Fanfics Brasil - II: A Jornada Sacra Corona

Fanfic: Sacra Corona | Tema: Ficção Científica


Capítulo: II: A Jornada

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  Quando eu estava prestes a pôr o primeiro pé dentro da capela, senti uma mão delicadamente tocar meu ombro. Era Davi, que me olhava com uma expressão um pouco mais séria do que a de costume:
  - Pietro, você ainda insiste em visitar esse lugar... Nem sei por que ainda o mantemos de pé! – E continuei calado.
  - Ouça, eu entendo o que está passando pela sua cabeça. Também já estive no seu lugar. O que você fez é motivo de orgulho e felicidade! Avançamos mais um passo no nosso propósito.
  - O nosso propósito é matar pessoas inocentes, então?
- Você me lembra muito seu pai, sempre questionando tudo e todos. Sabe Pietro, eu vejo isso como uma qualidade, mesmo que muitos não vejam assim. Mas até sei pai, um dia entendeu o motivo pelo qual fazemos isso, e foi aí que ele se tornou um dos nossos maiores líderes!
  - É, eu sei... sempre ouvi falar que ele foi um grande homem.
  - Sim, um dos maiores que já conheci e meu melhor amigo. Vamos, temos uma reunião importante agora com o resto do grupo.
  Voltando ao salão principal, todos estavam reunidos e discutindo sobre o ataque que ocorrera mais cedo. A maior preocupação de todos no momento era saber que tipo de retaliação esperar. Sempre que a Resistência agia de alguma forma, a Igreja sempre retribuía com muita severidade. Mas, dessa vez, vamos nos precaver ao máximo para que não sejamos pegos de surpresa. Bacco, então, vem em minha direção com minha adaga dentro da bainha novamente:
  - Aqui está, Pietro. Uma adaga limpa e mais afiada para poder derramar mais sangue cristão.
  - Se esqueceu que também sou cristão?
  - Todos sabemos, irmão. E você entendeu o que eu quis dizer. – Disse com um sorriso amarelo em seu rosto.
  - Não tenho certeza se entendi... – E deixei que os peixes grandes cuidassem da estratégia de defesa.
  Não existia muito o que fazer em nossa base. Quem não estava treinando, estava na enfermaria, tentando sobreviver após alguma investida ou então orando em um dos templos. E existia eu, vagando pelos corredores úmidos e escuros pensando na razão de tudo aquilo, no certo e no errado. E passando em frente a uma sala quase que minha história teve um fim. Uma espada voou na minha direção, cortando atéalguns fios do meu cabelo,mas consegui me esquivar. Anos de treinamento duro valeram a pena nesse momento.
  - Alguém ferido aí? - Uma voz doce e ao mesmo tempo preocupada ecoou de dentro da sala.
  - Quase... E pelo jeito alguém aqui não sabe manusear uma espada.
  - Foi apenas um acidente, eu estava treinando KungFu e a minha espada...
  - Certo, não aconteceu nada de mais. Isso que é o importante - me virei e continuei minha caminhada rumo a lugar nenhum.
  - Espera! Você é o Pietro de que todos estão falando?
  - Depende. O que estão falando?
  - Ah, você sabe, sobre seu pai, as coisas que ele fez por nós. E agora sobre sua missão. Disseram que foi como um profissional!
  - Falam demais por aqui.
  - Meu nome é Rebecca. É bom conhecer alguém tão influente aqui dentro!
  - Como eu disse, falam demais por aqui!
  - Não seja modesto, você é o centro das atenções agora. Por que não treina um pouco comigo? Conhece Kung Fu?
  - Pratico desde os cinco anos.
  - Então vamos ver do que você é capaz! - Um sorriso estranho enfeitava seu rosto
  Rebecca me deu uma espada e sacou a que quase tinha me matado da parede.
  - ``En garde`` - Esbravejou a bela senhorita de cabelos pretos e curtos, com um instinto assassino que era quase palpável.
