Fanfic: Pela Lente do Amor-AyA {Finalizada} | Tema: AyA

— Ele é muito cruel para ser feio — respondeu sem relutar e o riso de Dulce ressoou pela sala.

Quando Peter trouxe o primeiro prato, a conversa girou em torno da comida, das instalações luxuosas do salão em que se encontravam e sobre a história de Windrow.

Entre uma garfada e outra da salada fresca e brilhante, Dulce comentou:
— Acho que este local é tremendamente esnobe. Harry Windrow, o fundador, construiu-o somente e para satisfazer as necessidades do filho que era cego. Ele considerava todos os outros lugares destinados para esse fim como "do povo" e inadequados, para dar a educação especial de que seu filho precisava para ocupar o lugar de destaque a que tinha direito na sociedade americana. Quando Windrow faleceu, a casa tornou-se uma escola para cegos ricos. Na verdade, é bastante parecida com as outras instituições, só que aqui também se ensina etiqueta, como lidar com os criados, como fazer uma recepção, como fingir que não é deficiente visual. Essencialmente, nós treinamos as pessoas ricas a lidar com a cegueira no seu próprio ambiente. Parece ser discriminatório, mas não é. São as outras escolas que, na verdade, fazem discriminações contra os ricos, adaptando-os à vida da classe média.
A surpresa estava estampada no rosto de Anahí.
— Quer dizer que aqui só se aprende a ser uma cega rica? Nada de coisas práticas?
— Isso é prático, não é? Afinal, você veio de um lar próspero e deverá voltar para lá. Além do mais, de pouco adiantaria ensinar tarefas voltadas para a profissão, para os alunos que nos procuram. Duvido de que você saia daqui para se tornar uma secretária. Com o que gastará aqui nesses três meses, poderá contratar uma secretária por dois anos. Mas já sabe de tudo isso.

"Você ficaria espantada ao verificar o quão pouco eu sei”. Anahí pensou. "E provavelmente se admiraria mais ainda se lhe dissesse que gastei meu último centavo para poder vir para cá."

Ela bateu na beirada do prato com o garfo, com uma expressão preocupada, e perguntou suavemente:

— Certamente vocês devem ensinar coisas que uma pessoa comum possa utilizar lá fora, não é?

Dulce colocou a mão sobre a dela com o intuito de cessar as batidas nervosas e disse:

— Nós ensinamos os cegos a serem cegos. Como qualquer outra escola. Queremos que tenham confiança, sintam-se à vontade e sejam eficientes. Fazemos isso no mesmo ambiente que possuíam em casa. A única coisa que omitimos são as habilida¬des profissionais. Nenhum de nossos alunos precisa delas. Quanto ao resto, verá que somos bastante exigentes. Agora, se já terminou, deverá ir para a clínica, pois o dr. Herrera e sua equipe estão esperando por você.

— Estou pronta — respondeu imediatamente, num tom de voz suave, colocando o guardanapo sobre a mesa e levantando-se da cadeira com o corpo retesado.

Dulce moveu a cabeça num gesto apreensivo ao verificar que Any estava tensa e preocupada, imaginando que, com todas as vantagens que possuíam, os ricos poderiam ser os mais cegos de todos.

— Tudo bem, srta. Portilla. Pode ficar à vontade agora.

Só então Any percebeu o quanto estivera tensa desde o instante em que entrara naquele consultório. Tentando demons¬trar naturalidade, indagou:

— Bem, dr. Franklin, o que descobriu?

— Talvez facilite as coisas se me disser o que já sabe sobre suas condições. O que os especialistas descobriram sobre as causas da sua deficiência visual? Qualquer informação ajudará a completar o meu diagnóstico, Any.

Ela suspirou profundamente e fechou os olhos. A seguir, começou a falar, recitando, como se fosse uma lição que havia memorizado há muito tempo.
 

Eliza,Belle_dol e Débora Gracias pelos Comentários :D
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