Fanfics Brasil - 8 Uma prova de amor (Vondy - adaptada)

Fanfic: Uma prova de amor (Vondy - adaptada) | Tema: RBD (Vondy)


Capítulo: 8

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Deixado a sós na cozinha, Ucker contemplava fixamente a caneca de café e, implacável, refletia se Dulce realmente o notara afinal de contas, através da fina camada de gelo criada pelo choque que lhe vendava os olhos.


Realmente se importava com isso? — inquiriu então, numa reação imediata, aquilo que estava ressonando em círculos dentro de si. Conhecia Dul bem demais para querer fazer contato mais uma vez.


Já passou por isso antes, pensou, com a falta de qualquer espécie de humor, depois se arqueou para a frente e cingiu as mãos em torno da caneca de café, rogando ao inferno que não deveria ter vindo até aqui. Do modo pelo qual sempre acreditou que essas coisas acontecessem, a vida já deveria ter desenhado uma história no belo rosto de Dulce a essa altura. Ela deveria parecer distintamente envelhecida mas, ao contrário, estava ainda mais bonita do que nunca.


Mentira, tudo mentira, sustentou com firmeza. Aqueles olhos por demais azuis transformaram a mentira numa arte sofisticada, O mesmo com sua boca viçosa, afeita aos beijos, e o modo como aprumava o queixo tão alto a cada vez em que se permitia olhar para ele.


Provocação e desacato. Percebeu ambos no rosto de Dulce, antes de ficar abalada com a notícia. O que Dulce imaginava que lhe conferia o direito de olhar para ele daquele jeito, se foi ela quem levou outro amante para a sua cama?


Sua cama. Dio.


Soltando a caneca, Ucker saltou de pé numa explosão de raiva e nojo, em oposição a uma estranha, indesejável luta de embrulhar o estômago contra o remorso.


Dul fora sua mulher. De cada ângulo do qual invariavelmente considerava, ele fora o seu homem — seu amor, seu para todo o sempre. Isso estava claro nos olhos dela, no sorriso, no jeito como o tomava dentro de si, então por que —porque Dul jogara tudo aquilo fora?


Um suspiro acre o levou a se postar de pé diante da janela da cozinha. A chuva ainda se derramava sobre o chão como um açoite lá fora, a noite tão tempestuosa que prometia um vôo complicado para além da Inglaterra. A irritação escorreu pela medula. Por que viera até aqui?


Desejou saber. Desejou saber o que o estava guiando. Acreditava realmente que seria homem o bastante para sepultar o passado neste momento trágico, e lidar com esta situação com entendimento e compaixão? Ou seus motivos foram impulsionados por alguma coisa muito mais básica do que isso — como uma necessidade de mitigar este desgosto profundo e cruento, que vigorosamente se agitava dentro dele, testemunhando algum sinal de remorso ou arrependimento pelo que Dulce jogou fora?


Bem, boa parte da questão da compaixão surgiu porque um olhar para ela, lá de pé junto à porta, uma espiada na maneira como se esquivou para trás contra a parede, e sua cabeça estúpida o levaram de volta à última vez em que a vira se esquivar daquele modo. Então, recorreu àquele truque sujo com as portas, e mereceu a mágoa que Dulce lhe atirou de volta por fazer aquilo. E quanto aos sinais de remorso?


— Dio — disse ele, rangendo os dentes.


Era um tolo por vir aqui pessoalmente. Era um tolo por ansiar ver o remorso da mulher que não demonstrara nenhum quando foi surpreendida enquanto o traía. Devia ter permanecido no lugar ao qual pertencia, Florença, com a mãe e as irmãs. Devia ter deixado uma mensagem no celular dela, como Dulce sugeriu:


— Houve um acidente de carro, sua irmã está morrendo e meu irmão está morto.


— Diabo — praguejou. — Diabo. — Enquanto as próprias palavras brutais esmerilhavam o seu corpo em agonia. Chris — morto.


O coração começou a retumbar como a chuva na vidraça. Distinguiu o próprio reflexo, duro como ferro, lavado pelas lágrimas as quais ele sabia que não poderia derramar.


