Fanfic: 1/2 Irmão | Tema: One Direction, Harry Styles

(Tattoo – Jordin Sparks)

Acordo com as batidas em minha porta.

- Quem é? – Eu bocejo.

- Sou eu, Harry.

- Entra Harry. – Eu grito.

Harry está vestido uma calça jeans preta e sua camisa favorita do Ramones. Pra onde esse doido está indo?

- Por que você me acordou tão cedo Harry? – Eu bocejo mais uma vez enquanto levanto da cama.

Harry vira-se e me vê apenas de pijama.

- Você ainda está assim? – Ele pronuncia com surpresa.

- Claro. – Esfrego os olhos. – Hoje é sábado.

- É? – Ele faz uma careta. – Pensei que era quarta-feira.

- Puta merda Harry! – Elevo as mãos à boca. – Que horas são?

- 06:45. – Ele vê em seu relógio.

- Eu estou mega atrasada. – Jogo as pantufas em algum lugar. – Você vai me dar uma carona não vai? – Eu peço docemente.

- Era minha intenção. – Ele sorri.

- Então senta na cama e espera que eu tome um banho bem rápido. - Eu corro para o banheiro.

Em menos de cinco minutos saio do banho. Harry está sentado na cama olhando uma de minhas revistas de unhas. Bicho gay!

- Pelo amor de Deus, o que eu visto? – Vasculho todos os cabides de roupas procurando algo que me sirva.

- Veste aquele vestido que a mamãe te deu de aniversário de dezoito anos. – Harry sugere.

Eu procuro mais um pouco e acho o vestido de ceda azul claro.

- Harry, isso parece roupa de festa. – Eu ergo a peça para que ele a veja.

- Parece nada. – Ele estala. – Coloca rápido senão vamos nos atrasar.

- Tá. Fecha os olhos pervertido! – Eu ordeno e Harry o faz. – Agora abre e me ajuda com o zíper.

- E aí? Como estou? – Dou uma voltinha exibindo meu presente de aniversário. Harry analisa-me minuciosamente.

- Gostosa. – Ele dispara e eu ruborizo totalmente.

- Para Harry. – Eu bato em seu braço. – Assim me faz ter duvidas de que você realmente é gay. – Ironizo.

- E eu não sou. – Ergue uma sobrancelha.

- É sim. – Insisto.

- Talvez um pouco, mas isso não vem ao caso. – Ele ri. – Vamos pra escola que eu ainda quero retocar a maquiagem.

Eu gosto quando meu meio-idiota-irmão é brincalhão. Ele pode ser um saco às vezes, mas quando me faz rir, mostra-me que eu posso estar enganada sobre ele. Talvez Harry não seja tão chato assim.

Nós estacionamos em frente à escola. Na sala de aula eu sou o centro das atenções. Provavelmente por conta do vestido de festa. Sento e assisto normalmente às aulas. Não incomodam-me os comentários desagradáveis que ainda pairam sobre o meu “relacionamento” com o professor Luke. Eu apanho minha mochila e deixo a classe quando é anunciado o fim da aula.

(Just the Way You Are – Bruno Mars)

- Oi Manu. – Niall aparece de repente me surpreendendo.

Deus, a aposta!

- Oi Niall. – Sorrio.

- Você está linda. – Ele pronuncia tímido.

Eu coro.

- Obrigada.

- Você gostaria de... – Ele passa a mão pelo cabelo.

- De pagar a aposta? – Eu completo. Ele franze o cenho.

- Bom, na verdade eu ia perguntar se você queria tomar sorvete. – Diz envergonhado.

- Ah Niall, desculpa. – Vergonha define. – É claro que eu aceito. – Dou-lhe um largo sorriso.

Caminhamos à sorveteria mais próxima de nosso colégio. Ela possui um dos melhores sorvetes da cidade. Eu amo vir aqui.

- Você vai querer de qual sabor? – Niall pergunta.

- Chocolate. – Eu sorrio. Cristo, por que eu estou tão feliz hoje? ­– E você?

- Eu não sei. – Ele olha indeciso para o cardápio. – Eu gostaria de um pouco de cada.

Eu rio.

- É impossível Niall.

