Alguns anos antes.
Sophia: Como assim eu ‘’não posso’’ entrar?
Mr. Wilson: É o seu segundo atraso essa semana, Srta. Menatto. O sétimo deste mês. Não posso abrir exceções.
Sophia: Mas...
Mr. Wilson: É hora de rever sua disponibilidade. Sei que não é fácil estar aqui, mas tem que fazer um esforço, todos temos.
Sophia: Eu estou fazendo um esforço agora, Sr. Wilson.
Mr. Wilson: Me desculpe! – Disse entre os dentes quando fechou o portão, impedindo minha passagem.
‘Que se foda!’ Pensei. Já não era a primeira vez e não seria a ultima. Desde que comecei a trabalhar na boate isso era frequente, eram raras as vezes em que eu conseguia assistir o primeiro horário das aulas de segunda feira, já que eu saia da boate as 7 da manha e a primeira aula começava as 7:10. Nesse ‘tempo vago’, eu arrumava qualquer banco e tirava um cochilo mas naquele dia um cartaz no mural de avisos me chamou atenção.
Era uma palestra sobre perfis administrativos e mesmo que não tivesse nada a ver com o meu curso, talvez tivesse algum conteúdo que me trouxesse benefícios.
Era uma palestra aberta ao publico mas diferente do que se imaginava a sala não estava muito cheia e a maioria dos presente eram estudantes de administração.
Escolhi uma cadeira no meio da sala, ajeitei meu material em cima da carteira e esperei o inicio. Nunca fui a melhor aluna no ensino médio, nem sequer tinha planos para entrar na faculdade mas quando a vida pisa em você, na primeira oportunidade que aparece, sua obrigação é se levantar e dar a volta por cima.
___ : Sejam muito bem vindos a mais uma reunião do grupo de administração. Bom dia pra quem já nos conhece e participou dos outros encontros e também para os que vieram conferir nossa apresentação de hoje. Nós somos alunos formandos e organizamos essa palestra que não só engloba o universo administrativo mas que também é fundamental para as demais áreas que lidam com o público, com a massa.
Eles eram muito bons, se expressam bem, com um linguajar simples e de fácil compreensão para os que não faziam administração. Eu procurava anotar tudo o que falavam, todos os pontos relevantes e quando o último palestrante iniciou seu discurso eu fiquei extasiada. Primeiramente porque ele era lindo, alto, moreno. Segundo pela segurança e desenvoltura que ele regia o conteúdo. Mas assim como eu, muitas outras garotas presente concordaram comigo e em meio a tantos ‘Meu Deus, que gato’ ‘Gostoso demais’, eu quase não consegui ouvir o que ele dizia:
____: [...] O chefe precisa ser o modelo para seus subalternos, o ponto de referência. Ele precisa ser o motivador, despertar o interesse dos seus companheiros para que juntos possam movimentar o empreendimento. Obviamente, os chefes mais experientes fazem isso pra extrair o melhor de seu funcionário, o instigam, lhe dão a ilusão – o modo como ele enfatizou esta ultima palavra me excitou, deixou inquieta. – de que o chefe está ali, trabalhando junto quanto quem está fazendo todo o serviço é o próprio trabalhador.
Sophia: Como se isso não fosse o certo. – Disse em alto e bom tom, fazendo todos se virarem para mim, inclusive o palestrante. E olhando diretamente pra mim ele conseguia ficar ainda mais sexy.
____: Como?
Sophia: Você disse que o chefe é o ponto de referência dentro de uma empresa. Quanto tempo acha que demoraria para os funcionários começarem a agir como o seu chefe?
____: Ótima pergunta. Acontecerá isso se o chefe não soube lidar com o seu pessoal, se não souber resolver esses possíveis atritos. – Voltou a olhar para todos na sala e caminhar lentamente de um lado a outro – Há pessoas que nascem com o dom para comandar, dirigir, e mesmo sendo supervisionadas por um superior, em algum momento essas pessoas vão querer mandar também. Um exemplo claro disso é uma pessoa que tem a mesma função que você dentro de uma empresa mas ainda assim quer delegar funções a você. Ela acha que tem o poder de mandar você fazer determinada coisa. E é ai que entra o chefe, o manipulador, o instigador. Nessas situações, se vocês fossem o chefe, o que fariam?
Sophia: A partir do momento em que sou a chefe da empresa, minha prioridade é zelar pelo desenvolvimento dos negócios e crescimento dos dados. Lidar com funcionários competitivos é ótimo porque é possível canalizar esse instinto a meu favor, eu posso instigar a capacidade desse individuo, incentivar sua criatividade. Dar a ele a ilusão que o tenho como favorito, que acredito mais na capacidade dele do que nas dos outros e assim vou estar ‘depositando’ nele uma confiança maior. Ele trabalhará para se superar a cada missão, não vai querer falhar nunca para o seu superior, vai trabalhar com unhas e dentes para permanecer no posto de ‘queridinho da chefe’. Portanto, se eu puder fazer isso, implantar essa ilusão em todos os meus funcionários, faze-los acreditar que são diferentes dos demais, eles trabalharam mais, mostraram mais serviço.
____: Isso pode causar confusões dentro da sua empresa.
Sophia: Não se eu for competente o bastante. Um chefe completo tem que ter jogo de cintura, saber lidar com os seus funcionários. Fazer com que todos trabalhem para crescer, independente do modo.
Ele me olhou estático, hipnotizado talvez pela minha segurança e convicção ao proferir tais palavras.
___: Genial. Está em que ano de administração?
Sophia: Eu faço jornalismo! – Eu sorri e ‘Bemp’ o sinal indicava o fim da palestra, era hora de voltar para minha sala, finalmente.