Voltou as costas para aquela visão, agarrando o pescoço com dedos tensos conforme a violência no seu íntimo se avolumava como um grande balão, fazendo com que desejasse bater em alguma coisa — qualquer coisa para compensar essa dor negra!


Mai e o bebê — lembrou a si mesmo forçosamente. Pense apenas sobre elas, porque com elas ainda existia vida e, onde quer que exista vida, deve haver esperança.


Com aquela sóbria lição, arrancou o celular do bolso do paletó e digitou uma série de números. Descobrir que a tempestade estava arruinando o sinal não melhorou o seu humor. Embolsando o aparelho, voltou para a sala de estar para utilizar o telefone de Dulce, ansiando para que não tivessem de ficar presos ali até que a tempestade abrandasse. O quanto antes chegassem em Florença, o quanto antes poderia se afastar de Dulce. Estava pasmo com a urgência com a qual precisava fazer isso.


Ouviu Dulce se movendo às voltas pelo corredor quando ainda estava ao telefone. Manteve as costas para a porta, ouvindo o que a mãe dizia, e manteve a própria voz submersa num volume baixo para os italianos, fazendo perguntas e recebendo respostas, e sentiu a imobilidade de Dulce na entrada como uma descarga elétrica na espinha.


A ligação terminou, virou-se. Dulce conseguiu tomar uma ducha e trocar de roupa rapidamente, notou. A saia sexy que estava vestindo se fora, substituída por jeans desbotados e um suéter que quase se misturava com a pele cremosa. O cabelo estava aprumado, preso em um nó caprichado que engolfava a maioria das chamas. Mas o que o estilo afetado levou embora fez realçar aqueles incríveis olhos azuis e a boquinha macia, que podiam ser semelhantes aos de alguma Madonna, mas que eram, na verdade, armas do pecado.


— Nenhuma alteração. — Foi tudo o que Ucker disse, em resposta à pergunta que podia notar pairando nos lábios dela.


Nenhuma alteração, repetiu Dulce para si mesma. Isso era bom ou ruim? Nenhuma alteração queria dizer que Mai ainda estava lá. Mas nenhuma alteração também significava que ainda estava em coma, o que não era nenhum consolo tampouco. Queria saber mais... precisava saber mais, e quase abriu a boca para exigir que Ucker lhe contasse mais. Então, mudou de idéia quando se viu forçada a aceitar que saber, provavelmente, iria despedaçá-la de novo, e tinha que se manter inteira se quisesse suportar as longas horas de viagem que estavam por vir. Por isso, fez com que sua voz soasse composta quando disse:


— Preciso usar o telefone, se você já acabou. Eu tenho que comunicar a algumas pessoas que não estarei aqui por algum tempo.


Ucker meneou a cabeça e deu um passo lateral. Roupas escuras, olhos escuros, noite escura, ele parecia lançar uma sombra pesada através da sala clara e arejada. Pegando o aparelho, sentiu o calor desprendido pelas mãos dele, que ainda perdurava. Sentir a intimidade que aquele calor evocou fez a sua garganta doer, ainda mais quando digitou o número do sócio na atarefada companhia de design gráfico, a qual Dulce e Alfonso Herrera construíram juntos.


Enquanto murmurava enrouquecida “Alô, Poncho, sou eu...”, Ucker se virou e saiu da sala. A sombra dele permaneceu, entretanto, lançando uma mortalha sobre todas as coisas. Respirando fundo, se preparando para uma demonstração de simpatia e preocupação — Dulce simplesmente não queria ter de lidar com isso naquele exato momento —começou a explicar.


Ucker reapareceu à medida que ela ainda estava fazendo a segunda ligação, para confirmar se a vizinha ainda possuía uma chave extra do apartamento, de maneira que pudesse vigiá-lo para ela.


— Obrigada, Alex. Lhe devo uma — murmurou agradecida. — Jantar quando eu voltar? Claro, a alegria é minha. Será algo pelo qual esperarei ansiosamente.


O latejar tedioso do silêncio retornou assim que Dulce pôs o fone no lugar. Ucker encolhia os ombros dentro do sobretudo e seu perfil poderia ser moldado em ferro.