  Quase não deu tempo de embainhar a arma e já me vi tendo que bloquear inúmeros golpes que, caso apenas um passasse, me fatiaria como um cordeiro servido à mesa. Nesse instante deu pra perceber que não era um treino qualquer, me parecia mais como se a jovem rebelde estivesse querendo testar até aonde eu ia. E foi isso que eu fiz, apenas bloqueava e esquivava de seus golpes potencialmente letais até com certa facilidade. Foi aí que ela me acertou um pisão no joelho, quase simultâneo a um chute na costela que me fez perder o ar e cair de joelhos. Rebecca não pensou duas vezes, e sua espada já estava descendo em direção ao meu pescoço, pronto para o golpe de misericórdia. Mas naquela hora, com a visão turva ainda por causa do golpe, levantei a o pedindo para que ela parasse, e felizmente foi o que aconteceu.
  - Só isso que o grande Pietro tem a me oferecer? - Falou com um ar debochado enquanto me olhava aos seus pés.
  - Algumas pessoas têm que aprender a perder... - Tentei falar, ainda tossindo um pouco de sangue.
A jovem estava tão distraída com seu ar de soberba que mal pôde me ver aplicando-lhe uma rasteira e roubando-lhe a espada, que encravei no chão, bem acima de sua cabeça.
  - ... E outras, têm que aprender a não ter compaixão do inimigo!
  E lá estava Rebecca, com seus olhos arregalados, ouvindo-me dizer exatamente o que faltava para mim. Será que aquilo era meu verdadeiro ``eu`` aflorando? Será que, finalmente, eu estava começando a aceitar melhor minha natureza? Provavelmente sim.A ajudei a se levantar e lhe entreguei as espadas:
  - Tome, você deve gostar muito delas.
  - Digamos que é apenas para proteção. – Ela me respondeu, sempre com um olhar malicioso.
  Provavelmente com uma ou duas costelas quebradas, fui seguido por Rebecca até o bar onde estavam Bacco, Davi e os outros. Ela foi me contando no caminho como foi parar na resistência. Era uma menina de rua em Florença, que sobrevivia fazendo pequenos saques e se esgueirando pelas vielas da cidade. Disse que presenciou inúmeros assassinatos pelas mãos dos soldados da Igreja, até o dia que, em um de seus saques para conseguir comida, esbarrou com Terzo. Nosso líder viu algum potencial na garota e a trouxe para se juntar a nossa causa. Ela não me disse sua idade, mas aparenta ser tão jovem quanto eu. E tão órfão quanto eu. Em meio a toda aquela turbulência, me surpreendi de encontrar alguém com um história parecida a minha.
  - Pietro, onde você estava? Terzo e os outros foram atrás de suprimentos agora há pouco!
  - Tudo bem, Bacco. Pessoas demais nesse tipo de ação acabam atrapalhando.
  - Vejo que conheceu Rebecca.
  - Sim, nos conhecemos depois que ela quase me decepou a cabeça!
  - Foi mais ou menos assim que nos conhecemos também. – Brincou Bacco.
  - Vocês dois reclamam demais – Rebecca encerrou a conversa.
  Enquanto Bacco e Rebecca continuaram a se provocar feito crianças, Davi me contou sobre o resultado na reunião. Foi a primeira vez que atacamos alguém do clero. Antes, só nos envolvíamos em batalhas contra soldados e membros da força militar da Igreja, a chamada ‘’Guarda’’. Por isso, talvez, eu tenha ficado tão nervoso com a situação. Além de ser minha primeira missão, eu ataquei um padre. E mesmo que me digam o contrário, não vejo como aquele senhor poderia ser culpado de algo.