- Eu sei. – Ele faz beicinho. – Me ajuda a escolher um sabor então?

Pedindo assim, quem se negaria?

- Eu gosto de morango. Você gosta?

- Muito! – Ele arregala os lindos olhos azuis.

- Vamos procurar uma mesa. – Ele sugere.

- Bom Niall, é que eu gostaria de sentar na praça aqui perto. Pode ser? – Falo sem jeito.

- Claro.

Andamos até à pracinha com nossos sorvetes na mão. Faz um dia lindo e o sol resolveu fazer uma visita a Londres. Niall aponta para um banquinho de frente ao lago.

- O dia está maravilhoso. – Eu afirmo.

- Com certeza.

- Niall, - Viro-me para que fiquemos quase frente a frente. – Posso perguntar uma coisa?

- Pode. – Ele faz uma pausa no sorvete e presta atenção em mim.

- É, por que você pediu para ficar comigo? – Droga de curiosidade!

- Por que você é especial. – Ele diz espontaneamente.

- Especial como? – Eu sussurro.

- Você não corre atrás dos caras, como as outras garotas do colégio. – Ele dá uma lambida no sorvete. – Eu admiro garotas como você.

Puta merda, eu devo estar da cor da bandeira da China.

- Niall, mas é que todos falam que eu saio pegan... – Niall cessa meus lábios com o dedo indicador, impedindo-me de concluir.

- Não tem importância. Você não é assim e eu sei disso. – Ele fala com convicção.

Droga, como ele consegue me confortar com sua sinceridade? É tão difícil encontrar alguém que não possua um conceito errado sobre mim. Eu simplesmente estou boquiaberta.

- Tudo bem Manu? – Ele pergunta tirando-me do devaneio.

- Ah, sim, sim. – Eu sorrio feito uma boba.

- Seu sorvete está escorrendo. – Ele avisa.

- Ai que droga. – Eu miro meu dedo banhado de coberta.

- Dá aqui. – Niall pega minha mão e eleva até a altura de sua boca. Ele lambe o caminho que o sorvete fez por minha pele. É a coisa mais nojenta e sexy que eu já vi e presenciei em toda a minha vida.

- Acho que melhorou um pouco. – Ele admira minha mão parcialmente limpa.

- Está ótimo. – Sorrio timidamente. – Obrigada.

Nossa conversa fluiu tão bem que mal percebi que já é tarde. Niall é um dos meninos mais encantadores que conheci. Apesar de ter metade das garotas aos seus pés, a popularidade não atingiu sua humildade. Ele continua o típico garoto brincalhão e fofo que admiro desde o primeiro ano do colegial. Nunca fomos amigos por conta da posse excessiva que Harry tem por suas crias. Ele não permitia que eu mantivesse qualquer tipo de contato com eles.

(Just a Kiss – Lady Antebellum)

- Já está ficando tarde. Você deve querer ir para casa. – Niall afirmou.

E a aposta?

- São 02:45pm. – Olhei decepcionada para a tela de exibição do celular.

- Eu te acompanho, se você quiser. – Niall deu-me um sorriso motivador.

- Está bem. – Sorri de volta.

O trajeto até minha rua é um tanto quanto longo. Aproveitamos para relembrar e rir de fatos que passaram-se durante nossos três anos estudando na mesma sala. O homicídio culposo do hamster do Harry. O primeiro dia de aula do professor Luke Evans. O dia em que Liam deu seu primeiro beijo. Ele é o nerd mais gato na minha opinião. O flagra de Niall pedindo para repetir o lanche após ter comido três vezes. Meu tombo na aula de Educação Física. A queda de Harry pela Senhora Charlott. A reação da velha quando descobriu que meu meio-pegador-irmão guardava fotos da mesma no armário. Minha estreia no musical de inverno e a primeira impressão que Niall teve quando me viu.

- Bom, chegamos. – Eu murmuro.

- Você mora em um lugar tão longe que nem o FBI a encontra. – Niall brinca quando paramos em frente ao portão.

- Você quer entrar? – Eu sugiro.

- Melhor não. – Ele passa as mãos pelo cabelo. – Eu tenho que ir.

