúvida quando á lição de religião, perguntei como seria possível acreditar que uma mulher (Eva) convencida por uma cobra (que era Satã) pudesse ter feita algo de errado ao provar do Conhecimento e por isso ser expulsa de um Paraíso (de ignorância completa, quem ia querer viver assim?).
Quando a Cara Azeda finalmente entendeu o que eu disse – ou melhor, escrevi – seu rosto ficou vermelho como um tomate. Eu pude sentir seu coração acelerado da última carteira da sala.
- Criança perturbada! – sibilou, enquanto gotículas de cuspe voaram por seus lábios finos brilhando pra mim.
- Você está duvidando da bíblia? A palavra de Deus? – continuou.
“Que Deus que gostaria que nós vivêssemos na ignorância?” – escrevi.
Os olhos de Irmã Sarah quase saltaram em minha direção. Começou a caminhar para mim.
- O único Deus vivo... Aquele que deu seu filho...
Mas eu já havia escrito de novo.
“Então existiram outros deuses e esse o matou?”
Ouvi gargalhadas, mas eu realmente só estava tentando entender. Esme tinha me ensinado um pouco de religião, mas não tinha resposta para algumas das minhas perguntas e achei que Irmã Sarah poderia me explicar, afinal ela era uma freira!
Claramente me enganei.
Quando ela chegou à minha frente pegou minha orelha e tentou torce-la, foi um momento de desespero pra mim, não sabia o que fazer. Aquele palito de gente nunca iria conseguir fazer alguma coisa pra me machucar.
- O que foi cara de rato? Não consegue responder a uma simples pergunta? Que tipo de professora é você, afinal?
Mas Ethan não precisou continuar, Irmã Sarah já tinha se esquecido de mim e lhe bateu com a régua na bochecha direita deixando um vergão vermelho em seu rosto.
Ergui-me enfurecida, mas Ethan acenou levemente com a mão para eu parar. Ela estava de costas pra mim e eu poderia pular em seu pescoço num segundo... A sede estava mais poderosa só pela irritação que ela tinha me causado.
Com seus olhos presos nos meus ele me fez sentar de novo (sim, irmã Sarah ainda estava berrando com ele) enquanto respirava com dificuldade. Ao mesmo tempo em que eu tentava controlar o fôlego à minha volta os murmúrios dos alunos tomaram minha cabeça, ajudando a me distrair.
- Eles estão juntos?
- A Muda tem dono? Ela é bonita, mas é estranha...
- Ela me dá medo...
Fui ficando mais calma, os olhos fechados. Ethan foi levado para a sala da Madre Ruth e só pude vê-lo na hora de lazer, ele não foi ao almoço ou ás lições da tarde por que estava cumprindo castigo.
Eu o esperei no corredor que levava dos escritórios para a cantina, estava dentro do armário de produtos de limpeza - era fácil se você era como eu. Quando identifiquei o barulho de seus passos abri a porta e o puxei para dentro.
- Caralho! – xingou de susto.
Esperei ele recuperar o fôlego.
- Obrigada. – eu disse em voz alta e de má vontade.
Ele se empertigou e me deu um sorriso caloroso.
- E não é que ela fala?
Prévia do próximo capítulo
Eu estava passando minhas noites pesquisando na biblioteca da cidade assim como o planejado, o problema é que infelizmente ainda tinha outras necessidades como dormir e caçar. Todas as noites eu aguardava todo mundo pegar no sono antes de finalmente atravessar a janela para a noite fria fora da propriedade. Normalmente de sete em sete dias me obrigava a sair pa ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 1
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nina00 Postado em 22/12/2015 - 21:39:59
Bom, estava terminando de postar essa fic neste site por peso na consciência já que eu havia abandonado por um tempo. Porém já que não há comentários acho que estou perdendo meu tempo. Postarei este capítulo e deixarei por uma semana, se eu retornar e não houver comentários deixarei por isso mesmo... infelizmente.