O resultado de nossa audácia seria um ataque brutal, com certeza. Mas o que mais nos preocupava era o momento delicado pelo qual a Resistência passava. Devido ao reforço que a Guarda ganhou nas ruas de Florença e às baixas que tivemos nas últimas investidas, nosso corpo de combatentes estava fragilizado. Um grande ataque agora poderia ser devastador para nós. E o que ficou decidido é que iríamos nos separar,formando pequenos grupos, e nos abrigar em diferentes locais, pois já haviam boatos de que alguns membros denunciaram a localização de nossa base. Uma vez separados, poderíamos perder força, mas também seria mais difícil de sermos localizados.
  Era uma estratégia um pouco arriscada, realmente. Mas não tínhamos muitas opções levando em consideração o panorama atual.Nosso estoque de suprimentos estava bem abaixo do ideal, e talvez não teríamos como sustentar mais um mês aqui dentro.
  Nas ruas, somos caçados como ratos. Soldados da Guarda armados com lanças, espadas, boas armaduras e equipamentos preenchem cada metro quadrado dessa cidade. Fora esse ‘’pequeno detalhe’’, somos vistos como clandestinos, perigosos e marginais por todos que moram na cidade, e sempre que podem também vêm atrás de nós. Como uma das nossas regras é não ferir ou matar inocentes, esses cidadãos acabam virando um empecilho tão grande quanto os soldados da Guarda.
  Davi, que tinha participado da última reunião, me passou as instruções:
  - Terzo achou melhor que ficássemos Bacco ,você e eu juntos dele. Nós iremos para o lado sul da cidade, onde Terzo disse que havia um local que nos abrigaria com um certo conforto.
  - E eu? – Exclamou Rebecca. – Eu também vou querer ir com vocês, afinal, ficar em um grupo com Terzo e Davi deve ser mais seguro.
  - Bem... não sei se ele irá concordar, mas podemos conversar com ele.
  - Eu não acho um boa idéia. – E ao terminar a frase notei o olhar quase maligno que Rebecca direcionava a mim. Assustador, mas um pouco hilário.
  Então era isso, a Resistência estava se dissipando para se proteger, e o nosso grupo já sabia onde iria ficar. Tenho que confessar que ter Terzo e Davi no grupo me aliviava, pois são dois companheiros sérios e de muita confiança. Davi estava comigo desde que me entendo por gente. Ele praticamente me adotou quando meu pai morreu, me treinou durante os anos e sempre me dava suporte nas ações da Resistência em que eu participava. Terzo era a figura mais influente do nosso grupo em Florença. Ele é responsável por traçar os planos e as estratégias. É um homem com uma fé inabalável e que sempre esteve do nosso lado, além de ter sido grande amigo do meu pai, estando com ele até no dia de sua morte. Bacco era jovem, com potencial, mas um pouco imaturo ainda. Mas com as instruções de Davi, tenho certeza que vai ser de grande ajuda.
  Como só estávamos esperando Terzo retornar com os suprimentos, fui arrumar minhas coisas para a partida. Peguei algumas armas, equipamentos e uma cruz que meu pai me deu antes de partir. Voltei ao templo onde outrora fui visitar, sempre vazio e evitado pelos outros. Dei uma última olhada na imagem que decorava o local, fechei os olhos e pensei:
  - Que seja feita a vossa vontade.
  E pouco mais de uma hora depois do meu momento de fé, Terzo e os outros membros voltaram à base, com poucos suprimentos, mas o suficiente para que os grupos agüentassem suas jornadas. Nosso líder me repassou suas instruções, quando Rebecca o interrompeu:
  - Terzo, por favor, deixe-me ir com vocês. Você sabe que eu posso ser uma ajuda maior do que muitos aqui!
  - Minha querida, sua habilidade e coragem são inquestionáveis. Mas eu receio que seja melhor você ir com outro grupo que ficará mais longe da cidade. Tempos difíceis virão e, provavelmente, muito de nós não continuarão para manter nosso propósito de pé, mas eu tenho fé de que você estará lá, pronta para retomar nosso ideal caso aconteça algo com um de nós. E é por isso que eu insisto que você se proteja mais do nós.