— Mais alguém? — Inquiriu e, à resposta dela, abriu e fechou rapidamente um sorriso ferino. — Apenas os dois homens da sua vida? Você é uma coisinha estável, Dulce, é o que eu lhe digo.


A réplica de Dulce foi se afastar, sem oferecer a Ucker a satisfação da resposta. As razões para ser amargo — imaginárias ou não — eram uma prerrogativa dele, mas a atitude de se dar ao direito de fazer críticas baratas a seu respeito, agora, quando outras coisas eram tão mais importantes, a preencheu com um novo desgosto. Não iria explicar que Alex era uma mulher e que Poncho era o homem que salvou a sua vida, quando Ucker fez o melhor que podia para arruinar com ela!


Estava junto à porta da frente quando Dulce saiu do quarto, vestindo um longo casaco de lã negra e um chapéu, ambos acessórios que se tornaram essenciais durante o inverno que o Reino Unido enfrentava este ano.


— É só isso? — perguntou Ucker, sem fazer contato com os olhos. Numa das mãos segurava a mala, na outra a bolsa preta acolchoada que continha o laptop dela.


— Sim — retorquiu Dulce. — Você tem um carro lá fora ou teremos que usar o meu?


— Eu tenho um carro alugado.


Voltando-se para o outro lado, abriu a porta e caminhou até o corredor, depois foi chamar o elevador enquanto Dulce trancava a porta. Desceram no elevador como dois perfeitos estranhos, e deixaram o edifício para caminhar sob a pesada chuva. O automóvel alugado estava apenas há alguns metros dali. Usando um controle remoto para destrancá-lo, Ucker abriu a porta do passageiro com veemência, permitindo que Dulce entrasse e foi até a mala do carro para acomodar as coisas dela, finalmente se postando ao volante completamente encharcado.


Nem pensou em pegar um dos guarda-chuvas que Dulce guardava em frente à porta dianteira. Tampouco parecia se importar. Assim que o motor do carro deu a partida, Dulce virou o rosto para a janela lateral. Ucker ignorou as gotas de chuva que lhe escorriam pela nuca, havia apenas o desejo implacável de acabar logo com aquilo, tão rápido possível.


Estava aborrecido consigo mesmo por ter feito aquele comentário a respeito da vida pessoal dela. Aquilo o colocara em uma posição que o fez soar rude e asqueroso, e pode ter causado a impressão de que se importava, quando não era isso. Dulce podia ter quantos Alexs quisesse perfilados em linha para tomar a vez na sua cama. Alfonso Herrera era um caso à parte. Ucker sabia tudo a respeito desse amigo íntimo e parceiro de negócios, porque Mai jamais cessou de conversar sobre como a empreitada em design gráfico de ambos decolou como um foguete, a partir do momento em que os dois começaram a negociar juntos. Os dois sócios foram amigos durante todo o período da faculdade, ambos excelentes em design eletrônico. Ucker ouvia Mai proferir comentários orgulhosos a respeito da irmã, mesmo há tanto tempo. Apenas o seu humor era mais indulgente naquela época — sua mente se recordava de uma adolescente bastante graciosa, se é que ela tinha noção disso, com o rosto sardento e a cabeça ornada por um cabelo glorioso, com um vestido de madrinha de casamento de tafetá azul pálido. Dulce o encantou naquela ocasião. Gostou dela porque, a despeito do jeito adolescente, tinha uma língua que parecia um chicote, com a qual se entreteve durante todo o trajeto até a festa de casamento de May e Chris.


Inútil acrescentar que aquela era a imagem de Dul que Ucker costumava evocar, sempre que May mencionava a irmã caçula. Então, quando quatro anos mais tarde Dulce fez a primeira visita a Florença, e Ucker se viu confrontado pela versão adulta, ficou completamente embasbacado.


