Fanfic: Unidos por uma dor

                Lua, de fato, não conseguiu dormir naquela noite. Pensava em como poderia ser a vida de uma mulher rica. Apesar de não aprovar a atitude de Naldo em não contar-lhe sobre as investidas da mulher, ainda assim, se via maravilhada com a possibilidade de mudar de vida, mesmo que isso custe à vida de alguém, que ela pensava "já ter vivido demais". Por instantes começou a lembrar de sua infância humilde, sua família não tinha condições de oferecer o que ela queria. Roupas, sapatos, e tudo mais que ela via algumas meninas de classe mais alta usufruir. Sempre sonhou com os luxos que o dinheiro pode comprar, e por conta de sua ganância, não se conformava com a vida que seus pais levavam, e sempre culpava sua mãe por não ter tido melhores oportunidades na vida. 

                  - É tudo culpa sua, por ter se casado com um pobretão como meu pai - Era o que Luna não cansava de repetir para sua mãe.

                 A mãe de Lua, cozinheira de mão cheia, vendia doces e salgados na porta de casa pra ajudar na renda da família. Seu pai, um metalúrgico aposentado por invalidez, recebia uma pequena pensão que mal dava para as compras do mês. Lua se envergonhava da vida de seus pais, porém, jamais considerou a ideia de trabalhar para bancar seus luxos, que não eram poucos. Ela não aceitava ficar abaixo das meninas que conhecia, e sua mãe desdobrava-se com bicos e faxinas para dar tudo do bom e do melhor para sua filha.

                  Pouco depois de completar 16 anos, Lua foi convidada por uma das meninas mais ricas do colégio para uma festa em sua casa. Era tudo que ela sempre sonhou estar junto com pessoas de classe social alta, era onde ela tinha certeza que se encaixava muito bem. Nas semanas que se aproximavam do dia da festa, Lua fez com que sua mãe lhe desse todo dinheiro que tinha para comprar um belo vestido. Não poderia ser como os que ela tinha, tinha que ser especial, e especial para ela, era sinônimo de caro. Mais uma vez, sua mãe se rendeu a seus caprichos e economizou nas compras do mês, tirou de suas economias e Lua conseguiu o que queria. No dia da festa, ela estava linda. Nem parecia a mesma Lua de sempre. Ela se via como uma delas, e sonhava em um dia ser como elas. Misturou-se entre os convidados e logo se sentiu bem à vontade.

                   A noite fluiu muito bem até certo momento. Lua dirigia-se ao toillet quando no caminho se deparou com uma menina que ela odiava. Juçara era uma menina rica e muito mimada, e um dos seus maiores divertimentos era humilhar Lua, chamando-a de pobre e filha de cozinheira, tudo de que Lua se envergonhava. No momento que Juçara cruzou com Lua no caminho do toillet, imediatamente questionou:

                - O que essa filha de cozinheira esta fazendo nessa festa pra ricos? Seu lugar não é aqui, você cheira a gordura – Disse Juçara com veneno nos olhos.

                 Todos riram. Lua saiu correndo pra fora da casa, querendo fugir daquele lugar. Ao chegar lá fora, da um forte esbarrão em Naldo, que lhe segura e pergunta o que aconteceu para ela estar dessa maneira. Lua lembrava-se dele. Na verdade, o conheceu ainda na infância, mas nunca foram amigos. Sabia que ele era tão pobre quanto ela. Mas de alguma forma, seu gesto a tocou profundamente, e sem pensar duas vezes, ela o abraçou chorando muito, sabia que ele a entenderia.

              - Vamos sair daqui - ele falou.

                 E os dois saíram da festa e fizeram uma longa caminhada, se conhecendo profundamente. Naldo também era pobre, entendia o sentimento de Lua, porém, não tinha a mesma ganância. Da mesma forma que Lua, foi convidado por acaso a ir naquela festa. Mal conhecia os convidados, não faziam parte do seu núcleo de amizade. Naldo se apaixonou por Lua naquele instante, e se sensibilizou muito com o que fizeram com ela. Ele prometeu que jamais permitiria que alguém a magoasse daquela forma novamente, e sugeriu que fizessem um pacto. Lua adorou a ideia, e juntos juraram que jamais seriam humilhados, e que fariam de tudo para serem pessoas influentes, ricas e importantes.  Daquele dia em diante, jamais se desgrudaram.

CONTINUA