Fanfic: Pela Lente do Amor-AyA {Finalizada} | Tema: AyA

Alfonso percebeu a sua inquietação, mas a atribuiu à raiva de Any. Nesse momento, sorriu com um ar vitorioso, pois considerava a ira um dos sinais de que o tratamento começava a produzir seus efeitos. No entanto, sabia que esta aversão precisava ser moderada e ele resolveu acalmá-la um pouco.

— Tomei a liberdade de escolher o nosso jantar, srta. Portilla. Espero que não se importe, mas o pastelão de frango é uma especialidade de Manny e nem sempre temos a oportunidade de saboreá-lo. Não queria que você perdesse essa chance de experimentar o que oferecemos de melhor.

Any inclinou a cabeça ligeiramente, retesando o corpo como se estivesse frente a frente com um animal aparentemente domado, mas que poderia saltar sobre ela a qualquer instante. Ouviu o som agradável de líquido sendo derramado no copo à sua direita.

— É vinho rose — ele continuou, com um tom de voz gentil. — Nada de muito especial, porém combina com a torta.

Ela apalpou os talheres ao lado do prato e, pela sua localização, chegou à base da taça de cristal trabalhado, segurando-a sem nenhum problema.
Alfonso franziu o cenho enquanto observava o movimento hábil e decorado. Havia uma expressão sardônica no seu rosto ao erguer o próprio copo para levá-lo aos lábios. Ainda ficava intrigado pelo modo como os cegos ricos aprendiam a se comportar à mesa com a graça de uma pessoa normal. Podiam não saber atravessar uma rua, mas na vida social pareciam verdadeiros nobres, sem falhar na mais requintada das etiquetas.

— Vamos fazer um brinde ao futuro, srta. Portilla?

Ela ergueu os ombros com elegância quando os copos se tocaram e imaginou o que o dr. Herrera acharia de um futuro negro, assombrado pela possibilidade desanimadora da pobreza.

— Ao meu futuro... e ao que fará dele — Any concordou calmamente.

Após ter saboreado a primeira taça de vinho, Anahí conseguiu relaxar e começou a desfrutar do conforto daquele ambiente fino, decidida a afastar de sua mente as perspectivas de um futuro um tanto funesto. Só voltaria a enfrentá-lo quando surgisse o momento.

Ela ouviu seu copo ser enchido pela segunda vez.

— Srta. Portilla, soube que você, quando criança, morava no campo, junto ao rio. Conseguiu adaptar-se à vida da cidade grande com facilidade?

Ela voltou o rosto em sua direção e sorriu:

— Vamos ter uma sessão de análise antes do jantar?
Alfonso riu com cordialidade.

— É uma pergunta como outra qualquer. Pura curiosidade. Pelo menos durante o jantar, esqueceremos da relação médico-paciente. Seremos duas pessoas normais conhecendo-se uma à outra.

— Acha que consegue se esquecer de nossas funções específicas?

Ele franziu a testa diante da pergunta provocadora e pensou no dia em que, finalmente, poderia se colocar como pessoa para os outros, sem se preocupar com as rígidas regras que sua profissão impunha. Essa imagem lhe pareceu tão agradável, que não se incomodou com o tom irônico que sua cliente empregara, respondendo-lhe suavemente.