Fanfic: Pela Lente do Amor-AyA {Finalizada} | Tema: AyA

As feições dela se iluminaram instantaneamente e Alfonso percebeu que já não havia traços de preocupação naquele rosto quase infantil... Ele gostava da sua expressão de ingenuidade.

— Pensando melhor — ele disse —, iremos a um outro lugar. Talvez, a rodovia.

— Rodovia? Por que não voltamos ao riacho? Pelo menos é um lugar agradável e sei como chegar até lá.
— Exatamente por esse motivo é que não iremos naquela direção. Vamos, leve-me até a rodovia.

Any semicerrou os olhos considerando a situação. Então, ergueu os ombros num gesto indiferente e tomou o braço dele.

Alfonso puxou o braço com violência e ela deu um passo atrás, atônita.

— Não! Você vai sozinha! — ele ordenou, esperando que a moça respondesse com uma fúria hostil àquele tom áspero, porém ela permaneceu imóvel, parecendo ferida.

"Vamos, lute! Droga! Responda de volta!" Ele ordenava mentalmente. Resolveu, então, falar com um tom de voz sarcástico e cruel, enquanto observava o rosto dela com atenção.

— O que foi, srta. Portilla? Não sabe fazer nada sozinha. Se pensa que veio para cá para encontrar criados à sua disposição, acho melhor sair de Windrow e retornar ao seu casulo lá na Park Avenue.

As feições preocupadas de Any transformaram-se numa máscara que nada deixava transparecer. Disse, então, suavemente:

— Está bem, dr. Herrera. Para a rodovia. Talvez eu tenha tanta sorte que, ao chegarmos lá, um caminhão em disparada passe por cima de você.

Todos os pensamentos obscuros do médico se desvaneceram com um sorriso sardônico.

Anahí cruzou a calçada e sentiu o meio-fio com a ponta do pé. Desceu para a rua e caminhou com passos minúsculos, guiando-se com o pé direito, que tocava a beirada de vez em quando. Alfonso seguia alguns passos atrás, imaginando quando ela desistiria.

Já estavam a meio caminho do lugar onde a alameda particular de Windrow desembocava na rodovia, quando Any parou e disse com firmeza:

— Não vou dar mais um único passo adiante. É impossível.

— Já está quase chegando. Continue a caminhar.

— Não. Não sabe o que está pedindo.
— Não estou pedindo. Estou ordenando. Ande, vá em frente.

— Não! Para quê? — gritou com a voz trêmula, girando o corpo.

— Porque você está com medo.
— É claro que estou! Estou caminhando num buraco escuro! Num vazio sem fim! Qualquer um ficaria assustado! Não pode compreender isso?

Contrabalançando o tom de voz histérico dela, Herrera respondeu com calma.

— Compreendo tudo muito bem, srta. Portilla. Você está com receio de enfrentar o futuro; teme encarar o passado; tem medo de uma simples caminhada até a rodovia. Resumindo, a vida lhe amedronta. O que não consigo entender é como ainda não se suicidou.

Os olhos de Anahí arregalaram-se de incredulidade diante da indiferença com que o médico falou.

— Você é incrível! — ela sussurrou involuntariamente, sentindo enjôo, como se estivesse tendo um pesadelo. — Você não tem compaixão. Nada o comove. Não tem sentimentos. Você é quem deveria se suicidar, não eu. O que faz com que continue vivendo?

O médico sorriu satisfeito, pois via o início do ódio crescente que ela sentia.

Subitamente, Anahí levou o dedo aos lábios, pensando em algo que não lhe havia ocorrido antes.

— Você odeia todas as pessoas cegas, não é verdade? O ódio é uma doença que não pode controlar. Isso o tornou cruel.

Alfonso não se abalou e respondeu com indiferença:

— É um risco da profissão ter de cuidar de pessoas como você. Pessoas inúteis, que nada têm a oferecer, mas que exigem constantemente. Vocês são um peso para a família e para os amigos. Na verdade, seria um favor se acabasse com a sua vida, libertando a todos. Você é uma inútil. É isso o que você é quando se recusa a prosseguir, a lutar, a tentar viver. Você já está morta, só finge que está vivendo.