Fanfic: Uma prova de amor (Vondy - adaptada) | Tema: RBD (Vondy)

— Sinto muito por não haver ninguém aqui com você —murmurou ele, calmamente. — Foi... uma manhã complicada para todos nós, eu suponho.

Dul se virou para fitar Ucker, com uma expressão precavida quando olhou para ele. Ucker começava a parecer desfigurado e, consciente disso, não se deu ao trabalho de disfarçar.

— Achei que fora duro o bastante quando tivemos que fazer isso pelo meu pai, mas... — Pausou, a boca constrita pelas palavras que não queria proferir, mas sabia que, afinal, não tinha outra alternativa. — Minha mãe entrou em colapso e teve que ser sedada. Bel está achando muito difícil de suportar. Any se ofereceu para sentar aqui com você, mas Mamma precisa dela.

— Compreendo — aquiesceu ela.

— Mesmo? — Ucker desejava que sim. Sentia como se a família inteira estivesse envolvida naquele acidente de carro — incluindo a si mesmo e a Dul. — É uma confusão —murmurou e inclinou para a frente, para repousar os antebraços sobre os joelhos, a garganta superando um grumo, agora permanente, fincado dentro dela. — Tem gente caindo a minha volta como moscas. Formalidades para cumprir. Uma empresa que se recusa a parar de funcionar só porque eu quero. Os telefones continuam tocando. Estamos afogados sob uma onda de solidariedade a qual, para ser honesto, eu dispensaria agora mesmo. — A voz ressecava cada vez mais... Ucker podia ouvir.

Será que Dul o acusaria de abuso, caso ele admitisse que queria carregá-la para a cama mais próxima, a fim de se perder dentro dela por uma hora ou duas?

— O problema, Dul, é que eu preciso lhe pedir um grande favor...

Dulce se retraiu. Ucker fez um esgar, quando a sua mente traçou uma conexão entre o que estava pensando e o que precisava falar. Porém, era óbvio, Dul não percebeu.

— Preciso ter certeza de que você está bem, — continuou Ucker. — Pensar em você sozinha, em algum quarto impessoal de hotel quando não está aqui, não me faz sentir bem. — Voltou a cabeça para vislumbrar Dul. A luz solar se esforçava ao máximo para dispor um pouco de cor nas faces esmaecidas, mas não estava logrando nada, e a boca parecia tão vulnerável que Ucker quis...

— Assim, eu gostaria de retirar a minha oferta de achar outro lugar para você se hospedar. Quero que você fique na minha casa. Eu posso me mudar de lá, caso você prefira —ofereceu, escrutinando Dul detalhadamente por alguma espécie de reação, mas Ucker não conseguiu nenhuma. —Porém, eu preferiria ficar lá também. Desse jeito, saberei que você não estará sozinha caso o...

— Não diga isso — falou ela.

— Não — concordou Ucker, cabisbaixo, olhando para os dedos longos das mãos, pendendo flácidos entre os joelhos afastados.

Dul contemplou o topo da cabeça morena, observando o sol a lustrá-la com um brilho sedoso. Caso o pior aconteça durante a noite, se era isso que Ucker tentara lhe dizer. Após distribuir o seu tempo entre Mai e o bebê, Dul estava mais do que ciente de que o “pior” não pairava muito longe. À medida que via o bebê fortalecer a cada hora transcorrida. via a mamãe do bebê fenecer lentamente.

— Sobre a noite passada... — inseriu Ucker, subitamente. Dul tragou um fôlego afiado. As mãos dele se moveram retesadas antes de se franzirem unidas, e ela notou um nervo saliente no maxilar de Ucker dar um espasmo.

— Fiquei um pouco maluco — admitiu ele. — Estou com vergonha de mim mesmo por jogar meus... sentimentos em cima de você.

— Ambos ficamos um pouco malucos. — Dul se remexeu tensa.

— Não acontecerá novamente — prometeu Ucker.

— Não — concordou ela.

— Enfim, você vai ficar no meu apartamento?

Dul baixou o os olhos até o colo, onde as sobras da metade do sanduíche repousavam acondicionadas na embalagem triangular, e viu aquilo embaçar fora de foco mediante a investida das lágrimas.

— Mai nunca mais vai acordar, vai? — Sussurrou.

Ucker não respondeu por um instante, e então meneou a cabeça morena.

— Eu acho que não — replicou rispidamente.

— Vou ficar — assentiu Dul, engolindo em seco.

Ucker voltou a sentar no banco de súbito, e o ar sibilava para fora entredentes, num gesto tenso e constrito de alívio. Um momento depois, algo caiu no colo de Dul, perto da caixa do sanduíche.

Era um cartão magnético de segurança.

— Acesso — explicou Ucker. — Você pode precisar disso, caso eu não possa vir aqui buscá-la.

Dul anuiu.

— Se eu não puder vir, então meu motorista Fred, virá buscar você. Lembra-se de Fred?

— Sim. — Outra inclinação da cabeça, enquanto olhava fixamente para o cartão. Fred era um homenzinho esquálido com uma paciência assombrosa.

— Que bom — disse Ucker. — Então não preciso me preocupar quanto a você entrar na traseira do carro de algum estranho.

Foi uma piada. Dul não esperava por isso. Aquilo a surpreendeu o bastante para expulsar uma tímida risada para fora. Ucker também riu, um daqueles ruídos guturais, suaves e roucos dele, que acariciavam os sentidos dela. Porém, rir pareceu tão estranho e errado sob aquelas circunstâncias que, logo, ambos se quedaram mudos e imóveis.

— Você não tem que se preocupar comigo de forma alguma — disse Dul naquela quietude.