  - Eu... eu entendo Terzo. – A voz de Rebecca saiu quase engasgada de sua garganta.
  Deu pra notar o tipo de relação que Terzo mantinha com Rebecca, quase como pai e filha. E a confiança depositada na jovem era grande. Se Terzo, a quem todos admiramos, confia nessa garota, eu também passaria a torcer pelo seu bem mesmo não a conhecendo direito.
  Após as últimas orientações e algumas despedidas, os grupos foram se formando, e pouco a pouco foram deixando a base em direção a seus novos postos. Comigo estavam Terzo, Davi, Bacco e um Protetor cujo nome ninguém sabia, pois eles são incógnitas, ninguém sabe nada sobre eles. Não trocavam uma só palavra com ninguém, apenas ouvem e fazem seu trabalho.
  A viagem seria muito difícil porque, diferente do nosso costume que é de nos locomover pelas sombras e vielas sem sermos notados, teríamos que por diversas vezes, usar vias públicas e ficar a vista de todos. E quando digo ‘’todos’’ não estou me referindo aos cidadãos de Florença. Toda noite, exatamente às dez horas, as igrejas e capelas tocam seus sinos informando que começara a ‘’Lua Negra’’, que é o período entre dez da noite e seis da manhã do dia seguinte. A Igreja determinou que houvesse um toque de recolher nesse período, alegando que maus espíritos e perigos iminentes rondam a cidade durante a noite e que por isso os moradores não deveriam sair de suas residências, mantendo portas e janelas trancadas sem nenhum tipo de contato com as ruas. Para os moradores, terror, para a Resistência, oportunidade! Sempre aproveitamos a Lua Negra para fazer nossos saques e para nos locomover pela cidade, pois nossos únicos obstáculos passam a ser os soldados da Guarda, os quais acreditavam serem abençoados pelos padres através da água benta que usavam e por isso poderiam ficar nas ruas à noite sem virarem alvo do mau agouro.
  Dez horas, os sinos começam a tocar e se misturam com o barulho de portas e janelas sendo trancadas.            Os soldados passam em seus cavalos dando o aviso e verificando se todos estão dentro de suas casas.     Nesse momento, começamos nossa jornada rumo ao sul de Florença.
Esperamos a cavalaria passar pelo beco onde ficava a entrada de nossa base e saímos, sob um frio mais rigoroso que o comum, levando suprimentos e equipamentos suficientes para, pelo menos, duas semanas. Como não havia ninguém, nós seguíamos pelas ruas, só nos precavendo caso avistássemos algum soldado. Até ali estava indo tudo bem. Todos estavam atentos, e ninguém falava nada tamanha era a tensão que pairava sobre nós. Ficamos assim por, aproximadamente, três horas de caminhada. Encontramos alguns soldados pelo caminho, mas conseguimos nos esgueirar antes de sermos vistos. Era uma sensação quase apocalíptica andar pelas ruas vazias, ainda mais sabendo que existem soldados prontos para te matar caso te vejam, mas essa era a vida de um membro da Resistência, sem descanso, sem paz.
  A peregrinação estava muito melhor que o esperado quando, por um descuido infantil, Bacco tropeçou em algumas jarras de uma barraca de vinhos e todos se entreolharam, perplexos. Para o nosso imenso azar, tínhamos acabado de passar por um grupo de soldados há poucos metros e agora nos encontrávamos em uma esquina, onde além da tal barraca, havia um poste de iluminação e mais nada.
  - Seu idiota! Olhe por onde anda! – Sussurrou Davi, enquanto Bacco suava frio pelo deslize que acabara de cometer.
  - Só nos resta essa barraca. Se escondam nela e preparem-se para o pior! – Infelizmente, Terzo tinha razão, não havia onde ou o que fazer a não ser esperar pelo pior.
Esconder-nos na barraca não foi nenhum problema, apesar de sermos cinco. O maior problema era justamente o fato de não haverem mais lugares naquela esquina, logo, seríamos facilmente descobertos pelos soldados que chegassem para averiguar o barulho.
