Fanfic: Pela Lente do Amor-AyA {Finalizada} | Tema: AyA

Alfonso fechou os olhos, respirou fundo e falou bastante irritado:

— Considere isso um simples erro, srta. Portilla. Nada mais. Um engano que não vou cometer novamente.

Any baixou a cabeça lentamente, concordando. As mãos tensas do médico agarraram-se à beirada da mesa com força. Ele suspirou aliviado quando Helen aproximou-se.

— Comerei o mesmo que a srta. Portilla pediu, Helen.

A moça respondeu com um tom frio, sem disfarçar a contrariedade que sentia.

— Ela ainda não pediu nada, dr. Herrera. Estamos mantendo a cozinha aberta só para isso e já passou da hora.

Anahí desculpou-se instantaneamente:

— Sinto muito, Helen... Eu não sabia... Só estava esperando o dr. Herrera.

Alfonso estava perplexo com aquele comportamento fora do comum por parte da copeira e encarou-a diretamente nos olhos, enquanto dizia devagar:

— Você não precisa se desculpar, Any. Os empregados, estão aqui para nos servir e não nós a eles. Não é mesmo, Helen?

A moça corou violentamente, porém respondeu num tom de voz cortante:

— É claro.

Percebendo a hostilidade que pairava no ar, Anahí interferiu rapidamente:

— Não importa, deixe para lá. Vou comer carneiro, Helen. Obrigada.

Muitas vezes, os sentidos de Any eram bastante aguçados, mas agora eles estavam falhando completamente. Ela não conseguia captar para onde o médico olhava naquele instante, embora sentisse que ele se mexia em alguma direção. Perguntou, então, com suavidade:

— Seria uma violação das regras se me contasse alguma coisa sobre você?

— O que quer saber?

— Quando está de folga, longe do trabalho, o que gosta de fazer?

— Não tenho tempo de sobra — respondeu bruscamente.

— Cada segundo do seu dia é dedicado ao trabalho?

— Todos eles.

— Nunca se apaixonou?

— Uma vez. Minha professora do quarto ano. Nunca consegui esquecer-me dela.

— Está bem. Se quer ser misterioso...

— Não estou fazendo mistério. É que minha vida particular nada tem a ver com o seu tratamento. Para que discutir sobre isso, então?

— Sabe de uma coisa estranha? Quando a gente é cega, desenvolve um sexto sentido. É difícil de explicar como conseguimos perceber as coisas. Dulce, por exemplo. Sei que gostou de mim desde o início e que seremos boas amigas. O dr. Franklin, embora tivesse ficado com ele pouco tempo, sinto como se fosse meu pai, sei que tenta me proteger.

Ela foi interrompida por Helen, que serviu a comida em silêncio. Quando a moça se afastou, prosseguiu:

— E Helen... Ela não gosta de mim, quase me odeia. Mas você, dr. Herrera, tem medo de mim. Como ninguém me temeu antes.

O médico ficou completamente imóvel, tentando arquitetar uma negação demonstrando sua raiva, todavia riu diante daquela afirmação e respondeu com toda a cautela:

— Você tem uma certa razão ao afirmar isso. Jamais tratei de um caso como o seu. Pode ser até que ninguém tenha ainda tratado. Estar pisando terreno desconhecido me faz sentir pouco à vontade. Não pensei que fosse óbvio.

— Ontem você perguntou o que achava de você. Hoje quero saber o que pensa de mim.

— Esqueceu-se de que sou eu que devo fazer perguntas por aqui?

— Não consigo me controlar. Quero saber tudo sobre você.

O rosto de Alfonso transformou-se numa máscara de gelo e ele retrucou com frieza:

— Quando acabar de almoçar, voltaremos ao trabalho! Já perdemos muito tempo.

Any estremeceu diante daquele tom de voz frio. Limpou os lábios com o guardanapo e disse num tom glacial:

— Já terminei. O que programou para esta tarde? Escalar montanhas?

— Isso é fácil demais. Hoje só conversaremos.

Ele deixou que a moça encontrasse a saída sozinha e, quando já estavam fora, segurou-a pelo cotovelo e ambos dirigiram-se para a parte posterior do edifício.

— Aonde vamos?

— Estamos num caminho que leva ao topo da colina. Há uma bela vista de lá.

— Pensei ter ouvido você dizer que não iríamos escalar montanhas.

— Não é uma montanha, mas é o lugar mais elevado que há pelas redondezas. Pode-se ver tudo a quilômetros de distância.

— Você pode ver.

— E você pode sentir. É um bom lugar para conversar. Melhor do que ficarmos trancados no consultório.

Chicas Comentem *---*