Fanfic: Pela Lente do Amor-AyA {Finalizada} | Tema: AyA

— Isto é muito mais do que uma cantina. Na verdade, a nossa escola tenta reproduzir o mundo lá fora, numa escala menor. Aqui, por exemplo, tentamos ensinar os cegos a entrar num restaurante com a desenvoltura de uma pessoa normal.

— Na realidade, pouco sei sobre Windrow. A primeira vez que ouvi alguma referência sobre esta instituição foi por intermédio do meu psiquiatra. Aliás, ele não deu muitos detalhes, somente disse que era excelente. Não citou nenhuma outra alternativa.
Aparentemente, Windrow era a única instituição que ele considerava adequada.

— E isso me fornece mais informações sobre sua família, que parece ter uma situação financeira bastante boa. Oh, olá Helen.

Anahí ouviu o ruído suave de passos e o som característico de uma saia engomada à sua esquerda.

— Olá, srta. Saviñon. É esta a srta. Portilla?

Any franziu a testa, interrompendo-a:

— Será que sou a única aluna aqui? Parece que todos, automaticamente, sabem quem sou eu.

— Alfonso somente aceita uma pessoa de cada vez, Any, pois quer se dedicar a ela em tempo integral. Já provou dar maiores resultados e é um dos motivos pelos quais as mensalidades aqui em Windrow são tão caras — Dulce continuou. — Any, esta é Helen. Ela é a responsável pelo serviço de restaurante e, caso você não queira fazer suas refeições aqui no salão, Helen levará a bandeja para o seu quarto. Tudo relativo a sua alimentação estará a cargo dela. Faz a compra dos mantimentos, repõe o estoque e supervisiona o trabalho de Manny, que é a cozinheira.
Anahí cumprimentou-a.

— Olá, Helen. Parece ser bastante jovem para se dedicar a tantas coisas.

— Obrigada, srta. Portilla, porém não sou tão jovem quanto imagina. O tom de voz pode enganar.


Dulce preveniu-a com um sorriso.

— Cuidado, Helen. Ela é excelente em adivinhar a idade das pessoas.

Helen inclinou a cabeça, curiosa.

— Está bem, srta. Portilla. Quantos anos acha que tenho?

— É difícil dizer sem poder tocá-la, porém eu diria que tem trinta e três anos.

Houve um silêncio profundo e Anahí franziu a testa, esperando que alguém se manifestasse. Finalmente, falou:

— Oh, Deus! Como é, acertei ou não? Não a ofendi, não é, Helen? Foi só uma adivinhação.

— Fiz trinta e três anos na semana passada. Puxa! Essa gente sempre me surpreende, mostrando que sabe muito mais do que pensamos. Bem, srta. Portilla, já sabe o que vai comer? — perguntou secamente.

Dulce interferiu:

— Por que não decide por nós, Helen. Confiamos na sua escolha.

Any ficou perturbada com a sugestão de Dulce, pois não gostaria de depender da encarregada das refeições. Mas, como ainda não se sentia totalmente à vontade com aquelas pessoas, nada comentou.

— Tudo bem, srta. Saviñon — Helen respondeu de modo formal, retirando-se a farfalhar a saia e deixando um perfume atrás de si.


— Eu disse algo de errado, Dulce? — Anahí perguntou num tom de voz baixo, não muito certa de que Helen saíra da sala.

— Não, não disse nada de errado. É que Helen é um tanto... diferente. Não encare como pessoal as coisas que ela faz ou diz. E não fique a imaginar coisas. Helen tem problemas que deverá aprender a enfrentar sozinha. Porém, isso não interfere no seu trabalho, pois é muito eficiente. Gostamos muito dela.

— Como ela é?

— Quer dizer que não sabe?

— Sem tocá-la, não. De certo modo, acho que ela não é uma pessoa que aceite ser tocada. Eu me sentiria como se estivesse violando algo.

Dulce riu com gosto.

— Sabe que está certa? Helen é uma pessoa muito reservada. Muito orgulhosa. Quanto à aparência, ela é o que se pode cha¬mar de tipo exótico. O cabelo dela é bem escuro e tem olhos amendoados e incrivelmente grandes. São castanhos escuros, mas às vezes parecem negros. É relativamente alta e tem um corpo que a maioria das manequins invejaria. As maçãs do rosto são salientes...

— Como as do dr. Herrera.

— Mais pronunciadas, porém, bastante parecidas.

— E é bem bonita?

— Acho que é mesmo. Terrivelmente bela... sabe o que quero dizer, não é?

Any fez um gesto negativo com a cabeça. Dulce explicou num tom de voz sério.

— Bem, não é como você. A sua beleza é saudável, pura, um tanto inocente. Helen é... sinistra... secreta... quase trágica.

Any retesou o corpo, ficando completamente imóvel, os olhos parados e as mãos entrelaçadas firmemente, repousando no colo.

Dulce percebeu a postura rígida e franziu a testa.

— O que houve, Any?

A moça pressionou os lábios e, então, soltou a respiração que suspendera até aquele instante. Sussurrou baixinho:

— Foi o que você disse sobre... mim.

— Sobre seu tipo de beleza? O que tem isso?

Dulce estudou a expressão tensa no rosto de Any, até que ergueu as sobrancelhas, incrédula:

— Deus! Nunca ninguém lhe disse o quanto é bonita? Devem ter dito!

— É porque gostavam de mim.

— Ah, não! E você achou que eles diziam que era bonita somente porque a amavam?... Any, você pode tocar o seu rosto. Deveria saber que não é uma beleza comum.

— Não se pode perceber o belo, Dulce. Nem mesmo ter noção. Não da beleza externa.

— Mas soube que Alfonso era bonito.

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