Fanfic: ♥ A Prisioneira do Pirata - Adaptada ♥ Finalizada ♥ | Tema: Vondy

As asas do tempo pareciam cortadas porque a semana se arrastava com desesperante lentidão. Dulce passou essa semana torturada, ainda que fez tudo o possível por não o demonstrar. Mas o passava muito mau de noite, e não podia ocultar seus olhos, enrijecidos pela falta de sono e pelas lágrimas.

Todas as noites permanecia desperta muito tempo depois que sua mãe tivesse dormido a seu lado, esperando e rogando que Christopher viesse procurá-la, que a arrastasse com ele para seu quarto. Tontamente imaginava que Christopher lhe pedia perdão, que lhe dizia que ela era a única mulher que ele desejava, que Beli não significava nada para ele. Mas suas fantasias não podiam durar muito tempo, porque a realidade voltava a sua mente e as lágrimas rolavam silenciosamente por suas faces. Depois de dormir sete noites no quarto de sua mãe, Dulce soube que Christopher não viria. Mas, por Deus, por que lhe doía tão terrivelmente?

Ninguém, exceto sua mãe, sabia onde passava suas noites agora, porque ninguém a via entrar nem sair do quarto de Blanca. Os outros supunham que nada tinha mudado, mas Christopher e Beli conheciam a verdade, pensava Dulce.

Supunha que Christopher sentia-se aliviado ao ver que ela não estava naquela primeira noite, porque dessa maneira não tinha tido que lhe dizer pessoalmente que outra mulher tinha ocupado seu lugar. Nem sequer se tinha aborrecido essa noite, nem nenhuma das noites seguintes, e isto era o que mais magoava a Dulce... Que ele pudesse esquecer-se totalmente dela.

Os dias eram muito duros porque via Christopher e Beli falando e rindo juntos. Mas Dulce mal podia suportar as noites, porque sabia que Beli estava em seus braços, que compartilhava o quarto com ele e que o fazia feliz.

Christopher estava todos os dias de muito bom humor sempre sorridente. Madeleine e Mayte não podiam entender por que Dulce se mostrava tão abatida nem por que Blanca olhava para Christopher com tanta hostilidade que ele encontrava divertida. E quando Madeleine perguntava a Dulce que lhe acontecia, só dava desculpas.

A última hora da tarde do oitavo dia depois da chegada de Belinda, Blanca encontrou Dulce junto ao pátio, olhando pensativamente ao formoso cavalo branco. Blanca Saviñon raras vezes perdia a paciência, porque era uma mulher calma por natureza, mas Christopher acabava de ordenar-lhe que levasse uma mensagem a Dulce. Blanca lhe tinha dito o que pensava dele, e ele se limitou a caçoar de sua ira. Blanca seguia alterada, mas ao acercar-se a Dulce, e atrair a atenção de sua filha, conseguiu controlar sua fúria.

- Christopher faz questão de que se reúna com todos à hora do jantar - disse Blanca , rangendo os dentes para não dizer mais.

- Para que me ignore como fez durante esta última semana? Não posso suportar o evidente prazer dessa mulher ao atrair toda a atenção de Christopher.

- Eu só transmiti sua mensagem - replicou Blanca. Depois adicionou pensativamente - Ele se sentia aborrecido ontem à noite quando não desceu para comer, e a mim pessoalmente me encantaria voltar a vê-lo irritado.

- Como me levanta o ânimo, mamãe - sorriu Dulce -, se esta noite tiver uma dor de cabeça, acredita que poderá trazer-me um pouco de comida?

- Com toda segurança - riu Blanca.

- Christopher está no salão? - perguntou Dulce, séria novamente.

- Sim.

- E ela...?

- Estava sozinho quando falou comigo - disse Blanca.

- Bem, devo pedir-lhe algo. Se não está de acordo, terei muitas dores de cabeça no futuro - disse Dulce com certo humor em sua voz.

- Que lhe pedirá?

- Deixe que eu fale primeiro com ele, mamãe, e depois lhe direi - replicou Dulce. Pôs-se a andar pela grama, enquanto sua mãe se perguntava que se proporia.

Quando Dulce entrou na escuridão do salão, sentiu-se desalentada ao ver que Christopher já não estava só. Estava de pé, de costas à lareira, frente a Beli, que estava sentada no sofá. Aléia acendia as velas do lustre.

Os olhos de Dulce se encontraram com os de Christopher, e o sorriso preguiçoso dele a decidiu a falar-lhe de imediato, mas quando se acercou ao sofá, pôs-se rígida ao ouvir a voz de Beli.

- Bem, é a futura mamãezinha.

Em outra ocasião, Dulce teria rido ante semelhante comentário, porque era mais alta do que Beli, mas neste momento não o encontrava em absoluto divertida.

- Espero que se sinta melhor hoje - continuou Beli, aludindo à ausência de Dulce a noite anterior.

Beli levava um formoso vestido de renda negro sobre uma anágua de seda da mesma cor de seus olhos. Estava formosa e o sabia, e lhe alegrou ver que Dulce o notava.

- Posso falar contigo... A sós? - Perguntou Dulce a Christopher com tranqüilidade, ignorando a Beli.

- Realmente deveria ensinar bons modos a esta moça, Christopher - comentou Beli, indignada.

- Tem razão - replicou Christopher, sorrindo -. Mas não agora.

Tomou Dulce pela mão e a levou ao pátio dianteiro, deixando Beli, furiosa, no sofá. Uma vez que se afastaram um pouco da casa, Dulce se deteve e o olhou.

- Christopher, quero que me libere de minha promessa. Quero ir-me da ilha agora.

- Eu acredito que sempre quis ir-se - disse ele com um sorriso zombador, com seus olhos cheios de alegria.

- Sim, mas...

- Por que teria de ser diferente minha resposta à que lhe dei da última vez que falamos disto?

- Você sabe por que! - gritou ela, e imediatamente seus olhos tomaram uma cor turbulenta -. Não tem nenhuma razão para deter-me mais tempo aqui!

- Bem, por que diz isso, pequena? - caçoou ele.

- Me permitirá ir-me agora?

- Não - replicou ele.

- Muito bem, Christopher - respondeu ela com frieza -. É teimoso, e sempre o foste.

- Me alegra ver que se rende tão facilmente - riu Christopher -. Agora, vamos, quase chegou a hora do jantar.

Tomou-a pelo braço para levá-la para a casa, mas ela se afastou dele.

- Não jantarei contigo esta noite - disse com altivez.

- Não? - arqueou as sobrancelhas.

- Creio que dentro de alguns minutos terei uma terrível dor de cabeça. Na realidade, creio que nos próximos dias terei muitas dores de cabeça e outros mal-estares.

- Não começará outra vez com este jogo, Dulce! .-disse ele severamente.

- Vai pro inferno! - lhe espicaçou ela, voltou-se e correu para a casa.