Fanfic: Pela Lente do Amor-AyA {Finalizada} | Tema: AyA

— Ora... ora... Você está muitos passos à frente da maioria de nossos alunos. As plantas são as únicas coisas que Alfonso se recusa a mudar de lugar...

— O que quer dizer?

— Nada. Logo saberá. Caminhe em frente agora, há uma passagem central e bastante larga. Cada mesa acomoda quatro pessoas e são dezesseis ao todo, oito de cada lado. Não há ninguém aqui no momento, portanto pode aproveitar para fazer o reconhecimento do local. Dê algumas trombadas até resolver onde quer se sentar.


Any agarrou o antebraço da moça num gesto de ansiedade.

— Não vai me deixar sozinha, não é?

— Não, pode ficar tranqüila. Ficarei aqui observando. Vamos, avante!

Anahí deslizou os pés suavemente, um após o outro, a graça natural do corpo esguio e elegante prejudicada pela tensão, os braços estendidos à altura do ombro, totalmente dominada pela insegurança.

— Suas mãos de nada valerão se mantiver essa posição, Any. Nem aqui nem em nenhum outro lugar. A maioria dos obstáculos que encontrará, tal como as mesas e cadeiras desta sala, não ultrapassa a altura dos quadris.

Ela baixou os braços em resposta à orientação lógica da assistente e imediatamente se deparou com um objeto que identificou como sendo uma cadeira. Teria tropeçado nela, se mantivesse as mãos tão elevadas quanto antes.

Agora, mais confiante, circulou devagar pela sala tentando guardar na mente a posição de cada móvel.

— Não se preocupe com isso, Any.

— Com o quê?

— Em memorizar o ambiente, contando os passos ou coisas desse tipo. Economize seu tempo, pois, à hora do jantar, tudo estará diferente.

A expressão atônita que surgiu no seu rosto, seguida de um gesto de total desconsolo, fez com que Dulce sorrisse.

— Você está nesta escola para aprender a lidar com o desconhecido, não é verdade?

— Quer dizer que os móveis são deslocados de lugar de propósito? Nunca saberei onde eles estão?

— Acertou! Só conseguirá aprender desse modo. Quando sair daqui, será capaz de se movimentar em qualquer tipo de ambiente. Poderá tropeçar algumas vezes, mas o medo terá desaparecido. Então, confiará na sua própria habilidade de lidar com as coisas que não pode ver.


Anahí jogou-se numa cadeira, as mãos agarrando-se à beirada da mesa, soltando-a logo após. Sua voz saiu num sussurro:

— Não vou conseguir. Jamais pensei que fosse assim. Passar três meses neste local sem saber onde as coisas se encontram, dando trombadas, sentindo-me perdida... É o caos! Até uma pessoa normal acharia o fato estranho, quanto mais um cego? É um pesadelo!

Quando a mão de Dulce cobriu a sua, sentiu que ela a compreendia.

— Não será assim tão ruim, Any. Logo, logo, aceitará o fato como um desafio, não como algo atemorizante. Dê tempo ao TEmpo.tempo. Além do mais, existem coisas que nunca são tiradas do lugar. O seu quarto, por exemplo, é o seu santuário. E as plantas... Alfonso recusa-se a movê-las do lugar. Portanto...

— Estou começando a achar que as plantas deste local têm mais chances de sobrevivência do que nós mesmos.

Dulce riu.

— Sabe de uma coisa, Any? Eu estou morrendo de fome. E você? Tome. Os menus daqui são escritos em braile.

Anahí passou os dedos pelo cardápio e uma expressão de surpresa surgiu em seu rosto.

— Puxa! É impressionante! É uma variedade imensa. Acima da expectativa do que poderia ser encontrado numa cantina de escola.