Fanfic: Pela Lente do Amor-AyA {Finalizada} | Tema: AyA

Any sempre se lembraria daquele instante tremendo, pois teve a impressão de ouvir um leão gritando na escuridão. Vacilando, ela retrocedeu alguns passos com medo daquele som.

Alfonso permaneceu afastado, os braços caídos ao longo do corpo, o peito arfante, sem fôlego para respirar. Quando os olhos se fixaram no contorno dos seios sob a blusa vaporosa, levantou a cabeça com violência selvagem, fitando aqueles olhos parados que pareciam acusá-lo.

— Sinto muito — ele sussurrou, num som rouco.

— Deve sentir mesmo. Nunca termina o que começa.

— Any... Você não entende. Não compreende nada.

— Sim, compreendo. Sei que você me deseja — ela disse devagar.

A frase era tão simples e eloqüente que o médico baixou a cabeça em silêncio, num gesto de confirmação que ela não podia ver.

Então, Alfonso ergueu a cabeça, as feições se endureceram e ele falou, sibilando a mentira entre os dentes:

— Já desejei muitas mulheres antes. Você não é diferente de uma centena de outras. Nada me impediu de ter as mulheres que eu queria, mas, desta vez, sim. Não posso ser médico e amante ao mesmo tempo. Então fiz a escolha mais importante, que não foi tão difícil, como você está pensando. Ter uma mulher a menos não afetará o resto de minha vida.

Herrera quase engasgou nessas palavras, observando a emoção desvanecer-se do rosto dela, deixando-o impassível e vazio. Controlou o impulso de se jogar aos pés dela e enterrar o rosto no ventre macio. Apenas permaneceu imóvel, esperando.

A moça fechou os olhos e retesou o corpo, deixando que aquelas palavras a atingissem como chicotadas.

Parte dele sofria ao verificar a expressão estampada no rosto de Any; a outra parte, que ele sempre mantinha protegida das emoções, sentia-se alimentada pela angústia que Anahí demonstrava e queria usar isso contra ela.

— Sei que sente uma série de coisas que jamais experimentou antes. Está passando por uma fase quando o sexo começa a despertar, que, na realidade, acontece com as moças adolescentes. Já passei dessa fase, Any.

Ele forçou o tom de voz, transmitindo-lhe desdém.

— Já passei por isso há muito tempo. Não há nada que possa me oferecer que eu já não tenha tido antes, de outras mulheres. Nada. Compreendeu?

Anahí concordou com um gesto simples de cabeça e seu lábio inferior tremia.

— Não precisa se envergonhar. Mais tarde, achará tudo isso muito cômico.

Herrera mal conseguia acreditar que conseguira ser tão natural enquanto seu coração latejava desesperadamente e cada centímetro do seu corpo gritava-lhe que a abraçasse. Concluiu com indiferença:

— Vamos voltar agora?

Any concordou em silêncio e começaram a caminhar. Herrera percebeu que ela se movia lentamente, resignada, afundando-se cada vez mais numa depressão que se tornaria irreversível, a menos que ele achasse um meio de contorná-la.

Quando entraram no edifício, Alfonso disse impulsivamente:

— Mostre-me seu quarto.

A moça concordou, sem nenhum comentário, e se dirigiram para as escadas.

Ele fechou a porta atrás de si e ordenou:

— Agora, quero que você descanse e se acalme. Deite-se e feche os olhos.

Ela voltou o rosto na direção da cama, querendo, desesperadamente, jogar-se nela e dormir vários dias sem parar. Talvez para sempre.