Fanfic: Vizinhos Íntimos-AyA {Finalizada} | Tema: AyA

A menina tinha os lábios da mãe. Por que não os vira em Clara? Talvez por ela não parar de falar, impedindo, assim, um estudo mais detalhado de suas feições. Apesar de idênticas, Beatriz tinha algo de diferente.
Suas almas eram diferentes, e isso era tão evidente para Alfonso como se as cores de seus cabelos, olhos e pele fossem distintos.
Beatriz emanava inteligência através dos poros. Poderia ter sido uma ótima atriz de cinema mudo. Ainda não pronunciara uma palavra, mas o belo rosto falava muito. Alfonso observou Clara se abaixar e conversar com o cão enquanto afagava-lhe as costas. A irmã acariciava a cabeça de Wilbur com movimentos suaves e delicados.
Seus olhos se encontravam com os de Alfonso de tempos em tempos, como se estivesse pedindo permissão para brincar com o cachorro. Era cautelosa, cuidadosa e contida, bem diferente de Clara, que agia primeiro e deixava as conseqüências para lidar depois.
Espantou-se ao perceber que as personalidades das meninas espelhavam a sua. Clara, viçosa, exuberante, representava seu passado, enquanto Beatriz, quieta, introvertida, representava seu presente. Alfonso entendia as duas, mas sentiu-se mais atraído pelo olhar de Clara.
Perdido em seus devaneios, demorou a notar que Clara lhe fazia uma pergunta.
- O que você disse?
- Posso pegar um cubo de gelo?
- Um cubo de gelo? Para quê?
- Olhe... - Clara apontou para a irmã, que bocejava.
- Ela está tão cansada.
- Mas para que você quer um cubo de gelo?
- Nós não dormimos quase nada a noite passada. Mamãe deixou que dormíssemos com a porta da varanda aberta, mas a tela está um pouco rasgada. Os pernilongos entraram e nos picaram tanto... - Esticou o braço para mostrar as marcas. - Coça muito. Mamãe falou para não coçarmos as picadas, mas eu não agüento. Então? Posso pegar um cubo? Mamãe falou que o gelo alivia a coceira.
- Claro, pegue - disse Alfonso.
- Venha, Beatriz - chamou Clara, apanhando-lhe pela mão -, a cozinha é por aqui.
Alfonso teve de sorrir. A pequena já conhecia sua casa.
Olhou para o cão, que se aborrecera com a falta de atenção.
- Vá atrás delas, garoto.
Wilbur obedeceu e foi para a cozinha.
Ainda sorrindo, Alfonso escutou uma suave batida na porta. Virou-se e deu de cara com Anahí.
- Elas estão aqui, não é?
-Sim.
- Posso entrar? - perguntou, com a mão na maçaneta.
- Por favor.
- Estou tão envergonhada, Sr. Herrera ... Nem sei o que dizer. Deve me achar uma péssima mãe, que não consegue nem controlar as próprias filhas.
- Não. Imagino que deva ser complicado dominar Clara.
- Tem razão, mas, mesmo assim, lhe peço desculpas. - Anahí olhou ao seu redor. - Onde elas estão?
- Colocando gelo nas mordidas de pernilongos.
- Ah! Elas passaram uma noite terrível. - Anahí também esticou os braços para mostrar as picadas. - Todas nós.
- O quê... - Um estrondo os fez correr para a cozinha. Clara estava ajoelhada no balcão, e Beatriz, em pé sobre ele. Os cacos de um pote de cerâmica jaziam no ladrilho. Havia pedaços de papel, moedas velhas e chaves espalhadas por toda a cozinha.
- Meu Deus do céu! - exclamou Anahí. - O que vocês fizeram?