- Mas o Harry deve estar lá em cima, vocês podem conversar ou jogar alguma coisa. – Procuro um pretexto para não deixá-lo ir agora.

- Eu passei a manhã vendo ele. Acho que não quero olhar para a cara do Harry pelo menos por umas oito horas. – Ele ri.

- Está bem. – Dou um sorriso fraco.

- Então já que você está em segurança no seu castelo tão, tão distante, acho que eu posso ir tranquilo. – Ele beija minha bochecha e vira-se em direção à rua.

- Espera Niall. – Eu peço. Ele retorna. – E a sua aposta com o meu irmão? – Não posso esconder o nervosismo em minha voz.

- Esquece a aposta. – Ele sorri. – Foi só uma desculpa para eu sair com você. Se eu pedisse pessoalmente, você talvez não aceitasse. – Ele olha para seus sapatos.

- Então você não quer me beijar? – Pergunto desapontada.

- É o que eu mais quero Manuela. – Ele levanta meu queixo com o polegar para que eu veja seus olhos.

Eu deslizo uma de minhas mãos pelo cabelo de Niall enquanto ele acaricia minha bochecha com o polegar. Examino cada traço suave de seu rosto. Ele é tão bonito, tão perfeito para mim. Minha cintura está envolta por seu braço. Nós estamos tão perto... Posso sentir sua respiração... Posso sentir seus lábios tocando os meus. Eles são suaves, macios, e me beijam de uma forma educada, comedida. Eu estou completamente envolvida por seu sabor doce. Eu não sabia que beijar Niall Horan poderia ser tão bom assim.

- É melhor eu deixar você entrar. – Ele sorri entre o beijo. Eu pressiono sua nuca para que voltemos a nos beijar. Eu não quero deixá-lo. Eu quero mais...

Niall aperta-me com mais força. A intensidade do beijo aumenta.

Alguém começa a buzinar nos interrompendo. Merda é o Harry! Ele nos olha fixamente com seus olhos verdes e cheios de raiva. Uma linha dura aparece em sua boca. Eu aposto o prêmio acumulado da megasena como deve estar morrendo de ódio. Foda-se o Harry e o carro dele. Eu não vou parar de beijar meu irlandês.

- Oi Harry. – Niall acena para o amigo.

- Oi. – Harry diz seco.

Nós damos passagem para ele e seu carro idiota. Harry nem sequer olha na minha cara. Não estou nem aí, volto a abraçar o deus grego de olhos azuis.

- Tenho que ir princesa. – Niall beija meu cabelo.

- Está bem. – Faço beicinho. Niall sorri.

- Foi ótimo ficar com você. – Ele dá um selinho e se despede.

(Together – Demi Lovato feat Jason Derulo)

Quando adentro na casa, um sorriso estúpido não consegue largar meus lábios. Pareço uma boba. Harry está na sala deitado no sofá assistindo a Saga Crepúsculo – Lua Nova. Eu deixo minha mochila na poltrona e gentilmente me aproximo dele. Sei que está se mordendo de raiva e eu como uma boa meia-irmã vou fazer com que esse sentimento aumente um pouquinho mais.

- Harry, me deixa sentar com você? – Encosto no braço do sofá.

- Não. – Ele continua olhando para a TV.

- Por quê? – Pergunto docemente.

- Porque eu não quero. – Diz sério.

- Você está com raiva de mim? – Agacho para que nossos olhares se encontrem.

- Eu sempre estou. – Ele desvia o olhar.

- Você não estava hoje de manhã. – Faço uma cara triste e olho para o chão.

- Eu fingi. – Ele dispara.

- Parabéns Harry Styles, você merece um Óscar. – Bato palmas.

Levanto e vou à cozinha. Meu meio-ciumento-irmão está realmente zangado. Meus métodos nada pervertidos não adiantaram. Talvez um sanduiche ajude. Abro a geladeira e pego os ingredientes para fazer um lanchinho para Harry. Eu nunca o agradei, mas estou tão feliz que poderia me pedir qualquer coisa que eu a faria.

- Toma Harry, eu fiz pra você. – Entrego o prato com o sanduiche.

- Eu não pedi nada.

