Fanfic: Pela Lente do Amor-AyA {Finalizada} | Tema: AyA

Enquanto a assistente a conduzia até a porta, Any forçou um sorriso, tendo a sensação exata de que era um ser humano caminhando para algum tipo de sacrifício. Nem mesmo ser atirada numa arena cheia de leões era mais cruel do que enfrentar o dr. Herrera por mais duas semanas.
Dulce desafiou Alfonso abertamente ao conduzir a moça pela escadaria até o andar inferior, onde ficava o salão de refeições. No instante em que ajudava Any a se sentar, viu o médico entrando no recinto, a testa franzida em desaprovação. Ela virou as costas e se despediu da cega, retirando-se antes que Alfonso se instalasse na mesa. Mas ele, ao contrário do que Any pudesse imaginar, foi muito gentil no seu primeiro comentário.

— Você fica bem de preto.

— É mesmo? — ela respondeu com indiferença, distraída com os sons característicos da hora de refeição, como copos tinindo, talheres batendo nos pratos, conversas em tom baixo.

— Quem são todas as pessoas que estão aqui?

— O resto do pessoal. Professores, enfermeiras, quem estiver trabalhando no momento. Todos nós tomamos nossas refeições aqui. Deixamos os alunos mais à vontade para aproveitarem esse momento.

Anahí contorceu-se na cadeira, sentindo-se constrangida pela presença de tantos estranhos.

— Vou ser apresentada a eles?

— Definitivamente, não. Pelo menos, não nas duas próximas semanas. No que diz respeito a todas essas pessoas, você simplesmente não existe até o momento em que eu der minha autorização para tal.

— Que regra ridícula é essa? Ficarei aqui durante três meses. Acho muito natural conhecer todo mundo!
Quando ele respondeu, havia exasperação no tom de voz.

— Srta. Portilla, tudo o que fazemos aqui tem algum motivo. Nas duas primeiras semanas, o pessoal administrativo representa os estranhos que encontrará por esse mundo afora. Não se sairá bem se conhecê-los agora. Pode fazer amizade com todos nesse mundo, porém sempre haverá estranhos. Tem de aprender a lidar com esse fato.

Any comprimiu os lábios com petulância, mas reconheceu que ele estava certo: os estranhos eram os inimigos invisíveis dos cegos. De repente, uma outra idéia surgiu à sua mente e ela perguntou inesperadamente:

— Mas essa não é a única razão. Quando nos leva a esse isolamento forçado, sem contato com os outros, você está nos tornando mais dependentes de sua pessoa, não é verdade?

Alfonso sorriu diante da perspicácia da moça e de sua hostilidade tão óbvia, porém admitiu:

— Terrivelmente verdadeiro. Por duas semanas, pelo menos, você só poderá contar comigo.

— E com Dulce.

— E com Dulce... Desde que ela não viole nenhuma das minhas regras.