Fanfic: Pela Lente do Amor-AyA {Finalizada} | Tema: AyA

Cobriu os olhos com os punhos cerrados, muito chocada para poder falar. Afastou um sentimento amargo de desapontamento e deixou que a raiva ocupasse o seu lugar.

— Bem, srta. Portilla? Está pronta para prosseguir?

— Mal posso esperar — retrucou amargamente. — O que acontecerá agora?
Passamos da cena de beijo para a de estupro? Ou há alguns atos preliminares?

Alfonso franziu a testa, preocupado.

— Acho que está dramatizando muito, srta. Portilla...

— É claro que estou! — gritou. — Pessoas malucas sempre dramatizam! E eu sou maluca, sabia? Uma garota de vinte e cinco anos que pensa que é cega, mas não é. Lembra-se?

— Jamais faça isso novamente, srta. Portilla. Não terei qualquer escrúpulo em colocar uma garota mimada sobre meus joelhos e a surrar. E não há nenhuma pessoa ao redor para evitar que sofra essa indignidade.

Ele se levantou, lentamente, e retomou o caminho de volta, falando sobre o ombro:

— Espero-a para o jantar. Com seus sapatos.

Any entrou em pânico ao ouvir o som da voz que já se distanciava e gritou desesperadamente:

— Espere! Espere por mim! — Ajoelhou-se no chão, as mãos tateando à sua volta freneticamente. — Dr. Herrera! Não consigo encontrar meus sapatos!

Ouviu-o rir a distância e sentou-se no chão, desconsolada e totalmente muda diante do espanto com o que o médico lhe fizera. Mas o choque foi rapidamente substituído por uma onda crescente de ódio e de indignação.

Inclinou a cabeça tentando achar os sapatos, vasculhando a grama com movimentos lentos e extensos. Naquele exato momento, só queria recuperar os calçados e voltar para seu quarto. Jogaria esse triunfo no rosto do dr. Herrera com o mesmo prazer que sentira ao desferir-lhe os tapas simultâneos.
O medo ainda estava para vir.

Dulce estava apoiada na grade da varanda, os dedos tamborilando nervosamente na madeira envernizada, os olhos pregados no caminho que levava ao córrego. Quando viu a figura de Alfonso delinear-se a distância, suspirou aliviada, porém, ao verificar que o médico estava só, cerrou os lábios. Mal ele se aproximou, perguntou preocupada:

— Onde está Any?

— Lá pelos lados do riacho. Está procurando os sapatos que ela chutou para longe num ataque de nervos.

A assistente arregalou os olhos, incrédula.

— Você a deixou lá sozinha? Alfonso, o que há com você? Não pode fazer isso!

— Já fiz.

— Pois eu vou até lá — a moça afirmou, descendo o lance de escadas de supetão, mas, quando ia começar a correr pela rua, o médico agarrou-a pelo braço, impedindo-a de tentar ajudar Any.

— Dulce, por favor — o tom de voz era suave. — Dê-lhe uma chance. Any é mais forte do que você pensa. Nem ela imagina o poder de se superar que tem. Este é o seu primeiro teste e ela vai conseguir.

— E se algo de muito sério acontecer? Você, pelo menos, deveria ter ficado a distância, observando.

— Com Any não daria certo. Ela perceberia a minha presença. Seus sentidos são bastante aguçados.