Fanfics Brasil - Capítulo 4 O Doce Veneno do Escorpião

Fanfic: O Doce Veneno do Escorpião | Tema: Bruna Surfistinha


Capítulo: Capítulo 4

1082 visualizações Denunciar


No meu primeiro dia na casa da Franca, a última coisa que eu queria era que
descobrissem minha falta de experiência. Cheguei lá pelas duas da tarde, depois de ter
caminhado desde o Paraíso, onde morava, deixando para trás tudo o que tinha: mãe, pai,
quarto, roupas. Carregava um fichário e a mochila do colégio com poucas roupas e muitos
biquínis para usar no meu primeiro emprego. Perda de tempo: nenhuma das garotas
trabalhava de biquini.
Sem roupa decente para trabalhar, as outras garotas me arrumaram umas coisas
horrorosas. Justo eu, que sempre me expressei pelo uso de marcas de grife, que
compensavam minha gordurinha e minha síndrome de patinho feio. Tive de me
conformar. Sabia que um dia ganharia meu dinheiro e compraria tudo outra vez. A
cafetina da casa da Franca, Larissa, foi a única para quem disse uma parte da verdade.
Ela me pediu o RG, e não tive como esconder: eu só tinha 17 anos.
- Não diga nada a ninguém sobre isso - ela me aconselhou.
Por mais que tentasse bancar a experiente na frente das outras garotas, de cara
dei bandeira:
- Com que nome você trabalha? - perguntou Larissa.
- Raquel - disse, sem um pingo de malícia.
- Nenhuma garota de programa usa seu nome de verdade. Aqui, vai ter de trocar.
- Você combina com Bruna - disparou a Mari, que acabou virando uma boa amiga.
Não me lembro por que, quando foi ou quantos anos eu tinha, mas não esqueço
que cresci com a história de ser adotada na cabeça. Quando tinha cinco anos, perguntei à
minha mãe. Diante da resposta positiva, não tive coragem de perguntar o que significava,
afinal, adoção. Levei minha dúvida para a professora da escola, que me explicou que as
pessoas adotadas foram bebês abandonados em um lugar porque a mãe não podia ou
não queria criar. Depois disso, vem um casal e escolhe uma dessas crianças para a
adoção.
- Escolher? - Me senti um objeto.
Por mais que meus pais sempre tivessem me tratado como filha, foi difícil não me
revoltar, mesmo que guardasse isso só para mim. Pô, filho era o que nascia da barriga.
Só comecei a aceitar o contrário bem mais tarde. Talvez tarde demais. Tentava levar tudo
numa boa, pois tinha mesmo uma família. Mas sempre vinha alguém e comentava que eu
era muito diferente das minhas irmãs mais velhas e da minha mãe. Ela é bem européia,
pele clarinha, cabelos e olhos escuros, traços delicados. A gente só se parece na altura:
ela é tão baixinha quanto eu. As vezes, até trocávamos algumas roupas, uns casacos.
Mas as semelhanças ficavam por aí. Minhas duas irmãs, ao contrário, são iguaizinhas à
minha mãe.
7
Mesmo um tio meu jamais me tratou como sobrinha. Para os que não conheciam
meu pai, a desculpa era:
- ela puxou a ele.
Nem na sombra: ele tem 1,92 m., é gordo, branquinho. Em alguns momentos, para
me defender desse preconceito, dessa agressão, minha mãe mentia para os
desconhecidos, inventava algo para me resguardar. Quanta inveja eu senti das minhas
amiguinhas que se pareciam com seus pais, com sua família de verdade! A raiva ia dos
meus pais biológicos para os adotivos. Quando brigávamos, eu os chamava de tio e tia.
Coitada da minha mãe... Mas eu não tinha maturidade nem estrutura para lidar com isso
sozinha.
Com sete anos, em 1991, voltamos todos para Sorocaba, local de origem da minha
família adotiva também. Ou melhor, nos mudamos para nossa chácara, em Araçoiaba da
Serra. Meu pai havia sofrido um acidente e tivera de parar de trabalhar. Um dia, na
garagem do prédio, se abaixou para pegar alguma coisa e, quando levantou, bateu a
cabeça numa viga mais baixa do teto. Aquela pancada afetou seriamente seu cérebro,
nem sei explicar como. Só quando o vi desmaiado pela primeira vez, no meio da sala,
senti o quanto era grave. Quando meu pai viu que não tinha como continuar trabalhando,
no auge de sua carreira de Direito, se abateu, ficou muito deprimido. Foi melhor mesmo a
gente se mudar para a chácara.
Apesar de ter sido uma fase muito tensa e difícil com a doença do meu pai, não
tenho do que me queixar: enquanto era poupada, sempre que possível, do clima de
doença, brincava muito, inclusive com minha mãe e, às vezes, até com meu pai. Ele
pendurou uma tabela de basquete no quintal, no meio das árvores de frutas, e eu passava
horas treinando, sonhando em um dia ser uma profissional. Com minha altura, seria mais
um sonho do tipo impossível.
Para mim, todas as prostitutas de São Paulo estavam na Augusta. Eu já havia
passado por lá muitas vezes, inclusive com meus pais.
- Olha lá aquelas putas. – alguém comentava.
Como é que uma mulher chega nesse ponto? - eu pensava. Para mim, só tinha
putas ali, naquela rua suja, feia. Ou, então, elas viviam naquelas casinhas velhas, caindo
aos pedaços, com mulheres muito maquiadas penduradas nas janelas, chamando os
homens que passam pela rua. Lá dentro, bastava elas abrirem as pernas e esperarem o
cliente gozar: pronto. A tal "vida fácil". Garota de programa seria assim, também? Não
pelos anúncios de jornal. "Você, menina de 18 a 25 anos, atenda a executivos ganhando
no mínimo mil reais por semana”.
Nas semanas anteriores à minha fuga, quando já estava decidida a sair de casa,
comprei jornais para ver os classificados e cabulei aulas para visitar muitos desses
lugares: boates, privês, casas de massagem. Não vi nada que se aproximasse daquela
imagem bagaceira da Augusta, muito menos das mulheres acabadas. A maioria dos
lugares, como o Bahamas, era de bom gosto, elegante mesmo. Por fora, você nem se
toca do que é lá dentro. Casas que encheram meus olhos. As garotas que vi por lá não
tinham nada de anormal, não tinham "puta" estampado na testa nem ficavam na porta se
oferecendo a quem passasse.