Nós cinco empunhamos as espadas e adagas que carregávamos e nos preparamos para um eminente confronto. Visivelmente, Bacco era o mais nervoso, talvez pela pouca idade e experiência.
Começamos a ouvir o trote dos cavalos no final da rua, e à medida que o som se aproximava, mais o sangue corria rápido pelo corpo. Por baixo da barraca, só conseguíamos ver as patas dos cavalos vindo em nossa direção. Quando se aproximaram, diminuíram a velocidade e vieram calmamente, como se fizessem uma varredura na área. A essa altura, era óbvio que eles sabiam que havia algo naquela barraca. Assim que chegaram perto, vimos um dos soldados descendo de seu cavalo, e vindo em direção à barraca. Parou na nossa frente e ficou alguns segundos ali, imóvel. Aquela expectativa estava me matando, eu preferia sair do esconderijo para lutar e acabar logo com aquilo e se fosse para morrer, seria lutando e não escondido. Mas Terzo parece ter percebido como eu estava, e com a mão fez um sinal para que eu esperasse. O soldado a nossa frente deu mais alguns passos em direção à barraca e se ajoelhou, era a hora!
  Terzo e Davi já estavam com suas espadas quase tocando as pernas do soldado quando ele colocou a cabeça por baixo do pano que cobria a barraca. Eles já estavam prestes a retalhar o indivíduo, se não fosse por um fato que deixou todos, no mínimo, perturbados: o soldado estava sem os dois olhos e sua face estava coberta de sangue! Todos ficaram perplexos e ficaram por um ou dois segundos encarando aquela cena, que fora interrompida quando a cabeça ensangüentada caiu no chão relevando que o soldado fora decapitado. Saímos imediatamente da barraca, já para finalizar o ataque e vimos o mais improvável acontecer: era Rebecca, que tinha matado os dois soldados que estavam fazendo a ronda do local.
- Eu disse para você ir com os outros, Rebecca! – Esbravejou Terzo.
- Desculpa, mas eu não ia ficar bem sabendo que vocês estavam vindo para o sul enquanto eu fugia com os outros como um bando de ratos. – Respondeu a jovem, com a espada banhada com o sangue inimigo.
- Pode ter sido uma atitude tola, mas ela nos salvou e se mostrou habilidosa, afinal, eram dois soldados. – Nesse ponto, tive que concordar com Davi.
- Bem, você já está aqui. Não sei como, mas chegou. Agora fique atenta e sempre junto de nós. A qualquer sinal de algo estranho, nos avise. – Era Terzo dando o braço a torcer, finalmente.
- E você, Pietro, não vai me agradecer?
  - Ainda não... – Respondi sério ao deboche de Rebecca, que continuou rindo de mim.
Passado o susto, recolhemos as armas e equipamentos dos soldados, libertamos seus cavalos e seguimos nossa jornada.
  Seguimos por mais algumas horas até quase o nascer do Sol. Como toda a movimentação da cidade começar, decidimos nos esconder e esperar um momento melhor para prosseguir. Achamos uma pequena casa abandonada, que provavelmente seria revistada a qualquer momento pelos soldados, mas seria tempo suficiente para nos reorganizarmos. Ao nos alojarmos na casa, preparamos nossos equipamentos, comemos um pouco e descansamos alguns minutos. Eu estava um pouco sonolento e quase fechando os olhos, apesar de ser meu turno como vigia, quando ouvi Davi chamando por Terzo:
  - Terzo, é o Bacco... Ele não está bem.
Assim que ouvi o nome de Bacco, me levantei e fui ver o que estava acontecendo. Ele estava ardendo em febre e delirando, a única coisa que conseguia dizer é que não conseguia se mover, pois seu corpo doía por inteiro. Ninguém ali tinha conhecimento médico e muito menos qualquer tipo de medicamento.     Olhando Bacco se contorcer de dor dava pra ver que não se tratava de um mal estar qualquer.
