Fanfic: Pela Lente do Amor-AyA {Finalizada} | Tema: AyA

Observou o homem a quem amava consumir-se diariamente num desejo insípido por aquela criatura sem nenhum colorido, não podendo evitar que ele se ferisse. E o ódio por ela cresceu devastador e sem piedade.

Quando encontrou Anahí adormecida junto à árvore, ficou surpresa e, embora não lhe quisesse causar nenhum dano, recusou-se a fazer o papel de heroína, levando-a sã e salva para os braços do homem que ela própria amava. Então, afastou-se, simplesmente, sentindo a frustração e o peso daqueles gritos pa-téticos que a chamaram.

Any avançou desajeitadamente, seguindo os ruídos imperceptíveis da retirada de Helen, com medo de chamá-la em voz alta e camuflar os sons dos passos. Já que a moça se recusara a ajudá-la, pelo menos podia segui-la de volta para Windrow em segurança.

Todavia, suas pernas estavam adormecidas devido à posição forçada e às horas de imobilidade e de frio. Quando Any sentiu que a circulação trouxera nova vida a seus membros rígidos, Helen já se encontrava bem distante. Sua tentativa de se apressar foi malsucedida, pois tropeçou a cada centímetro e logo esgotou suas últimas reservas para acompanhá-la.

Fez uma pausa para ouvir quando chegou ao topo de uma elevação. Tanto o rosto como as mãos se achavam cobertos de milhares de pequenos arranhões provocados pelos espinhos e galhos. Algumas gotas vermelhas e brilhantes brotavam de alguns dos ferimentos, porém eram todos superficiais. Any estava atordoada pelo esforço que fazia para ouvir o som de passos humanos. Os olhos encaravam a distância à sua frente, concentrando-se desesperadamente, trêmula e querendo recobrar o fôlego quando, finalmente, ouviu o estalido de um galho.

— Helen! — gritou num som rouco, dando um passo à frente, e caiu no vazio.

Ela não percebeu que o som de galho quebrado tinha sido provocado por um pardal agitado, que buscava seu ninho em uma árvore antiga, no cume de uma escarpa íngreme, com mais de cem metros de profundidade. Também não podia imaginar que Helen estava a quase meio quilômetro de distância atrás dela, cruzando o pátio em frente do prédio principal.

O que ela sabia é que estava rolando colina abaixo, tentando se agarrar na vegetação ou nas rochas, em qualquer coisa que pudesse diminuir a velocidade da queda. Any escorregou, rolou e foi impulsionada para baixo aos trancos até que se chocou contra o tronco apodrecido de uma árvore caída no meio da escarpa. As costas atingiram aquele obstáculo com um barulho surdo e ela ficou maravilhada com os pontos luminosos que apareceram diante de seus olhos poucos minutos antes de desmaiar.

A um quilômetro e meio de distância, num trecho da floresta que nem mesmo os caçadores ousavam se aventurar, estava Alfonso, seguindo a pista já quase desfeita de um veado que se assustara com a tempestade, pensando que tivesse sido provocada por Any. Fazia quase doze horas que ele a procurava sem êxito, interrompidas duas vezes para retornar a Windrow e ser desencorajado pelos rostos frustrados de Dulce, Katy ou Matt.

Assim que souberam da notícia, Katy e o velho médico correram para Windrow e havia sido a esposa de seu sócio quem obrigara Alfonso a vestir a capa de Matt, recheando os bolsos com balas e chocolate e forçando-o a tomar um suco de laranja até a última gota antes de permitir que saísse novamente.

Ficou aterrorizado com a destruição da floresta e muitas vezes afastou troncos pesados, desesperadamente, procurando por Any.

Continuava a busca, sem descanso, os olhos arregalados de medo, o rosto rígido de dor ao pensar que, a cada instante, poderia encontrar o corpo dela esmagado sob o peso de imensas árvores caídas.