Fanfic: Pela Lente do Amor-AyA {Finalizada} | Tema: AyA

Any ficou boquiaberta, mal acreditando no que estava ouvindo. Como uma pessoa podia ser tão cruel? O que é que ele tinha sofrido, para tratar os outros dessa forma?

— Quem foi a pessoa cega que o magoou tanto assim?

Alfonso jogou a cabeça para trás, ofendido, porém estava surpreendido com a percepção da moça e com a perspicácia de sua intuição, que o atingiu como um golpe inesperado. Ninguém jamais notara que havia uma mulher cega no seu passado e, agora, essa garota que o conhecia há apenas um dia compreendera tudo. Sentiu-se nu e completamente indefeso. Era como se ela lesse a sua mente e a sensação que sentia era repugnante. Quando respondeu, procurou não revelar as emoções que o atingiam.

— Você considera seu pai culpado pela morte de sua mãe?

Anahí hesitou diante da pergunta inesperada e esqueceu-se do resto, como o médico achou que ela faria.

— Não.

— Você se acha culpada?

— Não!

— Você se lembra de estar dentro do carro? Sentada junto com sua mãe? Ela gritou? Você gritou?

— Não! Não! Não!

De repente, as perguntas cessaram e Any permaneceu ali, tremendo por antecipação, aterrorizada com o que viria depois. O silêncio prolongou-se e a respiração dela ficou lenta, tornando-se cada vez mais pesada, enquanto esperava que Alfonso falasse, sabendo que ele a encarava diretamente naquele momento.

— Vamos voltar — o médico disse, finalmente, girando o corpo e retomando o caminho de volta.

Anahí permaneceu ali, sem conseguir se mover, os pen¬samentos percorrendo sua mente numa velocidade incontrolável. Ela não podia retornar. Jamais voltaria para lá.

Nada havia naquele lugar.

— Eu vou para a rodovia — disse com calma, ao se voltar e começar a caminhar lentamente, com gestos patéticos, guiando-se pelo meio-fio, porém com ar majestoso.

Alfonso seguiu-a em silêncio com uma expressão impassível, que nada revelava.
Any inclinou-se sobre a máquina de datilografar e escreveu para a sua governanta contando as novidades de Windrow. Ao encerrar a carta, pediu que a criada não fizesse planos para o futuro antes que ela voltasse para casa, pois ainda acreditava na possibilidade de recontratá-la.

Ela se reclinou na cadeira e ficou pensando sobre o que acabara de escrever. Achou que estava enganando a si própria, pois não teria dinheiro para manter empregados dali por diante.