Fanfic: Acca
-- Doutor Carlos, sou Miguel, comandante responsável pelas investigações. Tenho algumas perguntas para fazer ao senhor. Então se puder me acompanhe.
Carlos ainda sentia o choque da visão. Algumas horas antes, tinha sonhado com a oração tatuada no peito desnudo do colega. Não era cético o suficiente para acreditar que tudo era uma grande coincidência, mas também não tinha a espiritualidade devidamente evoluída para achar que algo místico agia naquele dia. Essa dualidade, essa confusão era o que atormentava o espirito de Carlos.
-- Doutor Carlos? Algum problema?
-- Oi? Ah sim... É... Você tinha algumas perguntas?
-- Isso. Acompanhe-me por gentileza.
Carlos seguiu o comandante até uma sala, no final do corredor, perto da recepção que estava vazia. Era onde se tirava sangue. A policia havia improvisado ali um pequeno “recinto para interrogatório”. No centro, havia uma mesa com duas cadeiras uma de frente para a outra. De certa forma, Carlos se sentia desconfortável ali. Sentia-se claustrofóbico. Ameaçado. Uma sensação de impotência e estranheza. Ele gostaria que tudo acabasse bem rápido.
-- Acomode-se doutor.
-- Aqui é o local onde fazemos coleta de sangues para exame.
-- Precisávamos de uma sala e essa aqui caiu como uma luva.
-- É... Parece propicia.
-- Doutor Carlos, vamos começar. Há quanto tempo trabalha no hospital?
-- 12 anos.
-- Sempre como diretor?
-- Não. Diretor a 4.
-- E o doutor Ricardo?
-- Também. Entramos juntos. É sempre escolhida uma dupla de diretores.
-- Sei. E qual foi o motivo da saída dos outros dois?
-- Eles se aposentaram.
-- E porque vocês foram escolhidos?
-- Bom, o cargo é de confiança governamental. Nós sempre tivemos uma boa relação com os outros dois médicos, éramos competentes também... Então...
-- Você e o Dr. Ricardo frequentaram a mesma faculdade?
-- Sim, mas não a mesma turma.
-- Qual era sua relação com ele?
-- Na faculdade?
-- Sim.
-- Na realidade não éramos próximos. Como te disse, não fazíamos parte da mesma turma. Mas eu o conhecia porque sempre estava em evidencia. Ele era editor do jornal da faculdade. Era um cara engajado. Sempre metido com politicagem...
-- E no Hospital?
-- Muito profissional. Fazia de tudo para isso aqui funcionar da melhor maneira possível. São tempos sombrios, Comandante. E ele tentava dar um pouco de luz para tudo isso.
A sala ficou em silencio total. A atmosfera estava pesada, carregada, como se um exercito inteiro estivesse lutando lá dentro, em busca de um espaço. Miguel fitava Carlos com profundidade, penetrava em cada canto de sua essência. Sugava-o a alma. O Dr. não estava em sua zona de conforto. Sentia-se violado, culpado. E de alguma forma sabia que Miguel podia ver tudo isso.
-- Ele tinha família doutor? – Miguel interrompeu todo aquele clima e, com suas palavras, a sala era apenas uma sala de novo.
-- Não sei. Ele era uma pessoa muito reservada. Conversávamos apenas sobre as coisas do hospital, então...
-- Ele tinha alguma espécie de vicio? Drogas, jogos...
-- Creio que não.
-- Você mencionou “tempos sombrios”. Como que um medico, trabalhando dentro de um hospital, no cargo de diretor diga-se de passagem, pode contribuir com uma situação que não é de sua ossada? Violência, caos urbano, isso não é trabalho de medico doutor. Cuidar disso é função da policia. Tudo isso me leva a crer eu o seu colega meteu o nariz na onde não devia. E pagou o preço por isso.
O exercito estava prestes a entrar na sala de novo e Carlos sabia que dessa vez poderia não aguentar. Sentia-se tonto, uma náusea moribunda frequentava sua garganta provocando um nó cego em seu interior. Suava frio. Mentalmente, arranjava a desculpa de que havia dormido mal e tudo isso era apenas cansaço. Mas no seu amago, sabia que não. Sabia que aquele olhar de Miguel tirava todas as suas forças, diminuía a sala cada vez mais, apertava-o, enclausurava-o.
-- Está visivelmente cansado Dr. Quer um copo de agua?
-- Não, estou bem.
-- Uma ultima pergunta e já te libero. Aquela tatuagem possui algum significado ou historia?
Carlos sentiu uma pressão muito forte na cabeça naquele momento. A sala foi ficando escura ao passo que rodava. Nada mais existia a não ser escuridão
Autor(a): gabaao
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