Fanfic: Pela Lente do Amor-AyA {Finalizada} | Tema: AyA

Anahí ainda estava no carro, presa, sem poder abrir o trinco quebrado. Ainda batia com força contra o vidro, quase sufocando com aquela fumaça escura. Ela baixou a cabeça, desesperada.

O pior ainda estava por vir. Any não queria erguer os olhos, tentando enxergar no meio daquela fumaça. Ela sabia que deveria olhar, que olharia, mas lutava contra isso, jogando a cabeça para os lados numa negação, gemendo e delirando, mantendo os olhos cerrados com toda a força.

Mas não adiantou. Sua mente olhou pela janela, como havia acontecido há anos, e viu seu pai sem fazer nenhum esforço para tirá-la de dentro do carro. Ele permaneceu sem se mover, olhando sua única filha bater com os punhos cerrados e delicados contra a parede daquela prisão. A expressão dele era de choque e medo e não deu um único passo para ajudá-la.

Anahí bateu os punhos contra o peito de Alfonso quando ele a tomou nos braços, e o médico se esforçou para ouvir os sussurros, sem forças para fazer qualquer coisa.

— Está quente, papai! Está quente! Depressa, me tire daqui! Papai! Depressa! Por que você não se mexe? Por que não me tira daqui? Por que fica aí parado?



Herrera arregalou os olhos ao perceber o que significavam aquelas palavras, o semblante transtornado pelo horror, conhecendo, finalmente, o segredo trancado na mente daquela criança.

— Deus do céu! — ele respirou profundamente, deixando o horror ser substituído pela raiva; uma ira cega contra aquele homem morto fazia com que sentisse necessidade de vingança.

De repente, Anahí aquietou-se em seus braços e Alfonso contemplou o rosto dela, vendo-o acalmar-se com a aceitação final de uma criança acuada, que observava seu pai enquanto ele a deixava morrer sem nenhum gesto para ajudá-la.

Em seu sonho, como se vivesse novamente aquela noite fatídica, Anahí estava atordoada pelo choque e por ter respirado toda aquela fumaça, quando um homem, usando um uniforme, correu para o carro, quase arrancou a porta das dobradiças, tomou-a nos braços e afastou-se correndo.

Mas ainda podia sentir o som da respiração entrecortada, a perda de fôlego, o coração batendo violentamente ao passar pela figura imóvel de seu pai. E, então, veio a explosão ensurdecedora e... tudo se apagou.

Ela chorou no seu sonho, mantendo os olhos bem fechados, sentindo o conforto e a segurança dos braços do policial ao seu redor, ouvindo-o murmurar seu nome enquanto acariciava seu cabelo loiro