- Estou ciente disso. Eu só pensei que você poderia estar com fome. – Falo magoada. – Vou deixar aqui em cima da mesa. Quando você quiser pode comer. – Eu abandono o prato e me viro para subir as escadas.

- Ei Manu, senta aqui comigo. – Harry pede.

- Melhor não Harry. – Dou um sorriso fraco. – Eu vou pro meu quarto.

Ligo o computador e logo no servidor de e-mail. Dois e-mails não vistos aparecem em negrito na minha caixa de entrada. Um deles é da USP. Eu o abro imediatamente. Puta merda, eles estão comunicando que passei no vestibular. Eu vou para o Brasil! Começo a pular feito uma louca. Não caiu a ficha de que daqui a três meses eu voltarei para minha terra natal. Para estudar Psicologia, o que sempre sonhei.

Retorno correndo para a sala. Tenho que dividir minha alegria com alguém.

- Harry eu passei! – Grito desesperada pulando em cima do meu irmão.

- Passou em quê sua louca? – Ele ri.

- Na USP. – Eu arregalo os olhos.

- Que porra é USP? – Ele me olha confuso.

- A Universidade de São Paulo seu lesado. – Saio de cima de seu colo e sento ao seu lado. – Aquela que eu fiz o vestibular quando fui ao Brasil.

- A faculdade brasileira? – Pergunta.

- Ela mesma. – Sorrio.

- Você não vai estudar lá não é? – Harry pergunta preocupado.

- Claro que eu vou Harry. Eu fui aceita. – Falo animada.

- Mas nós íamos para Oxford ano que vem. – Ele soa triste.

- Você pode ir sozinho. – Eu sorrio e dou um soco leve em seu braço.

- Eu queria que você fosse comigo. – Ele sussurra.

(Because of You – Kelly Clarkson)

- Tenho que voltar para o Brasil Harry. Não pretendo passar o resto da vida morando em Londres. – Tento parecer convincente. – Eu sinto falta da minha mãe. E além do mais você ficará bem melhor sem mim.

- Realmente é isto que você quer? – Seu rosto passou de preocupado para sério.

- Sim. Você sabe.

- Então tudo bem. – Ele respira fundo. – Arruma suas coisas e vai embora.

- Mas Harry, eu só pretendo ir ano que vem. – Soo preocupada.

- Eu gostaria que você fosse agora. – Ele estala.

- Harry, por que... – Eu sinto uma pontada no peito. Por que ele está sendo tão cruel comigo? O que eu fiz?

- Porque eu te odeio. – Ele completa.

Eu estou tão perplexa e sem chão que não consigo sair do sofá. O mundo está se abrindo e meu desejo é afundar em sua profundidade. O que eu fiz para ele me odiar tanto assim? Nunca me afeitei quando cansou de falar que me detestava, mas hoje é diferente. É como se ele estivesse me cortando, me torturando. É uma dor quase insuportável. Eu quero desaparecer e deixá-lo em paz. Talvez fosse mais feliz se eu não existisse ou se estivesse a quilômetros de distancia.

A droga das lágrimas começam sua jornada infinita pelo meu rosto. Estou chorando diante de Harry, o que eu mais temia. Ele se mantém impassível. Não fala, nem faz nada. Eu gostaria de deitar em seu colo e perguntar se ele só falou aquilo para me testar. Porém, ele foi sincero quando disse com todas as letras possíveis que me odeia. Sinto-me fraca, pequena, e acima de tudo rejeitada. Eu estou com pena de mim mesma.

Eu agarro meu travesseiro e choro silenciosamente no escuro do meu quarto. Agradeço por Anne não estar em casa. Ela me fuzilaria de perguntas. Não quero que saiba o motivo de eu estar morrendo internamente. Ponho minha cabeça entre as pernas e agarro meus joelhos. Talvez eu possa me esconder do mundo. Eu não desejo mais ser forte como Harry. Eu não quero herdar a pedra que tem no lugar do coração. Descubro que não o odeio. Eu tenho nojo dele. Como alguém pode ser tão mesquinho e só pensar em si mesmo? Eu quero me manter distante de Harry Styles. Eu quero esquecer que é meu meio-irmão.