  - Você consegue levantar, garoto? – Perguntou Terzo.
  - Não... dor... muita... – O pobre garoto nem conseguia falar direito.
  Isso era tudo de que não precisávamos, um de nós doente. Não podemos deixar Bacco aqui nesse estado, e encontrar algum medicamento ou um médico seria uma missão quase impossível, além de suicida.
  Estávamos a poucos quilômetros do nosso destino, mas teríamos que nos arriscar. Ninguém iria deixar um de nós para trás, ainda mais doente. E depois de tentar amenizar a febre com uma toalha molhada sobre a cabeça de Bacco, Terzo chamou a mim, Davi e ao Protetor para sairmos a rua a procura de um médico. Todos sabiam do perigo, mas ninguém se opôs, e Rebecca ficou encarregada de permanecer na pequena casa, cuidando de Bacco e de nossos equipamentos.
  Como era de dia e o movimento na cidade era grande, teríamos que nos misturarmos entre os outros, mas nossas vestes nos denunciariam. Então, antes de qualquer coisa, roubamos algumas roupas que secavam em varais nas estreitas ruas do vilarejo que não iriam nos disfarçar completamente, mas seriam menos chamativas do que as vestimentas de gatunos que possuíamos.
  O pequeno vilarejo estava bastante movimentado, principalmente por conta de seus mercadores, que formavam uma feira próxima à pequena casa que tínhamos invadido. Logo nos primeiros metros de caminhada atraímos alguns olhares curiosos, talvez por sermos forasteiros. Em uma vilarejo pequeno como aquele, todos se conhecem e qualquer um de fora é facilmente reconhecido. Achamos uma barraca que vendia ervas medicinais, e o mercador foi logo nos oferecendo seus produtos:
  - Bom dia nobres companheiros! Interessados em algum tipo de erva? Tenho de todos os tipos: para dor, para cicatrizar feridas, para ganhar força, e até uma para agradar às belas donzelas desse vilarejo, se é que vocês me entendem... – O mercador soltou uma risada rouca. – Mas se quiserem relaxar, depois de uma jornada longa, se quiserem algo para acalmar seus ânimos, tenho algo aqui que veio do outro lado do continente...
  - Precisamos de um médico, o senhor conhece algum por aqui? – Terzo estava meio tenso, e aquela conversa de mercador estava o irritando mais ainda.
  - Médico? Não temos muitos médicos por aqui. Os moradores costumam usar minhas ervas em caso de emergência e ninguém nunca recla...
  - Há médicos aqui ou não?! – O mercador foi interrompido por Davi, que já tinha perdido a paciência com toda aquela cena.
  - Nossa, vocês precisam de uma erva para ficarem mais calmos. Existe um velho que presta serviços médicos no final dessa rua. É a última casa, não tem como errar.
Mal o mercador terminou a frase, nós já estávamos em direção a tal casa, mas o indivíduo tinha que abrir a boca novamente:
  - Vocês têm certeza de que não querem nenhuma erva? Eu posso fazer uma promoção para meus nobres visitantes.
  Davi, visivelmente perturbado pela situação em que Bacco se encontrava, e querendo encontrar um médico o mais rápido possível, parou, respirou fundo e voltou à barraca do falastrão. Ele chegou perto, levantou um pouco a capa que o cobria, deixando um pedaço da lâmina de sua espada à mostra e sussurrou para o mercador:
  - Você tem alguma erva que junte seus braços ao corpo novamente?
  Assim que avistou a espada, o mercador mal conseguia falar:
  - Na... não... é que... bem. Boa viagem, nobre companheiro. – Uma gota de suor descia pelo rosto do mercador, que sustentava um sorriso mais amarelo que o Sol.
