Fanfic: Pela Lente do Amor-AyA {Finalizada} | Tema: AyA
— Soube que seu pai dirigia o carro quando ocorreu o acidente.
— Sim, e, portanto, sempre se considerou responsável por tudo o que nos aconteceu.
A culpa consumiu-o internamente. Tínhamos uma propriedade à margem do rio Hudson, não muito distante daqui. Minha mãe a adorava. Bem, papai fechou a casa e comprou um apartamento de cobertura antes de eu sair do hospital. Acho que não suportava a idéia de ficar no local sem a presença de mamãe e suponho que deva ter pensado que um apartamento fosse bem melhor para mim... sem escadas, sem rio, sem perigo. Nem mesmo posso dizer que voltei para meu lar, pois isso foi apenas o começo. Papai decidiu que eu jamais conheceria a frustração que a maioria das pessoas cegas enfren¬ta, O fato tornou-se uma obsessão para ele. Contratou criados para suprirem a minha deficiência. Eles eram os meus olhos: vestiam-me, cozinhavam para mim, levavam-me para passear, discavam o número de telefone desejado, liam para mim, enfim, faziam tudo.
Dulce interrompeu-a, atônita.
— Quer dizer que jamais aprendeu o braile?
Anahí fez um gesto negativo, sorrindo.
— Papai só fez essa concessão e, na verdade, foi o nosso único ponto de discórdia. O fato de eu aprender o braile fazia, novamente, com que ele tivesse de reconhecer que eu estava cega. O mesmo que acontecera, anteriormente, em relação ao psiquiatra. Mas, finalmente, ele desistiu e contratou um professor particular para me ensinar o necessário.
— Um professor particular?
— Lógico. Eu raramente saía do apartamento. Somente atravessava a rua para passear pelo parque. Com uma acompanhante é claro.
Dulce largou a caneta e tentou manter um tom de voz normal, sem demonstrar a raiva que sentia.
— Então, se formos analisar bem a situação, você, praticamente, foi uma prisioneira durante os últimos dezoito anos. Trancada numa casa, afastada de todos os perigos.
— Não fale assim, Dulce. Papai só queria o meu bem.
— Pois, sim. — Soltou um suspiro profundo e continuou: — Afinal, por que foi que ele desistiu e resolveu mandá-la para cá?
— Não desistiu. Ele morreu há duas semanas.
— Oh, sinto muito. Não sabia de nada. Se dependesse de você, teria vindo há muito, não é?
— Sim. Já estaria aqui há anos.
— Não queria magoar seu pai, não é?
— Pode-se dizer que sim.
Dulce passou as mãos no rosto, num gesto cansado.
— Tenho muita dificuldade em compreender sacrifícios dessa espécie, Any. A maioria das pessoas daqui também não consegue entender isso e, portanto, terá de ser muito paciente co¬nosco. Mas, deixe tudo para lá. O que importa é que está aqui e há um longo caminho a ser percorrido. Vamos trabalhar! — Subitamente, o tom de voz dela passou de acalentador para profissional. — Em primeiro lugar, fará uma série de exames médicos. Eles começam essa tarde, mas talvez seja necessário repeti-los amanhã... Mas isso quem decide é o dr. Herrera.
Anahí retesou o corpo imediatamente, um tanto desconsolada.
— Dr. Herrera? Por que ele? Não existem outros médicos?
Dulce riu, condescendente.
— Já sei qual é a primeira impressão que se tem dele e parecerá, provavelmente, ainda pior à medida que o tempo for passando. Mas posso afirmar com toda a certeza que os alunos saem daqui adorando-o imensamente.
Any gemeu, descrente, e Dulce continuou:
— Alfonso é o nosso psiquiatra. Todos que chegam a Windrow passam as duas primeiras semanas com ele. Na realidade, não entrará em contato com ninguém mais, a não ser eu, é claro. Quando menos esperar, tudo estará terminado. Bem, vamos almoçar primeiro e, depois, direto para o exame médico. Concorda?
Dulce, ao contrário do dr. Herrera, fora bastante solícita. Conduziu Any através da escadaria ampla em espiral, a mão segurando seu cotovelo firmemente num gesto que transmitia confiança e proteção. A medida que desciam, descrevia com detalhes o lugar por onde passavam, enfatizando cada elemento que pudesse lhe servir de orientação mais tarde.
— A entrada para o salão de refeições está ladeada por dois vasos de samambaia — Dulce informou. — Já estamos quase chegando lá. Pode sentir-lhes o cheiro?
— Oh, sim. São samambaias de metro.
Os olhos da assistente cintilaram de surpresa.
— São, sim. Você chutou e acertou.
— É claro que não. Esse tipo de planta tem um cheiro característico. Na verdade, qualquer espécie de planta tem. Papai cultivava um jardim de inverno lá no apartamento e não se cansava de me fornecer detalhes para identificar cada vaso existente. Sou muito boa nisso, posso garantir.
A moça respondeu num tom misterioso.
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— Ora... ora... Você está muitos passos à frente da maioria de nossos alunos. As plantas são as únicas coisas que Alfonso se recusa a mudar de lugar...— O que quer dizer?— Nada. Logo saberá. Caminhe em frente agora, há uma passagem central e bastante larga. Cada mesa acomoda quatro pessoas e são dezesse ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 1153
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Angel_rebelde Postado em 24/03/2014 - 23:55:37
Adoorei sua história ! Concordei com o Poncho no começo dizendo pra ela o quanto era protegida demais e que deveria lutar pelo objetivo dela de voltar a enxergar. Parabéns pela bela história. Acho que ele poderia ter dito a mesma coisa de outro jeito mas a experteza e sensibilidade dela o fizeram mudar de ideia. Adorei !
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giovanaponny Postado em 23/11/2013 - 21:48:24
Muito booooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooa
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jeessyayasiempre Postado em 17/03/2013 - 22:05:10
Nossa, nunca chorei tanto na minha vida, li os últimos capítulos com a música Moonlight Sonata (Sonata ao luar) a que ela toca no piano do Beethoven... Me debulhei em lágrimas! NUNCA CHOREI TANTO LENDO UMA WEB! Podia fazer uma continuação né? Nossa, Parabéns!
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elizacwb Postado em 13/02/2013 - 15:56:00
ai carol suas webs são incríveis, amei tudo, e principalmente qdo ela voltar a ver, foi lindoooo, valeu
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elizacwb Postado em 13/02/2013 - 15:56:00
ai carol suas webs são incríveis, amei tudo, e principalmente qdo ela voltar a ver, foi lindoooo, valeu
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elizacwb Postado em 13/02/2013 - 15:56:00
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elizacwb Postado em 13/02/2013 - 15:56:00
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elizacwb Postado em 13/02/2013 - 15:55:59
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elizacwb Postado em 13/02/2013 - 15:55:59
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elizacwb Postado em 13/02/2013 - 15:55:59
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