Linda, pensou, e apertou firme a pegada no volante. Estarrecedora, deslumbrantemente linda. As sardas se foram; o corpo se avolumou de modo a assumir uma forma que era verdadeiramente espetacular. E em vez daqueles modos desajeitados de adolescente, estava lidando com uma recém-formada extremamente autoconfiante, com uma fome de viver e um talento letal para flertar. Ela o cobriu de olhares quentes e com planos de fundar a própria empresa de design com Alfonso Herrera, e tomar o mundo de assalto. Mais velho, mais sábio, e tão cínico a respeito de pessoas com ideais tão grandiosos, Ucker ouviu, respondeu a todas as perguntas sobre administração financeira e percebeu que foi ele quem foi tomado de assalto.


A primeira vez em que se beijaram representou apenas um cumprimento fraternal, para arrematar a noite que acabaram de passar juntos ouvindo Puccini. Dulce estava ansiosa para ir à ópera e Ucker ficou feliz em levá-la. Compartilharam um jantar à luz de velas no seu restaurante favorito mais tarde e, mesmo a despeito de já ter percebido que estava se envolvendo demais, se agarrou à crença arrogante de que ainda possuía o controle da situação — até aquele beijo.


Guiando-os tristemente para fora dos limites da cidade, agora num tempo tão obstruído que só um pato acharia abrigo, sentiu os lábios se aquecerem com a lembrança. Não teve a intenção de que aquele fosse um beijo significativo, apenas uma entre as barganhas delicadas que se compartilha com alguém, em cuja companhia você passou uma noite agradável. Mas Dulce mergulhara naquele beijo com o mesmo absoluto entusiasmo com que se atirava à vida. Aquilo o estremeceu, deixou sua libido flutuando nas alturas até um ponto que jamais soubera que existia.


Levando o carro até uma parada num entroncamento, checou as duas direções da estrada e aproveitou a oportunidade para lançar um olhar para Dulce. Estava lá sentada, com a cabeça virada para o outro lado, e com aquele chapeuzinho bobo enterrado abaixo das orelhas. Algo quente disparou a partir do coração até a região lombar, e então permaneceu ali queimando. Apenas Dulce havia feito esta conexão, só ela era capaz de transformá-lo naquela massa de hormônios devastadores, sem se dar sequer ao trabalho de tentar.


Dez anos mais nova, divididos ainda por pelo menos um milênio de diferença em experiência de vida, Dul o cativou, amarrou e o embalou, numa caixa marcada com “vendido” pela mulher com os cabelos fabulosos, o rosto fascinante e aquele corpo fantástico, e um conjunto de desejos insaciáveis, que o deixavam se equilibrando nos píncaros do medo de que ela fosse buscar satisfação em outro lugar.


Bem, seu desejo foi atendido, se aquilo era mesmo o que estava procurando. E devia ter sentido alívio por haver descoberto tudo, antes de colocar uma aliança de casamento no dedo dela. Mesmo assim, estranhamente. não sentiu — não até que o primeiro refluxo de raiva se desgastasse, isso sim. Tudo o que sentia era arrependimento porque, ao menos, uma aliança de casamento teria lhe dado uma razão para ir atrás dela — puxá-la de volta pelos seus cabelos adoráveis, e fazê-la pagar por ousar traí-lo.


Em lugar disso, Ucker apreciou dois anos de longa, dura, febril inquietação a respeito do que teria acontecido a Dulce. E naquele tempo, a amargura tornou o seu conceito sobre as mulheres tão azedo que foi incapaz de tocar em qualquer outra desde então.



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Autor(a): Amore

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 36



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  • karinevondyprasempre Postado em 23/02/2013 - 12:39:10

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  • dulcemaria10 Postado em 20/02/2013 - 20:23:24

    http://fanfics.com.br/?q=fanfic&id=22861 quem pude da uma olhadinha Casamento Arranjado - D&C O que você faria se fosse obrigada a casar-se com uma pessoa que você nunca viu antes para que sua família não morresse? O que você faria se descobrisse depois do casamento que você está perdidamente apaixonada pelo filho de um assassino frio e calculista? "O amor só é amor, se não se dobra a obstáculos e não se curva à vicissitudes... é uma marca eterna... que sofre tempestades sem nunca se abalar."

  • paty1987 Postado em 18/02/2013 - 00:49:02

    Vou te ajudar a divulgar a web nas webs que eu leio ta... ta mto boa... me admiro nao ter mta gente lendo... Posta mais !!!!


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