  De onde estávamos conseguíamos avistar a casa no final da rua, e foi pra lá que seguimos, a passos largos. Faltavam apenas duas casa para chegarmos quando eu notei que, além dos olhares desconfiados que os moradores lançavam, também começaram os burburinhos. Será que estavam desconfiados de que éramos da Resistência? Provavelmente, ainda mais depois do que Davi fez com o mercador. Aquele falastrão não deve ter contido a língua dentro da boca e deve ter nos entregue. Mas até então nenhum sinal da Guarda ou de qualquer soldado nas redondezas. Doce ilusão... Foi só voltar meus olhos para a entrada do vilarejo que eu pude notar um grupo de soldados chegando, muito bem armados como de costume.
  Avisei ao resto do grupo, que disfarçadamente aperto o passo mais ainda a fim de chegar logo à casa do tal médico. O que já estava complicado piorou quando o mercador, aos berros, denunciou quem éramos:
  - Esses vermes são da Resistência! Matem esses hereges!
  Agora não adiantava mais fingir, era hora de lutar. Empunhamos nossas espadas causando um alvoroço na pequena feira, onde todos começaram a correr e alguns gritavam:
  - São os malditos da Resistência! Matem todos, façam a vontade de Deus! Acabem com a vida pecaminosa desses vermes! - Sim, nós éramos muito bem vistos pela sociedade cristã.
  Com as espadas em mãos, estávamos prontos para combater com o grupo de soldados de, aproximadamentedez soldados, que vinha contra nós. Mas novamente algo impediu o confronto, e para nossa maior surpresa, dessa vez não foi Rebecca a protagonista da cena, e sim Bacco!
  Aquele moleque estúpido, mesmo mal conseguindo ficar em pé, saiu com Rebecca imobilizada e uma adaga apontada para ela, como se a fizesse refém.
  - Vocês, soldados da Guarda! Parem ou eu mato a garota!
  - Socorro, por favor, não deixem que ele me mate! – Gritava Rebecca completando a encenação.
  De um jeito ou de outro, conseguiram o que precisávamos, distrair os soldados, que estavam parados, receosos de que Bacco fizesse algo.
  - Ele é maluco?! Não vê que mal se agüenta em pé e está se arriscando daquele jeito? – Davi não se conformava com a ação, apesar de estar dando certo.
  Seu estado debilitado, porém, estava a trair o plano de Bacco, que ameaçava cair a qualquer instante.
  - Aguente só mais um pouco, Bacco. – Sussurrou Rebecca.
  - Eu não vou agüentar Rebecca, mas você pode se salvar.
  - Não diga isso, resista só mais alguns minutos.
  - Eu seria só peso morto para vocês. Corra e junte-se aos outros.
  - Não Bacco.
  - Corra Rebecca!
  E Bacco a empurrou para que se afastasse, no mesmo instante que suas pernas já não o sustentaram mais, caindo totalmente entregue no chão.
  Rebecca correu em nossa direção olhando para trás, relutando em deixar o garoto. O grupo de soldados que estavam estáticos com a ameaça de Bacco contra a refém não perdeu tempo e saiu em disparada para capturar nosso jovem companheiro, que estava bem mais próximo que nós.
  - Bacco, seu idiota, levante-se! – Eu gritei, na esperança de que aquele estúpido viesse em nossa direção. Mas em vão...
  Rebecca nos alcançou no mesmo momento em que os soldados chegaram a Bacco e o receberam com golpes de espada, covardemente. Nós olhamos aquilo aterrorizados. O fim de um jovem que se sacrificou por nós. E antes de que pudéssemos lamentar qualquer outra coisa, ouvimos Terzo dizendo:
  - Vamos! Não façamos da morte de Bacco algo em vão, vamos aproveitar e fugir!
  Eu ainda não conseguia acreditar no que via, e Rebecca corria em prantos também em choque diante daquilo. Mas era verdade, ficar ali e lutar só iria fazer com que o ato de Bacco tivesse sido em vão, então corremos em direção à saída do vilarejo, deixando armas, equipamentos, comida e um grande irmão e companheiro para trás...



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Autor(a): Tony

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