Compartilhe este capítulo:

Autor(a): ritaora

Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).

Prévia do próximo capítulo

O privé da alameda Franca, nos Jardins, foi a minha escolha. Eu não sabia fazernada, nem tinha experiência ou segundo grau completo. Para sair de casa, teria quepagar para ver - e ganhar os tais mil reais pelo que fizesse. O preconceito foi embora e eudisse:- Vou ter que ser isso.E, confesso: fantasiei muito com a possibilidade de ter vários homens ...


  |  

Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 9



Para comentar, você deve estar logado no site.

  • meninabad Postado em 08/01/2013 - 12:36:07

    Divulguei sua fic!!! Espero que goste!!!! http://fanfics.com.br/?q=capitulo&fanfic=19452&capitulo=22

  • meninabad Postado em 08/01/2013 - 12:36:06

    Divulguei sua fic!!! Espero que goste!!!! http://fanfics.com.br/?q=capitulo&fanfic=19452&capitulo=22

  • meninabad Postado em 08/01/2013 - 12:36:06

    Divulguei sua fic!!! Espero que goste!!!! http://fanfics.com.br/?q=capitulo&fanfic=19452&capitulo=22

  • meninabad Postado em 08/01/2013 - 12:36:05

    Divulguei sua fic!!! Espero que goste!!!! http://fanfics.com.br/?q=capitulo&fanfic=19452&capitulo=22

  • meninabad Postado em 08/01/2013 - 12:36:04

    Divulguei sua fic!!! Espero que goste!!!! http://fanfics.com.br/?q=capitulo&fanfic=19452&capitulo=22

  • biacasablancasdeppemidio Postado em 07/01/2013 - 17:50:52

    preciso de leitoras .. web com cenas hot http://www.fanfics.com.br/?q=fanfic&id=19720

  • biacasablancasdeppemidio Postado em 07/01/2013 - 17:49:39

    aaah de nada hahaha' mais infelizmente essa é a verdade haha só tem RBD & One Direction aqui ¬¬

  • ritaora Postado em 07/01/2013 - 17:46:55

    Hahahahahah!! é verdade!! ok! Vou postar sim!! Obrigada!!! *-*

  • biacasablancasdeppemidio Postado em 07/01/2013 - 17:45:44

    primeira leitora :)) até qe fim uma web qe não é de RBD ou de OneDirection ^^ posta maais ??


ATENÇÃO

O ERRO DE NÃO ENVIAR EMAIL NA CONFIRMAÇÃO DO CADASTRO FOI SOLUCIONADO. QUEM NÃO RECEBEU O EMAIL, BASTA SOLICITAR NOVA SENHA NA ÁREA DE LOGIN.




Nossas redes sociais