Fanfic: Pela Lente do Amor-AyA {Finalizada} | Tema: AyA

Porém, a satisfação foi sendo substituída, pouco a pouco, por uma frustração crescente. A sua procura começava a lhe parecer em vão.

A busca levou-a cada vez mais para perto da margem do riacho e, enquanto as pedras feriam seus joelhos, a dor das lágrimas contidas incomodava seus olhos.

— Droga! — praguejou em voz alta, sentando-se nos calcanhares, a garganta apertada e seca devido ao esforço que fazia para não chorar.

Não é justo! O que o todo-poderoso dr. Herrera sabia sobre um cego? Como ousara deixá-la ali, sozinha, ordenando-lhe que encontrasse os sapatos, quando ele sabia que aquilo era perfeitamente impossível!

Pôs-se em pé ainda agarrando o pé de sapato que encontrara e resolveu ir embora.

Mal dera um passo, lembrou-se daquele tom de voz rude e do riso sardônico. Voltou a engatinhar, desta vez, com uma determinação renovada e furiosa, vasculhando cada centímetro de terreno à sua frente.

Estava junto ao riacho, pois sentiu que tocava a beirada e, lá embaixo, a água borbulhava. Movimentava-se com gestos uniformes e metódicos, com todo o cuidado. Parava junto à beirada, cobrindo a área que o braço podia alcançar, como um compasso desenhando semicírculos e, quando verificava que estava muito próxima da margem, voltava na direção do velho carvalho. A possibilidade de o terreno ceder diante do peso do corpo não havia passado pela sua cabeça e, no instante em que isso ocorreu, estava totalmente despreparada.

Tomada de surpresa, lutando para poder respirar, assustada demais para poder gritar. Any agarrava-se desesperadamente à beirada acima de sua cabeça, já sentindo a fraqueza dos dedos.

Não tinha meios de saber a que profundidade se encontrava o riacho, que corria ligeiro abaixo de seus pés.

O primeiro estremecimento de terror genuíno percorreu todo seu corpo ao perceber que não mais agüentaria agarrar-se à beirada. Abriu a boca para gritar, arregalou os olhos e, de repente, começou a cair.

Despencou cerca de dez centímetros, aterrissando na areia fofa que ladeava o leito do córrego. Por incrível que pareça, o choque de se encontrar tão próxima do solo firme perturbou-a bem mais do que se tivesse caído num despenhadeiro.

Permaneceu completamente imóvel, boquiaberta, a respiração entrecortada, com dificuldade para se recobrar do pavor que sentira. Então, imaginou a cena: ela, com os pés a alguns centímetros do terreno seguro, lutando com todas as forças para permanecer pendurada. Começou a rir histericamente, os joelhos enterrados na areia, deixando lágrimas de alívio jorrarem à vontade.